Em meio à lama, Nossa Senhora reza pela limpeza da humanidade |
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É domingo. Estou saindo de casa perto do Santuário. Incrivelmente, não chove depois de uma semana muito chuvosa e de previsões que falavam em mais chuva neste domingo. Céu limpo. azul. sol. É quase um milagre. Ganho a rua, dobro à esquerda que leva ao Santuário.
- Tá pom assim. Tá pom.
Seguuuura!
- Vem, vem... pode vir mais um
poquinho. Isto, aí tá pom.
São Fuscas azuis, brancos e verdes,
Brasílias amarelas, vermelhas e marrons, Gols, Corsas, uma Belina e Unos que vão procurando
um lugar. Os motoristas são homens queimados do sol, de chapéu, calça frisada,
de "bodegas" de botão, bolsos fundos quase até o joelho, com largas
carteiras enfiadas lá dentro, camisas de mangas arregaçadas com o bolsinho no
peito cheio de documentos, canhotos da Mega-Sena e a da Loteria Federal. Na
cintura carregam grossos chaveiros, com canivete e um deles com corta-unhas
daqueles largos. Do Grêmio. Nos bolsos traseiros aparece um pedaço de um lenço
branco e um pente azul. Alguns de
sapatos de domingo, outros de sandálias. As mulheres, precavidas, que vão se
desfazendo das blusas pesadas e coloridas. Das sombrinhas. Brigam com o fecho
de metal que trancou numa sacola listrada, onde se vê uma cuca, bolachas, uma lata de
leite e uma mamadeira. Paninhos, em caso de vômito. Adolescentes que não param de sair do fundo dos carros
com os olhos esbugalhados. Impressionados. Estão na cidade grande! Num deles o
homem que alisa seu cabelo com um pente de plástico briga com a porta do carro já fechado, porque a chave gira, mas não destranca. “E agora”,
diz a mulher, o “nene” não pode ficá sem a mamadera. E também pega o bico dele
que tá ali na gavetinha. Também tem um paninho. Precisamo cobri ele – o sol vai
sair e hoje ainda vai esquentá bastante até de noite”. O homem começa a puxar a
maçaneta, dá um chute na porta que desalinha seu penteado, mas a porta destranca.
São carros com a ‘saia’ embarrada que saíram do interior de Severiano de Almeida, Carlos Gomes, São
Valentim, Três Arroios, Viadutos, Mariano Moro, Campinas do Sul, Itatiba,
Faxinalzinho, Benjamin Constant do Sul... Da linha São Roque. Da Escola Branca. Do bairro Pezzin, do
KM-14, do Rio Tigre, Sede Dourado, da Linha Poço Grande, da Linha Pinga Alta e do Coan. De Santa Catarina e do Paraná. Já se
ouve o som pelo alto-falante.
- A procissão nem saiu ainda lá da catedral e aqui no santuário já são
milhares os romeiros...
Entro na Sete. Os táxis do ponto em
frente ao Master foram colocados alguns metros à frente. Para facilitar o fluxo de transeuntes.
- Que horas vocês
saíram, então, hoje.
- Nóis tiremo o leite das vaca, tratemo
a criação... mais o menos 6 e meia nóis saímo! Mas tá boa a estrada. O prefeito
tá trabalhando bem este ano. Eu pênso que com tánta chuva" comentavam
entre si agricultores honrados que tem como orgulho suas famílias e como glória
o suor dos seus rostos. Entre eles ainda prevalece a relação humana civilizada.
Ninguém pega o que não é seu. Se acham alguma coisa de valor, procuram o dono.
Avizinham-se na dor e na alegria. Socorrem-se nas secas e nas cheias.
Presenteiam-se com melancias, uvas, figos e laranjas do céu. Quando abatem uma
rês ou um suíno, mandam cinco, seis quilos de carne em troca pela que receberam
há dois meses. Quando a pescaria rende – um piá vai avisar o vizinho pra
aparecerem todos à noite porque terá polenta e peixe frito, vinho, sagu e
creme. É, ou era, uma vida onde o celular ainda não chegou.
O guarda municipal apita e faz sinal
mandando que os carros parem para mais um grupo de fiéis atravessarem as duas
vias da Sete pela faixa de segurança até o portão do Santuário. Vou junto.
