quinta-feira, 15 de novembro de 2018

(Dedicado aos ‘grazziotineiros’ e inspiradores da ideia: Helena Confortin, Vanda Krepinski Groch, Neusa Garcez e Ademar Brum. E ao historiador e animador Enori Chiaparini)




Devia ser fevereiro quando num dia de sexta-feira de calor que me fazia andar só de calçãozinho, sem camisa e pé no chão, e a dona cujo nome não me lembro mais – mas era a mulher do Zamprogna, do Ivo Zamprogna, isso mesmo – me chamou.  -    Ô guri, ô Adelar - vem aqui, gritou ela da varanda da sua linda casa.



Ela tinha fama de grande costureira de vestidos na cidade. Costurava para os ricos de Campo Pequeno, para quem morava ‘no centro’ e tinha também fama de ser uma mulher fechada, que detestava barulho, especialmente de piazada correndo, brincando de pegador e odiava os gritos: ‘Um, dois, três – peguei, peguei o Adelar. Um, dois, três – me salvei, me salvei!’.
Ela resmungava – Úúúte piazada -, e abaixava a janela de vidro quadriculado, se fechando ainda mais em si mesma – com suas magníficas obras em vestidos.

A grande costureira morava ali na Amintas Maciel, 616, na quadra entre a Cantina do Mandelli e onde hoje está o Colégio Mantovani. Na época, onde hoje é o Mantovani, tudo era um terreno baldio que servia para acolher algum circo, parque ou acampamentos de ciganos e, claro, as nossas ‘peladas’ inesquecíveis de futebol. E depois do campo do Atlântico e o terreno baldio, vinha a Legião. Era o bairro mais carente de Erechim. Trezentas casinhas de 25 a 30 metros quadrados, se tanto, pintadas a óleo cru e com uma ‘patente’ no fundo do lote. Água? – Só na bica coletiva da Legião ou lá nos tanques do Mato da Comissão. Luz? Só de lampião.

Ali na Jerônimo Teixeira era quase o ‘fim da cidade’. Dali para ‘baixo’ (centro direção bairro) vinha então a Legião, o Grupo Escolar Campos Sales, depois o presídio e... mato e mato. Já era quase... quase – ‘área rural’. De lá vinha o leite em litros esverdeados de vidro. Litrões grossos. Falando em mato, o Mato da Comissão (Parque Longines Malinowski), na entrada que existe até hoje pela Comandante Kraemer, havia uma dezena de tanques coletivos. Ali corria água transparente e as mulheres da Legião deixavam seu estresse (se é que isso existia) naquele local, ‘surrando’ as roupas contra uma laje e mergulhando-as na água limpinha. Aquelas calças brincoringa, molhadas, pesando... cinco quilos, erguidas pelos braços das mulheres da Legião, e vaaaappppppppppp – tuuuummmmmmmmmmmm, contra a laje. A sujeira saía não por causa da água limpinha e do sabão gorduroso – mas, provavelmente, penso hoje, de medo. Do estalo inapelável contra a laje de pedra. E era – vaaaaaaaaaaaaaaaaappppp- tchaaaaaaaaaaaaannnnnnnnnnnnnnnnnnnnnn. A brincoringa depois descansaria ardendo ao sol no varal dos fundos das casinhas até secar - de ficar em pé. Lá - mato adentro a gente tomava banho e pescava.

II


Um dia preguei uma latinha na ponta de uma ripa e passei o braço esticado por cima da cerca entre o lote onde nós morávamos e que dava de fundos para o lote da dona... a mulher do Zamprogna. A costureira. A ripa que tinha ‘pegado’ lá das sobras de madeira e serragem do Madalozzo - era comprida o suficiente para alcançar com a latinha os pêssegos que avermelhavam, apodreciam e caíam no lote da vizinha costureira – mas se ela visse aquilo, aiaiaiaiiii. Era o que se dizia. Dar, ela não dava. Pedir? - se tinha até medo. Além do que – não adiantava. E como a gente não queria que os pêssegos ‘morressem’ daquele jeito – o jeito era chegar até eles e, no caso, a ripa com a latinha resolvia, e ainda nos livrava de sermos apanhados em lote alheio. Naquele tempo isso era um pecado – quase mortal.

