segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

O jeito Helena de ser

 

Helena Confortin - Presidente da Academia Erechinense de Letras. Foto: Arquivo

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Quando a Professora Doutora Helena Confortin se prepara para passar a presidência da Academia Erechinense de Letras (AEL) à sua sucessora, Zeni Bearzi (aclamada no dia 10 de dezembro em Assembleia Geral), em fevereiro/março de 2025; sinto-me motivado para falar um pouco sobre a professora Helena. E o faço por uma razão especial: para mim, é necessário.

É hora de colocar alguns pontos nos “is”.

Quem reside em Erechim e no Alto Uruguai já ouviu falar da professora Helena. Ela ministrou na área de Letras da URI Câmpus de Erechim por muitos anos. Participou da formação de centenas de profissionais. 

Helena Confortin - Diretora Acadêmica
Foto: Livro da própria Helena

Foi Diretora Acadêmica do Câmpus de 1991 a 2002, Coordenadora do Centro de Pós-Graduação e, depois, Pró-Reitora de Ensino na gestão 2002 a 2006. Tudo na URI.

Quando o assunto é pesquisa na área de Letras, ela aparece na URI, na UFSM e na PUC/Campinas/SP. Foi Patrona da Feira do Livro de Erechim em 2005. À seu modo esteve em todas as feiras com seu empenho. Em 2002 ela assumiu a pró-reitoria da URI. E lá estava eu na condição de assessor de comunicação da Reitoria, diante da, da, da... Dela!

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Tinha ouvido falar muito sobre o estilo dela. Ouvi sobre dedicação e competência. Ouvi sobre seriedade, cobrança e alguma teimosia, em defesa das suas convicções. Ouvi sobre ‘não é fácil trabalhar com ela...’. Mas – nem tudo, geralmente, é como ‘dizem que é’. Mas – pode contar: “Quando a Helena diz que vai fazer determinada coisa, ela vai fazer”. E se você estiver nos planos dela contar contigo; te prepare, tu vai participar.

A Helena era, e é; obcecada por fazer alguma coisa. E com pressa. E com precisão. Pelo todo. Pela perfeição - se possível. Especialmente se estiver do jeito como ela pensa que deveria estar. E mais: ligeiro. Não tem nada de ficar enrolando. Um dia ainda quero ver o dicionário dela. Sim porque acredito que nele não vou encontrar  os termos “mais ou menos”.

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Depois de quatro anos trabalhando como colega na Reitoria, posso assegurar que é assim mesmo. Na convivência diária, tirei minhas conclusões sobre a Helena. Estranha achar que que é teimosa e não sabe valorizar o outro. Pensando bem digo que essa conclusão contém no mínimo meia mentira: ela é assim, de fato, em parte (dando aqui uma de analista de caráter). 

Sim porque a outra metade dela, e é preciso levar isso seriamente em consideração, ela é assim só para quem coloca a carroça à frente dos bois. Só para quem baseado em falatórios logo ergue uma barreira entre si e ela. Só para quem não é afeito a seguir normas. Só para quem ‘vive cansado’. Aí a Helena cobra e não tem escapatória. A Helena é assim, por vezes meio ranzinza – o que é um exagero meu - mas “só para quem tem baixa imunidade contra o vírus da pouca vontade, da má vontade, da... preguiça. Da preguiça desde o pensar ao fazer”. E os preguiçosos me perdoem porque não quero seu perdão porquanto não o peço.

Aí a Helena vem com a vacina “FoF.FaC.SC!/2000e.S” ou seja: (Faça-me o Favor. Faça alguma Coisa. Santo Cristo!/2000e.Sempre). E olha – garanto – quem precisou se vacinar diz que não doi e dá resultado. Bota, personagem que criei nos anos 1990, um erechinense que só foi até o 4º livro, mas se mete em tudo quanto é assunto, especialmente onde não é convidado, me garante: “Odyyy – de Deus! Ouvi dizê né, que essa va-ci-vaaaaciii-na da profe dizque salvou até quem tava já pegando no sono – o eterno né. Teve quem dizque, disque né, eu não vi né – mas até ressuscitô pro trabaio. Parece que a vvvv-aaa-cinnn-nna da profe Helena, quando ela injeta numa cabeça – o caaa-aaa-ra acorda e faiz coisa que nem sabia que era capaiz de - ffff-ffffa-zzz-zzzzê!. Me alembrô aaa-aaquel-llle dii-ii-tado: ‘Ô vaaaai ô racha – as tampa da caxa’ da Barata do teu pai Alberto que ele tinha lãããã por 1957/58... E quase ssss-sseemm-prr-eeee ia, né!”.
Isso mesmo Bota, mas agora se manda antes que eu chame a Helena e ela logo te arruma alguma coisa pra fazer.

A Helena chega admirar, olhando para o tempo de vida, os cargos assumidos, as responsabilidades abraçadas. Ela não se entrega e quanto à teimosia que falam, acho que muito vai pelas suas origens italianas, assim como sua vocação ‘determinativa’, credo – desculpe. 'Dado dell’aquilone', ou aportuguesando, ‘porca pipa’!

E sei o que digo: no início da minha vida jornalística tive dois chefes que me anteciparam e ensinaram a conviver com o ‘O jeito Helena de ser’. Um na rádio Guaíba. Outro na Central do Interior da Caldas Júnior. Ambos – não desconheciam e nem conhecem porque ainda estão na ativa, os termos ‘impossível’, ‘não dá’, ‘não posso’, ‘cansado’, ‘não tenho certeza’, ‘agora não’, ‘mais ou menos’, ‘depois eu faço’, ‘atrasado’, ‘amanhã entrego’, ‘quem sabe’, ‘preciso de mais tempo’, ‘vou pensar’... até por que éramos funcionários e pagos para pensar, descobrir, buscar, confirmar com outra fonte, escrever, não errar e, terminado – começar tudo de novo sobre outro assunto. Mas claro, não comparo a Helena descrita até aqui - com os assuntos da Academia Erechinense de Letras (pode alguém estar pensando nisso), até por que ainda não cheguei lá.  

Helena Confortin. Foto: Zeni Bearzi
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Pois nos quatro anos de Reitoria vi na Pró-reitora Helena Confortin, uma pessoa diferente daquela como alguns jogavam ao vento. Depois dos ouvidos cheios, conheci uma pessoa simples, respeitosa, tranquila e afável. Agora – sempre determinada como só ela e quem sabe mais um ou outro que encontramos pela vida. Prestativa, cumpridora de horários e tarefas, diferentemente de... (cala essa boca Ody!) uma pessoa com suas ideias e ideais sim, mas acessível a mudanças, leal e honrada – diferentemente de, do... (pelo amor de Deus – cala eeeesssaa boca Odyyy!). Enfim - encontrei pela vida oponentes ao estilo Helena.

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Quando encaminhou para fechamento da sua extraordinária obra (chamo de extraordinária porque as 670 páginas num formato 22,5 cm por 29,5 cm onde se encontra “A interiorização do Ensino Superior do Norte do Rio Grande do Sul – O caso Fapes/Cese – FuRI/URI”, concluí que a obra ainda carece de um reconhecimento formal muito maior.

Livro sobre Ensino Superior. Foto/Ody
Sim, porque no meu entendimento, é a mais completa sobre o Ensino Superior de Erechim e região, porquanto ele vai da raiz ao tronco, dos galhos às folhas e flores, revisitando as sementes, os cuidados, as dificuldades, os desafios, as superações, os caroços e os frutos – principalmente no que diz respeito à vida intramuros do Câmpus da URI Erechim . E por óbvio, pisa no registro textual e fotográfico, com bom pé quanto à concepção da Universidade Regional Integrada e seu modelo regional, multicampi e comunitário.

Diria mais. O “livrão” da Helena, que teve ainda o bolsista, Guilherme Mossini Mendel, baseia-se em pesquisa, promove a extensão do pesquisado, e ensina palpiteiros  pouco informados e formados sobre de onde, de fato, veio o Ensino Superior nesta cidade (e regiões). 

Ele retrata como ele foi se desenvolvendo por conta da idade, com seus feitos, e, por fim, recupera e expõe os desafios como por exemplo, pensar, projetar, interagir e viver uma nova vida enquanto instituição de nome único e três endereços iniciais. 
Se o velho Ody fosse me cobrar ao seu estilo meio hilário e desbocado diria – “má Ody – tu não tá falando do mistério da Santíssima Trindade, né!” - sim porque costurar todos os fios largados dessa história entre municípios, regiões, pessoas, interesses e egos -foi simplesmente um feito irrepetível.

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De volta ao livro da Helena: na minha visão, e não chamo de humilde nem de orgulhosa porquanto é a minha opinião com a qual ninguém precisa concordar, ele aborda “o maior e mais decisivo acontecimento para o desenvolvimento sustentável das regiões Alto Uruguai, Médio Alto Uruguai e Missões do século passado (com seus reflexos estendendo-se tempo afora...).


Cleo Joaquim Ortigara, Mara Regina Rösler e Glenio Renan Cabral
Foto: Livro sobre o Ensino Superior
Refiro-me é claro, ao capítulo FuRI/URI, uma obra de muitas mãos e cabeças sintetizadas, resumidas ou representadas nas figuras de Cleo Joaquim Ortigara (Fesau/Frederico Westphalen), Mara Regina Rösler (Fundames/Santo Ângelo) e Glenio Renan Cabral (Fapes/Erechim) que formaram o ‘Grupo Tarefa’ que daria à luz no dia 19 de maio de 1992 – à Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e Missões. Este grupo foi responsável pela elaboração de documentos e coordenação das atividades para criação e reconhecimento da URI.