Meninas colam o emblema simbolizando a 73ª Romaria de Fátima na roupa,na altura
do peito dos que chegam. Não me viram, porque era tanta gente, e segui ‘sem
identificação’ - pela reta que leva à esplanada.
“Pedimos às pessoas que não deixem a carteira à vista porque no meio da
multidão de fiéis que vamos ter hoje aqui, sempre pode ter alguém com intenções
que não são as melhores. Cuidem das chaves, dos documentos, das carteiras e das
crianças, principalmente. Quem perder alguma coisa, venha aqui na frente que
anunciaremos. Estamos todos juntos, unidos em comunhão, procissão, romaria e
intenção nesta grandiosa festa de Mãe.”
- Tec, tec, tec... senhor romeiro...
uma esmolinha po pobre... uma esmolinha senhor romeiro...
“A procissão começa a se deslocar lá no centro da cidade. Vamos cantar:
Muito obrigado, Mãe,/Mãe do Menino Deus,/nascido em Belém/há dois mil anos!”
De repente alguém pergunta: “aonde será que vendem
a ficha pro churasco!’.
- Não por aí... a grama tá toda
molhada. Olha o baaarro – pai!
- Será que lá também tem pom, cerveja,
refrigente e cuca? Olinda, ô Olinda Santa Mãe, parece que tá surda: “quandas
cuca tu troxe!?”
“O povo em romaria, de carro ou a pé,/ vem te pedir, Ó Maria:/ ‘Aumenta
a nossa fé!’ E atenção romeiros: A coordenação da romaria avisa que apenas os objetos
religiosos que são vendidos dentro do Santuário são autorizados pelos
organizadores. O que é vendido fora do Santuário não é da nossa
responsabilidade e não ajuda a igreja... Aqui em frente ao altar externo, à
direita tem um local onde podem ser adquiridos todos os tipos de lembrancinhas
da Nossa Mãe. Este ano tem até cevador para chimarrão, e o que é mais bonito,
com a imagem de Nossa Senhora de Fátima. E custa só dez reais. Podem comprar
dois - uma para o vizinho ou até mais, para o nono, os irmãos que foram morar
em Santa Catarina ou no Paraná. É um lindo presente e abençoado com a imagem da
Nossa Mãe Querida. Uma lembrança da 73ª romaria de Fátima pra vida toda. Ali
também encontrarão muitas outras sugestões de lembranças.
- Mãe, ô manhe....
- O que Jonhatann.
- O que que é 73ª.
- É.... é.... presta atenção no que o padre tá
falando. Aqui não é hora de fazê pergunta. “Santa Maria, mãe de Deus? Rogai por
nós/Agora e na hora da nossa..”, vamos Jonhatann, reza, reza, ô infeliz.
- Olha a medalhinha da Santinha. Olha a
fitinha... cinco realzinho. “Nics – non, non, o padre disse que é pra comprar
só lá dentro. Aquelas é que valem – são abençoadas.
De repente uma garotinha de 9 ou 10
anos, sei lá, me gruda um emblema da festa de Fátima no lado esquerdo do peito.
Acho bonito e até ajeito melhor porque na pressa ficou meio torto. Agora sim,
me sinto carimbado, autorizado para estar na grande romaria.
“Agora, a procissão já caminha duas/três
quadras da catedral. Nesta segunda dezena do terço, vamos... Pai Nosso que Estais no Céu...”.
Quem está aqui já no largo do Santuário, reze, responda, acompanhe a prece –
não precisa esperar a imagem de Nossa Mãe Querida chegar. Vamos todos juntos:
“Ave Maria cheia de Graças/O senhor é...”
Junto à imagem de Nossa Senhora de Fátima, toda engalanada com
lindíssimas rosas e flores, o chão não arde como há três anos. As chuvaradas da
semana amainaram o calorão. As velas derretem e se acendem uma atrás da outra queimando
sobre a grama embarrada. Bouquês são depositados. Fitinhas amarradas. Terços
desfiados. Gente de joelhos engolindo rezas e cânticos. Um homem fita o
infinito por trás dos antigos eucaliptos lá pra baixo donde se dá a fronteira
do terreno do Seminário com a URI. Todos rezam ou balbuciam quase como no
automático. Um abre com ...‘Pai Nosso que Estais no Céu’ e o outro ao lado já
vai no... ‘O Pão nosso de cada dia...’.