A vizinha não falava com os vizinhos e se consumia costurando, dias e noites adentro, enquanto os pêssegos, as peras, as laranjas, os limões e as canas nasciam, cresciam, amadureciam, apodreciam e caíam no fundo do lote comprido. A menos que a latinha na ponta da ripa ou do bambu ‘recolhesse’ a fruta. Mas, e se ela contasse as peras? – ia dormir eu carregando todo o dia o pecado daquele ‘furto’ na consciência. Furto de um pêssego ou de uma pera que apodreceria no chão, se eu não a ‘roubasse’ e comesse. Agora, qual criança daqueles anos, não se arriscaria por uma fruta, ainda mais – ‘roubada’? Quem, com 10 anos ou menos, naqueles anos, tinha um níquel no bolso? Quem tinha bolso?


III


Pois, naquele dia de sol de rachar, brincava eu com a piazada pelas redondezas, quando a dona... a mulher do Zamprogna, do Ivo Zamprogna, a costureira, gritou de novo: - Ô guri. Adeeeellllar - vem aqui.
- Meu Deus – ela sabe o meu nome. Então deve saber sobre os pêssegos, as peras, as laranjas...

Por puro impulso, quando me vi, estava eu na frente da temida mulher que ‘não falava com ninguém’.
Tu sabe onde fica o Café Grazziotin?
Não senhora.
-  Tu já foi pro centro alguma vez?
Já.
- Tu sabe onde fica o cine Ideal?
- O Cinema ‘de Cima’ – retruquei -, pois o Cine Luz era identificado como o ‘de Baixo’. Tanto que na época se dizia: ‘o Ari foi no cinema. No ‘de Cima’ ou no ‘de Baixo’? – No ‘de Cima’. Ah – então no Ideal, geograficamente falando. O Ideal era onde está a Ponto Frio. O Luz – onde fica a Renner. Depois de cinema já foi... de Bingo à Igreja e agora...

- Pois então se tu sabe onde fica o cinema Ideal, você vai mais um pouco pra cima, pela calçada, e quase do lado do cinema, o ‘de Cima’ como tu diz é o Café Grazziotin.
- Não é na frente da banquinha de revista do pai da Salete onde vendem gibis, figurinhas e tem os engraxate,? – perguntei.
Isso mesmo. Quase em frente da banquinha. (A banca existe até hoje).

No cinema eu já tinha entrado para torcer pelo Johnny Weissmuller, o meu Tarzan preferido, e na banquinha eu já tinha até engraxado sapatos. (Hoje, se me pegassem lustrando sapatos com aquela idade – dava Conselho Tutelar, MP, polícia, BM, BO... Se duvidar - cadeia). Mas, enfim, voltando – situando um, eu sabia onde ficavam os outros. O centro, a ‘avenida’, o cinema ‘de Cima’, a banquinha... o Café Grazziotin.

Ela então, sem me perguntar se eu levaria ou não, me alcançou um pacotão, um embrulho de papel, esses de rolo grande e disse: - Leva esse vestido lá e entrega pra dona, para dona do Café que eu te dou um dinheiro. (Imagine hoje – confiar a um guri, de 10, 11 anos.. um vestido, o vestido que uma madame esperava! Um piá, de calçãozinho, pé no chão... com um pacotão nos braços, subindo a Jerônimo Teixeira, a Nelson Ehlers, a ‘avenida’ Maurício Cardoso, pela calçada, no meio de gentes grandes... Hoje... bem – esquece. O mundo não mudou. O mundo apenas é outro.


IV


Apanhei aquele embrulho enorme para o meu tamanho, e só fiquei com a cabeça acima para ir desviando as pedras ponteagudas que nasciam do chão, assim como línguas traiçoeiras brotam hoje em dia, que rachavam unhas mal nascidas e compridas ou faziam sangrar o couro fino da parte interna do tornozelo. Punhais – traiçoeiros.

Subi pela Nelson Ehlers afundando as canelas no pó fofo, arriscando a cada pisada - rasgar o pé. Parecia uma missão como essas que se vê em filmes mais antigos, onde alguém tem de atravessar terras, mares e céus para levar uma mensagem.

Quando cheguei no calçamento, já estava em frente do  Samdu e do Saps – Santo Deus, Nossa Senhora de Fátima, como era ‘grande’ o Saps – a gente até podia escolher os produtos! Ficava ao lado de onde hoje é a Loja do amigo Zucchi e o Samdu onde está o Belas Artes.

