domingo, 29 de setembro de 2024

Atlântico sendo sempre Atlântico

 

Todo mundo sabe que eu nunca me conformei com o fim do futebol de campo do Atlântico. Do CER Atlântico. Sim por que desde minha infância até adolescência minha diversão, meu divertimento, minha paixão era ver o Atlântico pisar no gramado.

Quando implodiram o estádio em 1991, estilhaçaram partes de mim. Do meu passado. Do meu então presente. Do que eu amava. Do que me fazia pensar uma semana inteira no jogo de domingo. Acabaram com meus Pai Nossos e Ave Marias que eu rezava ajoelhado nas missas do padre Rigoni, depois do padre Menegat, depois do padre...ali na São Pedro. Pedindo que protegesse o goleiro verde rubro e iluminasse nossos atacantes. 

Aí veio o futsal.

No início até me empolguei um pouco ao ver de novo a camisa verdade rubra, os calções branquinhos as meias vermelhas ou brancas. Mas aos poucos tudo foi esmorecendo dentro de mim. Um dia me peguei no ginásio, batizado de Caldeirão do Galo, pelo grande desportista Osvaldo Afonso Chitolina, mas desta vez vendo meu neto Benjamin, obedecendo ordens de um professor e com a mesma camisa verde rubra correndo atrás de uma bola. Mas também isso passou.

Vez por outra ouvia pelo rádio o Atlântico campeão disso, campeão daquilo... e, sem hipocrisia, alguma coisa me atucanava. Quem sabe um pingente cutucando minha alma verde rubra que ainda respirava, e respira, dentro dentro mim. Dorminhoca, preguiçosa, desinteressada – mas ocupando um espaço, o seu espaço que acalento desde 1958 quando meu pai Alberto começou a me levar pela mão para dentro da Baixada Rubra.

Ontem, 29 de setembro, o CER Atlântico virou notícia nacional. Levantou a Copa do Brasil de Futsal. Observe-se, pela segunda vez. E, claro, minha alma me chamou pelo nome e eu acordei. Até ouvi um “´psiu – Ade, Adelar, tu viu o nosso time!?”. Pela sonoridade era a voz do meu pai.

E assim como o presidente Julio Cezar Brondani, seus pares de dirigentes, comissão técnica, com destaque para o técnico Paulinho Sananduva e o "faz tudo", Elton Dalla Vechia e o grupo de atletas é claro; afora sua imensa torcida, comemoraram em êxtase mais esta gloriosa conquista do time do meu coração – eu também vi o entardecer de mais um domingo, geralmente com seus fins de tarde melancólicos -, me devolver à reverência de minha primeira paixão no esporte. Foi um entardecer como aqueles que eu vivi quando deixava a Baixada Rubra, feliz da vida, pisando sobre as cascas de amendoin, as carteiras de cigarro vazias, as tampinhas de garrafas vazias e o cheiro forte das folhas de eucalipto que começavam a se embalar, talvez também regozijosas, prenunciando a chegada de outra segunda-feira com sua rotina de escola, trabalho - mas com o sorriso da vitória do meu Atlântico.

O Atlântico do Futsal me lembra hoje o Atlântico do futebol de campo. Desafios grandiosos, difíceis, aparentemente insuperáveis – ainda mais com aquela camisa branca que eu tanto temia quando entrava em campo, digamos, contra um 14 de Julho de Passo Fundo que vinha de vermelho e, a "fair play" mandava o time da casa abrir mão do seu fardamento número um.

O Atlântico está noutro patamar. 

Noutra prateleira.

 É reconhecido num Brasil que é um continente. 

E a obra deste domingo, 29, não é suprema 

– se não que mais uma, tão importante quanto outras 

e as demais que enfeitam sua galeria de troféus.

Não é uma chegada. Não é um fim.

É uma caminhada. É um processo.

É uma trajetória.

É uma história que segue seu destino.

É a lembrança em ação de seu hino;

“Avante,

Vamos para a luta...”.

É a Societá Italiana Di Mutuo Soccorso XX de Setembre de 1915.

É a Societá Italiana Di Mutuo Socorsso Carlo Del Prete, de 1929.

É o Ítalo Brasileiro que o tempo aposentou para só apreciar..