No altar os padres animadores não param
de se agitar. Microfones são testados. Violão, guitarras, violino, órgão, um pequeno
coro, botões da mesa de som... “baixa, baixa... levanta, levanta um
ponto... Aí, aí tá bom...Nossa Senhora, Mãe dos peregrinos,/vem conosco
caminhar!/:Eis aqui o teu povo, Maria de Nazaré!
Encostados num Gol sujo de barro –
adolescentes de calça de Jeans com a barra arregaçada até as canelas acima dos
grossos tênis brancos, acendem cigarros alheios à concentração das preces
e falam da matiné dançante marcada para o fim do mês no Tamanduá. Avanço
até onde dá pelo asfalto, mas tenho que enveredar pela grama barrenta que nem a
serragem resolve. Resolvo ver dentro da igreja do Santuário.
Todos os bancos estão tomados, a
maioria – pessoas de idade com crianças que gesticulam, olham para os lados,
choram de fome ou de sede ou por mal acomodadas em meio à multidão, ao ambiente tão inusitado.. Nas imagens espalhadas pela igreja, grupamentos de pessoas que
não param de rezar. Pais se abaixam para que os filhos de colo toquem com as
mãozinhas numa réplica da imagem daquela que vem a ombros pela Sete. Os adultos
não saem sem também tocar a Santa. Flores, flores e mais flores
depositadas. Outros escolhem lembrancinhas em fitas coloridas e devidamente
abençoadas. Saio da igreja e vou para os fundos do seminário. Mais gente. Filas
num corredor. Alguém pergunta pelo banheiro!
- Senhor, senhor – quer confessar? Entre naquela fila ali e segue pelo corredor da reconciliação...
- Obrigado.
Retorno, atravesso a igreja, saio com
pressa, mas agora sim, muita gente. Volto até o pórtico. A aglomeração de
pessoas aumentou muito. O trânsito está fechado. Na frente do antigo Daer, área
que trocou de dono, vem avançando a procissão. São cabeças, cabeças e mais
cabeças.
“Em procissão, em romaria,/romeiro ruma para a casa de Maria./ Em
procissão, feliz da vida,/ romeiro vem buscar a paz da Mãe querida!” – cantam e rezam.
- Para trás, para trás, por favor –
vamos deixar a procissão passar, gesticulam alguns organizadores. Policiais
militares também ajudam. Um câmera de uma TV sobe no pórtico. Quer a melhor
imagem. A gurizada olha o cara da TV. “Vai caí, vai caí”, balbucia um deles.
A procissão troca a Sete pela reta de
acesso à esplanada, fazendo a curva em boa velocidade. Ali muitos que estavam à
espera juntam-se à multidão. E vão passando ignorando os desafortunados e os
deficientes físicos que sentados rogam por uma moeda.
- Quinze mil. Tem umas 15 mil – não
mais que isso, comenta um brigadiano, sem saber que a procissão ainda se
arrasta lá pelas Três Torres...
- Olha – daqui da entrada até lá na
frente tem quase 120 metros. De largura são uns 8, contando os que caminham
pela grama. Só aí dá 4.800 metros quadrados. Tu multiplica isso por nove, mas
vamo deixa por oito pessoa em cada metro quadrado... só aí tem quase 40 mil. Má
não leva a sério porque rodei três ano em Matemática, ajunta.
- Fora os que tão debaixo dos antigos eucaliptos,
lembra rapidamente um jovem – daqueles curiosos e atentos sempre prontos a
"ajudar" numa conversa.
- É... tem uns 40 mil... Quem teve aqui
no ano passado... Hoje tem mais, muito mais.
"Atenção aos proprietários do Corolla cinza, placas JAO 1952, da SUV Toyotta branca placas GEE 1970 e ainda da Tracker também branca de placas EAO 0073. Favor retirar e, logo, estão estacionados aqui na frente onde será depositada a imagem de Nossa Senhora. E continuemos a cantar. Vamos animar povo de Deus: Quero te dar a paz/do meu Senhor/ com muito amor... Quero... Isso, agitem os braços".
