quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Cidade ganha Largo Hermínio Carpegiani




 Paulo César e Celso (Borjão) Carpegiani

Uma solenidade simples, porém carregada de emoção, marcou neste 18 de dezembro a inauguração do “Largo Hermínio Carpegiani – Velho Borges”. Trata-se do maior jogador de futebol da história de 100 anos de Erechim, que correu pelos gramados da cidade sempre vestindo a camisa vermelha e verde do Atlântico. A placa incrustada em uma pedra está na avenida Sete de Setembro esquina com Distrito Federal. 
Cézar Caldart, Marcos Lando, Carpegiani, Julio Brondani, Flávio Zanardo, Renan Soccol, Borjão e Abelar Menegati
  

Na oportunidade falaram o vice-prefeito Marcos Lando, o representante da presidência da Câmara de Vereadores, Mario Rossi, o proponente do projeto de lei Legislativo, vereador Renan Soccol e os filhos de Hermínio, Celso Carpegiani (Borjão) e Paulo César Carpegiani.


Paulo Cesar a esposa Zeni e Borjão com a esposa Neusa
  

Paulo César, Renan e Borjão

O evento foi prestigiado pelas esposas de Celso e Paulo César, por outros vereadores, pelo presidente do C.E.R. Atlântico, Julio Brondani, ex-presidentes do mesmo clube, ex-atletas que atuaram com o homenageado, outros familiares dos Carpegiani na cidade e amigos dos irmãos Borjão e Paulo César, que seguiram as pegadas do pai homenageado. Ambos emocionaram-se quando do descerramento da placa e no momento de seus pronunciamentos, revelando um traço em comum da família, que além de produzir craques, sente no fundo da alma a saudade do pai e a reverência ao ídolo que vários atlantistas reviveram neste 18 de dezembro, mais uma vez – por Hermínio Carpegiani – Velho Borges.

Vereadores que prestigiaram o evento com os familiares dos Carpegiani.


A História do Homenageado

Hermínio Carpegiani - Velho Borges


Nascido em Flores da Cunha veio trazido pelo Plácido Dal Zot em 1942. Viera para trabalhar
na fábrica de camas do empresário/dirigente e assumir a centroavância do Atlântico.

Vestiu a camisa verde-rubra de 1942 a 1958 onde foi campeão de Erechim em 1942, 43, 44, 46, 47,48, 54, 55, 56 e 57. Regionais de 1942, 48, 54, 58. E estadual, vice campeão em 1948 e 1954.

Borges – que ninguém nunca soube explicar a que se devia tal nome de guerra dentro do futebol, uma vez que seus pares o chamavam de Grilo, pois o Borges constituiu família em Erechim. Casou-se com Leda Lacy com quem teve quatro filhos: Celso (Borjão), Paulo César,
Tânia e Edson. Fui colega de Científico da Tânia lá no Mantovani. Casou-se com o meio
campista Roberto que esteve no Ypiranga e Gaúcho e deu ao futebol o filho Juca do
Botafogo.

A família de Borges, que assina Carpegianni; desenvolveu-se com talento, conjugando respeito, tranqüilidade e admiração no seio de Erechim. O pai era famoso, e os filhos prometiam no campinho do Medianeira e no salão pelo Meca. Era bonito – e um dia isto seria honroso – poder ver e poder dizer que viu aquela família jogar futebol.

III

Borges jogou 65 clássicos Atlangas. Todos pelo Atlântico – seu único time. Foram 12 empates,
19 derrotas e 34 vitórias. Incrivelmente – uma descoberta espetacular: fez 31 gols como o
Índio.

Hoje em dia, nove anos depois que meu pai Alberto se foi, e quando a saudade me retira por
instantes das lidas rotineiras da vida, me consolo, incrivelmente, porque sei que meu pai viu jogar, e pelo time do seu coração, um dos jogadores mais espetaculares que o futebol produziu.

Não é preciso aqui falar da extraordinária carreira, enquanto jogador de futebol, escrita por Paulo César Carpegianni. O próprio Borjão (Celso) foi um ótimo meia ponta de lança (quando os times tinham essa figura) e Borjão era o cara da posição. Mas ambos foram, sobremaneira, uma extensão do pai, do jogador de exceção, extensão do velho Borges. Quem nunca ouviu: ‘o velho jogava mais que os dois juntos!’.

Sempre acreditei que na vida, os fora de série, em qualquer segmento não o são por loteria ou
caridade, mas que por trás do brilho, da classe, da exceção, da quase mitologia está uma dura
entrega ao exercício e ao treino, e um altíssimo grau de exigência para consigo mesmo.