É a Sociedade Recreativa e Beneficente Atlântico.

É o Atlântico Football Club de 1937.

Ambos conviveram como duas entidades entre 1937 e 1939 – mas tudo Atlântico.

E da fusão destes surge o Clube Esportivo e Recreativo (CER) Atlântico, em 1940.

E assim o tempo avançou, ou avançamos nós no tempo (?) – e o Atlântico segue na história fazendo história e a sua história.

O Atlântico sendo sempre Atlântico.

 

 

 

 

segunda-feira, 16 de setembro de 2024

De Antonio Carlos Macedo – Cidadão de Porto Alegre e queridos amigos

Macedo na Gaúcha. Crédito: Arquivo

 
Vou escrever umas linhas quase no meu estilo. Quase.

Primeiro num tom mais informativo e depois mais à vontade como se estivesse falando comigo mesmo. Provavelmente para os amigos da capital se constitua numa novidade, porquanto não é uma matéria. Minha vontade mesmo era escrever - mais solto. 

Pois, o jornalista Antonio Carlos Macedo recebe nesta terça-feira, 17, o título de Cidadão de Porto Alegre em sessão solene da Câmara de Vereadores.  A proposição partiu do vereador João Bosco Vaz. Macedo apresenta o “Gaúcha Hoje!” na rádio de mesmo nome. O programa vai ao ar diariamente das 5 às 8 horas e aborda temas de interesse do cotidiano de cidadãos e da comunidade em geral. Conta com a participação de uma equipe de repórteres e rápidos comentários sobre o tempo, futebol e comportamento. Fabrício Carpinejar é um dos comentaristas.  

No último dia 7, Macedo celebrou seus 50 anos de atividades ininterruptas no jornalismo. O evento foi realizado em Porto Alegre, quando recebeu dezenas de convidados entre colegas atuais e alguns de quando praticamente iniciou no jornalismo.

Sua trajetória na imprensa remonta ao ano de 1974 na Central do Interior da então Companhia Jornalística Caldas Júnior (CJCJ). Logo também ingressaria na rádio Guaíba. Mais tarde transferiu-se para a RBS onde passou a trabalhar na rádio Gaúcha, inicialmente como repórter de campo. Integrou a consagrada equipe que tinha Armindo Antônio Ranzolin, Lauro Quadros, Ruy Carlos Ostermann, entre outros. 

Demonstrando sua capacidade diversificada para atuar com alta performance em diferentes áreas, Macedo trocou o futebol por programas de notícias. Esteve por tempos no "Chamada Geral" e há anos apresenta o "Gaúcha Hoje". São programas que tem como público alvo, principalmente o cidadão comum da capital e suas demandas diárias. Seus programas primam pela objetividade atendo-se em primeiro plano aos fatos e suas repercussões na vida das pessoas.

Trabalhei com o Macedo de 1977 até 1981 na Central do Interior da CJCJ. Sentados frente à frente éramos responsáveis por cobrir o futebol do interior do estado para o Correio do Povo, Folha da Manhã, Folha da Tarde e rádio Guaíba. Por algum tempo também fizemos o "Tabelão/RS" para a revista Placar. Nesse período testemunhei de perto suas destacadas qualificações para o exercício da profissão em alto nível, tanto no jornalismo escrito/impresso, quanto no rádio.

Com ele logo aprendi quase tudo, mas algo não esqueço: se não for possível a perfeição, que pelo menos se minimize os equívocos na informação trazendo-a, se possível, a erro zero. Não havia meio termo. Extremamente exigente, como se deve, era colega que às vezes eu até temia; mas logo fui me habituando ao seu estilo. Era de poucas palavras, direto e sincero. Tudo em favor da melhor informação possível ao público consumidor. Ao final ganhava a admiração de todos. A escola que tive no jornalismo tem no Macedo o típico exemplo vivo. Rigoroso nas exigências profissionais, é um ser humano e amigo de enorme coração.

Macedo: Crédito: Arquivo

Qual não foi a minha surpresa quando recebi seu convite para estar na celebração dos seus 50 anos no jornalismo. Foi um desses eventos raros e únicos, onde diferentes gerações de profissionais tiveram a oportunidade de se conhecer ou reencontrar, relembrar e confraternizar.

