No dia 12 de novembro de 2013, a cidade foi
surpreendida com a notícia do falecimento de Dary Ivo Schaeffer, em Meia Praia (SC). Se
vivo fosse o radialista estaria completando neste dia 26 de julho, 68 anos de
idade. Em 2009 escrevi uma breve história do Dary e sua passagem pelo rádio.
Também acrescento uma carta que ele me mandou, com fotos, em 2010; quando
estava na Inglaterra onde tem uma filha, genro e neto. Na oportunidade, com a
esposa Maria Luíza, visitou outros países.
A
voz
I
Uma
das três ou quatro mais bonitas vozes da história do rádio erechinense – pelo
menos dentre as que eu conheci -, vai se calar. Dary Ivo Schaeffer prepara-se
para deixar o rádio. Depois de exatos 40 anos de microfone, aos 62 anos de
idade o Dary vai ‘sair do ar’ dia 25 deste mês. Portanto, a contagem regressiva
começa hoje a partir do emblemático dez dias.
II
Casado
com Maria Luiza Schaeffer, Dary e Malu tem um casal de filhos, que por sua vez
cada um tem um filho. Os filhos de Dary com sua esposa são Tammy Renata que é
casada com Andrew Gorrie. Residente na Inglaterra – o casal deu ao velho Dary o
netinho Enzo.
III
O
radialista e a esposa tem ainda o filho André Gustavo que casou-se com Gabriela
Korf Schaeffer. O casal também presenteou o velho radialista com um netinho – o
Gabriel de 1 ano. Aliás, distante do neto Enzo que vive na Inglaterra, Dary
passa as horas da folga curtindo o netinho ‘made in Brazil’ ou em Campo Pequeno – o
Gabriel.
IV
A
história do Dary no rádio começa em Três de Maio, logo depois do quartel. No
dia 3 de fevereiro de 1969 ele veio cobrir as férias de um colega na rádio
Erechim a convite de Euclides Antonio Tramontini – o Nico. Em 10 de março foi
para a rádio Aratiba onde ficou quatro meses e 20 dias. Em 1º de agosto de 1969
voltou para a Pioneira onde ficou três anos e 25 dias. Em 1972, também em
agosto, Dary se foi de mala e cuia para a rádio Difusão, onde dia 25, o alemão
completa 37 anos. Na soma – pula a barreira dos 40 anos de microfone.
V
Na
Erechim, embora tenha permanecido três anos e 25 dias, foi lá que o radialista
e homem Dary Ivo Schaeffer deu o golpe da sua vida, ou seja, encaminhou-se
definitivamente na vida.
Sim,
porque enquanto o garotão com jeito de playboy – mas que desde cedo também
começou a revelar um amor invulgar para com as coisas da querência amada; pois
foi lá na Erechim, enquanto Dary falava ao microfone e o exigente Tramontini
cuidava da administração geral da emissora, é que o considerado achou que era
hora de amarrar o coração e não viu melhor lugar do que a mesa da secretária. A
secretária, Maria Luiza, também andava com planos semelhantes, e por fim, ou
por logo, acertaram os ponteiros e juntaram suas vidas.
Um
ano e meio teria durado a dupla em separado – cada qual sentado em sua cadeira,
em seu lugar, cuidando do seu ofício. Sim, porque 18 meses depois da flechada
de olhar que quase sempre conduz ao altar da igreja e ao altar da vida; Dary
decidiu botar o seu sobrenome no fim do nome da secretária e a Maria Luiza
virou Schaeffer e foi morar com o locutor.
VI
Em
25 de agosto de 1972 a
convite de Idylio Segundo Badalotti, diretor da Rádio Difusão, Dary Schaeffer
abriu as cortinas de um espetáculo que vai se fechar dia 25 vindouro. E neste
espetáculo o guri de Três de Maio, o garotão da Aratiba, o rapazote da Erechim
– consagrou-se como uma das mais identificadas, macias, educadas e comportadas
vozes da Rádio Difusão e por que não, como já disse, aos meus ouvidos, das mais
bonitas vozes do rádio erechinense desde que meus ouvidos começaram a buscar no
velho Semp à luz do meu pai Alberto, e depois no Saturno, no Phillips e hoje...
VII
Nestes
seus 40 anos de rádio, nestas suas quatro décadas, nesta sua vida de rádio,
Dary Ivo Schaeffer teve sua voz de tonalidade e sonoridade raras – requisitada,
em especial, pelo Clube Esportivo e Recreativo Atlântico através do descortino
de Flávio Zanardo e Julio Brondani, que fizeram da voz de Dary, a voz de inúmeros bailes de
debutantes, de bailes do vinho, de carnavais memoráveis do verde-rubro.
