quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Fora das quatro linhas

 

Foto Arquivo CER Atlântico/Divulgação


A histórica conquista da Liga Nacional de Futsal/2023 pelo CER Atlântico há poucos dias tem inúmeros responsáveis. A começar pelos atletas – sem dúvida são eles que ganham ou perdem em última análise. No entanto se faz necessário reconhecer dois nomes fundamentais para o titulo. Em artigo anterior já citei o presidente, os dirigentes, departamentos e outros profissionais. Mas aqui destaco dois, como disse, fundamentais.

 

Técnico Paulinho Sananduva/Foto: Edson Castro

O técnico Paulinho Sananduva foi sem dúvida o condutor. Sempre do alto da sua experiência como ex-atleta da prateleira superior; na condição de técnico foi acumulando experiência que lhe rendeu títulos ao longo da carreira e agora, comanda o Atlântico pela terceira vez na concretização do seu maior sonho dos últimos anos.

Tático experimentado, conhecedor do potencial físico, técnico e, especialmente emocional, de seus comandados, Paulinho Sananduva sempre teve o grupo na mão dentro do vestiário e dentro da quadra. Respeitado pelos seus adversários, pelas arbitragens e pela crônica, não se destaca por arroubos inócuos de voz ou gesticulações, que geralmente inflamam o público (e o enganam), mas de pouca praticidade positiva junto ao atleta dentro de quadra que compreende a partida. A meu juízo é só olhar nos olhos do Paulinho e você percebe que está diante de uma pessoa simples e humilde, que sabe ouvir, que conhece seu ofício e, sobretudo, que guarda respeito e sem egocentrismo, mantém-se elevado porquanto respeitado se faz. 

Sempre tive uma convicção – e com ela ninguém precisa concordar -, que Paulinho Sananduva e o Atlântico tem uma certa química, uma identificação, uma espécie de relação amorosa fazendo transparecer que se não nasceram um para o outro – sempre se conheceram, porquanto ambos tem a mesma alma, a mesma dedicação profissional e a mesma vocação meio amadorística/profissional, ou seja: a entrega vai até o último segundo (mesmo nas derrotas), sem jamais se dar por vencido como acontece nas “peladas” amadoras entre amigos, somada àquele profissional que quer continuar vencendo a despeito dos títulos, taças e faixas no peito. E a conquista de mais uma taça o faz vibrar – mas logo coloca com os pés no chão, vira a página e inicia tudo como todo trabalhador comum o faz todas as segundas-feiras, sem deixar o sucesso subir à cabeça - independente do fim de semana que teve. E convenhamos, a história ensina: esta é uma virtude indelével que acompanha os grandes. Só os grandes.

 

Supervisor Elton Dalla Vecchia/Foto: Edson Castro
Elton Dalla Vecchia, supervisor, é um patrimônio humano do CER Atlântico. O tipo de profissional que todo clube adoraria ter. Eu não sei há quantos anos ele está no clube, mas a ele o futsal do Galo praticamente foi entregue. É claro que há um corpo diretivo que discute tudo que se passa (passado, presente e futuro), mas cabe a Elton Dalla Vecchia, até onde se sabe, fazer contatos com clubes e atletas – a começar dentro do próprio Atlântico para sentir a temperatura, a pulsação, as dificuldades, os problemas, as satisfações e as intenções dos próprios atletas. E isto, é claro, foi lhe agregando experiência, vivência, confiança e autoridade para olhar e falar com muita segurança com o grupo e, especialmente, com os rivais – clubes, equipes, dirigentes e atletas com vistas a uma possível transação. Elton construiu uma imagem de respeito no mundo do futsal,

Impressiona a agudeza que o Elton tem sobre as potencialidades de atletas no mundo do futsal. E este olhar estende-se pelo Brasil, por países latinos, alcançando além Oceano Atlântico, países onde este esporte é praticado com as exigências e a excelência como é jogado no nosso país.

Não fecha ano onde o Atlântico perde atletas pelas mais variadas causas, mas não inicia ano onde o Atlântico já sabe onde está quem ele deseja para continuar no topo do futsal nacional como uma equipe minimamente competitiva. A conquista, os títulos são outra coisa – mais além. Mas montar times competitivos, disto o Atlântico - de dirigentes a torcedores ninguém jamais pode duvidar.

Em síntese, o Elton é um profissional com a cara e a história do Atlântico. Aparentemente tranquilo por fora, mas interiormente um vulcão pelo melhor, pela organização, pela entrega, pela competitividade e garra, e por fim – pela vitória. Este é, se não o único, o maior profissional da equipe que o clube conta e do qual não deve e nem pode se desfazer ou perder.

 

Enfim – para não perder o fio condutor da história que levou o Atlântico à conquista do “Brasileirão do Futsal”, é longa e cheia de colaboradores. Destaco Aljocir Berticelli (o Pato) “in memorian”, e tantos outros ainda ativos, com lugar especial para sua fanática a crescente torcida que herdou a paixão dos tempos em que o Atlântico jogava em gramados.

 

O Atlântico é hoje no futsal um clube reconhecido nacionalmente pela imprensa, clubes deste esporte e pelo público em geral. Na cidade, o reconhecimento é sobretudo, e diria, unânime, por sua organização, por seu planejamento, por saber o lugar onde está e onde pode chegar – além de conhecer o caminho das pedras.

Para 2024  Paulinho Sananduva e Elton Dalla Vecchia continuarão a comandar o CER Atlântico Futsal - fora das quatro linhas.

Fico a me perguntar: será que Jandir Cantele imaginava isso lá por 1991 ou algo do gênero, quando entre uma e outra gôndula de filmes em vídeo cassete que ele e a esposa estavam consultando no início de uma tarde de sábado na Panorama Vídeo, me falou baixinho – “vou te dar uma de 'chocheira' - uma em primeira mão. O Atlântico está ingressando no futsal. Espera pra ver. Vamos começar por baixo – mas tu conhece o Atlântico!”, e abriu seu sorriso seguido de uma risadinha - a mesma que ele cansou de dar quando o Índio decidia um Atlanga.