Depois de passar na frente da padaria ‘Sem Rival’, desviei os olhos para ver os sonhos, os folhados e os caros amarelados. O cheirinho de pastel feito na hora me invadiu as narinas que até hoje sinto aquele ar de massa frita na banha. Sem pastel - as pedras quentes do calçamento me fritavam a sola dos pés – como a banha fritava a massa.

Depois do Bar Arthur, o Bar Das Vitaminas (quanto bar!), dobrei à direita e subi pela ‘avenida’. De calçãozinho e pé no chão. Passei pela interminável escadaria da Delegacia Regional de Polícia que parecia levar aos céus – ou seria aos infernos – quase em frente à também hoje extinta A Voz da Serra. Lá em cima estava o delegado Rômulo Monteiro – pai do meu grande amigo Feliciano, o Fifa, hoje, baiano por adoção e opção.

Obstinado pela obediência à confiança recebida que me distinguia como alguém acreditado de fé -, incrivelmente nem parei para olhar os cartazes do Cine Ideal, o ‘de Cima’, e quando vi, estava em frente ao Café Grazziotin.


V


Fiquei deslumbrado quando entrei.
Aquelas mesinhas rodeadas de cadeiras bem desenhadas e de madeira com corte confortável. Como devia ser bom e importante poder sentar numa delas.

Homens altos que nunca vira antes, mas decerto importantes, enfiados em paletós e fumegando cigarros sem-fim, bebiam café em minúsculas xícaras, ou levantam à boca mais um gole de Serramalte ou Caracu. O café estava esfumaçado. Era chic – fumar... Hollywood, da caixinha vermelha, branca e com uma faixa azul, ou Minister então, da caixinha branca com a faixa azul acima e o ‘M’ em dourado, nossa - nem me fale.

Caminhei com o pacotão me cobrindo a parte da frente, (graças a Deus... e se me conhecessem... mas quem haveria reparar num fedelho daqueles!) sem camisa e de pé no chão até o balcão. Pensa só: pé descalço, calção e sem camisa – mas não por moda, mas por...


VI


De longe, uma senhora logo imaginou o que eu fazia naquele lugar, e mais; o que trazia e mandou que eu fizesse rapidamente a volta pelo balcão onde tinha um motor... gggggggrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr... barulho que até hoje não me abandona os ouvidos. Era o motorzinho que tocava a máquina de fazer sorvete.

- O que tu tem aí, menino!, adiantou-se a senhora, já suspeitando o que trazia.
- A dona... a costurera lá do ‘Seu Zamprogna’ me mandou... Eu...
-        Eu sei. Eu sei. Pode deixar aqui.
E sem identificações, desconfianças ou garantias de estar entregando o pacote para a pessoa certa – deixei aquele enorme embrulho nas mãos dela. Devia mesmo ser um vestido novo para um baile de sábado para aquela senhora, legítima proprietária do vestido, segundo deduzi e conclui pela sua intimação.
Grrooooonnnnngggggrrrrrrr. Grrroooooonnnnnggggrrr. Grrrrrggggooooonnnnnnnrrrrnnrrrr, rosnava em incansável rotina a maquininha do sorvete.


VII


Entregue o pacotão, e ainda complemente deslumbrado com aquele cenário que nunca tinha visto antes, pois, quando eu alcançava a porta da saída e o sol de rachar, de novo me batia nos olhos, aquele sol que vinha por detrás da rua Alemanha, da banquinha do pai da Salete...
- Ô - guri! Ô menino! – alguém gritou.
- Me virei e a mulher disse de novo, lá do fundo do Café Grazziotin, quase encoberta pelo balcão aonde o ar era fresquinho...

Volta aqui guri, disse ela e ordenou: - pega aqui!

Caminhei até o balcão, e aquela senhora, a dona do vestido, me alcançou por cima daquele motorzinho, o maior, o mais lindo porquanto inesquecível, o melhor sorvete que eu já tomei em toda minha vida.

Toma aqui. E diz obrigado lá pra costureira.
O sorvetão de uva, chocolate e creme me escorria pelos dedos, pela goela e pelos beiços, derretendo de calor assim como eu quase derreti quando subi correndo a Nelson Ehlers até o centro levando o pacotão com o vestido que nunca haveria de ver na minha vida.

