sexta-feira, 22 de outubro de 2021

Fiz um 69

 



1

Conto ou não conto!

Bah, não devia. 

Ainda mais católico.

Fui educado a evitar essas, essas coisas.

Mas que diacho, se coisas boas, por que não!

Azar.

Vou contar.

Gente, eu fiz um sessenta e nove.

Não fique vermelho.

Não se apavore.

Nem entre em pânico.

Chega eu.

Sei que é um assunto meio árido

– mas olhando o que acontece na nossa cara,

todos os dias;

isso aí, como diríamos no Cine Ideal,

é “café pequeno”.

2

Agora - é uma experiência única.

Única?

Hoje é quase comum.

Para muitos virou coisa normal

ou (de novo),

como diríamos no Cine Luz também,

“cafona”.

3

Quem se atreveu a fazer não esquece mais.

Ah não esquece.

Quando tu chega nessa altura,

tu já nem sabe mais o que está acontecendo.

Fazendo, se mexendo,

são jeitos, trejeitos, enfim...

perdeu a cabeça; ou como direi 

para encurtar

- atirei-me de cabeça.

Que sensação.

Que emoção.

Que coisa tão tresloucada que...

depois da volta ao

normal, nem se acredita que foi capaz 

de atingir

tal insanidade, descer à tamanha 

loucura infernal.

Ou seria uma benção dos céus.

4

Agora – três coisas são certas depois de fazer:

se sai com um sentimento, uma consequência

e uma convicção.

Sentimento de imensa felicidade.

Conseqüência - todo esgualepado.

Convicção – fez a coisa certa na hora certa.

Não fazer àquelas alturas da vida,

é deixar passar o cavalo encilhado.  

5

Olha - não é para qualquer um.

Dói tudo.

Braço, perna, tronco,

o pescoço.

Os braços parecem que querem 

deixar os músculos,

ou pelancas – saltarem para fora.

Conforme os sacrifícios durante a vida

as pernas tremem.

Os pés resvalam.

A cabeça parece que vai explodir

– mas que diabos,

que exploda se for pra explodir.

6

Se cheguei até aqui – agora não tem volta.

E a cordilheira de ossos

no meio das costas?

Nossa Senhora de Fátima – segura até alcançar

meu relaxante muscular.

Ou meu uísque ou cerveja.

Hoje dizem que desce melhor é com

energético, gim/tônica., entre outras

“cositas mas!”.  Não se sente nada.

7

Mas que nada.

A satisfação,

o prazer

e quando se sabe que não se é

único a fazer,

tudo compensa,

tudo alivia o sentimento de culpa.

Abranda vergonhas e invejas.

Diria – sem ser invejoso – mais invejas.

Ihhh - conheço jornalistas que fizeram.

Médico que fez.

Professor.

Professora então, está cheio.

Que Deus e perdoe - mas tem padre, freira,

bispo e diáconos que fizeram. 

Políticos então... 

E olha, todos quietinhos, quietinhos mas

felizes dentre si mesmos cada por seu

sessenta e nove.

8

Se acusado de extrapolar a temática

do politicamente correto, 

sem problema. Aceito.

Chega de mesmices.

Chega de abóboras.

Chega de falar de política.

Escrevo sobre política há 35 anos e

só me incomodei.

Achando que iria ajudar a avançar 

a cidade, o país, a qualidade de vida

- olha só no que deu!

Sempre o mesmo papinho de sempre.

Sempre a mesma conversinha de sempre.

Portanto - chega do mais do mesmo.

Chega, como se diz mesmo agora? – de

negacionismos.

Assumo o meu sessenta e nove até

o último fio de cabelo.

Cabelo – ah – cabelos.

Me honro dele.

Porém, me defendo e aponto que muitos

que aqui estão a ler – também fizeram -

como já disse.

Quantos mais hão de fazer o seu!?

Hein! Hã, Hã, hã... ahahahahh, como diria

o eterno e grande professor 

mestre João Dautartas.

9

Desde já aviso que não pretendo entrar

em conflito com nenhuma crença.

É pecado? Não sei.

Por que então nos deram um corpo?

Por que nos deram viver um tempo?

Por que nos delegaram gozar prazeres!?

Nos ensinam a se cuidar, 

a ter saúde,

a viver as coisas boas da vida e

querem recriminar ato tão,

tão, tão nobre, tão perseguido contando aí

perseguidos e perseguidas...

Ou estou mentindo?

10

Pensando bem no fim vale à pena ter nascido.

Vivido do jeito que deu, e morrer, assim,

digamos – feliz.

Ou melhor: morrer com saúde. 

11

Fazer um sessenta e nove como eu, 

confesso,

sim eu confesso – fiz e daí! 

– é de se trombetear.

Ignorá-lo seria quase sem sentido 

se não tivesse,

assim, amavelmente, 

não 

– amavelmente é pouco;

assim apaixonadamente – 

não,

apaixonadamente também é pouco;

assim, loucamente – 

não, 

loucamente também é pouco;

não condiz com a experiência,

mas assim – delirantememente, 

isso, 

delirantemente

experimentado também o meu sessenta e nove.

