Alessandra Turcatel Crédito: Carlos Alberto Almeida |
Não. Mentira. Foi verdade mesmo.
E apesar do pedido inusitado para mim pelo menos, não podia negar. Agora – começar por onde, se não sei muito da minha amiga!? O fato é que estou começando. E diante do pedido, não encontrei outra resposta que não fosse “é como fazer 49, 37, 64, 56, 21, 72”. A gente alcança aquela idade e comemora.
Sem um plano de seguir na escrita – me veio à memória “e o que aconteceu nos meus 50 anos!?”. Pensei, pensei, pensei e tentei encontrar no tempo o que me aconteceu física e mentalmente de diferente. E não consegui me situar nos meus 50. Penso hoje que foi, ou deve ter sido como quando fiz 49, 48, 47... Me mandaram parabéns. Em tempos de internet - dezenas ou centenas. Quem ao se olhar no espelho pela manhã se acha diferente? Eu – me vejo sempre igual. Hoje igual a ontem, igual a anteontem e igual à semana passada, ao mês passado, à virada do ano. Igual ao fevereiro do ano passado. Espelho – maldito. Mentiroso. Sempre o mesmo José Adelar - aparentemente.
Se não lembro dos meus 50 – dos 60 sim.
Estava num hotel em Piratuba/SC e durante o jantar anunciaram o meu nome.
Me chamaram à frente e me deram um “bolo de papelão”. Tiraram uma fotografia. Nossa.
Que emoção! O salão cheio de desconhecidos cantou parabéns e foi isso. Já um
amigo meu nos 60 dele foi com a esposa dormir em Paris. Coitado. Sim porque provavelmente não teve um parabéns a você cantado. Muitos outros passaram e passam seus 50 no Velho Mundo. Ou seja – pega teus 49 e o que tem no bolso, na cabeça ou na vontade e que venham o 50.
Mas “como é fazer 50 anos” - traz um presente. Não, um presente é pouco. Muito pouco. Sim, porque chegar aos 50 você tem a garantia de um presentão: 50 anos de vida, 50 anos de viver sua vida do jeito que queria ou do jeito que dava ou deu - cara. Se isso tem pouca importância, olha só: Marilyn Monroe viveu 36 anos. 14 anos a menos que 50. Janis Joplin ficou neste mundo 27 anos. Jimi Hendrix também 27. A propósito – faleceu no dia do meu aniversário. Charlie Brown Jr. 42. A grande Elis Regina chegou a 36 anos e se foi. Amy Winehouse, 27. John Lennon foi assassinado por um louco aos 40. O homem mais poderoso do mundo a seu tempo, o presidente dos Estados Unidos, John Kennedy, que aparentemente tudo poderia ter, ficou no caminho aos 46. Não teve o privilégio de “cinquentar”. O ídolo Ayrton Senna, outro que podia sonhar com uma vida longa e cheia de sabores – também não passou de rasos 34. Pouco né. E agora – para apavorar um pouco: A grande Witney Huston chegou aos quarenta e nove e meio. Sentiu o cheiro – mas não o gosto do pudim de leite condensado igual a um 50 de qualidade.
Alessandra Crédito: Carlos Alberto Almeida |
Olhando só para esse nomes – todos famosos, nenhum teve a oportunidade, o presente, a graça de ser saudado por 50. E pensar, pensa só, pensa - Jesus Cristo, o homem mais influente da história da humanidade em carne, osso e pele ficou entre judeus e palestinos - 33 anos. Para qualquer um ganhar 17 anos de lambuja em cima de 33 é ou não é uma mega; mais, bem mais, muito mais que uma mega sena. Isto se fosse possível continuar neste mundo para aproveitar. Falo de mim não de Jesus. De nós. Mas o certo é que é incerto, ou melhor, impossível. Quando a hora chega – não há recarga. Não – fica com a mega e me dá o tempo.
Na verdade a quem me pede que escreva sobre esse tema tão difícil, complexo, tão particular-pessoal digo o óbvio além do que dito já foi: ganhamos um ano e mudanças vêm sim, assim como vieram depois dos 41, dos 37, dos 48 e, virão depois dos 50. Mas isso não vem no dia seguinte, três semanas depois ou até mesmo um ou dois anos mais tarde só por que é uma data cheia e simbolicamente - de mexer com a mente. E não adianta consultar o espelho como se uma cigana, dos meus tempos, fosse. O espelho já sabemos, é inconfiável. Ele nos mostra todos os dias - o mesmo rosto de alguém que adora ser enrolado.
As alterações corpóreas, por exemplo,
vão se instalando em cada um sem que a gente perceba de pronto e, o principal,
sem pedir licença. Elas simplesmente vão acontecendo. Você não tem
mais a força, a disposição e a energia que um dia já teve. E não precisa
alcançar a meia noite dos 50 anos. À bem da verdade elas já vêm vindo, quietinhas e
vão se instalando desde sempre, quero dizer, desde seu primeiro choro ou balançar num bercinho. "A mão que balança o berço" - meu pai!
Vamos inverter o calendário.