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Mas, voltando, a Helena tem obras em livros e artigos, destacando participação nos três volumes que assinalam os “150 anos da imigração italiana no Rio Grande do Sul”. Entre os 200 autores – a Helena recupera, com primorosos detalhes,  “O (I)migrante italiano no Alto Uruguai gaúcho: aspectos históricos”. Em 1991 lançou “Faina linguística: estudo de comunidades bilingues italiano-português do Alto Uruguai Gaúcho”. E, já na AEL “Histórico das Feiras do Livro de Erechim”, e participação no “Mosaico” escrito em parceria com membros da Academia Erechinense de Letras. Observo ainda – a Helena coralista, logo - interativa -; o que desmonta qualquer maldade sobre alguém que deseja concentrar sobre si todas as atenções. 

Quando o assunto é “histronismo”, a bem da verdade, penso que todos nos enquadramos um pouco. Quem não defende suas convicções ou razões ou ideias? Se todos lavam as mãos – sobre esta característica, eu me assumo em parte como tal. Credo – por onde estou enveredando nesta “palestra escrita?”. Hora de puxar o freio e mudar de direção.

Deixem-me, ou melhor, peço a mim mesmo retomar meu estilo mais informal de escrita, porque do jeito que esse texto vem avançando está ficando meio chato e bem longo – porém, reitero verdadeiro. A chatice não é culpa da professora Helena – mas minha.

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Quando ainda andava pelo saudoso jornal “Boa Vista” que ajudei a fundar – não estava mais quando do seu falecimento -, pois naqueles anos vinha sendo muito cobrado pela amiga pessoal de décadas, de quando ainda Alba Albarello residia com seus pais ao lado da cerca de madeira que dividia o estádio do CER Atlântico e o terreno onde em 1964 seria inaugurado o Colégio Mantovani. Ela me cobrava dia sim, outro também – abordar a obra de seu pai que teria deixado registros e escritos importantes sobre a cidade.

Nunca tive tempo (e talvez carecesse de um interesse verdadeiro) de atender o pleito da querida Alba, até que um dia ela me intimou com a delicadeza que caracterizava o estilo Alba.  “Ody – já que tu não quer mesmo escrever sobre o pai, vou te pedir e esperar numa sessão do Café Cultural. Eu te aviso quando tem. É depois do viaduto. Num daqueles barzinhos” -  ou ‘pubs’ made em Campo Pequeno – diria eu. E uma noite fui. A Alba me recebeu sorridente “ahhh até que enfim tu veio né. Ô guri difícil! Pessoal, eu tenho uma história sobre o Adelar...!”. “Não Alba, pelo amor de Deus – não”. E ela então sim trocava o sorriso por um riso largo. E.... “olha que eu conto, ahahahah”. Era um tempo onde ainda não tinham mudado o  ahahahahah para kkkkkkkkk.

Havia jovens, pessoas de mais idade. Entre um café e outro ouvi alguém cantando, outro tocando, de repente alguém declamando. E a conversa girava sobre livros, autores, artistas, compositores, jornais, cinema, intérpretes, pinturas, poesias, crônicas, artistas plásticos, bandas... Enfim – arte. Na rolagem do tempo retornei mais uma ou duas vezes, e aí já ouvia falar na criação de uma instituição de cultura – algo que desse um tom mais formal àquelas reuniões. Talvez nem para substituí-las, mas era sobre algo mais, como disse, formal.

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A essa altura Helena e Alba já andavam de mãos dadas pensando nesse mais alto. Um dia soube do nascimento da Academia Erechinense de Letras (AEL). Era 26 de novembro de 2014.


Helena e Lucia - presidiram a AEL
nestes seus dez anos.
Foto Elsa/Divulgaçao

Eu imagino que a ideia original do que viria a ser a Academia Erechinense de Letras tem suas sementes naqueles encontros organizados pela Alba. Mas, conhecendo a Helena que conheci, penso que partiu dela o “mãos à obra”, a concretização na prática da implantação da Academia Erechinense de Letras – ao lado de outros membros igualmente importantes. E, claro, sempre e sempre – a Alba com seus sonhos. Diria – que ficaria mais razoável se dividisse em Alba & Helena o que nos leva ao berço da AEL. 

Seria então um - “A” de Alba. 

“E” de Helena – puxa – mas “essa Elena é com “H”. Pô - mas pronúncia sonora, não obstante  contempla ambas, Helena e Elena Pronuncie. Tente! 

E... será que o “L” seria de Lucia (Elcemina Lucia Balvedi Pagliosa?) 

Então vai daí que temos AEL. Meu Pai – chega. Me perdi.

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Um dia fui convidado pela Helena para ingressar na Academia. Fiquei surpreso porque, que livro tinha escrito e não encontrei nada. Mas observando as pegadas que deixei na imprensa (42 anos até 2016), sem constrangimento, aceitei. E me senti honrado. Assumi ao lado do dr. Paulo Dias Fernandes, da Dra. Karina Denincol e de Nesio Alves Corrêa, o ‘eterno’ Gildinho dos Monarcas.

O fato é que dentro da Academia logo me deparei com uma Helena ainda mais ativa. Todos os registros legais da entidade pertencem a ela e sua ação. Alguém dirá – mas claro, ela era a presidente! Sim, era e é – mas isso exigia muito empenho. Por isso até onde sei, os feitos legais, os registros nas instâncias culturais, o “precisamos fazer isso e aquilo”, tem mãe. E a mãe tem nome: Helena. E tem sobrenome: Confortin. Se mais alguém alguma coisa fez neste recorte da ainda precoce AEL, e tem é claro - conforte-se porque está feito. Quem fez sabe e sinta-se aqui também contemplado.

Mas o principal, nesse quesito de correria a cartórios, etc., para legalizar a entidade cabe à “mãe’. Àquela exigente. Ela foi atrás e fez. Beleza. Mas acalmemo-nos todos: não é isso que está fazendo o dólar perder o controle e nem é o que vai baixar seu valor frente ao saudoso Real. É apenas – fato. Um fato. O fato. E... pronto! Sejamos humildes em reconhecê-lo quanto à sua autoria muito principal. Eu, francamente, não daria para isso. Mas falo de mim. Apenas. Uma vez, adolescente, passei num concurso bancário. Trabalhei três dias e pedi demissão.  Exigiram a devolução até dos custos da viagem para Porto Alegre quando do concurso. Detesto a mesma paisagem. Carimbo. E, principalmente, contar o que meu não é.

Pois é. Pouco afeita à conversa fiada a presidente foi caminhando, e foi correndo, foi imaginando e fazendo e hoje, a Academia aos dez anos, é uma entidade que tem os seus documentos em dia. Fosse uma pessoa, até Donald Trump e suas ameaças sobre imigrantes, receberia a AEL nos EUA.

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À AEL  lhe falta uma casa para morar. Sob este aspecto, ainda meio que lembramos a Alba lá no bar ou “pub” com o Café Cultural quando ela me intimou. Às vezes sou otimista: “o prefeito Paulo Polis e a rua coberta que anunciou vai acabar encontrando uma ‘casa’ para a Academia”. O prefeito sabe dessa necessidade da Academia. 

Às vezes penso na Alba e sua ousadia e pareço ouvi-la: “Polis, prefeito Paulo Alfredo, a Academia de Letras não pode mais ficar sem uma casa própria. Por enquanto - me socorrendo do Padre Vieira que mora aqui no céu e de vez em quando nos cruzamos, pois, por enquanto os "Pó em Pé" da AEL estão se reunindo numa sala da URI. Paulo Alfredo - pensa nos seus tempos de Caixa. Uma casa pra Academia. Prefeito, não temos nem onde colocar nossos preciosos móveis, os livros, um pedaço da história do seu município, uma casa... e... e... vamos adiante!”. 

Essa Alba – mas de resto é algo que a presidente Helena e a AEL como instituição cultural vem pedindo também. Um dia – um dia isso vai acontecer. Se eu pudesse, daria. Sou histrônico. Gosto de aparecer. Queria ficar na história. Mas – sou um pelado. E... por que não uma empresa para cunhar sua marca na história cultural da cidade! Doar uma casa para a AEL – não deve quebrar nenhum grande, mas enfim. De novo! – me perdi.

Membros da Academia Erechinense de Letras. Foto: Arquivo AEL

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Sob a presidência de Helena Confortin nas gestões (2015/2017, 2017/2019 e 2023/2025) e ainda de Elcemina Lucia Balvedi Pagliosa nas gestões (2019/2021 e 2021/2023 - ), a verdade é que a AEL ganha cada vez mais responsabilidades, principalmente quando da realização anual das Feiras do Livro de Erechim e das próprias Frinapes. 

De outra sorte, a entidade tem se aproximado do Poder Executivo através da Secretaria de Cultura, quer sugerindo nomes para Patrono e homenageado especial de cada feira, auxiliando de forma direta as feiras ou na organização de eventos culturais dentro das feiras.

E também esta parceria sempre tem contado com a mão firme, a determinação e o trabalho incansável da Helena. A propósito, coube a presidente com sua “teimosia boa” neste caso – alcançar junto ao poder público municipal a conquista da Praça Jayme Lago como local para as Feiras do Livro. No período do evento a praça, até troca de nome e ganha a denominação de “Praça do Livro”.

