* Homenagem à direção do Atlântico FC que
tem na presidência Éder Schievenin com votos de uma feliz gestão em 2014. O
Galo da nº 5 vai priorizar a formação das categorias de base e, agora filiado a
FGF quer voltar em três a quatro anos. O tempo dirá. Em 1992, numa manhã de
sábado que se estendeu até o fim da tarde quase, no ‘Bosque do Galo’, povoado
de Guaramirins e Canelerias, atlantistas estenderam uma faixa onde se lia: ‘O
Galo de volta para o futuro’. O reencontro de ex-atletas, dirigentes e
torcedores, renovou as esperanças de quem gostava do verde-rubro com onze, mas
desde aquela luz no túnel lá se vão 23 anos e, hoje o FC é uma entidade
divorciada do CER – mesmo que alguns queiram minimizar a realidade. Os nomes
são os mesmos, a semente e a raiz também. As histórias se confundem, assim como as
cores e o símbolo e, até, pessoas. O hino!? Mas – os caminhos e os destinos se distanciam cada vez mais.
Que ambos sejam felizes e se os deuses do esporte, que a tudo assistem, um dia
quiserem que se reencontrem – a reconciliação poderá ser mais fácil do que se
imagina, porquanto, não são estranhos entre si. Já foram um só. Quem acha que são parentes –
sabe que o mais novo é costela do outro, precipitando o centenário. Mas – voltemos àquele
sábado de 1992 no Bosque do Galo.
‘
- Ali ó, mais à esquerda, na lateral do campo, fizemos um churrasco em 1992.
Tem até foto na entrada do estádio (?). Se não me engano naquele churrasco – o
primeiro do Bosque do Galo (pra mim – Baixada Rubra) para quem vê o local como
a casa do futebol de campo do Atlântico FC e Bosque do Galo para quem vê o
local como mais um retiro de lazer, pois, isso mesmo, foi ali – lá, ao lado do
Distrito Industrial, o Pedrollo, como é que é mesmo o nome dele, Vinícius; -
isso, falou para uns 60 ou 70 atlantistas que recomeçaram com o futebol. Ou ao
menos – ensaiaram um recomeço. Fazendo as contas na ponta do lápis, esse
recomeço dá quase o dobro do tempo em que fecharam com o futebol na legítima
Baixada Rubra e implodiram o estádio. Para quem tem dificuldades com as datas
lá vai: fechou em 1977 e implodiram tudo em 1991: 14 anos. O churrascão de
retomada do futebol de campo no ‘Bosque do Galo’ foi em 1992 e estamos em 2014:
22 anos. Isto é o que se chama decisão de fazer voltar o futebol – com o apoio
decisivo, (a redundância é reconhecida) claro, dos que terminaram com o futebol
de campo no centro da cidade.
Mas,
voltemos ao churrascão de 1992: Nossa Senhora de Fátima, lembro até hoje.
Era
sábado, 5 de dezembro.
Saí
da Difusão depois de apresentar o programa do Hospital de Caridade, faltando 15
pro meio dia. Quando passei pelo Distrito Industrial levantou uma poeira na
saída do asfalto. Passei ‘voando’ pelo motel Beko’s e logo vi uns 50 carros
estacionados na entrada principal do ‘Bosque do Galo’, como anunciaram naquela
época – nome que pegou, graças, graças, graças a mais lazer sob as árvores - e
menos futebol.
O
Vinícius estava de camiseta vermelha, presidente do Atlântico e falava no rádio
do carro da Erechim, dentro da unidade móvel dando uma entrevista ao eterno
Euclides Tramontini. Estacionei meu Gol 1983 ali perto da goleira da entrada.
Gol 83 – e isto que passei ‘voando’ pelo motel!? Meu consolo, hoje, olhando
para trás é que o automóvel mais moderno era um 1992 – hoje já com 22 anos, ou
seja, mesmo tempo que o Atlântico tem se arrastado na sua caminhada de Moisés
quando tirou os hebreus do Egito para conduzi-los à Terra Santa. Foi tanto
tempo que Moisés morreu antes de entrar na Terra Santa – missão confiada a
Josué. Será mesmo? Em tempo: s hebreus chegaram – já o FC profissional...!
Embaixo
das sociais (que sociais?– onde hoje é a secretaria e tem um salão de festas em
cima!?) corria uma água limpa que mais tarde vim a saber do Marcos, o Marcão,
colega de jornal e amigo de vida, ser um legítimo - ‘ó Ody – isto aqui é um
legítimo veio d’água’.