O ‘pazinha’ de madeira, (como eram bem cortadas, torneadas e delicadas aquelas pazinhas dos sorvetes), guardei na gaveta das minhas preciosidades de criança por meses a fio – mais de ano. Misturou-se, e perdeu-se entre as figurinhas, o bodoque, as bolitas, o bilboquê e gibis.


 VIII

Que tempos eram aqueles que se guardava uma ‘pazinha’ de madeira, essas de tomar sorvete – como se fosse um bem precioso, sem preço - nem venda!?
Hoje, quando não se tem sorvete em casa – minha nossa!
Onde estará aquela costureira, a dona do café? 
O que foi feito daqueles frequentadores daquelas mesinhas?
Gentes grandes, tão independentes que era difícil acreditar que um dia teriam fim.
E aquele ‘ô guri – pega aqui!’ este eu nunca esqueci, até por que, acho que foi o maior sorvete que o Café Grazziotin serviu em toda sua rica história de 25 anos entre 1946 e 1971. E foi de graça. E foi para mim. Quem era eu!

O pacotão com o embrulho de papel grosso, entre um vermelho e um rosa - cor de telha - devia mesmo conter algo importante. Um vestido. Onde estaria aquele vestido e que histórias, poderia ter ele presenciado – além desta do meu primeiro sorvete!?

Se a vida passa rápida, mais depressa ainda se vão os estilos de vida, levando consigo os vestidos, as casas de comércio, os cinemas, as pedras de punhais escondidas sob o pó, as modas, os cafezinhos, as Serramaltes, o chão de pedras decoradas do café - com suas mesinhas e cadeiras de corte fino, as ‘pazinhas’ em madeira, os sorvetes... e tudo mais.

Aonde foram parar aquelas pessoas?
Sei, não sei... certamente – a maioria sabe, sabemos todos.
Os avanços voam.
O mundo quando não muda – vira outro.
Comparando-se tempos e suas coisas, concluir que os tempos mudaram soa inocente, quando não - ingênuo.
Os tempos não mudaram. É pouco. São outros.
E neste outro tempo, quem só conhece o hoje, custa a crer no ontem com suas gentes, idiossincrasias e modos de vida.


IX


Neste novembro, sei lá, 55 anos depois daquele do sorvete da minha vida; só o sol parece o mesmo. Abrasador, insuportável e imponente. E, claro, a tentativa de reconstituição do Café na Frinape/2018 com o debate de diferentes temas – pautas dos tempos do Café -, elaboradas por uma comissão especial.
Os cinemas viraram lojas. Sucursais de rede.
O ‘Grazziotin’ de ontem – hoje é farmácia.
Os sorvetes atendem filas nas calçadas.
Tudo pago.
Nada dado.
No chão – tudo é outra coisa.
No alto, o sol, ninguém toca.
E hoje, quando me deparo com alguém de pé no chão – sinto arder a sola do pé, e como se fosse ontem - desvio no chão para não ser surpreendido por uma pedra ponteaguda escondida sob o pó, que também já não existe mais entre o Mantovani e a ‘avenida’.

Preciso de sapatênis.
Vou comprar,
quem sabe,
no ‘Cinema de Baixo!’.
Preciso de remédio?
Vou comprar,
quem sabe, no antigo Café Grazziotin de hoje.
Preciso de celular novo.
Vou comprar,
quem sabe,
no ‘Cinema de Cima!’.
Que calorão – Meu Deus!
Preciso de um sorvete.
Vou comprar
quem sabe (fossem outros tempos – até ganharia um) na calçada ou num super.
Mas – pra que,
Santo Deus,
 – se nem devia tomar! Estou pré-diabético.

o     
o     

segunda-feira, 23 de abril de 2018

Por favor – passagem para todos!


