Júnior Rocha - Técnico do Tpiranga |
Não conheço pessoalmente Júnior Rocha.
As duas vezes que convidei o presidente para o programa
Painel na TV Erechim, o técnico Júnior Rocha não pode comparecer.
Nunca falei com ele.
Mas olhando à distância, pela TV, percebe-se à beira do
gramado um homem seguro de si, de convicções, atento aos seus comandados, ao
jogo, que vislumbra alternativas, e, sobremaneira; tranquilo, talvez ainda em
maturação profissional (porque sempre estamos maturando – o que denota que pode
e vai crescer ainda mais na profissão que escolheu).
Exceção aos grandes clubes com recursos financeiros, firmei uma
convicção que o passado assevera: os times do interior quando se formam e se
firmam – tem no seguimento do trabalho e, muito especialmente, na manutenção do
grupo um dos seus segredos mais acreditáveis. Começar tudo de novo, quase do zero, é muito difícil de acertar. Leva tempo e demanda além de trabalho - sorte.
Todos concordam que o futebol de antigamente era melhor,
etecetera e tal. Mas nesse etecetera e tal há um componente que era da essência
daquele futebol melhor, de times mais fortes, mais competitivos. Era o fato
singelo, quase imperceptível e muito pouco provável hoje em dia, que eram grupos
de jogadores que se formavam e atuavam juntos dois, quatro ou mais de cinco
anos. Tomasi, ponteiro direito e depois meio campista histórico do Atlântico,
jogou no Aimoré de Toruca e Mengálvio e depois aqui. Só. O “Velho Borges”, pai do Carpegiani e do Borjão, veio do Pradense e vestiu só a camisa do Atlântico. Mugica, não sei
de onde veio – mas desde que olho futebol só vi o grande zagueiro/capitão com a
camisa verde e amarela.
Atletas vinham da capital ou de outras cidades e aqui (e
assim era com as outras cidades e clubes), se conheciam, começavam, cumpriam
seus contratos, eram pouco assediados – por outros clubes ou empresários -, e,
não raras vezes iniciavam um namoro que acabava em casamento, em casa, família
e as raízes de uma nova vida estavam agarradas
e se espalhavam solo adentro. Feito – isso, jogar futebol era sua profissão no time
e na cidade que haviam escolhido. Eu sei, eu sei que havia exceções, mas – este
era um dos fundamentos para, de muitos anos para cá, dizer e admitir que “o
futebol de antigamente era melhor, os times mais fortes, os jogadores mais...”.
Como é hoje em dia nem é preciso ficar explicando. Peguemos o
Ypiranga recente. Reinventou-se várias vezes, algumas com mais força, outras nem
tanto, mas vai dançando conforme a música, vai remando conforme as águas do mar
se formam que se erguem e baixam em ondas que partem de concorrentes, de
empresários ou de próprios profissionais do futebol que não conhecem raízes ou
outros que adoram aventuras. E tudo isso está perfeitamente dentro do
regramento vigente neste mundo da bola.
O Ypiranga tinha um grande goleiro (Carlão) que virou ídolo,
saiu, voltou, perdeu a posição e não está mais. Mas conquistou a confiança do
torcedor. Mais recentemente perdeu o zagueiro e capitão do time, Reinaldo, o
lateral esquerdo Zé Mário, o volante Tarik, o meia-armador Mossoró, o meia-atacante,
Caprini, e o atacante (puxador de contra-ataques), Jean Silva. Como se diz:
perdeu a espinha dorsal do time.
Pois, nestes tempos bicudos onde o dinheiro escasseia e com a
pandemia rareou ainda mais, cada um fez o que considerou melhor para seus
interesses, – no caso – os atletas aceitaram propostas financeiras mais
vantajosas e foram embora. É assim porque assim é que é.
É claro que o clube erechinense foi ao mercado para tentar
repor as perdas. Remontou-se e hoje não apenas não chora nos últimos degraus da
escada de classificação a perda da sua espinha dorsal – antes muito confiável
-, como, no momento da competição, pode comemorar a liderança. Lidera uma chave
com times de tradição, de muita história, de grandes torcidas e por que não, de
conquistas. Ouvi muito, olhando os concorrentes, e avaliando as perdas internas: “se
não cair já está no lucro!’. E é verdade. Considerando ter de praticamente recomeçar outra vez.