Ser lembrado por ele para o evento, de certa forma despertou em mim um sentimento de reconhecimento num patamar também de alto nível, o nível que ele atingiu há muitos anos por méritos inquestionáveis.

O Macedo tem muito ainda a contribuir com a imprensa do nosso estado. É um dos nomes que honram as melhores tradições da imprensa gaúcha. Ao seu lado e espelhando-me nele, posso dizer que pautei e segui também por valores básicos, e inegociáveis, de busca e divulgação dos fatos de forma imparcial, sempre com responsabilidade, honra e paixão pela profissão e pelo público consumidor. Quem me conhece sabe que ao longo do tempo, em Erechim, também passei a escrever colunas de interpretação e opinião - mas esta já é uma outra história.

A homenagem que a Casa do Povo da capital do estado presta a Antonio Carlos Macedo, é sobremaneira, um reconhecimento oportuno e merecido a quem se dedica há meio século a ser um elo muito confiável entre a notícia, a fonte e o público.

Meus parabéns ao ex-colega e sempre amigo, de cinco décadas, por esta distinção que alcança tornando-se a partir do dia 17 deste mês “Cidadão de Porto Alegre”.

Alguns amigos na festa dos 50. Crédito: Bosco/Divulgação

Da esquerda para a direta em pé: José Adelar Ody, João Bosco Vaz, Gerson Silva, Marcelo Drago, Cláudio Brito, José Aldo Pinheiro, Marcos Antonio Baggio, Francisco Paulo Bisonho (Chicão), Antonio Carlos Macedo, Eduardo Gabardo e Oziris Marins. Mais atrás estão Luciano Périco e Alexandre Aguiar (MetSul). Sentados: Gustavo Manhago, Flávio Dutra, Sílvio Benfica, José Alberto Andrade, Diori Vasconcelos e Renato Matte.

Crédito: José Ody
 
Foto: Renato Matte, Marcos Antonio Baggio, José Adelar Ody e João Bosco Vaz.

Os quatro trabalharam com o Macedo na Central do Interior da Caldas Júnior entre 1977 e 1981 – Mais tarde Baggio, Macedo e Renato, em períodos distintos, transferiram-se para a RBS. 

Renato Matte seguiria ainda para a Globo/Rio onde foi Gerente de Projetos Especiais do Sportv e depois Chefe de Redação do Sportv. No cargo, esteve em 35 países. Sinto-me feliz com o sucesso do Renato, meu ex-colega de Faculdade, porquanto o indiquei para a Central do Interior da Caldas Júnior em 1977. No nosso reencontro ele fez menção ao episódio. Por indicá-lo à Caldas Júnior, no mesmo setor onde eu estava, enviou-me uma foto dos crachás de eventos internacionais e nacionais nos quais esteve envolvido pela Globo e um pequeno texto que reproduzo.  



RenatoMatte: "O resultado da dica tá aqui … tds os eventos esportivos em 35 países do mundo. Copa do Mundo, Copa Conf, Copa América, Brasileirão, Copa do Brasil, Libertadores,
Mundial de Clubes, Olimpíadas, Paraolimpíadas, Olimpíadas de Inverno, Champions, Euro … acho q não decepcionei a dica do amigo !!! Grande abraço", (numa referência a 1977).

A propósito Renato está de aniversário hoje, 16. Meus parabéns estimado amigo.
Não contei os crachás - mas não decepcionou não.


Marcos Antonio Baggio - Aposentou-se depois de uma grande e linda trajetória na imprensa  gaúcha. A propósito, Baggio conseguiu o meu primeiro emprego em Porto Alegre sem sequer me conhecer. Me "salvou" num momento decisivo. No ano seguinte - abriu-me as portas para ingressar na cobiçada Caldas Júnior. Sou eternamente grato ao meu amigo.  

João Bosco Vaz, pelotense e jornalista, ocupou minha vaga quando saí da Caldas Júnior em 1981. Político, está no seu 7º mandato de vereador em Porto Alegre. Foi responsável pela organização da Copa do Mundo em Porto Alegre (2014), na condição de secretário dos Esportes da capital. 

Nos reencontramos todos no evento do Macedo – também quase 50 anos depois. Sem dúvida um privilégio para nós, cada um com suas histórias de imprensa e de vida.