Sobre a promoção de eventos culturais além feiras, um que vai se afirmando na cidade como um espaço  aberto ao público é o Café com Leitura. Este, pode-se aceitá-lo como um filho de duas mães: Zeni Bearzi, em primeiro plano e Helena Confortin. Sua concepção é o que mais se aproxima ao Café Cultural da Alba. 


Natal do Café com Leitura no Sesc. Foto: Arquivo/Divulgação

Olha só o Sesc, o João Caruso com seus alunos. A URI com o Coral sob o Tailor Molossi. A Marielise Ferreira com seu curso de Escrita Criativa e a coordenação do e-book. Dos textos de escritores que ainda não estão na AEL. E o que dizer da leitura de um deles durante a Frinape, pelo nosso Luiz Ademir - dando vida e asas ao texto do Chinazzo! Simplesmente novo e emocionante.

Está destinado a se consolidar como uma atração de sucesso - por sua porta aberta a todas as idades interessadas em promover, difundir e consumir cultura. Observe-se ainda a participação ativa do Sesc, decisiva diria. Gratidão, Sandra Mariga Bordini e sua fantástica equipe de colaboradores, sempre disponíveis a surpreender quem comparece aos Café com Leitura, todos os meses. Mas sublinho: aqui, a mão, o correr atrás, a determinação a ação, enfim, também tem mãe e tem nome: Zeni Bearzi. A mesma que assume a Academia em fevereiro/março. Mas - a presidente Helena logo acertaria o passo nessa marcha do Café, figurando na linha de frente deste evento que não tem dia para acabar. 

Helena Confortin e a
"Comenda Boa Vista do Erechim"
Foto: Arquivo Pessoal
Enfim, dito tudo isso a respeito 
dessa figura da educação e das letras erechinenses, e do canto coral 
por que não; observo que 
a Professora Doutora Helena Confortin, merece uma homenagem 
bem mais representativa que 
este texto que faço em sua homenagem. 

Mas aí – a iniciativa, a avaliação 
e uma decisão fogem às minhas mãos. 
Sei que já recebeu 
a “Comenda Boa Vista do Erechim Centenário”, em 2019 – mas, reconhecimentos futuros, 
por simples e singelas razões de justiça, cairiam bem a esta mulher intrigante 
por sua obsessão de fazer o que ainda não está feito, e pelo 
conjunto da sua obra que parece nunca encontrar seu fim. 
Enfim, seria como colocar os pontos nos “is” 
- quando eles são absolutamente indispensáveis.

Helena e Zeni. Foto: Arquivo/Divulgação

E de forma simples, um feliz Natal à Helena, à Zeni e todos os membros da Academia Erechinense de de Letras. A primeira de saída da presidência, a segunda preparando-se para assumir na gestão 2025/2027 ao lado da vice-aclamada, Maria Luíza Servelin. E se quiserem me presentear , aceito: deem-me o seu perdão por este texto tão longo. 

Hummmm - estou com a pulga atrás da orelha. Será que esse meu 'textão' não se confunde com o 'O jeito Helena de ser!?'. Quem a conhece melhor do que eu, pode avaliar. Perdão. Mas foi de coração. Bem do jeito como ela faz também, quando vem com suas ideias, projetos, sugestões e até 'ordens'!. Tudo assim pela cultura. Mas de coração. Oh, oh,oh, oh!



terça-feira, 17 de dezembro de 2024

 

Elisa Ody - Foto Arquivo


 Hoje, 17 de dezembro é o aniversário da Elisa, minha filha. Que ela seja o que sempre tem sido – e a saúde não lhe falte. Mas vou me permitir recordar alguns 17 de dezembro na minha vida.

 

Corria 1967 e era sábado.

Dia 16 para 17 de dezembro.

À noite no C.E.R. Atlântico haveria a formatura do Ginásio do Mantovani – 1º grau, ensino fundamental hoje.

Eu já tinha lustrado meu Vulcabrás e o terninho dormia sobre a cama, a gravatinha, chic, com cabeça de boi metalizada esperava.

 

Tudo seria normal não fosse um singelo detalhe: eu ainda não sabia se tinha passado na “segunda época” de Matemática.

 

Não dava mais para suportar a ansiedade.

Atravessei a rua e fui até o Mantovani. “A professora ainda não entregou as notas”, disse-me uma servente.

O dia da formatura e só a servente e eu no colégio.

 

Não me contive mais e então saí correndo como Forrest Gamp até a casa da professora.

A Geni morava lá perto da Incasel.

Naqueles anos a Incasel (na rua do Querência) ficava do Mantovani como daqui a Getúlio Vargas. Era lããã... fora. Hoje parece tudo mais perto.

 

Corri como só um guri de 14 anos corre, ou corria, quando precisa ver uma nota, a última nota, a nota da vida, a nota da segunda época.

 

- Nãããoo... a Geni não tá... ela foi lá no colégio levar a nota d’um aluno que ficô em segunda época, disse-me, acho que foi seu pai que me falou. “O, o, o ....  senhor não sa-sa-sabe se o a-a-aaluuuuuuno passou?”, perguntei.

-       Ahhhhhhh... não sei meu filho... isso é só ela!’.

 

Minha Nossa Senhora de Fátima... então ela já sabia se eu tinha passado ou rodado, se eu me formaria... sabia se a minha vida acabaria ali mesmo, naquele sábado... rodado!?

 

Foi então que corri como nunca mesmo.

Incasel, Sete de Setembro, HC, mato da comissão, fiz a curva do portão do Mantovani num pé só e lá estava: na porta de vidro havia um papel... eu via de longe... sim, havia um papel branco e com um nome... fui indo, indo, indo e... lá estava: José Adelar Ody (aprovado). Salvo – eu estava salvo para a vida outra vez!

 

À noite, com o terninho me batendo nas canelas e a melena encaracolada cheirando à glostora, entrei no salão do CER Atlântico ladeado por duas colegas, rainhas, e nós três por dois membros da Banda Marcial.

Quieto, recebi meu canudo de papel – e o que me ficou foi também esta lembrança.

 

Fato raro, raríssimo – único -, porém, estava por me acontecer quatro anos depois, na minha formatura do CPOR (Centro de Preparação para Oficiais da Reserva) em Porto Alegre. Era dezembro. 17 de 1971.

 

A chuva transferiu a solenidade do Parque da Redenção para o salão de atos da UFRGS.

De madrugada já chovia como naquele ano nada parecido tinha havido. A formatura era às 9 horas no centro da cidade, e eu estava lá perto do campo do Grêmio. Na divisa da Azenha com o Menino Deus. Longe – muito longe da Reitoria da UFRGS.

 

Às 7 comecei a tentar um táxi. Pressenti que ia dar no que deu. Éramos eu, a madrinha de formatura, sua irmã e a dona da pensão e uma parente dela.

Não aparecia um táxi vazio.

 

Pegar ônibus nem pensar porque tinha de caminhar várias quadras, e como? – se não parava de chover e a mulherada de vestido longo e coisa e tal...!

 

Vrrrrrrrrrrr, vrrrrrrrrrrrr, todos os táxis já ocupados e eu na chuva e o tempo passando, correndo, voando. “Minha Mãe do Céu... e seu eu perder a formatura?”, me gritava o estômago e o fígado, o coração, o crânio, a alma e todas as vozes dentro de mim.

 

Não tinha celular naquele tempo, não havia telefone, ônibus só lá no fim, ou era o início da Azenha e era meio longe. Táxi? – como disse, todos, absoluta e rigorosamente todos ocupados. “Será que todo mundo tinha decidido ir de táxi naquele dia?”.

 

De repente passa por mim um automóvel de “saia larga”, tipo Ford Landau, um rabo de peixe preto. Quase me atropela e eu ali, fardado com a estrelinha de 2º tenente sobre os ombros, molhado como um cachorro guaipeca sem dono e sem casa. Um gauipeca daqueles azarados e pobres, malhado e molhado pela intempérie e má sorte.

 

O carrão preto parou uns 20 metros à frente e iniciou uma ré, e eu sinalizando para todos os táxis de Porto Alegre, ocupados.

 

O rabo de peixe preto parou do meu lado, abriram-lhe os vidros e quando vi, gelei. Quase desmaiei: ‘que estaixs a fazer aqui?’, perguntou a voz portuguesa de dentro do carrão.

 

Minha Nossa Senhora de Fátima e todas as outras Nossa Senhoras... era... era ele, era... não era sonho... era o coronel, o comandante do CPOR.

 

- Querexs perder a formatura moço! - gritou o comandante em tom de afirmação, de pergunta,  e de inquisição. E eu ali, duro de frio e de medo: “aluno 149... Ody... Infantaria do CPOR se apresentando senhor Comandante...!” falei, gaguegei, gritei, molhado agora como um pinto desenganado... como um recruta perdido.

 

- Encoxsta aí!, ordenou o comandante ao seu motorista. “Em quantox extão aluno?”, perguntou o coronel. “Sou eu... e aquelas ali... comandante”, e me virei apontando para o naco de mulheres rechonchudas, quatro mulheres de pensão, engachadas como se fossem uma só.

 

- Apanhe elasxxx e venham, disse o coronel, simplesmente o comandante do CPOR.

 

As quatro gordinhas (respeitosamente e sendo cavalheiro) correram com seus vestidos longos e saltos altos pelas poças, se acomodaram no banco de trás sei lá eu como. O comandante foi para perto do motorista, e eu, o aluno, o formando, o futuro oficial R2, o recruta, o 149, o ratão (como chamavam os alunos que tinham de fazer as refeições no quartel) fiquei na porta da frente do rabo de peixe do comandante do CPOR.  E lá fomos nós em direção ao centro de Porto Alegre, ao salão de atos da reitoria da UFRGS, sob chuva torrencial de acabar com todas as secas.

