sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Era a vida passando!

Painel 17 out 2014
                                        (Missa dos dez anos do acidente com o ônibus escolar)


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As pequeninas margaridas amarelinhas começavam a desabrochar e se deixavam balançar pela brisa – quietamente quase rente ao chão.
Devia fazer uns 12 graus.
Tímidas estrelas cintilavam no céu por entre nuvens e galhos de mil árvores.
Rãs coaxavam a beira do lago da morte.
Grilos completavam a sinfonia que ousava quebrar o silêncio um conjunto como que restabelecendo um vínculo invisível com as crianças que saíram de casa há dez anos, e não voltaram nunca mais voltaram.
Dois enormes pinheiros de idades, quem sabe quase centenária, faziam plantão ao lado do sininho que convoca sempre os fiéis.
Ao longe, do outro lado do lago da morte, no asfalto um ronco de motor rasgava a noite que parecia com seu declínio estar encobrindo abraçada, a saudade e a dor dos pais, familiares e amigos que rezavam reunidos na pequenina capela de São Judas Tadeu.
A estradinha crispada de pedrinhas e que ia se umedecendo com um misto de brisa e sereno – corria sem saber do seu papel na tragédia rumo à travessia traiçoeira cortando o lago da morte.

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Dentro da capelinha 16 famílias representavam as 17 vítimas de um setembro que já vai dez anos, mas o tempo de hoje não era àquele tempo porque tudo era como se fosse - ontem.
O padre Moacir Noskoski falava ‘que Deus seja a força e a luz’ que aquela gente precisava naquela hora. E é isto que deve zunir na nossa vida, especialmente para quem não gosta deste tipo de lembrança, porque ‘aquela gente’ podia ser você, eu, nós... Por que eles? Por que não outros? E se fossem outros não seria a mesma tragédia?

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Homens e mulheres com fisionomias contritas e surradas pela saudade, pela dor e pelo conformismo de quem prisioneiro disso é, resignavam-se impotentes, porquanto já não tem mais forças para mudar seu próprio destino selado que foi, como alguns entendem, pelo destino. Que destino!?

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Quando o padre começou a solenidade – o sino bateu de novo. E então, lentamente e carregando sobre os ombros um mundo de dor, lá vinham às mães trazendo junto ao peito cada uma, uma rosa branca; representando a sua perda. O filho de ontem no colo.
Uma delas portava duas - rosas.
Seu marido, ao lado em uma cadeira de palha, tentava acalmar o folheto para acompanhar a missa. Sim, porque em uma de suas mãos tremia o Mal de Parkinson, doença que lhe foi diagnosticada depois da tragédia.
Conheço bem essa relação – tragédia, dor, Mal de Parkinson. Meu querido pai Alberto também em uma noite foi apunhalado às costas pelo ‘destino’ que lhe tirou a única filha. Um ano depois, milhões de minutos acordados e milhões de ‘por quê?’ – e ele também tremia uma das mãos.
Em Porto Alegre um especialista na Independência me disse em 1978: ‘seu pai tem uma doença chamada Mal de Parkinson. Não tem cura ainda (nem hoje!). Existem uns remédios para controle, mas a doença nunca para de evoluir e pode ser que dure um ano ou 20 anos. Profeticamente, 20 anos depois, no dia dos namorados, a idade que sua filha tinha quando partiu repentinamente como são todas as tragédias – meu pai Alberto também se desligou deste mundo para quem sabe encontrar-se com quem não devia ter se separado assim, tão, estupidamente.

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Todos na capelinha vestiam roupas simples. Eram simplesmente eles - sem enfeites. Ademais não era uma festa.
E isto não importava pela singela razão que não importa mais. Nunca mais isto terá alguma importância numa vida tão machucada.
À medida que as orações, e especialmente os cânticos se levantavam, as lágrimas desciam.
Escorriam independentes e livres pelas faces róseas, torneando músculos que não se mexiam.
Olhares miravam um ponto cego perdido no tempo. Um fundo sem fundo. Onde estariam as ‘nossas crianças!?’.

