sábado, 28 de junho de 2014

Que o Mato da Comissão não repita a Matriz São José!



(BV – 13 – 6 – 2014)





1

Era 2009. Fevereiro. O secretário de Planejamento do município, Moacir João Tormen, adiantava que, segmentos e a comunidade, decidiriam o que fazer daquela área – Parque Longines Malinowski (Mato da Comissão). Não lembro o que era – mas dizia eu: ‘acho, pessoalmente, isto uma temeridade’. Se a voz do povo é a voz de Deus – teria sido Deus quem condenou seu filho à morte para soltar o afamado assaltante Barrabás?


Discutir, pensar, projetar e deliberar o futuro do Mato da Comissão - esta é uma ação que pode inscrever o nome da administração no céu ou lhe dar uma placa no inferno – pensava eu com meus botões. E lembrava: o prefeito Luiz Francisco Schmidt (1997 – 2000) deu sorte quando ‘a voz do povo’ acertou sobre o cercamento da área.

2

Se não estou enganado, a líder comunitária Carlinda Poletto Farina deve ter estudos sobre o assunto, lembrava. Sei que a área de Biologia da URI têm, a Accie também e, assim, outros devem ter opiniões que não podem ser ignoradas. Mas, sempre que o tema surgia de (mexer no mato) – até fazer uma consulta popular sobre o mato – eu era contra. Era e sou. A razão é simples: É tema para o andar de cima e exige um dom que anda nos faltando e nem pode ser comprado. É intangível. É cultural.

Ao longo do tempo ouvi ‘atentados’ como permitir acesso de veículos, calçamento interno, implantação de churrasqueiras e coisas do gênero. Se descermos até esse degrau que leva aos porões da ignorância, devíamos homenagear as mulas que há quase cem anos lá eram largadas para pernoitar, descansar e pastar, porquanto aqueles quadrúpedes, o máximo que faziam era adubar o ‘potreiro da comissão’, enquanto lhe limpavam ainda as gramíneas. Exerciam já um exótico ‘plano de manejo!?’.


3

Houve um tempo que nos finais das domingueiras, quando o sol já não conseguia mais trespassar a mata virgem, depois da matiné do Ideal, que eu virara Tarzan andando de cipó dentro do Mato da Comissão. Imaginar Erechim sem aquele lugar? Hoje, 45 – 50 anos (isto em 2009), quanto e o quê? - o Mato da Comissão significa para Erechim, ninguém sabe aferir com exatidão.
Então - cuidado com o que intentam.
De boas intenções o inferno arde cheio em arrependimentos.
Quem anda palpitando ou se omitindo sobre a situação – cuidado!
Deus está vendo.
E o diabo – aguardando parceria.


4

Eu não sei – mas se a intenção da prefeitura é boa e, parece ser; o que não me resta dúvida é sobre o que pode vir depois. E invoco aqui mais uma vez a virtude que não pode faltar a quem cheira verde – maduramente.


5

Vá ao largo do Santuário de Fátima num final de domingo ou numa segunda-feira de manhã para ver como o povo-de-Deus, o povo-de-Erechim, deixa o lugar por onde a criançada correu, brincou ou deu os primeiros passos.
Não é preciso nem volver o olhar à Santa: ‘Nossa Senhora de Fátima!’ - cai da boca como uma interjeição natural.

6

Abrir o mato para um parque – democrático sim -, mas, quem se encarregará dos excessos!?
É como um estádio de futebol e suas arquibancadas após uma partida.
Não há como advertir, recomendar, proibir, nem segurar.
É do jogo.

7

Intrigante: que danos as espécies contaminantes provocaram ao longo das décadas ao Mato da Comissão?
Fuga da fauna?
Agora – apontem um santuário verde que viu o homem chegar e permanecer como um dia foi!?
O mato estará ‘vivo’ às futuras gerações – ou então será papo já caduco!?
Menos intrigante: homem não é uva-japão, não é eucalipto, mas tem ele alvará de ‘não contaminante (invasor)’?
Quem pode dar essa garantia?
Com a palavra e, as responsabilidades, das quais a sociedade erechinense jamais esquecerá - os atores (pessoas e entidades) envolvidos no processo.

8

Se Sérgio Benito Maccagnini e Carlinda Poletto Farina estivessem vivos, teríamos um embate totalmente diferente ao que assistimos hoje. Maccagnini, 77 anos, foi sepultado em 20 de novembro de 2005. Carlinda 75, anos, faleceu em 16 de abril de 2013.
Ambos – lideraram lutas em favor do meio ambiente quando este ainda era um tema quase debutante em Campo Pequeno.
Que faltam fazem.
Ao mesmo tempo eram nativos e exóticos – por que pensavam à frente.


9

Como jornalista, dou minha opinião.
A ideia da prefeitura de abrir o parque à população pode ser política e filosoficamente perfeita, no entanto, estamos preparados culturalmente para usufruir sem agredir a mata nativa? Não acredito – infelizmente.
E a limpeza, e o barulho, e a segurança?
Se andar na rua é perigoso – quem acudirá gritos no parque!?
Quem vai fiscalizar tudo isso?
Por quanto?


10


Talvez, na minha ignorância silvícola não perceba que o projeto considera o sol se pondo por trás de Campo Pequeno e,
em noites de sábado,
namorados, casais e famílias sentadas em gramados limpinhos do parque para ouvir,
em silêncio sepulcral,
André Rieu e sua Orquestra,
tocando valsas vienense,
Don’t cry for me Argentin, ou Carmina Burana (O Fortuna)!

11

O Mato da Comissão não deve atender ostensivamente aos interesses desta geração.
O Mato da Comissão deve atender, criteriosamente, as demandas do agora, especialmente à sua própria proteção e renovação, e a dos nossos netos.
Que valor (não tangível) terá aquela área em 30 ou 50 anos!?
A cidade com 130 anos – e prédios de apartamentos e lojas e,
24 hectares de área verde preservada ao centro...!
Onde mais se acharia algo assim?

12


Que projeção terá a cidade com um ‘laboratório vivo!’.
Aulas abertas de Ciências.
Endereço de universidades.
Pesquisa.
Laboratório a céu aberto.
Isto não seria mais que
– mais uma cidade com mais um parque...!?
Mas isto, ao que tudo indica, está condenado em nome... do bem estar de - hoje.
Não somos suficientemente sensíveis de que haverá um amanhã?


13

Lembram da derrubada da Matriz São José?
Pois é.
Aonde se encontra alguém que aplauda o que foi feito!?
E, como hoje - na época, quem foi contra?
Mas agora, como diria o saudoso Geder Carraro, ‘Inês é morta!’.


14


Depois da derrubada da imponente Matriz – verdadeira catedral de eco incomparável aos meus ouvidos -, nunca encontrei um favorável.
No entanto, sobram e colhe-se a qualquer hora - críticas severas à ignorância que prevaleceu sobre a cultura, a história e o verdadeiro/moderno colocado ao chão
sem só nem piedade - em nome do quê!?
Depois correram versões: em nome da ignorância e, talvez, da ganância.

15

Que o Mato da Comissão não repita o equívoco,
irrecuperável e maiúsculo,
inominável e histórico,
com o sucedido à velha Matriz.
Torcemos para o Bom Senso F.C.
e,
vamos adiante!