 

Eu tremia de frio e de calor. De medo e de nervosismo. Ninguém dizia nada. Ninguém piava. Eu rezava para que o comandante não me perguntasse nada, para que nem me olhasse... para que nenhuma daquelas mulheres gordinhas, gente de casa, se atrevesse a fazer o mínimo comentário.

 

E se uma delas pedisse se o comandante gostava de ver o Sílvio Santos ou a Hebe?

Ou se era do Grêmio do Inter?

Ou... se uma dela desandasse a comentar tipo “O Ody é da Infantaria – qual é a sua arma?” Ou... "ainda bem que um colega do Ody viu que ele estava aqui todo molhado”, ou – assim sem mais nem menos - “o senhor também vai se formar?” Meu pai. Meus dentes queriam morder se morder entre si. A boca ficou selada como um morto no caixão. O suor tomou conta dos pingos na testa e minhas orelhas ardiam. Parecia-me não sentir as pernas naqueles minutos - eternos. Quando insinuei me acalmar – lembrei da sogra do sujeito do carro que presenciou o acidente no início do filme “Deu a louca no mundo” que não parava de palpitar, ordenar e se tivesse de dar uma sacolada – dava.   

 

Que esquecessem que aquilo estivesse acontecendo. Que fechassem os olhos e contabilizassem tudo na pasta dos sonhos, dos equívocos, do impossível aquela fatia de realidade. Não. Aquilo não podia estar acontecendo.

 

Nunca vi uma reitoria, um salão de atos tão distante. Quanto mais o rabo de peixe preto andava mais longe me parecia a UFRGS. Se tivesse ido a pé chegaria antes – acreditava.

Quando íamos chegando, meu Deus do céu – o trânsito parando, monitorado por todos os policias de Porto Alegre e só passava o autão preto do coronel... comigo, a madrinha, sua irmã, a dona da pensão e a prima dela.

 

- Luvas de guardas mandavam que o rabo de peixe preto fosse passando, passando, passando; enquanto que para todos os demais... “não, não, não pode passar... não é permitido passar...”.

 

Os pingos da chuva e do suor mais nervoso que já verti me desciam por cima das calças e pelas pernas e me entravam até pelas meias. Sob o quepe de um verde oliva escurecido pela chuva e a umidade, um mar de suor me descia pelas têmporas.

A face era um vermelhão só e o carrão do comandante deslizava por entre barreiras e sinais que mandavam que avançasse.

 

Eu fechava os olhos e não queria nem que me vissem. 

Os joelhos me faltavam, os músculos das pernas queriam pular fora, eu tinha os braços,

 eu via, mas não os sentia. Por Deus aquilo não aconteceu!

 

O autão preto do comandante do CPOR mergulhou sob a marquise

 que dá direto para o saguão de entrada da reitoria da UFRGS.

 

Ali só entrava a diretoria, como diria o Mano!

Um batalhão de repórteres aguardava o comandante do CPOR.

 Eram gravadores, fotógrafos e TV. Todos queriam documentar a chegada do comandante. 

Guardas perfilados esperavam-no para apresentar armas.

Quando o carrão negro, o rabo de peixe finalmente parou, 

o batalhão da imprensa se concentrou na porta dele. 

“Ó pessoal... aí vem o senhor comandante do CPOR”. 

E então abre-se a porta e desço eu... isso mesmo... eu, molhado,

inundado de chuva, suor e de um nervosismo que até hoje me faz tremer 

sempre que me lembro do infausto.

 

Abri a porta de trás do Landau preto, tirei as quatro as mulheres, 

queridas amigas da pensão, que não entendiam o que se passava, e sumi. 

Consta que nunca mais fui visto nas imediações.

 

Era 17 de dezembro de 1971.

Onze anos depois, também num 17 de dezembro, nascia Elisa, 

minha filha, que hoje está de aniversário, a quem  reforço meu eterno amor.

E hoje, com chuva ou sem chuva, que dê tudo certo com ela... 

e comigo. Ela tenha um ótimo dia rodeada por sua família ed amigos  que a amam.

 

O Internacional estava diante do Barcelona.

O melhor jogador do time, capitão e símbolo dos colorados

 – Fernandão se lesiona e precisa sair.

Entra Adriano – o “Gabiru”.

Era uma troca quase que ficcional.

Gabiru faz o gol.

O inter vence o todo poderoso.

O Inter é campeão mundial de clubes.

E também era um 17 de dezembro.

 

Hoje é dia de São Lázaro, aquele que tinha por irmãs Marta e Maria de Bethânia, 

aquele que Jesus ressuscitou. Santo protetor dos enfermos, 

desamparados e animais doentes.

Lázaro também nasceu num 17 de dezembro.

Em 1936, nasceu o papa Francisco.

Era 17 de dezembro.

Em 1989 Fernando Collor vence Lula no 2º turno das eleições.

Era 17 de dezembro.

Sobre este último, perdi.

Mas 35 anos depois, observando o panorama,

ainda bem àquele resultado.

Esses 17 de dezembro com suas surpresas alegres, 

emotivas, apavorantes 

ou simplesmernte amorosas.

 

 

 

 

 

 

 

 

domingo, 13 de outubro de 2024

Para não ignorar os pedidos de Fátima

  

Em meio à lama, Nossa Senhora reza pela limpeza da humanidade
.                                                          Crédito: Santuário de Fátima

 .                                                       

É domingo. Estou saindo de casa perto do Santuário. Incrivelmente, não chove depois de uma semana muito chuvosa e de previsões que falavam em mais chuva neste domingo. Céu limpo. azul. sol. É quase um milagre. Ganho a rua, dobro à esquerda que leva ao Santuário.

-  Tá pom assim. Tá pom. Seguuuura!

- Vem, vem... pode vir mais um poquinho. Isto, aí tá pom.

São Fuscas azuis, brancos e verdes, Brasílias amarelas, vermelhas e marrons, Gols, Corsas, uma Belina e Unos que vão procurando um lugar. Os motoristas são homens queimados do sol, de chapéu, calça frisada, de "bodegas" de botão, bolsos fundos quase até o joelho, com largas carteiras enfiadas lá dentro, camisas de mangas arregaçadas com o bolsinho no peito cheio de documentos, canhotos da Mega-Sena e a da Loteria Federal. Na cintura carregam grossos chaveiros, com canivete e um deles com corta-unhas daqueles largos. Do Grêmio. Nos bolsos traseiros aparece um pedaço de um lenço branco e um pente azul.  Alguns de sapatos de domingo, outros de sandálias. As mulheres, precavidas, que vão se desfazendo das blusas pesadas e coloridas. Das sombrinhas. Brigam com o fecho de metal que trancou numa sacola listrada, onde se vê uma cuca, bolachas, uma lata de leite e uma mamadeira. Paninhos, em caso de vômito. Adolescentes que não param de sair do fundo dos carros com os olhos esbugalhados. Impressionados. Estão na cidade grande! Num deles o homem que alisa seu cabelo com um pente de plástico briga com a porta do carro já fechado, porque a chave gira, mas não destranca. “E agora”, diz a mulher, o “nene” não pode ficá sem a mamadera. E também pega o bico dele que tá ali na gavetinha. Também tem um paninho. Precisamo cobri ele – o sol vai sair e hoje ainda vai esquentá bastante até de noite”. O homem começa a puxar a maçaneta, dá um chute na porta que desalinha seu penteado, mas a porta destranca. São carros com a ‘saia’ embarrada que saíram do interior de Severiano de Almeida, Carlos Gomes, São Valentim, Três Arroios, Viadutos, Mariano Moro, Campinas do Sul, Itatiba, Faxinalzinho, Benjamin Constant do Sul... Da linha São Roque. Da Escola Branca. Do bairro Pezzin, do KM-14, do Rio Tigre, Sede Dourado, da Linha Poço Grande, da Linha Pinga Alta e do Coan. De Santa Catarina e do Paraná. Já se ouve o som pelo alto-falante.

- A procissão nem saiu ainda lá da catedral e aqui no santuário já são milhares os romeiros...

Entro na Sete. Os táxis do ponto em frente ao Master foram colocados alguns metros à frente.  Para facilitar o fluxo de transeuntes.

-       Que horas vocês saíram, então, hoje.

- Nóis tiremo o leite das vaca, tratemo a criação... mais o menos 6 e meia nóis saímo! Mas tá boa a estrada. O prefeito tá trabalhando bem este ano. Eu pênso que com tánta chuva" comentavam entre si agricultores honrados que tem como orgulho suas famílias e como glória o suor dos seus rostos. Entre eles ainda prevalece a relação humana civilizada. Ninguém pega o que não é seu. Se acham alguma coisa de valor, procuram o dono. Avizinham-se na dor e na alegria. Socorrem-se nas secas e nas cheias. Presenteiam-se com melancias, uvas, figos e laranjas do céu. Quando abatem uma rês ou um suíno, mandam cinco, seis quilos de carne em troca pela que receberam há dois meses. Quando a pescaria rende – um piá vai avisar o vizinho pra aparecerem todos à noite porque terá polenta e peixe frito, vinho, sagu e creme. É, ou era, uma vida onde o celular ainda não chegou.   

O guarda municipal apita e faz sinal mandando que os carros parem para mais um grupo de fiéis atravessarem as duas vias da Sete pela faixa de segurança até o portão do Santuário. Vou junto. Meninas colam o emblema simbolizando a 73ª Romaria de Fátima na roupa,na altura do peito dos que chegam. Não me viram, porque era tanta gente, e segui ‘sem identificação’ - pela reta que leva à esplanada.