Relógio Tempo Folhas Ponteiros Tempo Passa Ody – 21 – 5 – 1999


      
       Nas últimas duas décadas e alguns anos, Erechim produziu uma série de pessoas que ascenderam à posições de relevância para influir no crescimento e desenvolvimento da cidade.
       Na maioria dos casos, a ascendência se deveu a méritos individuais.
Noutros, figuras ganharam notoriedade, fazendo eco à sombra de outros poderes instalados na coletividade.
Contentavam-se e contentam-se com um troco qualquer, enquanto troco promocional.
       Coadjuvantes de uma cena maior, pregam tal qual apóstolos ou súditos de quem realmente têm seus próprios interesses, pouco se importando com o conteúdo do que alardeiam, seguros, porquanto grudados tal qual piche na sola do sapato, aos seus superiores.
       Acho que um povo que não tem orgulho e determinação em defender suas raízes, suas ideias, sua cultura, sua tradição e seus sonhos, é um povo sem alma.
       Porém, também considero que não se pode desprezar, jamais, o senso do ridículo na postulação destes mesmos sonhos – a maioria, geralmente  cobertos de justiça, desde que voltados ao coletivo.
E creio ser também absolutamente natural e compreensível, porquanto faz parte da urbanidade deste fim de século, que se aceite, sem a menor resistência, inveja ou constrangimento, que há sim, consequências que projetam individualidades – o que é perfeitamente normal e socialmente aceitável.
       O Brasil foi um time tão igual a tantos outros em 1994 nos Estados Unidos, mas ganhou a Copa fundamentalmente porque tinha Romário e isso ninguém nunca sonegou ao "baixinho".
O Brasil ganhou por Romário – mas o Brasil ganhou, sobretudo, a partir da união de um grupo. E da humildade desee mesmo grupo, em admitindo suas limitações – não permitiu dispersão e valorizou-se como uma verdadeira comuna de pessoas. Um grupo. Um grupo só.
       Redimindo-me deste escorregão futebolístico – deliberado, e talvez cometa  outro -, observe-se que ele serve para afirmar o reconhecimento que tenho, pessoalmente, por todos quantos se empenham de modo mais decisivo e, logo, destacado, para o erguimento de uma Erechim mais desenvolvida.
São méritos individuais de quem os acumula e que não podem ser ignorados.
       Se devo me render aos nossos romários (eu disse romários e não romanos de império) – não é menor a verdade que até mesmo ele, o 'baixinho', vez por outra, rendeu-se aos propósitos superiores de um time.
Nem sempre, Romário fez o que bem entendia.
Sabia que era o melhor – mas sabia que havia outros, que era importante, decisivo até, mas era uma peça e que, respeito, muito  mais que overdose  de orgulho e mania de superdotado, lhe seria tal qual bússola para o caminho seguro e certo rumo ao objetivo previamente traçado.
       Tenho sérias dúvidas, graves restrições a quem se julga – deus. Ou mesmo, semi.
       Prefiro apostar minhas moedas na força do conjunto, numa sólida e monolítica figura que se edifica na reunião e no respeito dos que inclusive pensam de forma diferente.
       Se bem me faço entender – reporto aqui a confiança em todas as instituições e, mormente, pessoas, que possam de alguma forma contribuir para o desenvolvimento desta cidade e desta região.
       Se condenamos o sectarismo ou os fundamentalistas que fazem suas vítimas n’alguns pontos do globo – não podemos admitir o que parece agir de modo que tende a seguir a mesma linha de ação, tentando abrir, e talvez sem noção do dano, profundas brechas entre quem aqui nasceu e quem mesmo vindo de fora – aqui vive e presta serviços da melhor qualidade.
       Seria uma exigência nascer em Erechim para influir positivamente e com mais sucesso  no seu desenvolvimento?
       Seria certeza de garantia total, que uma vez natural de Erechim, mais QI, mais determinação e mais talento haverá de se possuir para influir no seu desenvolvimento?
       Diante de algumas posturas - seria demasiado exagero supor que imaginam, nas alcovas, que esta terra (cidade) tem dono?
       É legitimamente correto e isento de qualquer erro, apesar das melhores e mais puras intenções, acreditar que as minhas ideias sobre este solo e o destino deste lugar é que formam, sim, as bases inabaláveis para a construção de uma sociedade justa e democrática?
       Justa e democrática para quem - se tem que ser do jeito que eu quero!
       Acredito piamente que um povo e uma comunidade devem sim cultuar suas tradições, orgulhar-se da história construída pelos ancestrais, e não podem não, se esquivar de emprestar o melhor de si para o crescimento e o pleno desenvolvimento da mesma.
       Agora – há que se definir o que vem a ser realmente, bairrista.
       E por fim – ou para começar -, creio que não devemos lançar à fogueira ou execrar os nossos romários – mas não devemos prescindir e, muito menos, ofender a boa vontade de "estrangeiros" que vem logo dali, da aldeia vizinha, para morar conosco.
       Talvez não devêssemos cantar tantas  hosanas a santos que João Paulo ainda não canonizou, sob pena de venerarmos santos que não o são, e talvez nunca venham a sê-lo, e, de quebra, nos tornarmos servos - em tempos que já se vão longe dos zinhôzinhos.
       E se não quisermos perder o último trem da história – que se tire passagem para todos.
Que ninguém seja recusado no vagão e nem deliberadamente esquecido na estação.
       Por favor – passagem para todos!

