sexta-feira, 6 de março de 2020

Presidente da ACCIE quer norte com ideologia (2003)


Em 2003 o então presidente da Accie, Jaci José De Lazzari (agora se assina assim), advertiu em uma entrevista, que a região precisava definir qual era seu norte, sua ideologia (vocação) para desenvolver-se. Para tanto pregou até mesmo a união de lideranças políticas contrárias e convocou as principais instituições regionais - incluindo todas as prefeituras da Amau e da Amunor (região nordeste), para, num esforço único, definirem seu perfil, sua missão e suas metas - constituindo um bloco sólido de poder e força com vistas ao próprio desenvolvimento. Passaram-se 17 anos e nada disso tornou-se realidade. O último deputado federal da região foi eleito em 1998. Há 22 anos portanto. Partidos políticos, candidatos e municípios optaram pelo caminho da satisfação de conquistas pessoais. E este caminho tem nos levado à estagnação política, econômica e social. O esquecimento viral de Brasília por Erechim, região Alto Uruguai e nordeste, não é por acaso. Ele circula nas nossas veias feito sangue da ignorância - simples assim. Este é o objetivo de recuperar aquele alerta de 2003; solene, particular e miudamente, não assimilado por ninguém. Desprezado por todos. E é também por isto que estamos onde estamos - assistindo do chão batido ao desenvolvimento de Passo Fundo, Chapecó e até Concórdia. Assistindo, pelo retrovisor, é claro. Agora, em tempos pré-eleitoral, desfia-se a mesma cantilena. Parem com isso! chega de tentar fazer entender que todos não passamos de um bando de idiotas. O aviso foi dado. Não o seguiram. Agora re-prometem como se ninguém tivesse memória. Recordemos a entrevista, e prestemos atenção ao centro, ao núcleo, ao que realmente interessa e que foi dito pelo líder empresarial, e visionário; como disse, há 17 anos. 


"Não, não é o que o leitor apressado pode estar pensando! Jaci José Delazeri, presidente da Accie (Associação Comercial Cultural e Industrial de Erechim) quer que a região norte do estado tenha sim uma ideologia, mas sem vínculos políticos.
Segundo o empresário, a Accie vai ‘tentar’ criar um Instituto de Desenvolvimento Regional (IDR). O novo órgão não pretende substituir a Amau, nem o Credenor, muitos menos as prefeituras – mas quer trabalhar com estas entidades.


Ody – Erechim faz 85 anos. Estamos adiantados ou atrasados?
Jaci – Tem que andar mais rápido. Na época do DI andávamos mais depressa. Os jovens têm pressa. Eles querem que as coisas aconteçam: têm ansiedades, sonhos, ambições, querem espaço. O mundo está interligado. Não temos mais interior, temos internet. O mundo é maior que era há 20 anos. A Accie tem esta dimensão.

Ody – O que afinal da Accie quer?
Jaci – Queremos através de projetos, resgatar, preservar e promover a cultura. Aí entra a política, a economia, o social, a educação... a cultura. O comércio tem que ver prestigiada a sua raiz regional. Temos que segurar o que é daqui. Sob este aspecto o povo tem ser bairrista – sempre respeitando o livre mercado.

Ody – Tem gente organizando caravanas para comprar num supermercado de Passo Fundo...
Jaci – Isto não derruba minha tese. Se os preços de determinado mercado daqui são maiores, devem ser reavaliados. Temos uma rede de supermercados que está aí para competir e isto é extraordinário. Sou contra a vinda de uma rede de supermercado de fora para cá porque eles vêm e num primeiro momento baixam os preços e depois implantam políticas danosas. Esta rede regional que já existe vai provocar a concorrência.

Ody – Tem outro exemplo?
Jaci – Tenho! Olha a Comil. Enquanto tinha raízes em Cascavel (PR) só se ouvia que iria embora. Agora que a família Corradi se radicou aqui, já abriram outra empresa (EMA), fábrica de silos.  Estas são as raízes que eu falo. Eu sou pró-mercado e pró-sociedade. Não defendo ações de grupos ou de indivíduos.

Ody – Erechim não está sendo menos cidade-pólo do que já foi um dia?
Jaci – Erechim precisa de ações urgentes do governo do estado. A conclusão da RST-480, a RS que vai de Pinhalzinho (Viadutos) à região nordeste...

Ody – Como conseguir isto. A RST-480 se arrasta desde 1978.
Jaci – Em junho o governo Rigotto vai estar com sua sede em Erechim. Vamos reunir a Amau e a Amunor, a classe empresarial, os trabalhadores. Este é o momento de afinar a orquestra.

Ody – A Accie quer comandar este processo?
Jaci – A Accie quer participar do desenvolvimento regional que está no seu estatuto. Vamos criar o Instituto de Desenvolvimento Regional onde primeiro será definida a missão da região, depois vamos traçar a ideologia da região norte e depois as metas. Não falo de ideologia política, mas de compromissos com a sociedade.