Dary ainda dividiu-se com as lidas gaudérias, onde também deixa sua marca de taura campeiro. Não só no lombo do Dragão Caraí (seu cavalo), mas na apreciação da literatura gauchesca e no bom gosto da inconfundível e notável música gaúcha – também aí o Dary riscou seu estribo na terra que ampliou sua voz. Seu começo foi através da cobertura de um evento do gênero a convite do presidente de então da 19ª região do MTG – o gaudério, professor e amigo, Menotes Conceição.
Dary ainda dividiu-se com as lidas gaudérias, onde também deixa sua marca de taura campeiro. Não só no lombo do Dragão Caraí (seu cavalo), mas na apreciação da literatura gauchesca e no bom gosto da inconfundível e notável música gaúcha – também aí o Dary riscou seu estribo na terra que ampliou sua voz. Seu começo foi através da cobertura de um evento do gênero a convite do presidente de então da 19ª região do MTG – o gaudério, professor e amigo, Menotes Conceição.
VIII
Homem
eclético de rádio, Dary Ivo Schaeffer foi locutor de programas matinais,
vespertinos e noturnos, locutor de comerciais gravados ou ao vivo. Leu notícias
boas e trágicas, deu avisos de todas as sortes e azares no Mensageiro Gaúcho em especial. Foi
repórter de geral, de polícia, de política, de rural e de esportes. Repórter de
reportagem. Anunciou notas de falecimentos e casamentos. Leu nomes de pais,
padrinhos e recém nascidos. Viu a morte e a vida na boca do microfone, em
momentos que quase sempre proíbem que qualquer músculo da face ou da garganta
se alterem na voz do locutor - por causa da emoção - que na maioria das vezes
fica por conta do ouvido, das faces, das gargantas, do coração e das almas de
quem está do outro lado do rádio. Quantos ‘Jornais Falado’, Dary leu?!
X
Ele
mesmo relata: “foi uma lição de vida tudo o que vivenciei e faria de novo. Me
agarrei muito a Erechim que faz jus ao jargão ‘capital da amizade’ e ainda pude
pegar três anos do velho Café Grazziottin”, recorda. Sobre o rádio local: “É de
muito bom nível”, e volta no tempo. “Olha só a equipe de esportes que a Difusão
já teve: Idivar Áppio, Frederico Viero Netto, Francisco Basso Dias, Paulo
Cagliari, Idylio Badalotti, João Aldo Zanin, Altair Colussi, Sérgio Batista de
Azevedo... e hoje, pelo amor de Deus, tem uma das melhores equipes... com
certeza os dois melhores narradores esportivos (Edson Machado e Amilton
Drews)”, elogia o radialista.
XI
Dary
Ivo Schaeffer, que hoje anda num flamante Honda, orgulha-se de ter passeado
pela cidade por longas duas décadas no lombo de um fusquinha 1977. Seria o de
rodado largo e bege – só para combinar com a cor do bidogão?! A verdade é que o
Dary e a secretária que ele roubou da rádio Erechim, vão morar a 250 metros do mar. Do
mar de Itapema/SC, onde, o próprio Dary, se for convidado não deverá recusar um
programa semanal de lidas gaúchas. Mas isto fica por conta do destino, e,
digamos, de algum dono de rádio catarinense que tenha a informação e o
descortino que o Tramontini teve em 1969, o Idylio depois e o Brondani –
sempre.
Seu
ainda patrão e amigo Idylio Segundo Badalotti, define: “O Dary foi e é um
exemplo. Cidadão honesto e profissional competente. Não lembro de ter tido um
atrito com este homem”.
XIII
E
se a estreia do radialista, na Difusão, se deu num sábado de Pelotas e Ypiranga
na Boca do Lobo, com direito a Roberto Carlos no domingo em Erechim, chegado de
Chapecó pela esburacada e barrenta BR 480 quando RC vinha mais meloso do que
nunca com ‘A janela’, ‘Como vai você’, ‘A distância, ‘Você já me esqueceu’ e
ainda desfilava nas telas ‘Em ritmo de aventuras’; 40 anos depois, com o velho
bigode de fogo querendo mudar a tonalidade da cor dos fios para um cinza,
justificadamente mais cansado; pois, ciente do dever cumprido com dedicação e
talento no rádio e na cidade, na família e na vida – Dary Ivo Schaeffer recolhe
sua voz, dá de mão na sua Malu, cuia e térmica, e trocando o velho Roberto pelo
saudoso Cesar Passarinho, ainda se vê ‘Guri’. Coloca na estrada o pingo de 200
cavalos, de nome Civic Honda, e digo eu agora: ‘vai Dary. Depois do Brasil de
norte a sul e do Panorama de Notícias do dia 25 - não me perguntes onde fica o
Alegrete ‘de mar’. Segue o rumo do teu próprio coração. Cruzarás pela estrada
algum ginete. E ouvirás toque de gaita e violão ... e, por educação e gratidão
– muito obrigado pelo que proporcionastes ao rádio e à comunidade erechinense.