Paulo César e Borjão


IV
Uma tarde de outono, quando o cheiro das uvas-japão amassadas junto ao chão úmido vinha forte desde o fundo da goleira ‘de cima’ da Baixada Rubra (oposta ao Mantovani), lembro como se fosse hoje da figura respeitável e admirável que todos nutriam pelo velho Borges.
Ele estava sentado com as nádegas sobre um dos pés e a outra perna alongava-se solta e comprida pela grama do barranquinho que levava à copa junto às bochas e bolão da Baixada.
Tinha uma haste longa de grama entre os dentes e seus olhos marcavam dentro do campo. Se não me engano, eram os juvenis do Atlântico contra o time de cima, e entre os garotos, reluzia o talento de um menino chamado Paulinho.
Era provavelmente início dos anos 60. A gurizada tinha seus 13 a 15 anos – no máximo, no máximo. De repente, o Paulinho apanhou uma bola, botou sob seu controle de pernas e pés como quem apanha e afaga entre as mãos uma bola de pinhão. Paulinho vinha limpando um, dois, três... e o velho Borges ergueu seu bigodinho e sua voz: ‘bate, bate, bateeee guri!’. O guri não bateu. Paulinho fez o que mais gostava. Descobriu o ponteiro entrando atrás da zaga e largou o atacante na cara do gol.
Até hoje ouço os gritos do mestre: ‘bate, bate, bate!’, e um ‘não joooooga naaaada!’. Claro que o ‘velho Borges’ sabia que seu filho, o Paulinho, um dia seria um craque extraordinário. Mas ele queria ver o guri batendo e fazendo gol. Como ele.
V
No último dia 31 de maio, despediu-se o ‘velho Borges’. No CER Atlântico a bandeira ficou a meio mastro. Feliz de quem pode testemunhar o seu notável talento. Apagou-se a luz mais forte do futebol erechinense, embora sua intensidade permaneça na história e à beira do campo com a presença do ‘guri’ que há 45 anos teve de ouvir um ‘não joga naaaaaaaaaada!’.

Paulo, Borges, Borjão e Tisso.




A praça é a liberdade. A amizade. Lá as crianças brincam, os adolescentes namoram, os casais deixam a rotina. A praça é um espaço de vida. Se o meu pai, Alberto, virou nome de rua, e com justiça; talvez a cidade deva retribuir ao ‘velho Borges’ uma linda praça com o nome deste notável jogador de futebol que orgulha a cidade de todos nós. Agora, finalmente, a reverência ao maior atletas que correu pelos gramados de Campo Pequeno tem um belo espaço sacramentado em lei e em placa. Parabéns a todos os envolvidos nessa história que faz justiça a um dos grandes personagens de Erechim.

sábado, 7 de dezembro de 2019

Tempo de lavar a casa



Gotejamento, Molhado, Gota De Água

I

Não há no ano inteiro, período de maior renovação do que este de princípio de fim de ano.
Nem mesmo a Páscoa, que é um ressuscitar, um renascer, um nascer de novo – supera este tempo de motivos natalinos.
À bem da verdade são eventos distintos: na Páscoa vem um baixo astral com a paixão e morte de Cristo, que renasce na Páscoa, mas aí o Coelhinho comercial ainda fala mais alto. Uma pena.
No fim de ano – o nascimento de Cristo ainda encanta as crianças, mas Papai Noel parece superar o coelho comercial.

II

Na verdade são três eventos básicos, que podem ser juntados em um só, que nos levam a fazer um balanço de vida interna e externa: o fim do ano, o Natal (nascimento de Cristo) e o ano novo.

 III

O que fizemos, o que deixamos de fazer, o que almejamos, o que esperamos, o que nos prometemos fazer no ano que chega, as esperanças que se foram, as esperanças que se renovam – tudo nos vêm à cabeça e aí não há castas.

IV

Quando a gente tinha lá os seus 7, seus 9, seus 11 anos – quem hoje tem seus 45 ou 50 ou ainda 60, 70 ou mais de 80 anos -, sabe que aquele tempo era também um tempo de fazer vários tipos de limpeza e de faxinas.

V

Quantos homens e rapazotes, quantas mulheres adolescentes e crianças se uniam em mutirão naqueles distantes fins-de-ano para faxinar.

VI

Quem não atendeu à porta um par de homens com escadas às costas oferecendo seus préstimos para lavar a casa?

VII

- Aiaiaiaiai, já tá tezembro e ainda não madêmo lavá o casa. Onde já se viu uma coisa déééésstas. Os vizinho já lavaram na semána passada e nós nem têmo um em vista. Hoje tu vai falá com aquele que lavô o casa ano retrasado. Será que ele ainda móra ali atrás do cemitério? Ô será que ele mora dentro!?

