Painel 17 out 2014
(Missa dos dez anos do acidente com o ônibus escolar)
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As pequeninas margaridas
amarelinhas começavam a desabrochar e se deixavam balançar pela brisa –
quietamente quase rente ao chão.
Devia fazer uns 12
graus.
Tímidas estrelas
cintilavam no céu por entre nuvens e galhos de mil árvores.
Rãs coaxavam a beira do
lago da morte.
Grilos completavam a
sinfonia que ousava quebrar o silêncio um conjunto como que restabelecendo um
vínculo invisível com as crianças que saíram de casa há dez anos, e não
voltaram nunca mais voltaram.
Dois enormes pinheiros
de idades, quem sabe quase centenária, faziam plantão ao lado do sininho que
convoca sempre os fiéis.
Ao longe, do outro lado
do lago da morte, no asfalto um ronco de motor rasgava a noite que parecia com
seu declínio estar encobrindo abraçada, a saudade e a dor dos pais, familiares
e amigos que rezavam reunidos na pequenina capela de São Judas Tadeu.
A estradinha crispada de
pedrinhas e que ia se umedecendo com um misto de brisa e sereno – corria sem
saber do seu papel na tragédia rumo à travessia traiçoeira cortando o lago da
morte.
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Dentro da capelinha 16
famílias representavam as 17 vítimas de um setembro que já vai dez anos, mas o
tempo de hoje não era àquele tempo porque tudo era como se fosse - ontem.
O padre Moacir Noskoski
falava ‘que Deus seja a força e a luz’ que aquela gente precisava naquela hora.
E é isto que deve zunir na nossa vida, especialmente para quem não gosta deste
tipo de lembrança, porque ‘aquela gente’ podia ser você, eu, nós... Por que
eles? Por que não outros? E se fossem outros não seria a mesma tragédia?
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Homens e mulheres com
fisionomias contritas e surradas pela saudade, pela dor e pelo conformismo de
quem prisioneiro disso é, resignavam-se impotentes, porquanto já não tem mais
forças para mudar seu próprio destino selado que foi, como alguns entendem,
pelo destino. Que destino!?
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Quando o padre começou a
solenidade – o sino bateu de novo. E então, lentamente e carregando sobre os
ombros um mundo de dor, lá vinham às mães trazendo junto ao peito cada uma, uma
rosa branca; representando a sua perda. O filho de ontem no colo.
Uma delas portava duas -
rosas.
Seu marido, ao lado em
uma cadeira de palha, tentava acalmar o folheto para acompanhar a missa. Sim,
porque em uma de suas mãos tremia o Mal de Parkinson, doença que lhe foi
diagnosticada depois da tragédia.
Conheço bem essa relação
– tragédia, dor, Mal de Parkinson. Meu querido pai Alberto também em uma noite
foi apunhalado às costas pelo ‘destino’ que lhe tirou a única filha. Um ano
depois, milhões de minutos acordados e milhões de ‘por quê?’ – e ele também
tremia uma das mãos.
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Todos na capelinha
vestiam roupas simples. Eram simplesmente eles - sem enfeites. Ademais não era uma festa.
E isto não importava
pela singela razão que não importa mais. Nunca mais isto terá alguma
importância numa vida tão machucada.
À medida que as orações,
e especialmente os cânticos se levantavam, as lágrimas desciam.
Escorriam independentes
e livres pelas faces róseas, torneando músculos que não se mexiam.
Olhares miravam um ponto
cego perdido no tempo. Um fundo sem fundo. Onde estariam as ‘nossas
crianças!?’.
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‘Só na fé ganhamos força
e coragem’, disse o padre, entre velas que
ardiam, sem piar seguindo um cerimonial absolutamente inflexível. As 17 rosas brancas
encheram o vaso de vidro. Mãos dadas, cânticos em tom mais alto que o comum,
como que uma dor sufocada que ao achar uma fresta, grita tentando libertar-se
de grilhões por um instante num sentimento de solidariedade. Tudo se arrastava
como previsto para seu desfecho de fé e lembranças de um dia, e de entes
queridos que no contexto, formaram cada qual com seu papel, um episódio que em
dez anos parece mais vivo do que nunca, e talvez jamais seja plenamente
superado.