Logo
quis comprar uma camiseta que vendiam a CR$ 100 mil. CR$ 100 mil? Estava
disposto a dar um cheque, duvidoso de fundos é claro; mas não demorou e, logo,
ganhei uma verde-rubra de presente. Coisas que a imprensa reserva à sua gente.
Até hoje tenho para mim favores para contrabalançar desdéns que a profissão
também nos reserva, principalmente quando se quer guardar fidelidade em honra à
profissão, etecetera e tal.
Eram
Pedrollos, Santolins, Zanardos, Pianas, Pagliosas, Canteles, Bordins,
Mocellins, Caldarts, Mullers, Donidas, Caldarts, Vieros, Fasolos, Ariolis,
Tosettos, Dal’Zotts, Balvedis, Massignans, Castros, Carraros, Mattés, Carons,
Bertos, Malinowskis, Menegattis, Girardellos, e outros, por entre guaramirins e
caneleiras. Todo mundo contando histórias de atlangas e jogos que marcaram o
Altântico durante sua vida. Até o bispo Dom Girônimo Zanandréa andou por lá
naquele sábado de manhã.
Aliás,
depois dos discursos, quando o Vinícius quase chorou com saudades de ofender um
árbitro, foi o que ele disse enquanto discursava, outros também se fecharam com
um nó na garganta, provavelmente, todo mundo sentindo a mesma saudade – mas,
como dizia, depois dos discursos o bispo acomodou sua estola no pescoço e
arremessou água benta sobre as cabeças atlantistas, a maioria, é claro, pra lá
de pecadoras. Há quem garanta que a Antártica desceu melhor depois que a água
benta do bispo voou pelos ares puros dos guaramirins. Estávamos – abençoados e
liberados. E, ademais, pasmem – Dom Girônimo, talvez sem querer fazer média,
apareceu vestido de vermelho quando leu São Paulo e falou de Coríntios.
Um
barril de chopp e quarenta garrafas depois – havia quem jurasse que o bispo
tinha mencionado São Paulo e Corinthians.
Confesso
que a paixão sempre foi um tema que fascinou. Nada como uma paixão para expor a
verdade da pessoa e, depois, desnudar suas contradições. A gente vira gente
quanto fala sem reservas, enfim, com o coração.
Naquela
manhã a paixão não pediu licença.
Rolou
abusivamente.
Ouvi
em mais de seis rodinhas contarem o famoso 2 a 1 do Atlântico no Ypiranga, todas as seis
de modo diferente.
Numa
delas o Índio aparou um cruzamento do Tomasi e desempatou o jogo aos 42 do 2º
tempo. Em outra o Índio empatou aos 38 e desempatou aos 44.
-
Nunca esqueço.
O
ypiranga estava ganhando por 1 a
0. E nóis lá. Os amarelo (ypiranguistas) começaram a gozá e já gritavam olé, má
lá pelos 40 do 2º tempo o Pinhão (Índio) driblou trêis ô quatro e empatô. E
pior – o empate não servia. Quarenta e cinco e o juiz ia apitá o fim do jogo, e
aí o Índio, de novo, saiu driblando do meio do campo e fez o 2º gol. Credo.
‘Pelo Amor de Deus – vamos acalmar’ gritava o Tramontini. O pavilhão balançava
só de um lado. O vermêio. O nosso. Do ôtro lado, nas arquibancadas cás tábua
tudutorta pela chuva e sol, e meia soltas, nóis pulava (ignorando o perigo de
despencar). Nunca me esqueço’.
-
Dá mais duas, gritou o Santolin – para festejar a recontada do clássico 126
pela, pela... enésima vez.
A
verdade dos fatos é que foi um Atlanga em 1961 na Montanha (antigo estádio do
Ypiranga antes de inaugurar o majestoso – Colosso da Lagoa). Tomasi (atacante
atlantino) foi expulso e Noronha (quarto-zagueiro, craque de bola) sofreu uma
lesão e ficou em campo só para fazer número. Mal podia caminhar. Eram 11
contra 9. E o Ypiranga tinha um timaço. O Atlântico perdia de 1 a 0 e o empate era do
Ypiranga. Aos 36, Índio (o Homem Atlanga) dribla Gaieski, Zapata e Danúbio e
empata o jogo. Aos 42, endiabrado – Índio livra-se novamente de Gaieski, dribla Schneider
e encobre o goleiro Osvaldo que saía da meta apavorado. Era o 2 a 1. Índio desmaia em campo. Quando Lindedorfe
Xavier apita o fim da partida, a torcida atlantina pula o alambrado e invade o gramado. Um dia –
aqui no blog conto a história completinha do jogo e do que cercou a decisão.