“Pedimos às pessoas que não deixem a carteira à vista porque no meio da multidão de fiéis que vamos ter hoje aqui, sempre pode ter alguém com intenções que não são as melhores. Cuidem das chaves, dos documentos, das carteiras e das crianças, principalmente. Quem perder alguma coisa, venha aqui na frente que anunciaremos. Estamos todos juntos, unidos em comunhão, procissão, romaria e intenção nesta grandiosa festa de Mãe.”

- Tec, tec, tec... senhor romeiro... uma esmolinha po pobre... uma esmolinha senhor romeiro...

“A procissão começa a se deslocar lá no centro da cidade. Vamos cantar: Muito obrigado, Mãe,/Mãe do Menino Deus,/nascido em Belém/há dois mil anos!”

De repente alguém pergunta:aonde será que vendem a ficha pro churasco!’.

- Não por aí... a grama tá toda molhada. Olha o baaarro – pai!

- Será que lá também tem pom, cerveja, refrigente e cuca? Olinda, ô Olinda Santa Mãe, parece que tá surda: “quandas cuca tu troxe!?”

“O povo em romaria, de carro ou a pé,/ vem te pedir, Ó Maria:/ ‘Aumenta a nossa fé!’ E atenção romeiros: A coordenação da romaria avisa que apenas os objetos religiosos que são vendidos dentro do Santuário são autorizados pelos organizadores. O que é vendido fora do Santuário não é da nossa responsabilidade e não ajuda a igreja... Aqui em frente ao altar externo, à direita tem um local onde podem ser adquiridos todos os tipos de lembrancinhas da Nossa Mãe. Este ano tem até cevador para chimarrão, e o que é mais bonito, com a imagem de Nossa Senhora de Fátima. E custa só dez reais. Podem comprar dois - uma para o vizinho ou até mais, para o nono, os irmãos que foram morar em Santa Catarina ou no Paraná. É um lindo presente e abençoado com a imagem da Nossa Mãe Querida. Uma lembrança da 73ª romaria de Fátima pra vida toda. Ali também encontrarão muitas outras sugestões de lembranças.

- Mãe, ô manhe....

- O que Jonhatann.

- O que que é 73ª.

- É.... é.... presta atenção no que o padre tá falando. Aqui não é hora de fazê pergunta. “Santa Maria, mãe de Deus? Rogai por nós/Agora e na hora da nossa..”, vamos Jonhatann, reza, reza, ô infeliz.

- Olha a medalhinha da Santinha. Olha a fitinha... cinco realzinho. “Nics – non, non, o padre disse que é pra comprar só lá dentro. Aquelas é que valem – são abençoadas.

De repente uma garotinha de 9 ou 10 anos, sei lá, me gruda um emblema da festa de Fátima no lado esquerdo do peito. Acho bonito e até ajeito melhor porque na pressa ficou meio torto. Agora sim, me sinto carimbado, autorizado para estar na grande romaria.

Agora, a procissão já caminha duas/três quadras da catedral. Nesta segunda dezena do terço, vamos... Pai Nosso que Estais no Céu...”. Quem está aqui já no largo do Santuário, reze, responda, acompanhe a prece – não precisa esperar a imagem de Nossa Mãe Querida chegar. Vamos todos juntos: “Ave Maria cheia de Graças/O senhor é...”

Junto à imagem de Nossa Senhora de Fátima, toda engalanada com lindíssimas rosas e flores, o chão não arde como há três anos. As chuvaradas da semana amainaram o calorão. As velas derretem e se acendem uma atrás da outra queimando sobre a grama embarrada. Bouquês são depositados. Fitinhas amarradas. Terços desfiados. Gente de joelhos engolindo rezas e cânticos. Um homem fita o infinito por trás dos antigos eucaliptos lá pra baixo donde se dá a fronteira do terreno do Seminário com a URI. Todos rezam ou balbuciam quase como no automático. Um abre com ...‘Pai Nosso que Estais no Céu’ e o outro ao lado já vai no... ‘O Pão nosso de cada dia...’.

No altar os padres animadores não param de se agitar. Microfones são testados. Violão, guitarras, violino, órgão, um pequeno coro, botões da mesa de som... “baixa, baixa... levanta, levanta um ponto... Aí, aí tá bom...Nossa Senhora, Mãe dos peregrinos,/vem conosco caminhar!/:Eis aqui o teu povo, Maria de Nazaré!

Encostados num Gol sujo de barro – adolescentes de calça de Jeans com a barra arregaçada até as canelas acima dos grossos tênis brancos, acendem cigarros alheios à concentração das preces  e falam da matiné dançante marcada para o fim do mês no Tamanduá. Avanço até onde dá pelo asfalto, mas tenho que enveredar pela grama barrenta que nem a serragem resolve. Resolvo ver dentro da igreja do Santuário.

Todos os bancos estão tomados, a maioria – pessoas de idade com crianças que gesticulam, olham para os lados, choram de fome ou de sede ou por mal acomodadas em meio à multidão, ao ambiente tão inusitado.. Nas imagens espalhadas pela igreja, grupamentos de pessoas que não param de rezar. Pais se abaixam para que os filhos de colo toquem com as mãozinhas numa réplica da imagem daquela que vem a ombros pela Sete. Os adultos não saem sem também tocar a Santa. Flores, flores e  mais flores depositadas. Outros escolhem lembrancinhas em fitas coloridas e devidamente abençoadas. Saio da igreja e vou para os fundos do seminário. Mais gente. Filas num corredor. Alguém pergunta pelo banheiro!

- Senhor, senhor – quer confessar? Entre naquela fila ali e segue pelo corredor da reconciliação...

- Obrigado.

Retorno, atravesso a igreja, saio com pressa, mas agora sim, muita gente. Volto até o pórtico. A aglomeração de pessoas aumentou muito. O trânsito está fechado. Na frente do antigo Daer, área que trocou de dono, vem avançando a procissão. São cabeças, cabeças e mais cabeças.

“Em procissão, em romaria,/romeiro ruma para a casa de Maria./ Em procissão, feliz da vida,/ romeiro vem buscar a paz da Mãe querida!” – cantam e rezam.

- Para trás, para trás, por favor – vamos deixar a procissão passar, gesticulam alguns organizadores. Policiais militares também ajudam. Um câmera de uma TV sobe no pórtico. Quer a melhor imagem. A gurizada olha o cara da TV. “Vai caí, vai caí”, balbucia um deles.

A procissão troca a Sete pela reta de acesso à esplanada, fazendo a curva em boa velocidade. Ali muitos que estavam à espera juntam-se à multidão. E vão passando ignorando os desafortunados e os deficientes físicos que sentados rogam por uma moeda. 

- Quinze mil. Tem umas 15 mil – não mais que isso, comenta um brigadiano, sem saber que a procissão ainda se arrasta lá pelas Três Torres...

- Olha – daqui da entrada até lá na frente tem quase 120 metros. De largura são uns 8, contando os que caminham pela grama. Só aí dá 4.800 metros quadrados. Tu multiplica isso por nove, mas vamo deixa por oito pessoa em cada metro quadrado... só aí tem quase 40 mil. Má não leva a sério porque rodei três ano em Matemática, ajunta.

- Fora os que tão debaixo dos antigos eucaliptos, lembra rapidamente um jovem – daqueles curiosos e atentos sempre prontos a "ajudar" numa conversa.

- É... tem uns 40 mil... Quem teve aqui no ano passado... Hoje tem mais, muito mais.

"Atenção aos proprietários do Corolla cinza, placas JAO 1952, da SUV Toyotta branca placas GEE 1970 e ainda da Tracker também branca de placas EAO 0073. Favor retirar e, logo, estão estacionados aqui na frente onde será depositada a imagem de Nossa Senhora. E continuemos a cantar. Vamos animar povo de Deus: Quero te dar a paz/do meu Senhor/ com muito amor... Quero... Isso, agitem os braços".

- E pensa no que choveu e parô logo hoje! Isso é milagre de Nossa Senhora, acrescenta o curioso "ajudante de conversas", que no fim das contas me parece o personagem erechinense, Bota. Sempre palpitando onde não é chamado, mas ao ver uma deixa ele abre a boca.

A imagem da Santa vem sendo carregada nos ombros de quatro homens. Ela parece deslizar pelo alto das cabeças através dos pés daqueles encarregados e orgulhosos homens. Balança e balança de um lado para outro, parece que vai cair, mas mesmo que despencasse, nunca chegaria ao chão. São milhares os romeiros que a circundam e estão de olho Nela.

- Viva Nossa Senhora de Fátima, grita uma mulher com seios e barriga salientes, desajeitada, mas cheia de fé - concentrada na imagem e em lágrimas no rosto – postada atrás de mim ela recebe o eco de alguns. Percebe-se de cara que é devota, muito devota, de Nossa Senhora de Fátima.

“Ensina o teu povo a rezar, Maria, mãe de Jesus

Que um dia o teu povo desperta e na certa vai ver a luz

Que um dia o teu povo se anima e

caminha com teu Jesus

Maria de Jesus Cristo, Maria de Deus,

Maria mulher

Ensina teu povo o teu jeito de ser o que

Deus quiser

Ensina...”

Alguns se viram meio sem jeito, cheios daquela vergonha dos tímidos que acreditam saber tudo e não precisam manifestar sua fé com atos, rezas ou gritos, que acreditam que Nossa Senhora ouve seus corações, reconhecem sua fé, acolhe suas orações - sem dizer uma palavra. Sem mexer sequer os lábios como se estivessem no Centro Cultural 25 de Julho ou nas cadeiras de um determinado estádio de futebol.