12

Poderia eu receber a oportunidade de algo,

mais inebriante,

mais compensador,

mais paradisíaco em plena terra

- a despeito dos desmerecimentos que

semeei?

Prazer em carne e osso e, em mente - não.

Dificilmente haverá algo maior – repito;

em prazer.

Reforço: pelo menos em satisfação de desejos,

aproveitar  lampejos e,

sossegar invejas que possam me cutucar a mente

lamentando os não feitos seria 

um passaporte para a cadeira de um psicanalista.

Então – se der – faça.

Fiz.

13

Como disse, não quero conflitar com crenças.

Agora - e... se formos só espírito

- um desencarnado a vagar sabe-se lá por onde!?

Quantos cascudos me daria, ou darei

pelo sessenta e nove deixado passar, 

como um matungo cansado 

ou em tropel de puros sangue!?

E se não houver nada disso  

– nem mesmo o “Kit Covid,” 

mas só a ciência,

sim – (aqui já não falo só de mim) se,

só a ciência é a certeza a ditar do mais 

alto pedestal 

que não passamos um milímetro do que somos,

ou seja, morreu – adeus tia Chica!

E aí, nosso corpo feio ou bonito,

esbelto ou maltratado, mas tendo como fim

- banquetear bactérias

e vermes;

por certo lamentaríamos irados

não termos deixado nosso sessenta e nove,

assim registrado no currículo.

14

Nove vez fora crenças ou sem crença alguma,

o fato incontestável é que estes,

e agnósticos ou ateus;

um dia chegaremos à termo: podem 

nos beliscar e nada sentiremos.

Podem nos acariciar que nada sentiremos.

Podem nos bater, arrastar, esquartejar

– e nada sentiremos.

15

O que virá depois da passagem comprada

ou feita – se assistiremos tudo “Lá De Cima”,

ou se estivermos a arder no inferno,

ou se constituírmos uma alma a vagar à espera

de uma nova oportunidade (um novo corpinho);

ou se nos somarmos aos milhares

no limbo do purgatório,

ou se federmos no fundo de uma sepultura abandonada

até que os próprios vermes nos rejeitem,

pois, de uma vez por todas,

– resta-nos, conscientemente sim,

uma constatação óbvia. Incontestável: viver a vida.

Pintou a chance de um bom sessenta e nove;

aproveite. Brinde. Agradeça.

Até reze com o terço entre os dedos

- mas faça. Pelo amor de Deus - faça! 

16

Todos buscam

viver o melhor que podem.

Não é assim?

Para alguns nem importam os meios.

Interessam os fins.

São prazeres.

São alegrias.

São felicidades – fugazes ou nem tanto -,

que nos fazem a vida mais apetitosa,

agradável e, e, e... prazerosa.

Pecado ou não – “Carpe diem!”, Santo Deus!

17

Não vivem postando mensagens que

devemos aproveitar a hora,

o minuto, o segundo?

O momento!?

Que ninguém sabe se haverá amanhã!?

Logo, 

não dá para ignorar pratos prediletos

e muito menos, 

jamais, 

recusar pratos

nem tão incorporados assim à nossa rotina.

Feijão e arroz tem todo dia, mas...

um sessenta e nove... olha. 

Quem recusaria?

Eu rezei agradecido.

18

Sim eu fiz o meu.

Não faz tempo.

Uns 30 dias.

Simplesmente inesquecível até porque único.

Foi tudo bem do jeito como ouvia falar

quando adolescente.

Experiência para se levar

e bater no peito como um homem/macaco

– um Tarzan.

19

Mas, por medo de não saber aonde pode ser

meu destino final

 – por via das dúvidas imploro que

não me falte um padre,

porquanto católico.

Sim, porque um sessenta e nove tem seus riscos.

20

Pode até ser de esquerda

- mas sempre padre.

Sou um católico que no alto da vida

resolveu

– pintou a oportunidade e eu já meio

sem saber nem sobre o que escrever,

talvez

meio desgovernado por causa dos

debates em torno

do Covid, da vacina, do fique em casa,

do negacionismo,

da melhor máscara – de máscara

com bichinho....

pois, oportunizou, 

me deu um chilique e acordei.

Enfim, aproveitei e contei.

Não levaria para a última morada (?)

um segredo desse tamanho 

- tão segredo que chega a ser meio 

surreal: muitos, muitos fazem, 

fizeram - mas quase ninguém

torna público. 

Às vezes hackers descobrem e espalham.

21

Se não consegui o máximo 

com o meu sessenta e nove

sempre sonhado

– para o gasto deu.

Ah se deu.

Me doeu tudo, repito.

Tanto que fui parar na Dani,

minha competente fisioterapeuta.

Dolorido – mas feliz.

Realizado.

Agradecido.

A única preocupação que já me tira o sono

é como será um setenta.

Nunca ouvi falar num desses.

Como... seria ou seria fazer um bicho desses!?

Por onde se começa – Santos!

Como se portar?

O que dizer?

Rezar e agradecer?

Como termina?

22

Agora - se a oportunidade aparecer -,

vou descobrir um jeito.