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‘Só na fé ganhamos força e coragem’, disse o padre, entre velas que ardiam, sem piar seguindo um cerimonial absolutamente inflexível. As 17 rosas brancas encheram o vaso de vidro. Mãos dadas, cânticos em tom mais alto que o comum, como que uma dor sufocada que ao achar uma fresta, grita tentando libertar-se de grilhões por um instante num sentimento de solidariedade. Tudo se arrastava como previsto para seu desfecho de fé e lembranças de um dia, e de entes queridos que no contexto, formaram cada qual com seu papel, um episódio que em dez anos parece mais vivo do que nunca, e talvez jamais seja plenamente superado.

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Já vi muitas coisas no jornalismo. Mas até então não tinha estado em um lugar por conta de um fato, onde uma colega jornalista também não continha as lágrimas, procurando entender por que ali estava; se era mesmo por aquilo que o ‘destino’ reservara àquela gente!

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Saí lá fora outra vez e parecia que o mundo estava igual. Que nada acontecera.
Grilos e rãs mantinham a sinfonia entrecortada por um ronco meio surdo e afastado de motor no asfalto. A brisa refrescara e havia um ar úmido, quase solidário a gritos mudos, porque forçosamente contidos.
Quando o padre Moacir deu a benção final encerrando a cerimônia, e após troca de abraços, um pai, apertando as mãos com os dedos entrecruzados, de cabeça erguida e lançando um olhar sem horizonte acima de todas as cabeças – resignado, limitou-se a balbuciar como se falasse consigo mesmo: ‘não adianta. Está tudo terminado’.
As rosas brancas, abençoadas e testemunhas do evento, voltaram aos colos como relíquias vivas pelas mães e pais para suas casas solitárias, escondidas na escuridão e encobertas em sepulcral solidão.

9


Lá fora margaridas miúdas ameaçavam desabrochar para a vida. Uma nova vida no jardim da vida, sujeitas então a todas as vicissitudes que um dia podem nos premiar ou nos assaltar, apunhalando-nos traiçoeiramente, quebrando com o encanto de todas as rosas e margaridas, estrelas, luzinhas e brisas. Retirando todos os sorrisos, por mais simples que se deixam fazer, para a tudo enfeitar e colorir.

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Meio afastado das despedidas já sob o céu que a tudo encobria, um homem meio encurvado, saboreava quem sabe seu único prazer – e fumegava um cigarro. O Egídio Lazzarotto, quieto em si mesmo, ligou o carro e fomos para nossas casas.
Olhando de lado pelo vidro fechado, casinhas, luzinhas, grupinhos que já iam mais longe e a mata fechada, pareciam correr e passar.
Passar pela vida.
Era a vida passando!




Dnit admite novo traçado para BR 153
       O Dnit/RS admite que as obras nos Km 2 e 5 da BR 153, quase na divisa com Santa Catarina, não são definitivas. O trânsito foi fechado no dia 27 de junho por rachaduras na pista. No dia 4 de agosto foi reaberto com a construção de um novo trecho. Era para ser definitivo. Era. Quase um mês depois a terceira pista rachou e foi interrompida. O trânsito segue normal em duas pistas – mas o Dnit deve implantar um novo traçado no local, pois admite deslizamentos no KM 2. O engenheiro Adalberto Jurach - Supervisor da Unidade Local do DNIT/RS em Vacaria, fala sobre o assunto.


José Adelar Ody: O Dnit faz novos estudos no local?
Adalberto Jurach: Estamos desenvolvendo um projeto, através da contratada Engemin, para soluções definitivas, tanto no km 2 como no km 5.

Ody: O que constatou?
Adalberto: O projeto ainda está sendo desenvolvido. O que está constatado é que o deslizamento, no Km 2, continua. Mesmo após o alívio de peso proporcionado pelas escavações da obra.

