Crédito: Guilherme Ody |
nunca
se mentiu tanto. Alguém
ainda tentará salvar a assertiva com o Salmo Preferido do Século 21: “que nada! Sempre foi assim. Acontece que antes a gente não ficava sabendo e quando a
notícia vinha – já havia muito tempo”.
Hoje
é igual ao que sempre foi, só que hoje a gente clica e vê o tsunami de 2004 na
hora quantas vezes quiser.
Leva numa caixinha de fósforos , digo, num
pen drive
e
ali estão centenas de textos,
fotos,
músicas, filmes...
Notícias.
E
mentira – muitas mentiras.
E,
incrivelmente, até algumas verdades.
Mas em termos de mentira ela
caminha sim junto com o tempo.
Sempre
se mentiu
–
disso ninguém duvida.
Mas
nunca antes na história deste...
mundo
mentiu-se
e mente-se tanto.
Desde
dentro de casa à sacristia.
Do
emprego à política.
Da
fidelidade à qualificação.
Do
amor à saudade.
Do
que se deseja a que se pode.
Do
que se tem ao que jamais se haverá de ter.
De
quem se pegou - a quem não quer pegar a gente.
Da
economia à... economia.
Da
ilusão ao real.
Do
que gostaríamos de ser
–
ao que de fato somos.
Deitado a 39 graus numa cadeira de
praia
e vendo
até onde a vista alcança
- o
gigante de água,
na areia,
na areia,
toda
a mentira se desfaz como um punhado dela
em mão fechada com água salgada.
em mão fechada com água salgada.
Por
um instante a verdade está – mas se esvai por entre os dedos.
Parecia
que era verdade eterna, mas não;
uma
nova verdade de faz.
Caminhando na areia
a
mentira se veste de verdade
e
aí, bem aí,
nada
do que parecia é,
nada
do que diziam é,
tudo
que se imaginava – não é.
Só
uma coisa é: tudo é verdade.
Uma
surpreendente nova verdade.
Para
o bem.
Para
o mal.
E
não é mentira!
Aquele cabelo longo e armado,
aquele
quadril pescoço de girafa,
aquela
barriga de tábua de pinho lustrado,
aqueles seios de pêra,
aqueles seios de pêra,
aquelas
pernas longilíneas,
aquele
vestido de festa da alta,
aqueles
cílios postiços,
aquelas
unhas,
aqueles
dentes alvos,
aqueles
lábios de pura carne,
aquele,
daquela BMW,
aquela,
daquele Lamborghini preta,
aquele
patrão super bem de vida,
aquela
do 23º andar que me faz sonhar acordado,
a
do ray ban vermelho,
aquele
cientista,
aquela
empresária imponente, mas ainda fêmea;
aquele
peitoral de Johnny Weismuller,
aquele
alto e arrojado como Liam Neeson,
aquele “dono” da cidade,
aquele “dono” da cidade,
aquele
todo poderoso da cidade,
aquela
estrangeira,
aquelas
calças de marca,
aqueles
bonés de marca,
aquelas
bolsas de marca proibida aos comuns,
aqueles ternos de atores de Hollywood,
aqueles ternos de atores de Hollywood,
aqueles
braceletes de Cleópatra,
aqueles
modelitos em carne, e
ossos
encabidados
no
último ditado da moda que dita a moda
–
aonde estão que não os vejo!?
Estavam
na minha cidade.
Nos
meus bailes.
Nas
lojas,
nas calçadas,
na outra quadra,
na igreja,
na minha escola,
nas calçadas,
na outra quadra,
na igreja,
na minha escola,
na
minha rua.
Na minha TV...
Biquínis e tangas
ou
calções não mentem.
Jamais.
E
mais que isso, além de nunca mentirem,
trazem
consigo,
oferecem
gratuita, democrática e socialmente
o que os adereços omitem,
o que os adereços omitem,
escondem
em mentira desavergonhada
que,
assim,
uma simples praia,
desnuda
e coloca à pés.
Nossa
Senhora de Fátima
–
até eu me achava...