Agora sim - um coordenador da romaria grita ao microfone: “Viiiva Nossa Senhora!” E a multidão no curso normal sobre o asfalto da esplanada, ou sobre a grama lamacenta responde, a pulmões de Tinga ou de Tomasi: Viiiivvvvvvva". E o padre prossegue: “A imagem da Nossa Mãe Querida, sim ela, a Mãe de Jesus Cristo, a Mãe do Santuário que é dela, a mãe dos devotos, a Mãe dos afortunados e dos esquecidos - é Ela, a Mãe de Todos Nós. Viiiiiivvvvvva Nosssa Senhora de Fátima!” 

- Um carro de som com o apoio da Brigada Militar vai abrindo espaço por entre o grupo que se espreme no portão para ver a imagem da Santa de pertinho. De pertinho porque o sentimento é de que está viva, ali, respirando e olhando para os lados suas criancinhas de um dia a 100 anos.

- Lá no altar – o animador também invoca e grita: “Repetindo. Já estamos vendo! Sim. Lá vem chegando Nossa Senhora. A Nossa Mãe já está entrando no Santuário neste momento, é Ela de novo em Sua Casa – o som se descontrola, há uma microfonia rapidamente controlada, e logo volta. “Nossa Senhora está entrando na Sua Casa... Vamos saudá-la. Levantem suas flores que trouxeram de perto ou de longe. Abanem seus lenços brancos”, grita o animador e logo milhares de lenços brancos se agitam num espetáculo, como direi, espetacular. Até quem acreditava que este ano o time da cidade subiria para a Série "B", se emociona, renova sua fé pra 25 - quase chora, chora; e agita seus braços porque nem conhece mais lenço. É emocionante até para quem é ateu.

“Nossa Senhora, Mãe dos peregrinos,/vem conosco caminhar!/: eis aqui o teu povo...”.

Lágrimas se confundem com orações. Olhos procuram o melhor ângulo. A multidão caminha até onde dá e depois se esparrama por sob as pequenas árvores, pisando o barro que se esconde sob o gramado fofo, fundo e molhado. São 10 horas e já há quem caminhe apressado no sentido contrário, com dois espetos à mão, abrindo caminho por quem acabara de chegar. Lá no canto, em cima de pelegos, uma família se acomoda. A mãe dá de mamar ao bebê. A imagem de Fátima é depositada no altar. É o ápice da Novena, da Romaria, do maior evento religioso que Erechim conhece no seu território há 73 anos. 

“Com minha Mãe estarei... na Santa Casa um dia... ao lado de Maria...”

O bispo é anunciado. “Em nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo – Amém!” Inicia a missa. Mais acima dele – fotógrafos e policiais com binóculos tem a visão do largo de Fátima. Conferem sensação de segurança. Pobres e ricos, brancos e pessoas de cor, gentes da cidade e da colônia, batedores de carteira, pagadores de promessa, festeiros, idosos, criancinhas, indigentes, freiras, vendedores de chapéu, brigadianos carregando mulher desmaiada, casais de namorados se enamorando  – tudo se agita, e se mexe, e se ajeita, e se acomoda do jeito que pode, que precisa ou que dá.

Me reencosto numa árvore para ouvir o bispo:

Queridos romeiros de Nossa Querida Mãe – Nossa Senhora de Fátima. Hoje, depois de uma semana de muita chuva, mas que era necessária, a Nossa Mãe nos presenteia com esse dia... E nós, seus devotos, não a decepcionamos e que estamos em grande número, eu diria – uma multidão que há muito não se via. Isso nos revigora. É presença física, é a presença de coração – neste ano que a Tomaria tem como lema central a importância da Oração. Sim... a oração que tanto Fátima pediu aos pastorinhos Lúcia, Francisco e Jacinta...”

 

Atrás de mim, alheios à homilia, dois coxixam:

- E o Polis, hein, credo. De lavada. No centro, nos bairro, nas vila... Acho que até a Nossa Senhora de Fátima se votasse ia votá nele. E ainda as oposição se bifurcaram. Uma pra cada lado das direita, diziam. Se enforcaram nas direita. Queriam sentar em dois onde só cabe um! Fizeram o que as oposição faziam pro Zanella nos anos 1970, 1980 e 2000. Atiraram a eleição no colo do Polis que, cá pra nóis, é um fenômeno. Tu não acha? Enquanto as oposição ficam se reunindo, e se reunindo nas poltrona dos escritório – o Polis tá lá nos bairro comendo mandolate feito por lá mesmo e chupando picolé de framboesa também de produção caseira. Sai de lá prometendo que um dia ainda vai relevá o mistério da Santíssima Trindade e é uma choradera só: chora o pessoal do bairro, chora criança e veio, chora o Polis – mais que todo mundo junto. O Polis/político 2000 e 2024 é a versão atualizada do melhor Ximit/1996. Ele sabia o que fazer e como fazer para conquistar a simpatia das pessoa. Em 1996 o Ximit tomô chimarrão com uma senhora de idade, quase sem dente - o que não é problema e deficiência -, numa xícara branca sem alça. Ela táva encantada. Quase babava pelo Ximitão, dividindo com ela aquele mate. E depois dau um beijão nela que a senhorinha nunca mais esqueceu. Isso é saber os caminho, pelo menos um deles, pra encher as urna. Me alembro: O Ximitão apertava mão suja de calceteiro. O Zanella faiz ou fazia isso? O Dexheimer faiz ou fazia isso? O Renan e o Ernani fazem isso? O Anacleto faz? Pode até fazer, mas não emociona a outra pessoa. Faz ao seu jeito e que é menos. O Anax faiz? O Polis pode não fazer bem isso ou bem assim, talvez faça até mais - mas ele não se constrange com o povo, povo - eu digo todo tipo de povo. Ele não agradece se leh oferecem o que estão comendo e bebendo lá aonde quase não mora ninguém. E isso o povo não esquece. Só adora. Se orgulha. Por quê. Por que ele fala com essas pessoa e na língua delas. Dá atenção. Deixa eles falá. Se solidariza. Promete resolvê o problema delas seja qual for. Se for preciso - chora antes que elas, penalizado. Depois saí de lá e vai se encontrá côs graúdo dono dos PIB da cidade. E olha – faz isso no mandato todo. É função de prefeito - não. Não é. Mas de candidato, ah, isso é. E como! Isso sim é que ser político – e não uns que caem de para-queda a cada quatro ano. Pra vereador então nem se fala. Tem uns que sem chance entra no partido do Polis e nem tão aí se se elege ou não. Tão é de olho é numa boquinha. Pra eles tanto faz o setor, se é na saúde melhor né, dá mais visibilidade...

“Maria, Ó Mãe Querida, saúde, saúde, saúde e dignidade para todos. Para os que precisam e para os que trabalham na saúde. Olhai pelo doentes, pelos cuidadores, pelos apoiadores, pelos que rezam por um mundo com mais fé e, rezemos até pelos que dela, da saúde como um todo, sofridos ou tão beneficiados são.” 

E a enfermera então? – prosseguem os dois em coxixo, fazendo número na Casa da Mãe. Tu viu a votação dela? Falam em 4 mil... e isso que os outros treis candidato bateram a campanha intera na saúde... alguma coisa tem. Será que os da oposição tavam tão mal informado? Não vivem falando por aí que o Santa tá um problema e, ela, a delegada, não, delegada não - a secretária faz uma votação dessas! A maior de um vereador em 100 anos de Erechim. Não entendi - afinal tá ruim ou tá estourando da boca do balão, a saúde! – e os cara só ficam batendo nela, na saúde, porque esse é um assunto que todos entendem fácil. Aliás, sempre foi assim. Com Santa ou sem Santa.

- Bah.. e lá em Aratiba então, Nossa Senhora!. Já tavam fazendo festa quando virou nos acréscimos. De novo me lembrei do futebol de campo e do Atlântico que ganhou do Fortaleza no Calderão faltando trêis segundo. Tu contá assim, nem é de acreditá. Mas é o futebol, digo, o futsal. Em alguns caso é o futebol de campo também. O Real Madrid não virou um jogo contra o Manchester City, fazendo dois gols depois dos acréscimos? Também vale. Olha só o que andô acontecendo por aqui... por perto! Jogo ganho e... tum! Caxa. Ninguém viu, quase nem acreditaram, mas gol. Tem até uns mal intecionado falando que o nosso time da cidade é o Tsunoda, aquele da Fórmula 1. Corre, corre todos os ano, mas nunca tá no pódium. Nunca ganha, má tamém não cai. Em 25 de novo. Quem sabe um milagre da Nossa Senhora faz o, o, o... Tsunoda ganhá, subi nos pódium. Crédo! E acaba com essa sina, porque o dono da equipe e os mecânico, barbaridade - trabaiam que nem os otro! Tem condição de tá até nas Ferrari ou nas MacLaren.

Não adianta: no futebol e na política tem cada jogo, cada lance, cada resultado que é de caí os butiá do bolso, as dentadura da boca. Acho que tamo é rezando pouco!

“Ó Maria, Mãe do silêncio da escuta e da oração. Façamos como a Nossa Mãe, não permitamos espaço a especulações, não falemos o que não deve ser dito. Sigamos o exemplo da Mãe Querida: Silêncio. Oração. Sempre com o rosário à mão. Sejamos obedientes ao pedido de Nossa Mãe. Rezemos: “Ave-Maria cheia de graça/O Senhor é convosco...”