 VIII

- Primero tem que vê quánto custa. São capaiz de bedi R$ 500 pra lavar... e só por fóra!

IX

- Nón! Mais que R$ 300 ô R$ 500 não vámo bagá! Isso hoje em tia vai ligero pra lavar um casa. E vem água boa e bástande pela tornera... Com tudas estas chuva! E em tois dia láva tudo.

X

- E por dentro, já tá cerdo. Vámo lavá nóis mesmo. Toto mundo ajuda e também limbemo por dentro.

XI

Discussão sobre preço - pede aqui, chora ali, recua lá e mãos à obra. Escadas, mangueiras, sabão, esponjas, sobe, desce, cuidado para não cair, cuidado pra não quebrar as telhas, cuidado com o fio, não te agarra na antena da TV, sol, ameaça de chuva, chuva, raio, trovão, vento, desce, a água tá fraca, a água não chega, abre mais a torneira, um ‘pretume’, um limo que desce pelas paredes... As tábuas vão ficando branquinhas, novas, escovão, arreda as camas, os bidês ou seriam criados-mudos, o guarda-roupa, sobe na cadeira, sobe na mesa, jornal, papelão, sabão, ai que dor na nuca, ai não aguento mais o braço levantado, a água escorrendo pelo braço, pelo cotovelo, pelo antebraço, a água entrando nas axilas, ai, ai, a camisa molhada, a calça molhada, cuidado pra não pisar em cima do sabão, nossa que lambuzeira, limpa também o fio da luz, o bico, digo, a lâmpada, credo – quanta sujeira de mosca... é por isso que a luz era fraca!? Vamo pará que é quase meio dia! De tarde vâmo begá a sala e amanhám de manhám a cozinha e o pánhero. Credo – em cima do focom tá pura banha!

XII

- Precisava quase bintá outra vez, má fica pro áno que vem. Assim com uma poa lavada já muda bástande. Se não ficá nova; má tamém nem parece mais que é a mesma.

 XIII

- Más é mesmo. Pra ficá pem pom – uma móm de tinda precisava canhá! Iiia ficá que nem nôôôvo entóm!

IXV

O pó de um ano inteiro, a chuva em cima do pó, as manchas, o frio, a neblina, o sol de rachar, as noites, a sombra, a umidade – tudo surrando a casa de tábuas por um ano inteiro.

XV

É fim de ano, é Natal, é o alvorecer de um novo ano, é a esperança de banho tomado e roupa limpa e nova. E é tempo de lavar a casa, por dentro e por fora.

XVI

Por acaso, a última morada também (os túmulos) não ganham uma faxina em um ano – uma vez!?
O hábito da limpeza.
É a força da tradição.
É o instinto de não se entregar nunca, e sempre, sempre sonhar.
É a vocação das esperanças renovadas.
E neste mutirão da limpeza é onde residia, também, o sentido prático e vivo de família simples, porém, uma.


XVII


O Brasil se precipita para mais um fim de ano poucas vezes visto na sua história. De 2015 para cá tem sido meio assim. Pena a cegueira do Congresso para as demandas que não podem mais esperar. Vejam a desidratação que promoveram no projeto anticrime do ministro Sérgio Moro. Um acinte às pessoas de bem. Um totem ao atraso. Um Papai Noel bonachão a quem podem defender-se até o fim dos tempos, praticamente.

XVIII

A sujeira que Judiciário, Ministério Público e a Polícia Federal vêm revelando ao país, envergonha e enoja. E aqui não se fala da cor da casa, de bandeiras, de partidos – mas da Nação, do país, da Pátria, do Brasil.

XIX

E assim como a memória reaviva uma tradição que havia de se lavar a casa nestes tempos de fim de ano, queira Deus, e a sociedade brasileira, que a limpeza que as instituições judiciais e policiais vêm provendo, também não se deixe arrefecer e firme-se como um hábito, uma rotina, uma tradição nacional.

XX

Que este assunto de domínio nacional, escancarando a podridão ‘made in Brazil’ em diferentes instâncias, catapulte o país para um novo alvorecer, deixando claro a todos os que fazem a Nação – a certeza de que a Polícia Federal e as policias estaduais, o Ministério Federal e os estaduais, a justiça desde a Comarca mais modesta ao Supremo Tribunal Federal estão muito vivos, atentos e atuantes para fazer do nosso país um novo Brasil.


XXI

É tempo de lavar a casa.
Por dentro e por fora.
É tempo de limpar o Brasil.
Por dentro e por fora.
Abominável a sujeira.
Adorável a limpeza.
Chegou a hora.
É hoje.
É agora!


PS - Minha mãe Melita, mandou lavar sua casa na semana passada. E ficou como sempre fica nessa época. Limpinha. Saudades dos tempos em que ajudava. 

