(BV – 13 – 6 – 2014)
1
Era 2009. Fevereiro. O secretário de
Planejamento do município, Moacir João Tormen, adiantava que, segmentos e a
comunidade, decidiriam o que fazer daquela área – Parque Longines Malinowski
(Mato da Comissão). Não lembro o que era – mas dizia eu: ‘acho, pessoalmente,
isto uma temeridade’. Se a voz do povo é a voz de Deus – teria sido Deus quem
condenou seu filho à morte para soltar o afamado assaltante Barrabás?
Discutir, pensar, projetar e deliberar o
futuro do Mato da Comissão - esta é uma ação que pode inscrever o nome da
administração no céu ou lhe dar uma placa no inferno – pensava eu com meus
botões. E lembrava: o
prefeito Luiz Francisco Schmidt (1997 – 2000) deu sorte quando ‘a voz do povo’
acertou sobre o cercamento da área.
2
Se não estou enganado, a líder comunitária
Carlinda Poletto Farina deve ter estudos sobre o assunto, lembrava. Sei que a
área de Biologia da URI têm, a Accie também e, assim, outros devem ter opiniões
que não podem ser ignoradas. Mas, sempre que o tema surgia de (mexer no mato) –
até fazer uma consulta popular sobre o mato – eu era contra. Era e sou. A razão
é simples: É tema para o andar de cima e exige um dom que anda nos faltando e
nem pode ser comprado. É intangível. É cultural.
Ao longo do tempo ouvi ‘atentados’ como
permitir acesso de veículos, calçamento interno, implantação de churrasqueiras
e coisas do gênero. Se descermos até esse degrau que leva aos porões da
ignorância, devíamos homenagear as mulas que há quase cem anos lá eram largadas
para pernoitar, descansar e pastar, porquanto aqueles quadrúpedes, o máximo que
faziam era adubar o ‘potreiro da comissão’, enquanto lhe limpavam ainda as
gramíneas. Exerciam já um exótico ‘plano de manejo!?’.
3
Houve um tempo que nos finais das
domingueiras, quando o sol já não conseguia mais trespassar a mata virgem,
depois da matiné do Ideal, que eu virara Tarzan andando de cipó dentro do Mato
da Comissão. Imaginar Erechim sem aquele lugar? Hoje, 45 – 50 anos (isto em
2009), quanto e o quê? - o Mato da Comissão significa para Erechim, ninguém
sabe aferir com exatidão.
Então - cuidado com o que intentam.
De boas intenções o inferno arde cheio em
arrependimentos.
Quem anda palpitando ou se omitindo sobre a
situação – cuidado!
Deus está vendo.
E o diabo – aguardando parceria.
4
Eu não sei – mas se a intenção da prefeitura é boa e, parece ser;
o que não me resta dúvida é sobre o que pode vir depois. E invoco aqui mais uma
vez a virtude que não pode faltar a quem cheira verde – maduramente.
5
Vá ao largo do Santuário de Fátima num final de domingo ou numa
segunda-feira de manhã para ver como o povo-de-Deus, o povo-de-Erechim, deixa o
lugar por onde a criançada correu, brincou ou deu os primeiros passos.
Não é preciso nem volver o olhar à Santa: ‘Nossa Senhora de
Fátima!’ - cai da boca como uma interjeição natural.
6
Abrir o mato para um parque – democrático sim -, mas, quem se
encarregará dos excessos!?
É como um estádio de futebol e suas arquibancadas após uma
partida.
Não há como advertir, recomendar, proibir, nem segurar.
É do jogo.
7
Intrigante: que danos as espécies contaminantes provocaram ao
longo das décadas ao Mato da Comissão?
Fuga da fauna?
Agora – apontem um santuário verde que viu o homem chegar e
permanecer como um dia foi!?
O mato estará ‘vivo’ às futuras gerações – ou então será papo já
caduco!?
Menos intrigante: homem não é uva-japão, não é eucalipto, mas tem
ele alvará de ‘não contaminante (invasor)’?
Quem pode dar essa garantia?
Com a palavra e, as responsabilidades, das quais a sociedade
erechinense jamais esquecerá - os atores (pessoas e entidades) envolvidos no
processo.
8
Se Sérgio Benito Maccagnini e Carlinda Poletto Farina estivessem
vivos, teríamos um embate totalmente diferente ao que assistimos hoje.
Maccagnini, 77 anos, foi sepultado em 20 de novembro de 2005. Carlinda 75,
anos, faleceu em 16 de abril de 2013.
Ambos – lideraram lutas em favor do meio ambiente quando este
ainda era um tema quase debutante em Campo Pequeno.
Que faltam fazem.
Ao mesmo tempo eram nativos e exóticos – por que pensavam à
frente.
9
Como jornalista, dou minha opinião.
A ideia da prefeitura de abrir o parque à população pode ser
política e filosoficamente perfeita, no entanto, estamos preparados
culturalmente para usufruir sem agredir a mata nativa? Não acredito –
infelizmente.
E a limpeza, e o barulho, e a segurança?
Se andar na rua é perigoso – quem acudirá gritos no parque!?
Quem vai fiscalizar tudo isso?
Por quanto?
10
Talvez, na minha ignorância silvícola não perceba que o projeto
considera o sol se pondo por trás de Campo Pequeno e,
em noites de sábado,
namorados, casais e famílias sentadas em gramados limpinhos do
parque para ouvir,
em silêncio sepulcral,
André Rieu e sua Orquestra,
tocando valsas vienense,
Don’t cry for me Argentin, ou Carmina Burana (O Fortuna)!
11
O Mato da Comissão não deve atender ostensivamente aos interesses
desta geração.
O Mato da Comissão deve atender, criteriosamente, as demandas do
agora, especialmente à sua própria proteção e renovação, e a dos nossos netos.
Que valor (não tangível) terá aquela área em 30 ou 50 anos!?
A cidade com 130 anos – e prédios de apartamentos e lojas e,
Onde mais se acharia algo assim?
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Que projeção terá a cidade com um ‘laboratório vivo!’.
Aulas abertas de Ciências.
Endereço de universidades.
Pesquisa.
Laboratório a céu aberto.
Isto não seria mais que
– mais uma cidade com mais um parque...!?
Mas isto, ao que tudo indica, está condenado em nome... do bem
estar de - hoje.
Não somos suficientemente sensíveis de que haverá um amanhã?
13
Lembram da derrubada da Matriz São José?
Pois é.
Aonde se encontra alguém que aplauda o que foi feito!?
E, como hoje - na época, quem foi contra?
Mas agora, como diria o saudoso Geder Carraro, ‘Inês é morta!’.
14
Depois da derrubada da imponente Matriz – verdadeira catedral de
eco incomparável aos meus ouvidos -, nunca encontrei um favorável.
No entanto, sobram e colhe-se a qualquer hora - críticas severas à
ignorância que prevaleceu sobre a cultura, a história e o verdadeiro/moderno
colocado ao chão
sem só nem piedade - em nome do quê!?
Depois correram versões: em nome da ignorância e, talvez, da ganância.
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Que o Mato da Comissão não repita o equívoco,
irrecuperável e maiúsculo,
inominável e histórico,
com o sucedido à velha Matriz.
Torcemos para o Bom Senso F.C.
e,
vamos adiante!