quarta-feira, 18 de abril de 2018

De médico para médico



Do alto dos seus 100 anos de idade e da sua longa experiência como médico, o   professor   doutor   João   Gomes   Mariante,  deixou um singelo conselho aos alunos da primeira turma de Medicina da URI.
Instigado pelo presidente da Unimed de Erechim, Alcides Mandelli Stumpf, para que Mariante deixasse um conselho aos acadêmicos, o palestrante foi categórico: “menos técnica, mais afeto!”.
Membro  Efetivo da Associação Psico-analítica Internacional de Londres, Decano da Academia Sul   Rio-Grandense   de   Medicina,   ex-professor da faculdade de Ciências Médicas de São Paulo e  Professor de Egressos de Pós-Graduação da Faculdade de Medicina de Buenos Aires, o palestrante que veio a convite da Unimed para falar sobre o seu livro “Getúlio Vargas, o lado oculto do Presidente”, manteve as atenções com informações inéditas sobre Getúlio Vargas à plateia que lotou o salão de atos da Unimed. Foi um presente da instituição à comunidade na passagem dos 100 anos do município. “Menos técnica, mais afeto!”. Haauummm.


sábado, 14 de abril de 2018

Dexheimer deixa hospital




O ex-prefeito Antônio Dexheimer deixou o Hospital de Caridade na tarde deste sábado, 14. Ele recebeu alta por volta das 15h15min e saiu acompanhado da sua esposa Denise. O ex-prefeito sofreu um infarto na última quinta-feira, 12, às 10h30min, quando concluía uma cirurgia no Hospital Santa Terezinha. Queixando-se de dores no peito, mesmo após ser medicado com o uso de um analgésico, Dexheimer foi parar no Hospital de Caridade onde existem equipamentos para diagnosticar, avaliar e realizar procedimentos desta ordem. Depois de um rápido exame ele foi diagnosticado com um infarto.Submetido imediatamente a um cateterismo, recebeu dois stendes, e às 12h já estava na UTI – consciente. Na sexta-feira foi liberado para um quarto. Dormiu bem as duas noites que passou e neste sábado à tarde recebeu alta. Antonio Dexheimer disse que na noite anterior ao evento sentiu um desconforto no peito, mas “nada demais”. No dia seguinte levantou, tomou banho e café. Seguiu então para uma cirurgia no Hospital Santa Terezinha quando voltou a sentir o mesmo desconforto. Quando concluiu a cirurgia que realizou em um paciente a dor no peito o levou a buscar socorro para si próprio. Na sua própria avaliação ele teve muita sorte considerando o quadro. No período que passou internado recebeu muitas visitas e centenas de mensagens. “Ao longo da minha vida meu pai que era médico me operou da apendicite e, mais tarde, tirei as amígdalas. E agora isso”, sintetizou. Na condição de médico, quando sentiu o agravamento da dor no peito, concluiu que seu caso era de emergência. 

sexta-feira, 13 de abril de 2018

O pavio




Na capa do Estadão de hoje, uma manchete chama a atenção, mas não surpreende: “PT e Planalto fazem lobby no Supremo contra prisão em segundo grau”.
Não surpreende porque, na alegria ou na tristeza, as "famiglias" se unem.
A água já sobe bem acima das canelas de muitos que tem rabo preso por alguma malfeito, e como que algemados numa salinha, enquanto o Titanic afunda, como no próprio filme nem mais tão lentamente - tende a fazer "estragos necessários que brasileiros do bem merecem testemunhar".
O que mais se ouve nas ruas é uma coisa só: depois que Lula foi preso, qualquer um pode ser preso.
Convém, não obstante, aos interessados na promoção do lobby e aos supostos alvos - ministros da Suprema Corte -, atentar para a sociedade brasileira. Ela está muito bem informada, e, mais do que isto, esclarecida sobre o que sucedeu e sucede no País. A ignorância pode não ter se descolado de todos, mas a idiotice, esta, claramente, foi enxotada da maior parte da mente nacional.
Cuidado. Tentar sair por uma porta estranha e controversa ao sentimento de cidadania, pode levar à parada final, trajetórias de vidas públicas. E não adianta trocar águas que não serão contidas e que já sobem por barrigas causando calafrios, por exemplo, por um mar de fogo do outro lado da porta onde a sociedade a tudo - atenta e vigia. Não provoquem quem pode acender o pavio. 