Ody – Isto não vai passar por cima do Credenor ou da Amau?
Jaci – Rapaz – eu já te disse que não se trata de política. Esta ideologia não pode ser uma coisa mutável. Não tem nada a ver com o Credenor. Nós não precisamos de dinheiro – mas de atitudes. Neste instituto estarão a prefeitura de Erechim, a Cotrel, a URI, a Amau, o Credenor... tudo!

Ody – O senhor não está pensando em criar um poder paralelo?
Jaci – Mas que poder paralelo!? Não temos poder nenhum sem dinheiro. Nós queremos é liderar um processo de consciência. A igreja católica tem 2 mil anos: tem missão, ideologia e metas. Nós precisamos de algo assim.

Ody – O senhor não está misturando neste projeto suas intenções políticas?
Jaci – Eu não tenho ficha política...

Ody – Mas isto é fácil. Eu mesmo lhe alcanço uma!
Jaci – Pára com isso. Estou falando num projeto de desenvolvimento e tu vem falar de política... Olha o PT: está vivendo grandes dificuldades. O Lula tem um enorme capital político e neste momento não está em dificuldades com a sociedade, mas com o núcleo central do seu partido. Se o Lula conseguir fazer as reformas que são necessárias ao país, ele poderá ser um dos maiores presidentes que o país já teve.

Ody – E se não fizer?
Jaci – Se o PT não conseguir atender as demandas do seu núcleo central imutável, será um grande fracasso. Se atender, estará não só cumprindo com sua missão com os menos favorecidos, mas vai se consagrar e o partido vai se manter. Eu não condeno quem tem ideologia – mas quem pensar diferente do governo central, no PT, deveria sair, mesmo mantendo sua ideologia.

Ody – O PT dos radicais e o PDT de Brizola?
Jaci – O PDT tem outro núcleo que é pró-estado – mas nem assim o condeno. Eles têm a sua ideologia.

Ody – Como está a questão das feiras?
Jaci – Estamos vivendo novos tempos e faremos as feiras sem agredir o passado. Vamos inaugurar no parque um memorial com todos que construíram as feiras. Ninguém será esquecido. Quem trabalhou será lembrado para sempre.

Ody – A cidade tem projeto?
Jaci – A Accie lançou um, mas é para 30 anos. É um plano estratégico da Accie...

Ody – O senhor defendeu a união de Eloi Zanella com Antônio Dexheimer e ambos... agradeceram.
Jaci – O Zanella é um grande líder. O Dexheimer é um líder. O Zanella é prefeito três vezes... o dr. Antônio já foi uma... mas eu respeito muito o dr. Antônio porque quando estava apoiando a campanha do Eloi Zanella, nós perdemos para o dr. Antônio Dexheimer. Então, temos que respeitar e olha que o Zanella era forte, assim como é forte hoje.

Ody – O senhor ainda defende esta união?
Jaci – Eu já disse o que penso.

Ody – Dizem que os dois não deixam ninguém crescer dentro do partido de cada um deles – PP e PMDB?
Jaci – Isso é mentira. Quem disse isso?

Ody – Mas se ouve que seria verdade... Ou mais ou menos verdade.
Jaci – E eu digo que é mentira: nós temos dois políticos vitoriosos, os deputados Ivar Pavan (PT) e Iradir Pietroski (PTB). Eles foram impedidos ou prejudicados pelo Zanella e pelo Dexheimer? O Zanella e o Dexheimer constroem as suas próprias vitórias. Eles não barram nada. O que falta é gente de coragem como o Pietroski e o Pavan. Quem quiser se lançar que faça como esses dois e meta a cara.

Ody – Desculpe a insistência, mas o senhor não se sentiu desprestigiado pelo Zanella e o Dexheimer com a sua proposta de união deles?
Jaci - Eu já disse o que eu penso sobre isto.

Ody – O senhor não considera que levou "chineledas" de ambos?
Jaci – Não me abalo com chineladas. Quem quiser – que se candidate.

Ody – O seu mandato na Accie vai até o fim do ano. Meu personagem, o Bota, há mais de um ano garantiu que o senhor ficaria mais outro mandato logo depois que o senhor disse que era o último. O senhor deixa mesmo a Accie em dezembro?
Jaci – Pois olha, avisa o Bota que ele tinha razão. Até para não ficar pegando no meu pé, avisa teu personagem que se a Assembleia da Accie quiser,  eu fico mais dois anos. Tenho uma série de metas que ainda não pude concluir. Diga para o Bota que ele tinha razão. Depois eu penduro... as botas!

Ody – Eu recebi uma carta anônima que perguntava o que mais o senhor queria ser na cidade... talvez – presidente do céu!
Jaci – Eu tenho minhas responsabilidades como presidente da Accie. Não posso me esconder no anonimato como alguns o fazem. Tenho que dar a minha contribuição para esta cidade e vou dá-la sempre que chamado. Quem é presidente da Accie não recebeu um chamado? Não posso e nunca irei me esconder ou me esquivar das minhas responsabilidades".