Para a maioria dos atlantistas – a maior vitória de todos os tempos nos
clássicos.
Bueno
- voltemos a 1992.
No
Bosque do Galo lá pelas três da tarde desmancharam as mesas, colocaram as
tábuas num caminhão e levaram de volta para a Intecnial com a promessa do Jaca
(Jandir Cantele) de que as emprestaria de novo, mas desde que alguém se
comprometesse em
recolhê-las. Aliás , de lá em diante, perto das sociais, dizem
que fizeram dezenas de churrascos e contaram outras dezenas de vezes os dois
gols do Índio – fora o inesquecível Atlântico 6 x 5 Lajeadense, este, um
escândalo – mas a ‘nosso’ favor.
Um
dia também ainda conto.
O
Delcy, o Nadir, o Amilton, o Testinha, o Marcão, o Tramontini (Meu Deus – então
já tinha imprensa antes...!) e eu saímos pelas 4 da tarde. Queria ver São Paulo
e Palmeiras – mas paramos num bar da Sete. Gastamos o resto da tarde
‘mastigando’ nossa paixão maior ‘a imprensa’ e derrubando mais algumas geladas.
Naquele
sábado, na edição de “A Voz da Serra’ tinha escrito que quem quisesse virar
retrato de parede que fosse ao Bosque do Galo. Hoje, quando me deparo com uma
daquelas fotos, fico de boca aberta: como passa o tempo!
Uma
coisa não me sai da cabeça.
Lá
no Bosque do Galo, enquanto bebiam e falavam sobre o passado e, os planos de
futuro, saí um pouco do arvoredo. Não sei se brotou do imaginário, mas logo
tive a convicção de que entre guaramirins, mamicas de cadela e caneleiras ouvi:
‘esse lugar é sagrado pra quem é atlantista. Cuide bem dele. Um dia não serão
60 ou 70 – mas quem sabe - milhares que estarão por aqui, gritando e agitando
bandeiras por uma mesma causa. Multiplicando um sentimento individual’.
Por
enquanto – a coisa ficou mesmo no imaginário.
Mas
este será sempre o Galo Verdadeiro – o Galo do Jango, do Vinícius, do Charuto,
do Koff, do Tomasi, do Arizinho, do Doracy, do Osmarino, do César, do Alemão
Preto, do Lewis, do Véio Graví, do Altair Santolin, do Índio, do... – o meu!
Dos dirigentes desses últimos 23 ou 37 anos que ainda ‘teimam’ em bradar:
‘Avante,
Vamos
à luta...!’.
E
para que esta geração que ainda mantém desfraldada a bandeira verde-rubra do
futebol de campo, deito aqui o último clássico Atlanga, dos meus registros
completos. Depois haveria mais dois – mas não tenho os times. Ambos em 1981:
zero a zero no Colosso da Lagoa e um 1 a 1 na Baixada Rubra.
Mas,
antes, como disse, o meu ‘último’ completo foi em 25 de novembro de 1976.
Atlântico 3 a
1 no Colosso da Lagoa. Ferreira de Almeida foi o árbitro. Gols de Zeca, Paulo
Taborda e Darci (A) e Paulo Roberto (Y).
Este
jogo contrariou uma tese histórica do futebol: quem domina o meio campo
controla a partida e geralmente ganha. Mas não foi assim. O Ypiranga dominou o
setor, mas o Atlântico, fechado – saía em contra-golpes usando a velocidade dos
seus homens de frente. Nos primeiros 45 ficou no 1 a 1. Mas em duas escapadas o
Galo confirmou a vitória no 2º tempo.
O
Ypiranga teve: Jurandir; Jonas, Moacir, Joubert e Cito; Éderson, Lambari e
Paulo Roberto; Zezinho, Vilson e Rosalino.
O
Atlântico venceu o último clássico da sua história – a menos que um dia volte
-, jogando com: Luis Carlos; Cosme, Carlos Alberto, Virgílio e Adão; Zé Carlos,
Zeca e Fernando; Jaime, Darci e Paulo Taborda.
Ah
– os guaramirins...!’.