quinta-feira, 12 de abril de 2018

Ex-prefeito Dexheimer recupera-se de infarto


O ex-prefeito Antônio Dexheimer reage bem ao infarto que sofreu no final da manhã de hoje, 12. Ele estava trabalhando no Hospital Santa Terezinha, quando queixou-se de não estar passando bem. Depois de contatar seu cardiologista, foi levado ao Hospital de Caridade, onde no início da tarde acabou sendo internado na UTI. Segundo sua esposa, Denise, o filho do ex-prefeito, Diego Dexheimer (que também é médico), esteve com o pai na UTI e pode constatar a reação positiva de Antônio Dexheimer, com quem até se comunicou. Ainda de acordo com Denise, ela foi informada por Diego Dexheimer, que nesta sexta-feira, depois de uma avaliação médica, o ex-prefeito talvez possa até ser liberado para um quarto. O filho médico de Dexheimer disse à Denise que ficasse tranquila porque “ele (Dexheimer) está bem. Ele, em princípio, até teve mais sorte do que... não foi uma região do coração que tem um comprometimento tão importante assim”, segundo teria sido informado pelo cardiologista que o atendeu. A notícia se espalhou rapidamente, mas os fatos no início da noite (18h) eram exatamente estes sobre o evento que envolveu o ex-prefeito de Erechim provocando especulações sobre seu estado de saúde. A última informação às 19h dava conta de que a situação estava sob controle e apontava para recuperação com otimismo considerando o quadro inicial.

GOVERNO MUNICIPAL SE PRECIPITA AO DEMITIR JORNALISTA




Não se sabe se foi uma decisão isolada do prefeito Luiz Francisco Schmidt ou se foi mais uma “sábia” conclusão de seu núcleo duro de governo. O fato é que a demissão da jornalista Paola Seibt repete o equívoco da liberação do jornalista Marcos Aurélio Castro.

Há tempo que o prefeito anda a procura de um jornalista mais conhecido, respeitado ou “consagrado”. Como se isso fosse garantia de uma boa divulgação dos feitos de governo. “Um cara que possa enfrentar os grandes nomes da imprensa local” - como já ouvi de dentro do próprio governo. Ora isso não é função para a assessoria de comunicação, mas se não que, uma missão que cabe diretamente a pessoas do próprio governo quando entenderem que não concordam com o que sai, ou como sai, na imprensa. Quem é porta voz deste governo com estofo para defendê-lo, quando injustiçado se vê. Nem na Câmara de Vereadores há essa figura, repito, com as características que os mais fieis escudeiros devem ter.

O fato é que a jornalista Paola é acima de tudo uma profissional que tem na dedicação, na competência, na leitura e interpretação rápida dos fatos, seus principais trunfos, aliados a uma surpreendente discrição para o cargo que exerce. Não se projeta na vitrine por lindas penas de pavão, como o executivo em outros tempos já exibiu. Ademais, pavonice não é sinônimo de cobertura correta das ações do executivo, e muito menos, credencial (credencial?) que meta medo em quem o governo, aparentemente, parece viver como se acometido de pânico.

Suspeito que as críticas de Antônio Dexheimer nas redes sociais, um dos responsáveis pela colocação de quem em governo hoje está, que elas têm sim suas fundamentadas razões para deixá-lo de cabelos em pé mesmo carecendo de fios no couro cabeludo ou descabeludo. Assaz observador de um governo, que ao lado de Eloi Zanella, elegeu –, não é de desconsiderar a maior parte das ironias do ex-prefeito, e crente fiel ao tempo da definição de um nome para representá-los, que melhor que Luiz Francisco Schmidt não havia. Hoje, o que se vê, é também um Antônio atônito com o que, e a quem, ajudou a governo fazer. E aí o espanto ultrapassa a figura isolada do prefeito.