Eu queria me virar e olhar, mas seria demais. E continuavam os dois: bah, me lembrei de um padre gremista lá do bairro Atlântico. Naquele domingo o Inter ia jogar com o Vasco. Não é que, assim contam né, que ele chegou na parte da missa onde fala em paz, ele disse: “A paz esteja com o Vasco! – ao invés de ‘convosco’. Eu não acreditei, mas contaram uma vez, isso na frente do padre, eu tava lá e ele dava risada.

Tu viu essa? Não é que é a 73ª romaria e tô com 72, eu bem burro pensei que ia alcançar ela, mas ano que vem quando chegar nos 73 ela vai pros 74. E o que tu achô da eleição da Câmera? Será que o Polis vai deixar quem se elegeu na Câmera ou vai puxa de novo uns pro secretariado? 

- Mas que que vô te dizê....

- E se ele puxar de novo o de Obras... que que tu acha?

“Ó Mãe - Tende piedade, tende piedade, tende piedade de nós, Ó Senhor, Ó Maria Nossa Mãe / Vosso povo é Santo, mas, aaahhhgggrrrr, cof, cof... desculpem a tosse - Vosso povo é Santo, mas também é pecador. Precisamos aumentar o sacramento da confissão. Até nós padres nos confessamos... Vamos todos juntos e peçamos confiantes a uma só voz: “Mãe – Lúcia, Francisco e Jacinta, rogai por nós!

Francisco e Jacinta  tornaram-se Santos pelo Papa Francisco. Ambos faleceram ainda crianças: Francisco aos 10 anos e Jacinta aos 9. Lúcia faleceu em 2005 aos 97 anos e é beata. Está a um milagre de ser canonizada. Rezemos por esse milagre e que ela se junte a Jacinta e Francisco na Santidade, explicou e pediu o padre.

- Deus que me perdoe, só vendo; má já tão falando que o Polis pode ficá só meio mandato e ir pra estadual com o Paparico a federal. Aí já acho que é coisa de quem tomou um tufo nas eleição. O que tu acha...? Hein, hein!

Bah cara – eu não, só sei que Polis e Paparico foram adversários, mas em política, o que não tem é santo.

Céus e terra proclamam: Santo, Santo, Santo é o Senhor!/ Glórias, hosana e louvor.”

- Oi, senhor romeiro... uma esmolinha pra quem não pode caminhá. 

- Escuta aqui, tu já rezou ao menos uma Ave-Maria? É só prefeito, secretariado, vereador, saúde, Atlântico, Tsunoda... Para de encher o saco e reza alguma coisa - quem sabe, primeiro pra ti mesmo para não falar mais essas asneiras que tu vem me assoprar no ouvido. E apaga esse cigarro. Tu devia ir de joelho daqui até a imagem da Santa que o vereador Luiz Onhate deu e ninguém sabe, muito menos, reconhecem. Deixa o Polis governar, deixa o Atlântico em paz com as suas taças, os vereadores com os seus votos e reza para o secretariado que vier que faça um bom trabalho. Tu até parece aquele jornalista, um tal de Ody, que quando pegava pesado e fazia crítica nos anos 1990 e 2000 -, era por que não gostava de Erechim, queria o mal de Erechim, queria que tudo desse errado, como alguns achavam e diziam. Agora tá aí ó - se afundou, se deu mal, se enterrou. E a cidade tá que é um brinco. Vai que é um pix. Passa na 153 ou na 135 - é obra, obra e obra. Tá certo que derrubaram mato e mais mato - mas é o preço da prosperidade ou não. Bah - Deus que me perdoe, lembrei agora das enchentes. Esse negócio de prosperidade  tem seu custo. Mas olha bem – olha a votação. É a vontade popular, não adianta, e tudo tudo – limpinho como o manto branco da Nossa Senhora.  

“Maezinha do céu/Eu não sei rezar/Eu só sei dizer/Quero te amar/Azul é seu manto/Branco é seu véu/Eu quero te ver lá no céu/Maezinha do céu/Mãe do puro amor? Jesus é teu filho/Eu também o sou...” continuemos queridos romeiros. Nossa Mãe de Fátima quer ouvi-los”.

Saí dali e voltei para o interior da igreja. Dezenas de ‘ministros’ da igreja foram buscar a Eucaristia. Eram 35 mil hóstias. Me espremi o que deu – mas não consegui comungar. E se faltar hóstia!

“Quem não comungou, pode dirigir-se depois para o interior do santuário...” anunciava um padre.

E mais: "ainda temos fichas para churrasco que os churrasqueiros de Severiano preparam mais uma vez, e tem frangos, cucas, bolachas, pastéis, bolos. Tudo Aqui à minha esquerda. Também contamos com a valorosa Brigada Militar, uma tenda do HC, da Unimed... Quem precisar de banheiros, pode se dirigir pelo corredor ao lado da igreja, lá nos fundos e, por favor, mantenham o lugar limpo para que todos possam usá-lo dignamente. 

Era quase meio dia. Eu não aguentava mais aquele cheirinho de churrasco de igreja. Ele é diferente. Ele é insuportavelmente atraente. Assado com lenha - e espetado em espeto de madeira. Sozinho, fui almoçar em casa, segurando a saliva para não lambuzar os beiços enquanto passava pelas famílias que vieram dos cafundós da região para a romaria e agora repartiam o pão caseiro, a cuca caseira, a bacia de tomate com cebola e aquela carne que era quase um pecado cortar, ou talvez fosse, um prêmio a preencher o regaço de quem não medira esforços para àquela hora.  

O padre Sala (José Carlos), grande arquiteto da romaria deste ano estava por todos os lados.

“Olha que lindo Povo de Deus” (quase que se sai com "Filhos da Mãe", mas logo percebeu, ou é coisa da minha cabeça. Se se enganasse poderia seguir com um ‘Filhos da Mãe Maria..’ E prosseguiu: “Tivemos uma semana de muita chuva - muita chuva, mas a devoção à Nossa Mãe Querida é maior. Eis aqui teu povo, teus filhos, Ó Mãe. E para saudá-la rezemos:

Salve Rainha, Mãe de Misericórdia, Vida, doçura e esperança nossa, salve. A Vós bradamos, os degredados filhos de Eva. A Vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas. Eia, pois Advogada, nossa, esses Vossos olhos misericordiosos a nós volvei: e depois deste desterro nos mostrai Jesus bendito Fruto do Vosso ventre. Ó clemente, ó piedosa, ó doce sempre Virgem Maria.

Rogai por nós Santa Mãe de Deus.

Para que sejamos dignos das promessas de Deus.

Amém.”

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À tarde voltei para benção da saúde. De novo a multidão em pé, atenta, cheia de fé. A benção da saúde é um dos pontos altos da romaria. Se a fé cura – muita gente vai ficar bem pelo que vi. Logo em seguida, o último passeio da imagem de Fátima por entre a multidão que arrancou as flores, enquanto   pequenos ramos de cipreste eram disputados mais do que algumas secretarias do governo Polis serão. Fitas eram recortadas em pedacinhos para quem quisesse levar consigo de lembrança. Sob as árvores, homens bebiam e jogavam. Um deles tinha dois garrafões de vinho aos pés e tentava um terceiro. Bebês dormiam indiferentes e nunca saberão que um dia estiveram ali. Fiz o sinal da cruz, beijei minha medalhinha que comprei de manhã e decidi ir embora. Faltam 5 para as 4.

“Logo mais às 18 horas teremos uma nova missa aqui no interior do Santuário. Que todos possam retornar para suas casas, levando no coração, as graças de Nossa Senhora de Fátima e vamos cantar para nos despedir dela nesta 73ª Romaria:

“Com minha mãe estarei/Na Santa Glória um dia/Ao lado de Maria/No céu triunfarei/ No céu, no céu/Com minha mãe estarei/No céu, no céu, com minha mãe estarei/... /Com minha mãe estarei/E sempre neste exílio/De seu piedoso auxílio/Com fé me valerei...”. Viva Nossa Senhora de Fátima. Viva os romeiros. Viva o nosso bispo. Viva a Santa Igreja Católica. Viva o Papa Francisco. Viva todos os padres da Diocese de Erechim. Viva todos os ministros. Viva os colaboradores que enfrentaram as noites de chuva durante a novena. Viva os festeiros. Viva os churrasqueiros. Viva todos, todos os colaboradores anônimos de mais esta Romaria de Nossa Senhora de Fátima. E obrigado às emissoras de rádio e demais plataformas que divulgaram este evento emocionante. Se Deus é por nós – quem será contra nós!’.

- Nossa Senhora de Fátima, é ela! Fazia horas que andava de olho numa "deusa" e que não via há tempos. No meio desse mar de gente, Nossa Senhora, sim é ela. Me apressei, mas quando vi bem, estava de mãos dadas com um desses que parecem morar em academia com os braços de anca de touro, cheio de tatuagens, de tudo quanto é bicho. Chega – vou embora. Mais de um milagre num só dia é demais. Abriu o tempo - chega.