- E pensa no que choveu e parô logo
hoje! Isso é milagre de Nossa Senhora, acrescenta o curioso "ajudante de
conversas", que no fim das contas me parece o personagem erechinense,
Bota. Sempre palpitando onde não é chamado, mas ao ver uma deixa ele abre a
boca.
A imagem da Santa vem sendo carregada
nos ombros de quatro homens. Ela parece deslizar pelo alto das cabeças através
dos pés daqueles encarregados e orgulhosos homens. Balança e balança de um lado
para outro, parece que vai cair, mas mesmo que despencasse, nunca chegaria ao
chão. São milhares os romeiros que a circundam e estão de olho Nela.
- Viva Nossa Senhora de Fátima, grita
uma mulher com seios e barriga salientes, desajeitada, mas cheia de fé -
concentrada na imagem e em lágrimas no rosto – postada atrás de mim ela recebe
o eco de alguns. Percebe-se de cara que é devota, muito devota, de Nossa
Senhora de Fátima.
“Ensina o teu povo a
rezar, Maria, mãe de Jesus
Que um dia o teu povo
desperta e na certa vai ver a luz
Que um dia o teu povo
se anima e
caminha com teu Jesus
Maria de Jesus
Cristo, Maria de Deus,
Maria mulher
Ensina teu povo o teu
jeito de ser o que
Deus quiser
Ensina...”
Alguns se viram meio sem jeito, cheios
daquela vergonha dos tímidos que acreditam saber tudo e não precisam manifestar sua fé com atos, rezas ou gritos, que acreditam que Nossa Senhora ouve seus
corações, reconhecem sua fé, acolhe suas orações - sem dizer uma palavra. Sem
mexer sequer os lábios como se estivessem no Centro Cultural 25 de Julho ou nas
cadeiras de um determinado estádio de futebol.
Agora sim - um coordenador da romaria
grita ao microfone: “Viiiva Nossa Senhora!” E a multidão no
curso normal sobre o asfalto da esplanada, ou sobre a grama lamacenta responde,
a pulmões de Tinga ou de Tomasi: Viiiivvvvvvva". E o padre prossegue: “A
imagem da Nossa Mãe Querida, sim ela, a Mãe de Jesus Cristo, a Mãe do Santuário
que é dela, a mãe dos devotos, a Mãe dos afortunados e dos esquecidos - é Ela,
a Mãe de Todos Nós. Viiiiiivvvvvva Nosssa Senhora de Fátima!”
- Um carro de som com o apoio da
Brigada Militar vai abrindo espaço por entre o grupo que se espreme no portão
para ver a imagem da Santa de pertinho. De pertinho porque o sentimento é de
que está viva, ali, respirando e olhando para os lados suas criancinhas de um
dia a 100 anos.
- Lá no altar – o animador também
invoca e grita: “Repetindo. Já estamos vendo! Sim. Lá
vem chegando Nossa Senhora. A Nossa Mãe já está entrando no Santuário neste
momento, é Ela de novo em Sua Casa – o som se descontrola, há uma
microfonia rapidamente controlada, e logo volta. “Nossa Senhora está
entrando na Sua Casa... Vamos saudá-la. Levantem suas flores que trouxeram de
perto ou de longe. Abanem seus lenços brancos”, grita o animador e
logo milhares de lenços brancos se agitam num espetáculo, como direi,
espetacular. Até quem acreditava que este ano o time da cidade subiria para a
Série "B", se emociona, renova sua fé pra 25 - quase chora, chora; e agita seus braços
porque nem conhece mais lenço. É emocionante até para quem é ateu.
“Nossa Senhora, Mãe dos peregrinos,/vem conosco caminhar!/: eis aqui o
teu povo...”.
Lágrimas se confundem com orações.
Olhos procuram o melhor ângulo. A multidão caminha até onde dá e depois se
esparrama por sob as pequenas árvores, pisando o barro que se esconde sob o
gramado fofo, fundo e molhado. São 10 horas e já há quem caminhe apressado no
sentido contrário, com dois espetos à mão, abrindo caminho por quem acabara de
chegar. Lá no canto, em cima de pelegos, uma família se acomoda. A mãe dá de
mamar ao bebê. A imagem de Fátima é depositada no altar. É o ápice da Novena,
da Romaria, do maior evento religioso que Erechim conhece no seu território há
73 anos.
