quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

ERECHIM NÃO TEM MAIS UPA





Isso mesmo. A Unidade de Pronto Atendimento (UPA) está desabilitadada para o município de Erechim. Como sempre, na origem de tudo ou no fim de tudo, a falta de repasse de recursos, especialmente da União. Projetaram uma UPA para custar R$ 350 mil/mês (União com R$ 175 mil, Estado e município com R$ 87,5 mil cada). Quando entrou em funcionamento descobriram que por menos de R$ 700 mil a R$ 800 mil não dava. Levar o prédio embora não dá. O município queria comprá-lo, mas o caso pode ter outro desfecho. Quem dá os detalhes de como tudo ficou agora é o secretário adjunto da Secretaria de Saúde de Erechim, Jackson Arpini.

Blog do Ody - É verdade que Erechim não tem mais Unidade de Pronto Atendiento – UPA?.-

Jackson Arpini - Sim, em outubro de 2017, através da Portaria nº 2.685/2017, publicada no Diário Oficial da União foi desabilitada, o que significa dizer que Erechim não está mais atrelado ao regramento que rege as UPAs.



Blog do Ody -  Pode dar mais detalhes?

Jackson Arpini - a) Em março de 2017 representantes do município de Erechim estiveram em audiência com o Ministro da Saúde, Sr. Ricardo Barros, em Brasília, para tratar especificamente da situação das   Upas, em especial, da Upa de Erechim;

b) Após amplo diálogo, onde as partes tiveram a oportunidade de fazer as ponderações pertinentes, o órgão ministerial não se opôs a desabilitação da Upa de Erechim, entendendo que a implantação de duas unidades com o mesmo objeto, a uma distância aproximada de cem metros (Pronto Socorro da FHSTE e UPA), no atual cenário de carência financeira, seria uma duplicidade de serviços e gastos desnecessários;

c) Na oportunidade o ministro solicitou que o município formulasse a proposição, através de ofício com as devidas justificativas e considerações, fato que foi prontamente atendido. Em março de 2017 o município protocolou o ofício;

d) Na sequência, em maio de 2017, o órgão ministerial emitiu um Parecer Técnico e solicitou documentos complementares, entre eles, uma proposta de como ficará organizada a Rede de Atenção às Urgências, no âmbito municipal;

e) A Secretaria de Saúde formulou a proposta e prontamente enviou para análise técnica do ministério (junho de 2017) que emitiu parecer favorável a desabilitação, no entendimento que a rede não ficará descoberta com o funcionamento da unidade em horário menor, e com os serviços do Pronto Socorro da FHSTE (Atenção Secundária), da própria unidade (Pronto Atendimento), entre outros;

f) Face ao  Parecer Técnico favorável o ministério publicou, em outubro de 2017, a Portaria nº 2.685/2017, que desabilitou a Upa de Erechim.


Blog do Ody - O prédio e as instalações estão lá. O que funciona no local?


Jackson Arpini - Sim, a estrutura física continua a mesma (inalterada). Quando o processo de interlocução com Ministério da Saúde encerrar em definitivo serão realizadas adequações físicas para a implantação da Unidade Municipal de Referência em Saúde, que agregará os seguintes serviços:

·      UBS Centro (já em funcionamento na antiga UPA)
·      Pronto Atendimento (já em funcionamento na antiga UPA)
·      Ambulatório de Feridas Crônicas (já em funcionamento na antiga UPA)
·      Centro de Referência da Mulher (já em funcionamento na antiga UPA)
·      Base da SAMU/SALVAR (em execução de projeto para realização de obra física)



Blog do Ody -  Que horário fica aberto por dia?

Jackson Arpini - Atualmente a unidade fica aberta aos usuários do sistema público de saúde das 7:30 horas às 19:30 horas (12 horas/dia). A partir do encerramento das tratativas com o órgão ministerial a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) estuda viabilidade de ampliação do horário do Pronto Atendimento (um dos serviços da unidade) até às 22 horas, claro, após análise de impacto financeiro.





Blog do Ody – Não lhe parece que o governo federal teria interesse que o município assumisse tudo?

Jackson Arpini - O governo federal, através do Ministério da Saúde, já trabalha tecnicamente com a alternativa da desabilitação das unidades (fato corriqueiro) em virtude das carências financeiras dos entes parceiros (união, estados e municípios).
Em outras palavras não se opõem a essa decisão dos municípios que solicitaram tal pleito e vê como uma das alternativas viáveis ao impasse que se dissemina pelo Brasil. A desabilitação não é uma medida unilateral, mas sim, depende de aprovação do Ministério da Saúde, fato que ocorreu com a UPA de Erechim, após amplo diálogo, e com tantas outras.
Atualmente a matéria está na alçada do Tribunal de Contas da União que, em parceria com o Ministério da Saúde, constituiu um Grupo de Trabalho, formado por várias entidades/instituições, com a finalidade de apresentar uma proposta factível e que atenda os interesses da sociedade, dos entes parceiros e aspectos legais, para análise a apreciação do TCU (Portaria nº256/2018).
Estamos atualmente aguardando instruções técnicas do órgão ministerial, para definição da devolução ou não do recurso repassado pelos entes para esse objeto (UPA).
O Ministério já trabalha com a alternativa de destinar as unidades aos municípios sem devolução dos recursos, desde que sejam observados quesitos importantes como “utilidade pública e assistência à saúde”. Para tanto a matéria necessita ser apreciada e aprovada pelo TCU.    


Blog do Ody - A construção da UPA foi um acerto ou um erro?

Jackson Arpini - Nem erro e nem acerto. O que faltou no caso das Upas foi um planejamento mais rigoroso, partindo do pressuposto que as ações de saúde devem ser políticas de Governo (ente público) e não políticas sazonais. Podemos inferir, na nossa concepção, que faltou planejamento e melhor interlocução dos entes parceiros num projeto de longo prazo, no qual envolve edificações, equipamentos e custeio, bem como, o importante fator estadual/regional/local, que apresenta, no universo Brasil, características e necessidades diferentes.
Claro que a alteração do cenário político e financeiro corroborou para o agravamento do impasse das Upas. Desde 2009 os valores de custeio são os mesmos e os custos operacionais subiram consideravelmente, sem contar que os valores pactuados estão abaixo das necessidades reais – o grande gerador do impasse.


Blog do Ody - O que pensar quando um político diz que a prioridade é a saúde – como no caso das autoridades federais?


Jackson Arpini - Reitero, as políticas públicas de saúde devem ser políticas de Governo, com solução de continuidade, perenes. Quando se gera uma demanda pública na área da Saúde há a necessidade de estudo criterioso de viabilidade técnica e, principalmente, orçamentária, para sua manutenção e operacionalidade, caso contrário, as políticas não apresentarão os resultados esperados.
No caso específico das Upas, se houvesse recursos orçamentados suficientes e garantias no repasse regular por parte dos parceiros essa situação não tomaria tal envergadura. Há um hiato entre a proposição teórica e a prática.
Esse exemplo se aplica para outras rubricas na pasta da Saúde, quando verificamos que vários programas não têm, na atualidade, o aporte regular de recursos por parte dos parceiros (união e estado), recaindo a manutenção para o ente municipal – em tese o mais fragilizado. Os municípios devem aplicar em Saúde o percentual de 15% e, segundo dados do SIOPS/MS, aplicam muito além do preconizado. Erechim, em 2017, aplicou 22,7%.


















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