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Já vi muitas coisas no
jornalismo. Mas até então não tinha estado em
um lugar por conta de um fato, onde uma colega jornalista também não continha
as lágrimas, procurando entender por que ali estava; se era mesmo por aquilo
que o ‘destino’ reservara àquela gente!
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Saí lá fora outra vez e
parecia que o mundo estava igual. Que nada acontecera.
Grilos e rãs mantinham a
sinfonia entrecortada por um ronco meio surdo e afastado de motor no asfalto. A
brisa refrescara e havia um ar úmido, quase solidário a gritos mudos, porque
forçosamente contidos.
Quando o padre Moacir
deu a benção final encerrando a cerimônia, e após troca de abraços, um pai,
apertando as mãos com os dedos entrecruzados, de cabeça erguida e lançando um
olhar sem horizonte acima de todas as cabeças – resignado, limitou-se a
balbuciar como se falasse consigo mesmo: ‘não adianta. Está tudo terminado’.
As rosas brancas,
abençoadas e testemunhas do evento, voltaram aos colos como relíquias vivas
pelas mães e pais para suas casas solitárias, escondidas na escuridão e encobertas
em sepulcral solidão.
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Lá fora margaridas
miúdas ameaçavam desabrochar para a vida. Uma
nova vida no jardim da vida, sujeitas então a todas as vicissitudes que um dia
podem nos premiar ou nos assaltar, apunhalando-nos traiçoeiramente, quebrando com
o encanto de todas as rosas e margaridas, estrelas, luzinhas e brisas.
Retirando todos os sorrisos, por mais simples que se deixam fazer, para a tudo
enfeitar e colorir.
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Meio afastado das
despedidas já sob o céu que a tudo encobria, um homem meio encurvado, saboreava
quem sabe seu único prazer – e fumegava um cigarro. O Egídio Lazzarotto, quieto
em si mesmo, ligou o carro e fomos para nossas casas.
Olhando de lado pelo
vidro fechado, casinhas, luzinhas, grupinhos que já iam mais longe e a mata fechada,
pareciam correr e passar.
Passar pela vida.
Era a vida passando!
Dnit
admite novo traçado para BR 153
O Dnit/RS admite que as obras nos Km 2 e 5 da BR 153, quase na
divisa com Santa Catarina, não são definitivas. O trânsito foi fechado no dia 27
de junho por rachaduras na pista. No dia 4 de agosto foi reaberto com a
construção de um novo trecho. Era para ser definitivo. Era. Quase um mês depois
a terceira pista rachou e foi interrompida. O trânsito segue normal em duas
pistas – mas o Dnit deve implantar um novo traçado no local, pois admite
deslizamentos no KM 2. O engenheiro Adalberto Jurach - Supervisor da Unidade
Local do DNIT/RS em Vacaria, fala sobre o assunto.
José Adelar Ody: O Dnit
faz novos estudos no local?
Adalberto Jurach:
Estamos desenvolvendo um projeto, através da contratada Engemin, para soluções
definitivas, tanto no km 2 como no km 5.
Ody: O que constatou?
Adalberto:
O projeto ainda está sendo desenvolvido. O que está constatado é que o
deslizamento, no Km 2, continua. Mesmo após o alívio de peso proporcionado
pelas escavações da obra.
Ody: Será necessário um
novo projeto para construir um novo trecho dos km 5 até o zero na divisa com
Santa Catarina?
Adalberto: Uma das
possibilidades, e a que até agora se mostrou mais viável, é a construção de uma
variante, ou seja, um novo traçado da rodovia neste Km 2. A extensão não será até a
divisa, e sim, algo em torno de 1000 metros . No km 5, a tendência é uma obra de
contenção, trazendo a rodovia ao traçado original. Mas reforço que o projeto
ainda não está concluído.
