domingo, 18 de outubro de 2020

As razões do pai de São Francisco de Assis


 

 I


“É dando que se recebe

É perdoando que se é perdoado

E é morrendo que se vive

Para a vida eterna”.

S. Francisco)

 

II

 

Giovanni di Pietro di Bernardone, mais conhecido como São Francisco de Assis, nasceu em 26 de setembro de 1181 e faleceu em 3 de outubro de 1226 em Assis, Itália. Venerado pela Igreja Católica. Sua canonização foi em 16 de junho de 1228, pelo Papa Gregório IX.

 

III

 

Era filho do comerciante italiano Pietro di Bernadone dei Moriconi e sua esposa Pica Bourlemont. Os pais de Francisco faziam parte da burguesia da cidade de Assis e, graças a negócios bem sucedidos na Provença, França; conquistaram riqueza e bem estar. Dedução: trabalharam!? Eis a questão.

 

IV

O menino cresceu e se tornou um jovem popular entre seus amigos por sua indisciplina e extravagâncias, por sua paixão pelas aventuras, pelas roupas da moda e pela bebida e, por sua liberalidade com... o dinheiro E é aqui que mostrava uma índole bondosa.

 

V

 

Queria glória. Teve um sonho ou uma visão, e ouviu uma voz: quem te pode ser de mais proveito? O senhor ou o servo? Como Francisco respondesse: o senhor ouviu novamente a voz: então por que deixas o senhor pelo servo e o príncipe pelo vassalo? Francisco se confundiu: que queres que eu faça? - e a voz replicou: volta para tua terra e te será dito o que!

 

VI

 

Durante uma algazarra com seus amigos, teria sido tocado pela presença divina, e desde então, começou a perder o interesse por seus antigos hábitos de vida e mostrar preocupação pelos necessitados. Eleito “rei da juventude” em um festejo folclórico retirou-se para uma caverna. Queria meditar.

 

VII

 

Certo dia ouviu o sino que os leprosos deviam usar para indicar a sua aproximação, e logo se viu frente a frente de um deles. Francisco sempre sentira repulsa dos leprosos, mas desceu de seu cavalo e cobriu o homem com o próprio manto. Espantado, olhou nos olhos do outro, e viu sua gratidão, e enquanto ele mesmo chorava, beijou aquele rosto deformado pela moléstia. Ali - ele virou. Teria tentado seguir o ofício de seu pai, mas faltava-lhe devoção ao trabalho. Estava cada vez mais interessado em ajudar os pobres.

 

VIII

 

Na igreja de São Damião, ouviu pela primeira vez a voz de Cristo. A voz chamou sua atenção para o estado de ruína da Igreja.Voltou para sua casa, recolheu tecidos caros da loja de seu pai e os vendeu a baixo preço no mercado. Voltou para a igreja doando o dinheiro para o padre a fim de restaurar o prédio decadente.

 

IX

 

O pai se enfureceu e mandou que o buscassem. Atemorizado, Francisco se escondeu em um celeiro. Passado algum tempo, decidiu revelar-se e, diante do povo de Assis, se acusou de preguiçoso e desocupado. A multidão o tomou por louco e divertiu-se apedrejando-o. O pai ouviu o tumulto e o recolheu para sua casa, mas o acorrentou no porão.

 

X

 

A mãe, por compaixão, livrou-o das correntes, e Giovani foi buscar refúgio junto ao bispo. O pai seguiu-o e o acusou de dissipador de sua fortuna, pelo que ele havia tirado sem licença de sua loja.

 

XI

 

Então, para a surpresa de todos, Francisco despiu todas as suas belas roupas e as colocou aos pés do pai, renunciou à sua herança, pediu a bênção do bispo e, partiu, completamente nu, para iniciar uma vida de pobreza junto do povo, da qual jamais retornou. O bispo viu nesse gesto um sinal divino e se tornou seu protetor pelo resto da vida.

 

XII

 

A história do Santo é contagiante. Em certas geografias do planeta, fez seguidores; mas o contágio vai além do filho do comerciante Pietro, porquanto, quando observado pela fresta da benevolência, do bom coração e dádiva para com os pobres que pessoas e governos “cuidam” – conclui-se com a frieza de um juiz que aplica a lei severa: parece que o pai do Santo também tinha suas razões.

 

XIII

 

Afinal, uma coisa é caridade pelo outro. Outra coisa é compaixão, é dar tudo com o suor, com a benevolência, com a determinação, com as roupas, com os bens, com as obras, com o capital... com o dinheiro dos outros, e não do que exatamente lhe pertence – como o fez Giovani com seu pai.

 

XIV

 

Lembro de uma das falas de João Paulo I – tão logo eleito Papa. Deu a entender sua Santidade – que chegara a hora de dividir o ouro da Igreja. Trinta e três dias de Papado depois e algum mal fatal lhe papou a vida. “Deus o chamou”

 

XV

 

Em “O poderoso chefão”, obra escrita por Mário Puzzo e eternizada no cinema sob a direção Francis Ford Copolla a história ganha asas...

 

XVI

 

O fato crucial, essencial e central é um só e leva a reflexão: caridade sim! – mas, com os dinheiros de quem? Diante do bom coração do filho, mas com o dinheiro paterno, o pai Pietro acorrentou-o.

 

XVII

 

A mãe e o bispo tiveram que intervir. Quando renunciou à herança, começando a carreira de “ajudante ou salvador dos pobres”, é provável que já sentia-se Santo – quase Deus.

 

XVIII

 

São Francisco então estava errado ao dar? Ao dar até suas roupas! É claro que a caridade é um bem, uma necessidade, um ato de amor. Mas como fica então o ditado “ensinem a pescar...!”.

 

XIX

 

Certo ou errado, acorrentado pelo pai para que o filho parasse de limpar a loja e dar tudo que não será seu, mas libertado pela mãe e acolhido pelo bispo – as teses que digladiem-se entre si “ad eternum” sobre a obra do hoje Santo reverenciado.

 

XX

 

Noves fora as pessoas que fazem caridade com o que é seu, de uma coisa, não se tem notícia sobre Giovanni di Pietro di Bernardone: nunca se ouviu falar que tenha se candidatado a algum cargo, prometendo fazer o que fez com o que era seu ou com o que não era seu.  

 

XXI

 

Conheço muita gente laboriosa, com anos e anos de caniço e anzol, que não se candidata porque teme ter de ver-se seduzida a dar – o que não lhe pertence.

 

XXII

 

Giovani iniciou sua índole bondosa tirando do seu pai. Mas Pietro di Bernadone dei Moriconi tinha sua razões.

 

XXIII

 

Dar aos outros o que não lhe pertence é pecado – aos olhos da Justiça Divina. Que Pietros abram os olhos com os Giovanis ou Giuseppes, como eu, para não ser mal interpretado.

 

 

PS – Pietros e Giovanis somos todos nós.