“Com minha Mãe estarei... na Santa Casa um dia... ao lado de Maria...”
O bispo é anunciado. “Em nome do Pai, do Filho, e do Espírito
Santo – Amém!” Inicia a missa. Mais acima dele – fotógrafos e policiais com
binóculos tem a visão do largo de Fátima. Conferem sensação de segurança.
Pobres e ricos, brancos e pessoas de cor, gentes da cidade e da colônia,
batedores de carteira, pagadores de promessa, festeiros, idosos, criancinhas,
indigentes, freiras, vendedores de chapéu, brigadianos carregando mulher
desmaiada, casais de namorados se enamorando – tudo se agita, e se mexe, e se ajeita, e se
acomoda do jeito que pode, que precisa ou que dá.
Me reencosto numa árvore para ouvir o
bispo:
“Queridos romeiros de Nossa Querida Mãe
– Nossa Senhora de Fátima. Hoje, depois de uma semana de muita chuva, mas que
era necessária, a Nossa Mãe nos presenteia com esse dia... E nós, seus devotos,
não a decepcionamos e que estamos em grande número, eu diria – uma multidão que
há muito não se via. Isso nos revigora. É presença física, é a presença de
coração – neste ano que a Tomaria tem como lema central a importância da
Oração. Sim... a oração que tanto Fátima pediu aos pastorinhos Lúcia, Francisco
e Jacinta...”
Atrás de mim, alheios à homilia, dois
coxixam:
- E o Polis, hein, credo. De lavada. No centro, nos bairro, nas vila... Acho que até a Nossa Senhora de Fátima se votasse ia votá nele. E ainda as oposição se bifurcaram. Uma pra cada lado das direita, diziam. Se enforcaram nas direita. Queriam sentar em dois onde só cabe um! Fizeram o que as oposição faziam pro Zanella nos anos 1970, 1980 e 2000. Atiraram a eleição no colo do Polis que, cá pra nóis, é um fenômeno. Tu não acha? Enquanto as oposição ficam se reunindo, e se reunindo nas poltrona dos escritório – o Polis tá lá nos bairro comendo mandolate feito por lá mesmo e chupando picolé de framboesa também de produção caseira. Sai de lá prometendo que um dia ainda vai relevá o mistério da Santíssima Trindade e é uma choradera só: chora o pessoal do bairro, chora criança e veio, chora o Polis – mais que todo mundo junto. O Polis/político 2000 e 2024 é a versão atualizada do melhor Ximit/1996. Ele sabia o que fazer e como fazer para conquistar a simpatia das pessoa. Em 1996 o Ximit tomô chimarrão com uma senhora de idade, quase sem dente - o que não é problema e deficiência -, numa xícara branca sem alça. Ela táva encantada. Quase babava pelo Ximitão, dividindo com ela aquele mate. E depois dau um beijão nela que a senhorinha nunca mais esqueceu. Isso é saber os caminho, pelo menos um deles, pra encher as urna. Me alembro: O Ximitão apertava mão suja de calceteiro. O Zanella faiz ou fazia isso? O Dexheimer faiz ou fazia isso? O Renan e o Ernani fazem isso? O Anacleto faz? Pode até fazer, mas não emociona a outra pessoa. Faz ao seu jeito e que é menos. O Anax faiz? O Polis pode não fazer bem isso ou bem assim, talvez faça até mais - mas ele não se constrange com o povo, povo - eu digo todo tipo de povo. Ele não agradece se leh oferecem o que estão comendo e bebendo lá aonde quase não mora ninguém. E isso o povo não esquece. Só adora. Se orgulha. Por quê. Por que ele fala com essas pessoa e na língua delas. Dá atenção. Deixa eles falá. Se solidariza. Promete resolvê o problema delas seja qual for. Se for preciso - chora antes que elas, penalizado. Depois saí de lá e vai se encontrá côs graúdo dono dos PIB da cidade. E olha – faz isso no mandato todo. É função de prefeito - não. Não é. Mas de candidato, ah, isso é. E como! Isso sim é que ser político – e não uns que caem de para-queda a cada quatro ano. Pra vereador então nem se fala. Tem uns que sem chance entra no partido do Polis e nem tão aí se se elege ou não. Tão é de olho é numa boquinha. Pra eles tanto faz o setor, se é na saúde melhor né, dá mais visibilidade...