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Academia de Letras encerra ano com show






Membros AEL

Foi, muito provavelmente, a reunião mais completa de 2019 da Academia Erechinense de Letras (AEL). Noite de terça-feira, 20h. A começar pelo local. O salão do Del Prete – C.E.R. Atlântico. E, além dos confrades e confreiras presentes, familiares seus e, a presença simplesmente emocionante de três membros dos Monarcas – Varguinhas, Tiago e o “pai” do grupo – Gildinho. Aliás, como faz bem à Academia Erechinense de Letras e, por que não, também de artes, poder contar com o talento mais afamado da música erechinense. De quebra, também presente, outro “monstro” da nossa música, mas dedilhando em outro gênero, o não menos talentoso no seu ofício, Arnaldo Savegnago, que já andou mostrando sua arte além mar – assim como Gildinho e o seu “Os Monarcas”, como disse, o selo mais conhecido da música de Campo Pequeno.

A reunião contou com uma minuciosa apresentação das atividades da AEL pela presidente, Elcemina Lúcia Balvedi Pagliosa. Quando se coloca tudo no papel, tintim por tintim, deparamo-nos com um respeitável mosaico de iniciativas, representações, presenças, atuações e ações da entidade, quer seja por um ou mais de um dos seus membros. 
 
Helena e Lúcia
Coube a primeira presidente da Academia, Helena Confortin, surpreender a todos, com a apresentação de um livreto devidamente encadernado com uma capa leve e bonita, onde consta a história da entidade, desde a sugestão de criá-la até os dias de hoje – pisando, por exigência pessoal graças à meticulosa e quase obsessiva organização da autora Helena, - registrando todos os atos e documentos legais originados a partir da fundação, do surgimento e da caminhada da Academia Erechinense de Letras. Quem conhece a Helena pode imaginar que nada, rigorosamente nada, passou despercebido nesse trabalho notável de registro histórico. Até quando a AEL estará de pé entre nós não se sabe, mas por certo, quem vir e continuar inspirando e respirando e, fazendo bater o coração da Academia Erechinense de Letras, encontrará seu registro de nascimento e todos os passos de vida dados de 2014 a 2018/2019.   

 
Varguinhas, Gildinho e Tiago de "Os Monarcas".
Para encerrar a noite e o ano da AEL, um jantar à altura da cozinha do C.E.R. Atlântico e um verdadeiro show capitaneado por Gildinho e seus acompanhantes dos Monarcas – Tiago e o talentosíssimo Varguinhas. Confesso na minha intimidade, de joelhos, e ao pé de todos os confessionários públicos, que não posso me incluir entre os que têm na música fandangueira a sua preferência primeira em gosto musical, mas o show proporcionado pelo trio dos Monarcas – talvez por ter sido algo mais intimista e mais próximo de todos nós -, foi alguma coisa que levarei para sempre como arte musical poucas vezes vista antes, ao menos tão de perto. E aí destaque-se a criatividade,a poesia e a beleza das letras, por vezes propositalmente bem rimadas e, embaladas por uma melodia que por instantes pareceu fugir ao fandango tão tradicional, e apreciado, do maior grupo musical de Erechim e, no seu gênero, talvez, hoje; o melhor do Brasil.
 
Dr. Alcídes e Lúcia - vice-presidente e presidente da AEL.
 
Neusa, Ortenila, Nelly e sua filha Vivien (na primeira fila).
A Academia Erechinense de Letras tem apenas cinco anos. Já lamentou a perda de alguns de seus membros. Convive com mazelas como, de ausências em suas reuniões e eventos, algumas perfeitamente compreensíveis e outras sem justificativas à altura dos propósitos e da distinção com que todos os seus membros, um dia, mereceram ao serem acolhidos, enquanto tantos outros sonham em serem convidados e acolhidos. Pelo sim ou pelo não – a tendência é que o tempo se encarregue de ir depurando tudo aquilo que pode ser melhor. E, convenhamos, não é uma exclusividade da AEL. Porém, de uma coisa Erechim pode se orgulhar porque nem todas as cidades do nosso porte possuem um entidade com tais fins: a Academia Erechinense de Letras está firme e forte. Não vira as costas às iniciativas culturais, quando não, pode ser identificada na vanguarda, na primeira fila da preservação, divulgação e, da criação de eventos, atos e obras que projetam Erechim no espaço cultural. Arnaldo Savegnago na Europa e Gildinho nos Estados Unidos - apenas, dois exemplos. Ambos, membros da Academia Erechinense de Letras por suas obras em poesia, embaladas por melodias.


Ademir,Lúcia,Ana

      


Fotos: Zeni Bearzi/Divulgação