segunda-feira, 23 de abril de 2018

Por favor – passagem para todos!


Relógio Tempo Folhas Ponteiros Tempo Passa Ody – 21 – 5 – 1999


      
       Nas últimas duas décadas e alguns anos, Erechim produziu uma série de pessoas que ascenderam à posições de relevância para influir no crescimento e desenvolvimento da cidade.
       Na maioria dos casos, a ascendência se deveu a méritos individuais.
Noutros, figuras ganharam notoriedade, fazendo eco à sombra de outros poderes instalados na coletividade.
Contentavam-se e contentam-se com um troco qualquer, enquanto troco promocional.
       Coadjuvantes de uma cena maior, pregam tal qual apóstolos ou súditos de quem realmente têm seus próprios interesses, pouco se importando com o conteúdo do que alardeiam, seguros, porquanto grudados tal qual piche na sola do sapato, aos seus superiores.
       Acho que um povo que não tem orgulho e determinação em defender suas raízes, suas ideias, sua cultura, sua tradição e seus sonhos, é um povo sem alma.
       Porém, também considero que não se pode desprezar, jamais, o senso do ridículo na postulação destes mesmos sonhos – a maioria, geralmente  cobertos de justiça, desde que voltados ao coletivo.
E creio ser também absolutamente natural e compreensível, porquanto faz parte da urbanidade deste fim de século, que se aceite, sem a menor resistência, inveja ou constrangimento, que há sim, consequências que projetam individualidades – o que é perfeitamente normal e socialmente aceitável.
       O Brasil foi um time tão igual a tantos outros em 1994 nos Estados Unidos, mas ganhou a Copa fundamentalmente porque tinha Romário e isso ninguém nunca sonegou ao "baixinho".
O Brasil ganhou por Romário – mas o Brasil ganhou, sobretudo, a partir da união de um grupo. E da humildade desee mesmo grupo, em admitindo suas limitações – não permitiu dispersão e valorizou-se como uma verdadeira comuna de pessoas. Um grupo. Um grupo só.
       Redimindo-me deste escorregão futebolístico – deliberado, e talvez cometa  outro -, observe-se que ele serve para afirmar o reconhecimento que tenho, pessoalmente, por todos quantos se empenham de modo mais decisivo e, logo, destacado, para o erguimento de uma Erechim mais desenvolvida.
São méritos individuais de quem os acumula e que não podem ser ignorados.
       Se devo me render aos nossos romários (eu disse romários e não romanos de império) – não é menor a verdade que até mesmo ele, o 'baixinho', vez por outra, rendeu-se aos propósitos superiores de um time.
Nem sempre, Romário fez o que bem entendia.
Sabia que era o melhor – mas sabia que havia outros, que era importante, decisivo até, mas era uma peça e que, respeito, muito  mais que overdose  de orgulho e mania de superdotado, lhe seria tal qual bússola para o caminho seguro e certo rumo ao objetivo previamente traçado.
       Tenho sérias dúvidas, graves restrições a quem se julga – deus. Ou mesmo, semi.
       Prefiro apostar minhas moedas na força do conjunto, numa sólida e monolítica figura que se edifica na reunião e no respeito dos que inclusive pensam de forma diferente.
       Se bem me faço entender – reporto aqui a confiança em todas as instituições e, mormente, pessoas, que possam de alguma forma contribuir para o desenvolvimento desta cidade e desta região.
       Se condenamos o sectarismo ou os fundamentalistas que fazem suas vítimas n’alguns pontos do globo – não podemos admitir o que parece agir de modo que tende a seguir a mesma linha de ação, tentando abrir, e talvez sem noção do dano, profundas brechas entre quem aqui nasceu e quem mesmo vindo de fora – aqui vive e presta serviços da melhor qualidade.
       Seria uma exigência nascer em Erechim para influir positivamente e com mais sucesso  no seu desenvolvimento?
       Seria certeza de garantia total, que uma vez natural de Erechim, mais QI, mais determinação e mais talento haverá de se possuir para influir no seu desenvolvimento?
       Diante de algumas posturas - seria demasiado exagero supor que imaginam, nas alcovas, que esta terra (cidade) tem dono?
       É legitimamente correto e isento de qualquer erro, apesar das melhores e mais puras intenções, acreditar que as minhas ideias sobre este solo e o destino deste lugar é que formam, sim, as bases inabaláveis para a construção de uma sociedade justa e democrática?
       Justa e democrática para quem - se tem que ser do jeito que eu quero!
       Acredito piamente que um povo e uma comunidade devem sim cultuar suas tradições, orgulhar-se da história construída pelos ancestrais, e não podem não, se esquivar de emprestar o melhor de si para o crescimento e o pleno desenvolvimento da mesma.
       Agora – há que se definir o que vem a ser realmente, bairrista.
       E por fim – ou para começar -, creio que não devemos lançar à fogueira ou execrar os nossos romários – mas não devemos prescindir e, muito menos, ofender a boa vontade de "estrangeiros" que vem logo dali, da aldeia vizinha, para morar conosco.
       Talvez não devêssemos cantar tantas  hosanas a santos que João Paulo ainda não canonizou, sob pena de venerarmos santos que não o são, e talvez nunca venham a sê-lo, e, de quebra, nos tornarmos servos - em tempos que já se vão longe dos zinhôzinhos.
       E se não quisermos perder o último trem da história – que se tire passagem para todos.
Que ninguém seja recusado no vagão e nem deliberadamente esquecido na estação.
       Por favor – passagem para todos!