Ahhh vou dar um jeito.

Vou viver esse momento com toda minha

restante intensidade.

Intensidade, no meu caso, sonhei que, que...

“faleceram” ela.

Ando devagar. Não tenho pressa

- diria o Almir.

Pior que nem tem nem manual.

Não deve ser fácil –porém não impossível.

23

Que os Deuses de todas as crenças,

agnósticos e ateus

– me conduzam até essa desconhecida experiência.

Se chegar lá, faço. Já disse. Faço.

Depois do que senti

– não tem como não experenciar um setenta.

Nem que me alcancem as muletas.

Seriam, como direi – muletas com prazer -,

ou “com muito prazer, por favor as muletas”.

24

Daqui a um ano mais ou menos, eu conto.

Quem já fez – sabe, mas não revela.

Sessenta e nove todo mundo fala 

– mas um setenta ninguém diz nada.

Quem não fez

– curioso, como eu; entregaria os anéis para

um saudável e prazeroso setenta.

25

Desconfio, depois da experiência;

que a vontade de ficar por aqui é tanta

- onde a ciência, os anjos e

os Deuses nos conservam -

que entregaria até os dedos para fazer

um noventão.

Modesto, não obstante,

já sou imensamente grato pela oportunidade

com o meu... 69.

Demorou – mas fiz.

Que alegria.

Que felicidade.

Nem me sinto um pecador.

Sinto que aproveitei a chance que Deus 

me deu

de fazer esse corpinho mais ágil 

em mente descansada.

Pensei: já que o vírus não me pegou

(pelo menos até agora),

que venha o tal de sessenta e nove. 

E veio.

Foi como uma paulada. 

Uma paulada boa.

Até ando meio esquecido.

Mas boto na conta do prazer.

26

Há narrativas na praça,

(pra ficar na terminologia

que orienta as ideologias

– especialmente sem ideologia alguma;

ideologias de interesse - assim fica

mais verdadeiro),

que feito um sessenta e nove bem feito

(como se houvesse sessenta e nove mal feito);

- implica no início de eventuais esquecimentos:

onde deixei as chaves,

os óculos, 

a toalha,

o carro,

os documentos,

se fechou a porta,

a janela dos fundos,

se desligou o gás...

Se todas as torneiras estão fechadas.

Se não ficou nenhuma luz acesa...

Os cahorrinhos estão dentro de casa?

Isto seria, e é, o lado ruim do sessenta e nove.

Fechei a porta da garagem?

E a da frente?

Melhor voltar e ver de novo...

O resto – nem se fala.

Como diria o Julio (Brondani)

“é só alegria”.

27

Como seria bom

se pudesse repetir,

o sessenta e nove.

Mas impossível. 

Nem hoje, nem amanhã, nem nunca mais.

Mas que é coisa de levar pro céu,

pro inferno ou lá aonde as almas vagueiam

à espera de um novo corpinho – ah é.

Voltar, quem sabe até para se pagar 

pelo que se fez de errado,

com o tal sessenta e nove.

Só sei que é quase como acertar

numa mega.

Nunca peguei - mas pelo que dizem...


28

Sim – depois dele estou mais leve.

Será por isso que me sinto 

passar no tempo

- quase voando?

29

Opa, opa, opa – pensando melhor –

não, nada está perdido.

E... se fosse invertido!

Do primeiro ao quinto?

Ou na cabeça – melhor ainda!

Então por que não um, um... 

96?

Assim já meio com o pé na cova 

– mas sempre

se mexendo, remexendo...

quase babando, 

nossa – que nojo,

diria alguém.

My God!

30

Ahhhh.... mas pra mim 

seria pedir demais.

Sou um pecador incorrigível.

Não mereço tanto.

E como suportaria?

De onde tiraria forças...

Quem me acudiria na hora...

Se caísse e quebrasse uma perna...

Ou as duas...

Um braço.. ou até a bacia.

Talvez uma fratura de crânio!

Não.

Um 96 não consigo não.

Já ganhei muito nessa vida,

coisa que nem merecia.

O sessenta e nove, por exemplo,

é uma prova.

Quem me conhece sabe.

Já está de muito bom tamanho

para um guaipeca que...

deixe-me ser honesto,

franco e claro: um

guaipeca que nunca,

jamais,

frequentou uma “pet” de respeito.

Que dirá – ser acolhido em uma

“pet” de madame.

Poder fazer um 96

seria algo como morrer mais que feliz e...

acima de tudo, como dizem, com saúde.

Mas, olha o Inter contra o Barcelona: nunca 

se pode desconfiar de

uma "loteria" que ainda está correndo.

A do sessenta e nove peguei.

A de 96, se pegar

só por graça de Deus.

Porém, essa não revelarei.

Por que já no ato

- devo bater as botas. 

Ou melhor

as pantufas.

Se for como algumas crenças 

- creem,

talvez ouça já com o coração 

e o

cérebro 

parados: "Coitado. Bateu com as dez!".

E eu, invisível e resignado, rindo baixinho 

cimentarei: "deu! meu fui. Mas me fui feliz. 

Mais que isso - não tem como."