Ody: Será necessário um novo projeto para construir um novo trecho dos km 5 até o zero na divisa com Santa Catarina?
Adalberto: Uma das possibilidades, e a que até agora se mostrou mais viável, é a construção de uma variante, ou seja, um novo traçado da rodovia neste Km 2. A extensão não será até a divisa, e sim, algo em torno de 1000 metros. No km 5, a tendência é uma obra de contenção, trazendo a rodovia ao traçado original. Mas reforço que o projeto ainda não está concluído.

Ody: Existem previsões ou especulações sobre prazos para o novo projeto, início de obras, onde seria, custo da obra, etc...?
Adalberto: Ainda não. Somente após a conclusão do projeto, prevista para novembro.

Ody: O Km 2 continua confiável, mesmo que em duas pistas?
Adalberto:  Sim. Estamos monitorando constantemente.


Estilo equivocado
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Os governos ficam marcados.  Marcados pelo que fizeram ou pelo que não fizeram. Mas quase sempre todos ficam marcados pela motivação da realização ou não..

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Há quem governe pensando como gestor público. Governando pelo povo - para o povo.
E há quem governe pelo povo - pensando em si.

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No fim da história, não obstante, queriam ou não, os governos ficam marcados pelo estilo que adotaram.
Agora – como uma nação que ainda está no limiar de uma democracia, contanto a continuidade de tempo corrido, e perceber – porquanto assim o é admitindo – que há quem governe com o fito de ser reconhecido eleitoralmente, porquanto, a ação, o incentivo, a iniciativa, a ‘visão desenvolvimentista’, no fundo frequenta o palco da gestão com um propósito escuso: a retribuição do favor.

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Mas desde quando a gestão pública, séria, permite brincar com o público, como se tudo não passasse de uma troca de favores, à medida que o público não tem dono e, em não tendo dono, dado não podia ser. Muito menos – criar expectativas sobre pseuda devolução através de outro mimo.

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Não deviam importar cobranças ou pressões. O gestor público que sabe diferenciar administração de eleição, e ação de devolução, sempre será reconhecido como um ente de todos e por todos – jamais, deixando-se encolher (e este processo pode levar à irrelevância até partidária) a ponto de ser confundido como mero mandalete – termo que o saudoso Geder Carraro, usava quando se referia a políticos teleguiados por interesses mais altos e com voz mais grossa.

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Tudo não seria nada não fosse o singelo olho da opinião da pública – que, em troca de uma boca mais fechada, melhor vê, percebe, deduz e às vezes até conclui. Que Campo Pequeno não sofra deste mal que assola comunas onde há elementos como terra, água, sol, ar e interesses – vicejando em moldes abertos ou fechados.

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Agora – também é verdade que quando nos mexemos por algo, sempre convivemos com o dilema da expectativa do reconhecimento.
No público ou no privado.
A diferença é que no privado quando damos, o fazemos porque é nosso e convicção, e quando emprestamos, se não nos devolvem, podemos cobrar. No público – por público ser, proibido devia ser emprestado, e dar... nem se fala!

Prioridades
       Enquanto no âmbito do embate e dos interesses políticos a chapa vem esquentando nos meios de quase todos os partidos com representação em Campo Pequeno – no mundo que interessa ao cidadão que tudo paga e a tudo sustenta, desde a produção, a geração de empregos e impostos, no ar há uma sensação de que a ‘terra’ anda mais devagar.
       Não é admissível que o erechinense tenha que conviver mais de ano sem um lugar para estacionar seu carro no centro da cidade. E uma solução para esta demanda, sejamos sensatos não é atribuição de nenhuma associação de classe, entidade social ou congregação religiosa.
       Entre em qualquer loja da cidade para saber o que o proprietário está achando dessa situação toda. Fale com quem quer estacionar por desejo ou necessidade em determinado lugar. E também isto influi nas ‘convicções’ políticas do cidadão.
       É tudo uma questão de prioridade: do poder público, do lojista e do consumidor. E de quem mais? Ah – dele, que quase nunca joga, mas quando convocado pode decidir. Prioridades - como elas nos enganam, e como nós nos deixamos enganar por elas