Até os 50, ou bem antes, certamente você já passou por todos os níveis da escola, você já experimentou todas as alterações que maturam em seu corpo, você traçou planos, sonhou conquistas, experimentou perdas, decepções, viveu alegrias, teve sensações emotivas tristes e alegres, casou, teve filhos, descasou ou nada disso. Sentiu forte atração por alguém, despertou forte atração em outros, viajou, trabalhou, definiu uma profissão, invejou alguém ou alguma coisa, despertou o mesmo sentimento em outros. Fosse a idade de 50 anos uma espécie de nota de corte -, pode-se ter a certeza que a despeito de tudo que de bom (?) virá depois dos 50, até ali, mais ou menos, se foi e em disparada a melhor parte da sua vida. Pode ser duro ter de ouvir – mas assim é que, pelo menos assim é que eu vejo. As dores físicas, por exemplo, ainda estão na reta oposta e não dobraram a esquina da vida onde parece que o asfalto acaba e, estrada de chão, é o que resta. Calma. Sim, vai sacudir a caçamba. Mas para não perder o rodado - desacelera. No entanto ainda terás combustível. Há casos, não são poucos - e quem me pediu sabe que na vida de alguns cinquentões -, não falta lenha para atiçar o fogo.
Eu sei que haverá discordância, mas
não se faz aqui nenhum juízo de valor a quem teve ou tem, ou leva uma vida tranquila,
boa e feliz durante a segunda metade mirando os 100. Mas salvo exceções de de um sofrer antes dos 50, minha querida amiga
que me deu essa incumbência tão difícil e tão polêmica, vá numa manhã ao
ambulatório do HC, da Unimed ou particulares, ou na UPA e constate com seus
próprios olhos quem ocupa as cadeiras. Perambule pelos corredores dos hospitais ou visite Casas de Acolhimento ou até
de amigos, parentes ou conhecidos e verás que na sua imensa maioria, as
debilidades físicas e cerebrais instalam-se, como disse, sem licença e por conta
do tempo – nos mais idosos, algumas boas quadras depois dos 50.
A maioria dos que olham e enxergam um horizonte cheio de coisas para fazer, experimentar, gozar, conquistar, viver – situa-se na primeira metade da nossa aqui hipotética média de corte em idade estimada nos 50 anos. Mas não se decepcione. Pensa nos nomes que citei e nas idades que alcançaram. Ajoelhe-se e curve a cabeça.
O assunto está longe da minha modesta e limitada capacidade para uma abalizada avaliação – mas atendendo a um pedido seu, querida amiga, me desafiei a entrar nessa piscina cheia de tubarões. Não esquenta com os teus 50. Agradeça a cada um dos 49 Papais Noeis, a cada um dos seus 49 aniversários, a cada um dos 49 carnavais, a tudo que consideras muito bom nestes anos e, por que não, agradeça até mesmo às decepções, ilusões ou equívocos vividos e cometidos. Certamente deles tiraste lições para melhor preparada, fazer-se de menina, moça à mulher - e, assim, mais confiante, defrontares novos desafios e oportunidades.
Ademais, quanto à segunda metade do
centenário, não te precipite, até porque não mudará nada. A natureza é soberana. Siga com a sabedoria dos que não se deixam confundir no baralho onde estão as cartas da idade, da saúde, da estética, dos sonhos e dificuldades de aceitação àquilo que não se pode
parar. Viva cada dia não como se ele fosse o último, mas mais um dia, um imenso dia para novas atividades, mais sorrisos e mais alegrias junto a quem te faz bem
e feliz.
Já colocando os pés e a cabeça
nos seus 50 com suas arapucas, devaneios, conquistas e alegrias, eu que já vou
longe no comparativo temporal, embora não me lembre de nada especial deles
quando na minha vida aconteceram. Tenho muita saudade deste recorte, mas me
alegro quando alguém que estimo e admiro – aos 50 anos ingressa com todas as
saúdes, estima elevada e cheia de vida.
Alessandra Crédito: Carlos Alberto Almeida |
Minha querida amiga Alessandra.
Que os teus 50 anos sirvam de inspiração para que mantenhas o rumo da
coragem, do alto astral, do carinho e do sorriso meigo que emprestas com tua presença aos teus amigos.
Estes, não por protocolo, mas por gravidade de bem querência – lhe são
agradecidos por com eles dividir momentos inesquecíveis,
porquanto autênticos e graciosos.
Respeitando o grande Padre Antônio Vieira que disse em um de seus sermões:“os mortos são pó deitado e os vivos pó em pé”, que a tua vida de pele e osso, ou pó, também jamais desconsidere uma relação intangível – que é a relação em uma crença espiritual seja ela da ordem que for. Falo em fé no que deve justificar esta nossa incrível existência temporal.
Dizem que a vida é um sopro.
Que o teu seja longo, enquanto a qualidade dele puder
levar uma flor do campo, ou um ramo de trigo com suas espiguetas a céu aberto, a
se reclinarem até o retorno à posição original. Já a vida aos 72, aos 29, aos
100 ou aos 50 anos, como este 10 de fevereiro de 2025 marca o teu tempo, seria um hino se
pudesse ser vivida como se trigo ou flor
à céu aberto fosse. E não - é!? O sopro, bem o sopro, não se sabe por onde anda nem o dia
nem a hora de quando virá. Que te permita muitos anos, e dentro de cada um deles, a alegria e o amor deem o tom.
Feliz aniversário minha querida amiga
Alessandra.