Penso que neste momento o que vem em primeiro lugar para se
dizer, é que esta posição não acontece por acaso. Um pouco de sorte aqui, um
azar ali – tudo descontado porquanto também é do futebol -, o que me parece bem
aceitável, longe de ufanismos erguidos e sustentados em palafitas de ocasião ou apenas emotivas, é
que o Ypiranga está outra vez se remontado ou em fase de consolidação, a partir de um
trabalho planejado que se sustenta principalmente a partir de uma forte
liderança de seu principal comandante – o técnico.
Mas no futebol onde cada detalhe é peça de essência como em
uma engrenagem de confiabilidade, o presidente importa, o gerente de futebol e
o diretor importam, a comissão técnica, o fisicultor, os médicos, o treinador
de goleiros, os auxiliares, o massagista, o roupeiro, enfim, todos os membros
de todos os departamentos tem seus pesos.
A “liga” entre o sonho e a realidade... se dá a partir de um
grupo de atletas com suas qualidades expressas especialmente dentro do campo, mas também fora dele – tudo muito
bem amarrado num alto grau de confiança de todas as partes. Se o "cano" apresentar e não sanar qualquer furinho - pode tudo ir por água abaixo.
A confiança de cada jogador nas suas próprias
potencialidades, na confiança em seu companheiro de onze ou de grupo inteiro e
que, juntos, podem competir com grandes probabilidades de vitória numa chave
onde as equipes rivalizam, se equivalem – pendendo sempre as maiores chances de
vitória a quem mais junto estiver e a quem mais acreditar em si, nos
comandantes e nos companheiros, estas pequenas/grandes coisas fazem a diferença. A partir disso começa a formar-se o afamado
ambiente (sadio ou podre, otimista ou indiferente, vitorioso ou derrotista,
azarento/tanto faz ou glorioso) – que geralmente deixa para se apresentar e
mostrar sua cara, de pleno, em definitivo - na hora decisiva. Em síntese: todas as horas são importantes. O treino. o pênalti. a calma. A força. A rapidez. A fluidez do jogo. Exige-se profissionalismo. De todos. Não há mais espaço para amadores ou
atitudes, posturas ou mentes amadoras. Ganhar ou perder faz parte. Ambos acontecem e se sucedem. Mas, comprometimento, este não pode faltar. Jamais. Sempre preciso entrar em campo com os atletas.
Estão de parabéns o gerente de futebol Renan Mobarak, o
diretor de futebol, Ricardo Argenta, o presidente e o vice, Adilson Stankievicz
e José Scussel, demais dirigentes; o preparador físico Alexandre Andreis e
demais auxiliares – além é claro o grupo de jogadores que começa a mostrar
suas potencialidades e trocar confiança. Mas o nome mais saliente, no meu entender,
até este o momento, é o surpreendente comandante técnico – Júnior Rocha.
No que tudo isso vai dar em 2021 para o Ypiranga eu não sei.
Ninguém sabe. Mas o Ypiranga tem comando técnico. Isto é inegável e quem
observa, sem paixões ou eloquências, vê e enxerga. O Ypiranga já teve grandes
treinadores de futebol. Um deles, que aqui não foi nada bem em termos de
resultados de campo (mas era um profissional na acepção do termo - sempre sereno e respeitoso), hoje dirige
a seleção brasileira. Júnior Rocha, olhando à distância e pesando menos os
resultados (importantíssimos), mas mais ainda a postura que me transmite
perceber à distância – parece-me carregar virtudes que geralmente acompanham os
comandantes de grandes elencos de futebol. Não se destaca pelo sangue nos olhos, pelo grito, pelo descontrole. Ao contrário. Que o Ypiranga possa se beneficiar
disso – como já tem sido possível observar. E que o técnico faça do Ypiranga mais
um trampolim para uma exitosa carreira em sua vida, exercendo-a com
profissionalismo, autoridade, qualificação, dignidade e respeito com todos
aqueles envolvidos com o mundo do futebol.