Ody:
Existem previsões ou especulações sobre prazos para o novo projeto, início de
obras, onde seria, custo da obra, etc...?
Adalberto: Ainda não.
Somente após a conclusão do projeto, prevista para novembro.
Ody: O Km 2 continua
confiável, mesmo que em duas pistas?
Adalberto: Sim. Estamos monitorando constantemente.
Estilo equivocado
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Os governos ficam
marcados. Marcados pelo que fizeram ou
pelo que não fizeram. Mas quase sempre todos ficam marcados pela motivação da
realização ou não..
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Há quem governe pensando
como gestor público. Governando pelo povo - para o povo.
E há quem governe pelo
povo - pensando em si.
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No fim da história, não
obstante, queriam ou não, os governos ficam marcados pelo estilo que adotaram.
Agora – como uma nação
que ainda está no limiar de uma democracia, contanto a continuidade de tempo
corrido, e perceber – porquanto assim o é admitindo – que há quem governe com o
fito de ser reconhecido eleitoralmente, porquanto, a ação, o incentivo, a
iniciativa, a ‘visão desenvolvimentista’, no fundo frequenta o palco da gestão
com um propósito escuso: a retribuição do favor.
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Mas desde quando a
gestão pública, séria, permite brincar com o público, como se tudo não passasse
de uma troca de favores, à medida que o público não tem dono e, em não tendo
dono, dado não podia ser. Muito menos – criar expectativas sobre pseuda devolução
através de outro mimo.
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Não deviam importar
cobranças ou pressões. O gestor público que sabe diferenciar administração de
eleição, e ação de devolução, sempre será reconhecido como um ente de todos e
por todos – jamais, deixando-se encolher (e este processo pode levar à
irrelevância até partidária) a ponto de ser confundido como mero mandalete – termo que o saudoso Geder
Carraro, usava quando se referia a políticos teleguiados por interesses mais
altos e com voz mais grossa.
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Tudo não seria nada não
fosse o singelo olho da opinião da pública –
que, em troca de uma boca mais fechada, melhor vê, percebe, deduz e às vezes
até conclui. Que Campo Pequeno não
sofra deste mal que assola comunas onde há elementos como terra, água, sol, ar
e interesses – vicejando em moldes abertos ou fechados.
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Agora – também é verdade
que quando nos mexemos por algo, sempre convivemos com o dilema da expectativa
do reconhecimento.
No público ou no
privado.
A diferença é que no
privado quando damos, o fazemos porque é nosso e convicção, e quando
emprestamos, se não nos devolvem, podemos cobrar. No público – por público ser,
proibido devia ser emprestado, e dar... nem se fala!
Prioridades
Enquanto
no âmbito do embate e dos interesses políticos a chapa vem esquentando nos
meios de quase todos os partidos com representação em Campo Pequeno – no
mundo que interessa ao cidadão que tudo paga e a tudo sustenta, desde a
produção, a geração de empregos e impostos, no ar há uma sensação de que a
‘terra’ anda mais devagar.
Não
é admissível que o erechinense tenha que conviver mais de ano sem um lugar para
estacionar seu carro no centro da cidade. E uma solução para esta demanda, sejamos
sensatos não é atribuição de nenhuma associação de classe, entidade social ou
congregação religiosa.
Entre
em qualquer loja da cidade para saber o que o proprietário está achando dessa situação
toda. Fale com quem quer estacionar por desejo ou necessidade em determinado
lugar. E também isto influi nas ‘convicções’ políticas do cidadão.
É tudo uma questão de prioridade: do poder
público, do lojista e do consumidor. E de quem mais? Ah – dele, que quase nunca
joga, mas quando convocado pode decidir. Prioridades - como elas nos enganam, e
como nós nos deixamos enganar por elas