Acredite senhor prefeito, não sei quem lhe convenceu a tornar realidade o equívoco de quarta-feira, 11, com a demissão da jornalista Paola, que “sozinha”, desde o meio do ano passado até esta semana, vinha tirando leite de pedra de um governo que ainda não disse a que veio e nem para onde deseja seguir. Talvez porque a razão seja clara e singela: o governo não o sabe. Ou por convicção de falta de convicção de um grupo lacrado em si mesmo, ou por dar ouvidos a tantos e a quem não devia.

Desde a implantação de governos em Campo Pequeno, que a prática de leva e traz, de insinuações, de bolas nas costas, de invencionices, de intrigas na própria trincheira para acobertar na maioria das vezes as próprias incompetências de setores, de secretarias e pessoas (respeitando as exceções), pois desde há muito que essa praga é semeada no gabinete do prefeito seja ele quem for, e bem perto de seus ouvidos, quase sempre buscando fugir à nulidades pessoais, elegendo um “Cristo” para justificar um projeto, uma intenção, uma ideia que não decolou ou um próprio governo que taxeia, taxeia e taxeia, mas não consegue decolar. Aí, então, para e manda descer o setor de comunicação que não conseguiu impedir que divulgassem o feito do piloto virtuoso, ou deste com sua tripulação, ao descobrirem-se sem plano de voo ou sequer um velho mapa .

Uma lástima. Um equívoco. Pior – outro erro. Tiraram o sofá da sala e não percebem que até as janelas ainda estão abertas. E o mais grave – uma injustiça. Justamente agora quando o governo começa a mostrar algumas ações, e, cá para nós, muito bem divulgadas pela comunicação e com alguma repercussão já mais positiva junto à imprensa e à população.

Luiz Francisco Schmidt, na condição de prefeito, devia ter este tino e evitar a precipitação. A quem o prefeito cedeu não se sabe. Se a seus conselheiros politicamente denodados, porém politicamente verdes e debutantes no ofício, ao seu exército de partidos, onde a tônica de predomínio segue a máxima da mediocridade de interesses mesquinhos sempre dispostos a colocar no palco novos artistas com suas comédias ou tragédias, ou, se de fato o intento do prefeito se precipita para instalar no cargo um pavão ou uma ave de rapina como se esta fosse capaz de “pautar a imprensa”.

O governo abriu mão de uma pessoa que trabalhou para o governo pensando apenas no melhor para o governo. E soube fazê-lo com discrição, algo estranho à política. Quem virá – talvez tenha atributos dos quais o próprio prefeito já se revelou um admirador incorrigível, ao elogiar escancarada e ingenuamente a quem sucedeu, e que tantos problemas de herança lhe deixou de presente – vide trânsito, saúde, falta de infraestrutura nos novos e infindáveis bairros que hoje emolduram com suas mazelas de infraestrutura a geografia de Campo Pequeno. 

Quem pode saber o que se passa nas preferências das pessoas – ainda mais quando investidas em cargo e responsabilidades públicas é que são elas. Que de seu direito é. Que deve ser respeitoso, deve, até porque a caneta derradeira, dos sucessos ou fracassos públicos só aceita uma assinatura. Agora, que é direito e até dever da própria imprensa manifestar-se sobre o que, por que e quem leva à determinadas assinaturas daquele único que pode melhorar ou piorar sua própria missão, também é do mundo democrático.

Que a competente jornalista Paola Seibt encontre o mais rápido possível quem saiba lhe reconhecer a qualidade do seu trabalho e sua postura fundamentalmente profissional. Ouso de deduzir e concluir que a jornalista foi vitimada por sua temperança de seriedade, que jamais lhe permitiu gargalhar de piadas sem graça ou ditos piegas, tão comuns e com tantos aplausos, desde que pronunciadas por superiores na hierarquia do poder da coisa pública.

E que o governo quando decidir-se que está na hora de criar um fato novo, como por exemplo demitindo alguém, que o faça com sensatez, embora esta seja uma virtude ausente à grande maioria dos governos, porquanto no olhar dos mais míopes, os impactos de fatos e feitos da administração pública importam bem menos, que afagos políticos ou repercussões de coalizões - também conhecidas como conchavos - divorciados do interesse geral da sociedade.