XIV
Não
resta dúvidas que a despedida de Dary Ivo Schaeffer será uma perda de muito
difícil reposição. Até um de seus raros desafetos – que todos nós cultivamos -
teria deixado escapar, segundo conta um amigo: ‘O Dary vai embora. E agora –
com quem é que eu vou brigar?!’. A peça deverá trocada – mas o ‘substituir’
ainda é um termo muito mais amplo, muito mais largo, muito mais profundo, muito
mais alto do que o ‘trocar’. Assim foi também com Euclides Antônio Tramontini e
Milton Doninelli, com o Jovino Alves Martins e Francisco Basso Dias – 'monstros' do rádio erechinense, entre outros que me escapam à memória, talvez, por não
marcarem tanto. Pelo menos a mim. A cidade tem, ainda, portanto, por dez dias a
voz de Dary Ivo Schaeffer, no rádio. Depois, o manto do passado que a tudo
encobre, em alguns casos para não ser mais visto, e, noutros, para ser
preservado; será estendido mais uma vez em Campo Pequeno. Desta
feita – no rádio.
---
* Carta que recebi do Dary em 2010.
Um erechinense em Londres
‘Amigo.
Completamos hoje, sete dias em
Londres.
Me acampei, e o ponto de partida de
todos os passeios já realizados, em Great Missenden , a oeste e 40 minutos de trem e
uma hora de carro de Londres. Alem da capital já estivemos em Chesham,
Amersham, Little Missenden (bairro de Great Missenden), Speen - Rest Home for
Horses (impressionante hotelaria de cavalos, uma casa de descanso destes,
outrora serviram a realeza e hoje estão aposentados, só no come e dorme).
Por onde quer que se ande,
como hoje em Aylesbury e High Wycombe, como nas demais, mergulha-se no verde,
são túneis de árvores que se formam ao longo de ruas, avenidas, rodovias e ao
redor das casas (muitas cuja arquitetura e secular, igrejas principalmente),
numa demonstração de que aqui, e não é de agora, há consciência ecológica.
No domingo, 13, em Londres, me ative a
procurar pela encomenda do Naudi e confesso, está difícil de encontrar o álbum
(ele sabe por que). Mas continuarei nas buscas. Retornarei lá, para uma visita
a famosa faixa de segurança, naquela rua dos Beatles.
E como radialista, aposentado, mas
saudoso da profissão, não me contive. Fui à BBC. Quem, da minha área e que aqui
esteve não foi na BBC. (Imaginei o Milton Doninelli na BBC). Bem recebidos,
ciceroneados por duas funcionárias, conhecemos o complexo onde tudo começou em
1922. O prédio, hoje, em fase de conclusão das obras de reforma, e os anexos ao
lado, novos prédios onde a partir de 2012 tudo ficará concentrado outra vez
(parte da BBC, a BBC Brasil e outras, funcionam em outra região da cidade, mas
em dois anos estarão juntas num único local).
Num dos estúdios da emissora, junto à
mesa com seis microfones, sentei e matei a saudade, foto que eu peço não
publiques já que é uma exigência da emissora. A foto do prédio e uma segunda
tirada do alto deste mostrando parte do centro da cidade, fique à vontade,
podes publicar.
Ontem, junto a um Grupo de Escoteiros
daqui vendemos a imagem do nosso Tupinambas e de Erechim, entregando-lhes
material correspondente.
Até 4 de agosto minha rotina será
esta. Dia 22 de julho iremos a Roma para uma estada de seis dias. Aqui vivemos
os últimos dias da primavera. Sol em meio às nuvens, frio e calor, chuva fina,
tudo a qualquer hora. A Inglaterra e assim.
Encerrando. Neste momento,
uma e quinze da tarde, aí no Brasil, 5 e 15 da tarde aqui, me preparo para
daqui ha pouco assistir a estreia do Brasil na Copa.
Baseado no que vi até agora, da pra
jogar com menos dois homens em campo que venceremos.
Meu caro, um grande
abraço.
Dary Ivo Schaeffer’