Todo mundo sabe que eu nunca me conformei com o fim do futebol de campo do Atlântico. Do CER Atlântico. Sim por que desde minha infância até adolescência minha diversão, meu divertimento, minha paixão era ver o Atlântico pisar no gramado.
Quando implodiram o estádio em 1991,
estilhaçaram partes de mim. Do meu passado. Do meu então presente. Do que eu
amava. Do que me fazia pensar uma semana inteira no jogo de domingo. Acabaram
com meus Pai Nossos e Ave Marias que eu rezava ajoelhado nas missas do padre
Rigoni, depois do padre Menegat, depois do padre...ali na São Pedro. Pedindo que protegesse o goleiro verde rubro e iluminasse nossos atacantes.
Aí veio o futsal.
No início até me empolguei um pouco
ao ver de novo a camisa verdade rubra, os calções branquinhos as meias vermelhas
ou brancas. Mas aos poucos tudo foi esmorecendo dentro de mim. Um dia me peguei
no ginásio, batizado de Caldeirão do Galo, pelo grande desportista Osvaldo Afonso Chitolina, mas desta vez vendo meu neto Benjamin, obedecendo ordens de um professor e com a mesma camisa
verde rubra correndo atrás de uma bola. Mas também isso passou.
Vez por outra ouvia pelo rádio o Atlântico
campeão disso, campeão daquilo... e, sem hipocrisia, alguma coisa me atucanava. Quem sabe um pingente cutucando minha alma verde rubra que ainda
respirava, e respira, dentro dentro mim. Dorminhoca, preguiçosa,
desinteressada – mas ocupando um espaço, o seu espaço que acalento desde 1958 quando meu pai Alberto começou a me levar pela mão para dentro da Baixada Rubra.
Ontem, 29 de setembro, o CER
Atlântico virou notícia nacional. Levantou a Copa do Brasil de Futsal.
Observe-se, pela segunda vez. E, claro, minha alma me chamou pelo nome e eu
acordei. Até ouvi um “´psiu – Ade, Adelar, tu viu o nosso time!?”. Pela sonoridade era a voz do meu pai.
E assim como o presidente Julio Cezar Brondani, seus pares de dirigentes, comissão técnica, com destaque para o técnico Paulinho Sananduva e o "faz tudo", Elton Dalla Vechia e o grupo de atletas é claro; afora sua imensa torcida, comemoraram em êxtase mais esta gloriosa conquista do time do meu coração – eu também vi o entardecer de mais um domingo, geralmente com seus fins de tarde melancólicos -, me devolver à reverência de minha primeira paixão no esporte. Foi um entardecer como aqueles que eu vivi quando deixava a Baixada Rubra, feliz da vida, pisando sobre as cascas de amendoin, as carteiras de cigarro vazias, as tampinhas de garrafas vazias e o cheiro forte das folhas de eucalipto que começavam a se embalar, talvez também regozijosas, prenunciando a chegada de outra segunda-feira com sua rotina de escola, trabalho - mas com o sorriso da vitória do meu Atlântico.
O Atlântico do Futsal me lembra hoje o Atlântico do futebol de campo. Desafios grandiosos, difíceis, aparentemente insuperáveis – ainda mais com aquela camisa branca que eu tanto temia quando entrava em campo, digamos, contra um 14 de Julho de Passo Fundo que vinha de vermelho e, a "fair play" mandava o time da casa abrir mão do seu fardamento número um.
O Atlântico está noutro patamar.
Noutra prateleira.
É reconhecido num Brasil que é um continente.
E a obra deste domingo, 29, não é suprema
– se não que mais uma, tão importante quanto outras
e as demais que enfeitam sua galeria de troféus.
Não é uma chegada. Não é um fim.
É uma caminhada. É um processo.
É uma trajetória.
É uma história que segue seu
destino.
É a lembrança em ação de seu hino;
“Avante,
Vamos para a luta...”.
É a Societá Italiana Di Mutuo
Soccorso XX de Setembre de 1915.
É a Societá Italiana Di Mutuo
Socorsso Carlo Del Prete, de 1929.
É o Ítalo Brasileiro que o tempo aposentou para só apreciar..
É a Sociedade Recreativa e
Beneficente Atlântico.
É o Atlântico Football Club de 1937.
Ambos conviveram como duas entidades entre
1937 e 1939 – mas tudo Atlântico.
E da fusão destes surge o Clube
Esportivo e Recreativo (CER) Atlântico, em 1940.
E assim o tempo avançou, ou avançamos
nós no tempo (?) – e o Atlântico segue na história fazendo história e a sua história.
O Atlântico sendo sempre Atlântico.