Sim
porque nunca tinha percebido.
Fosse a praia com seu sol ou nuvens,
o
mar com seus azuis,
esverdeados
ou
até acinzentados.
Fosse
a praia com sua areia miúda ou encharcada pela maré.
Fosse
o vendedor de picolé
e
salada de frutas,
de
chapéus ou tangas.
Fosse
o grupo de pescadores a decidir como desencalhar o barco
e aonde
largar a rede.
Fosse
a caipirinha,
o
milho verde,
a
cadeira,
a
barraca árabe,
o
chuveirinho
e
as palmas coletivas sinalizando que uma criancinha está perdida da mão do pai
(ou
o pai que se perdeu de tanto “admirar”)
-
fosse o barrigão que esconde,
tapa,
omite,
e apaga
qualquer sinal de genitália de Adão ou Eva,
fossem
os chinelos de dedo levados à mão,
os
celulares,
relógios,
bronzeadores,
os trocados
de reais,
as chaves,
caixas
de isopor,
latinhas
e latões de cervejas,
fossem
as conchinhas
enfim,
fosse
esse cenário - digamos, algo meio político,
e certamente
teríamos um modelo híbrido
acasalando um sistema democrata/socialista,
como jamais
acasalando um sistema democrata/socialista,
como jamais
- o
homem pelo homem,
conseguiu
ver com os próprios olhos e, experimentar com a própria vida
no
seu dia a dia.
Fosse isso um sistema político
como
conhecemos,
aí a
verdade iluminada pelo sol e pelo resplendor das ondas de mar,
simplesmente cambalearia,
porquanto
os adereços da mentira já se fariam
a conspirar,
e contando
com o nosso mais descarado pleno consentimento;
conspirando
por inteiro contrário àquela verdade praiana
– a
única verdade,
a
última verdade.
Quando quem quiser descobrir
e
ver-se como de fato é,
avaliando-se
com os seus congêneres,
desapegue à casa ou do apê de quatro/cinco quartos,
e fina mobília,
e do carrão último tipo.
e fina mobília,
e do carrão último tipo.
Largue
o exagero de qualquer circunstância,
largue
o exibicionismo sempre nefasto,
porquanto
falso,
e sem utilidade prática alguma,
e sem utilidade prática alguma,
largue
a euforia com a qual num simples espelho
- que sempre nos enganamos;
- que sempre nos enganamos;
largue
a prepotência,
a
arrogância,
o
neologismo do eumismo,
vire às costas à conjugação de todos os verbetes
apenas na primeira pessoa do singular.
apenas na primeira pessoa do singular.
Sim
– quando estiver com saudade de você,
isso
mesmo de – vo-cê;
jogue
num canto da vida
- o
que nunca levarás contigo,
que
só serve para nos iludir,
submetendo-nos ainda ao ridículo de acharmos que somos,
o que
o que
realmente
não somos.
Quando
assim ensaio me portar - sábios riem.
Bota um calção,
enfia-te
num biquíni,
mande
vir uma caipira,
deite
na última fronteira entre a areia mais seca e a onda mais longa do mar.
Se
olhares para frente
verás
mar-sem-fim,
para
os lados - verdades em pé,
para
trás – a cobra tentando seduzir com a maçã da mentira,
para
cima – o céu azul sem fim.
O
infinito.
O
espelho fiel do que,
de
fato és,
do
que, de fato, somos.
E olhando
para dentro de nós,
veremos - a dimensão estampada na cara,
no jeito,
na fala e na interação com os nossos amigos.
veremos - a dimensão estampada na cara,
no jeito,
na fala e na interação com os nossos amigos.
Tudo
isso,
de cabo
a rabo,
de
cima abaixo.
Óbvio que existe o interior de cada um.
Porém,
nem sempre o interior se deixa exteriorizar, como de fato se é – por fora.
Assim sendo
é de
difícil contestação
o que
se deita ou
se faz caminhar à brisa do mar: a praia não mente.
se faz caminhar à brisa do mar: a praia não mente.