Perto de casa uma Belina metido quase no meio de uma capoeira negou fogo. Não pegava. Quando o motorista, o Artêmio, se acomodou e acendeu seu cigarro, já meio torto, o arranque só fez tec. Tentou outra vez e tec. E foi tec, tec e tec. ‘Não vai me dizê que tamo sem gasolina’, gritou mulher. ‘Não é gasolina Olinnnnda”, gritou mais alto o homem que deu um pontapé no forro da porta que foi ao encontro de uma baita pedra, afundando a porta. Se o carro ia pegar ninguém sabia – mas o estrago estava feito. No meio do lamaçal, com as calças arregaçadas quase ao joelho, abriu o capô, mexeu n’alguns fios e vermelho de raiva retornou. Ao sentar no assento foi - crec. Quebrou um dos lados do encosto. Lhe caíram os documentos do bolso da camisa, o chaveiro com o corta-unhas do Grêmio e até o pente azul. E tentou novamente. Tec. tec e tec. Para pai – tu vai afogá a Belina, opinou o filho mais velho no assento de trás, espremido entre três irmãs. Foi então que o Artêmio, da Linha Poço Grande se lembrou: ‘barbaridade – o rádio ficô ligado na Aratiba e comeu a bateria. Quem sabe também as luz ficaram acesa’.

Mas então não era nada grave. Um vizinho viu a situação e encostou seu Gol, apanhou uns cabos no porta malas e prendeu na bateria dos dois carros. Toca agora, gritou. Na primeira tentativa – a Belina deitou as macegas com as pisadas do Artêmio no acelerador, e encheu o ar de fumaça. ‘Pisa pai, pisa – não deixa apagá’.  O Artêmio ainda teve tempo de gritar: ‘Fica queto. E vê se os garrafão de vinho que ganhei na roleta tão aí’. Olinda acomodou o nene no colo e a Belina saiu do meio das capoeiras e do lamaçal como um dos primeiros adversários do Mike Tyson, quando se levantava depois do primeiro soco. Mas – ao contrário – Artêmio ajeitou o chapéu escondendo a cabeleira esvoaçante e fez da Belina uma SUV 4 x 4. O crucifixo balançava pendurado no retrovisor interno. Pena que os pneuzinhos magros não colaboravam muito e iam suando uma barbaridade por causa do excesso de peso – mas a Belina foi vista na cidade pela última vez quando desceu pelos Balvedi abaixo, pela RS 420. Para garantia de todos, o vizinho com seu Gol bem mais novo, vinha logo atrás. A Belina veia ia joquiando de um lado para o outro - e seus ocupantes, todos sem cinto de segurança iam só no balanço. Lá pelo KM - 10 o Artêmio ameaçou levar a mão ao rádio para saber sobre o Grêmio e o Glória de Vacaria - mas dona Olinda lhe desferiu um tapão na mão. 'Já não chega que quase não saímo por causa da bateria seca e tu ainda qué liga o rádio! Pensa na estrada, vê se não pega no sono e em casa vamo vê se ganhemo ou perdemo!', disse decidida a mulher mostrando quem mandava nos filhos, na Belina, no marido, na família e em casa. Não rezô uma Ave-Maria. Passou só nas rifas, no cinquilho e nas barraca de bebida. Ano que vem tu já tá avisado. Eu vô sozinha de Van - e tu cuida das criança e dos animal e escuta pela rádio a romaria. Eu te avisei Artêmio - essa foi tua última viagem pra Erechim. Que pegá a Belina - pega. Mas que tu não me saia mais longe que Aratiba'.    

Na altura da Nossa Senhora da Santa Cruz ouviu-se um estouro seco, mas abafado. 'Sacramenha será que furô um pneu' pestanejou o Artêmio. Ao abrir a porta a Olinda e a filharda já gritaram: 'é o vinho pai. O cheiro forte e acre do vinho invadira toda Belina'. Ao levantar o Porta-malas o Artêmio deparou-se com um garrafão estourado. Tudo molhado de tinto. 'Esse garrafão fia duma p. não aguentou o calor', blasfemou outra vez. Bateu o porta-malas de novo e entrou na Belina: 'Agora temo que i assim. Não tem o que fazê', determinou. Uma das meninas atreveu-se: 'E se estourar o outro!'. Artêmio fez que não ouviu. Virou a chave e a Belina pegou na hora. E logo começaram a descer em direção a Aratiba. O velho ditado de que nada é tão ruim que não pode ficar pior logo apareceu. O vidro da porta da dona Olinda não abria, ia só até um pedaço e não descia mais. E ainda por cima a maçaneta estava quebrada ao meio. Ar condicionado - nem falar. A Belina toda invadida pelo cheiro de vinho se ia lançante abaixo. Dona Olinda queria dizer ou fazer um monte de coisa contra seu marido - mas logo pensou em Nossa Senhora. Puxou um terço e disse aos filhos: 'Vamos atender o pedido de Nossa Senhora e rezar um terço. Quem sabe a gente se distrai e até lá tamo em casa. Ave-Maria-cheia de graça, o Senhor é convosco e bem-dita sois Vós entre as mulheres; e os filhos: Santa Maria Mãe de Deus, Rogai por nós Santa Mãe de Deus, Agora e na hora da nossa morte amém. Antes da segunda-Ave Maria, o Artêmio se atreveu, vermelho de tanto vinho: Olinda - o terço começa pelo Pai Nosso e tu esqueceu. 'Cala essa boca!', explodiu a Olinda e recomeçou: 'Pai Nosso que estais no céu, Santificado seja vosso nome, vem a nós o vosso reino...'

Às 7 da noite – quando todas as Brasílias, Fuscas, Gols, Unos, Chevetes, ônibus, Kombis, Vans e Corsas estavam em suas garagens – e a chuva recomeçou. Mansa. Mansa, bem como o semblante de Nossa Senhora de Fátima. Lá na esplanada do seminário, sob cheiro intenso de flores amassadas e velas queimadas e algumas ainda ardendo; cansada a Mãe adormeceu sozinha onde sempre esteve e está – enquanto a água da chuva lhe escorria pelo rosto e pelo véu. Ou seriam lágrimas que Nossa Senhora de Fátima não conseguia segurar, porquanto retomava sua dor, penalizada com o caráter de seus devotos e, sabedora do amanhã deste mundo imundo, falso, hipócrita e mentiroso, lhe davam a certeza que serão necessárias ainda muitas romarias, e o desfiar de rosários e rosários, terços e terços - até a aceitação tranquila e a compreensão plena do porquê da sua aparição em Portugal e do seu pedido aos três pastorinhos, pedindo, indicando, implorando por paz e orações. Oremos, pois. Crédulos e incrédulos. Pelo visto é bem plausível como opção mais viável – o que nos resta. Do jeito que as coisas tem ido, aqui, ali, lá e pelo mundo afora – quem sabe outros pastorinhos de celular à mão terão de testemunhar uma nova visão da Mãe de Jesus Cristo e atender seus pedidos. E se isto não conseguir mudar o rumo da bola global – o Criador terá de enviar um novo filho. Mas Ele mesmo já sabe – que não poderá vir ao mundo numa estrebaria, muito menos onde caem bombas dia sim, outro também. Por que não no HC, na Unimed ou no Santa, isso; no Santa, onde tudo está na mais santa paz, onde tudo corre às mil maravilhas, onde tudo é do bom e do melhor. Seria a perfeição e, ainda, cem por cento SUS, graças ao agora também, nosso tetra-prefeito, Polis: o Santo Superior vindo ao mundo no nosso Santa.

Bota, observador da cena de Campo Pequeno, e que leu tudo e não via o final da crônica, não disse uma palavra, mas ao ouvir a última hipótese, não se conteve: “Ody – pelo amor de Deus. Hoje é o dia da Nossa Senhora de Fátima. Respeita Ela. Cristo nascer no Santa, no nosso Santa que o dr. Dexheimer municipalizou em 1992, tenha juízo, seeuuuu Odyyyy. Santa Mãe de Deus. Para com isso, ô infeliz!’.

 

Obs: Esta crônica é uma adaptação aos tempos de hoje,  de uma que fiz sobre a romaria de Fátima, ainda quando era bispo - bispo Dom Girônimo. Eram tempos em que a administração do Santuário tolerava jogos e bebidas de álcool na romaria. então as citei. Era – normal. Por fim, mesclando fatos e ficção – não visa, esta crônica, em momento algum; atingir, diminuir ou denegrir quem quer que seja. É apenas uma forma de tentar retratar o que se passa aos olhos de quase todos, e aos olhos dos que veem outros comportamentos em pleno ato litúrgico. Por fim – é um exercício da escrita que tanto me satisfaz e uma tentativa de levar à reflexão de todos que os pedidos de Nossa Senhora de Fátima estão caindo no esquecimento à grande maioria dos católicos que só lembram de rezar no período da Novena e da Romaria. 

Com sinceridade, dedico-a a todos conhecidos e anônimos que fazem acontecer há 73 anos anos, cada uma das romarias de Fátima, em especial, aos meus amigos padres Antoninho e José Carlos Sala. Também ao meu amigo João Kleber que desde o plantio das novas arvorezinhas na esplanada do Santuário, tem por hábito, regá-las com o auxílio de uma garrafa plástica, uma ou até três vezes por semana, acompanhado da esposa - Odete. Isso, sem contar o trabalho anônimo do amigo Neivo Zago, que amarrou as plantinhas mais de duas ou três vezes junto às estacas, para que crescessem o mais retinhas possível. Coisa que ninguém vê, mas admira quanto estão crescidas como devem, e não, tortas. Sem dúvida - um belo, oportuno e despretensioso gesto que só Nossa Senhora de Fátima e talvez o padre Sala; podem testemunhar todo santo dia. A Santa - com absoluta certeza observa tudo desde seu pedestal ou lá do alto dos céus - sua verdadeira residência fixa.. Portanto - Vivvva Nossa Senhora de Fátima! Vivvvvvaaaaaaa!