“Maria, Ó Mãe Querida, saúde, saúde, saúde e dignidade para todos. Para
os que precisam e para os que trabalham na saúde. Olhai pelo doentes, pelos
cuidadores, pelos apoiadores, pelos que rezam por um mundo com mais fé e,
rezemos até pelos que dela, da saúde como um todo, sofridos ou tão beneficiados
são.”
E a enfermera então? – prosseguem os
dois em coxixo, fazendo número na Casa da Mãe. Tu viu a votação dela? Falam em
4 mil... e isso que os outros treis candidato bateram a campanha intera na
saúde... alguma coisa tem. Será que os da oposição tavam tão mal informado? Não
vivem falando por aí que o Santa tá um problema e, ela, a delegada, não,
delegada não - a secretária faz uma votação dessas! A maior de um vereador em
100 anos de Erechim. Não entendi - afinal tá ruim ou tá estourando da boca do balão, a saúde! – e os cara só ficam batendo nela, na saúde, porque esse
é um assunto que todos entendem fácil. Aliás, sempre foi assim. Com Santa ou
sem Santa.
- Bah.. e lá em Aratiba então, Nossa Senhora!. Já tavam fazendo festa quando virou nos acréscimos. De novo me lembrei do futebol de campo e do Atlântico que ganhou do Fortaleza no Calderão faltando trêis segundo. Tu contá assim, nem é de acreditá. Mas é o futebol, digo, o futsal. Em alguns caso é o futebol de campo também. O Real Madrid não virou um jogo contra o Manchester City, fazendo dois gols depois dos acréscimos? Também vale. Olha só o que andô acontecendo por aqui... por perto! Jogo ganho e... tum! Caxa. Ninguém viu, quase nem acreditaram, mas gol. Tem até uns mal intecionado falando que o nosso time da cidade é o Tsunoda, aquele da Fórmula 1. Corre, corre todos os ano, mas nunca tá no pódium. Nunca ganha, má tamém não cai. Em 25 de novo. Quem sabe um milagre da Nossa Senhora faz o, o, o... Tsunoda ganhá, subi nos pódium. Crédo! E acaba com essa sina, porque o dono da equipe e os mecânico, barbaridade - trabaiam que nem os otro! Tem condição de tá até nas Ferrari ou nas MacLaren.
Não adianta: no futebol e na
política tem cada jogo, cada lance, cada resultado que é de caí os butiá do
bolso, as dentadura da boca. Acho que tamo é rezando pouco!
“Ó Maria, Mãe do silêncio da escuta e da oração. Façamos como a Nossa
Mãe, não permitamos espaço a especulações, não falemos o que não deve ser dito.
Sigamos o exemplo da Mãe Querida: Silêncio. Oração. Sempre com o rosário à mão.
Sejamos obedientes ao pedido de Nossa Mãe. Rezemos: “Ave-Maria cheia de graça/O
Senhor é convosco...”
Eu queria me virar e olhar, mas seria
demais. E continuavam os dois: bah, me lembrei de um padre gremista lá do
bairro Atlântico. Naquele domingo o Inter ia jogar com o Vasco. Não é que,
assim contam né, que ele chegou na parte da missa onde fala em paz, ele disse:
“A paz esteja com o Vasco! – ao invés de ‘convosco’. Eu não acreditei, mas
contaram uma vez, isso na frente do padre, eu tava lá e ele dava risada.
Tu viu essa? Não é que é a 73ª romaria
e tô com 72, eu bem burro pensei que ia alcançar ela, mas ano que vem quando
chegar nos 73 ela vai pros 74. E o que tu achô da eleição da Câmera? Será que o
Polis vai deixar quem se elegeu na Câmera ou vai puxa de novo uns pro secretariado?
- Mas que que vô te dizê....
- E se ele puxar de novo o de Obras...
que que tu acha?
“Ó Mãe - Tende piedade, tende piedade, tende piedade de nós, Ó Senhor, Ó Maria Nossa Mãe / Vosso povo é Santo, mas, aaahhhgggrrrr, cof, cof... desculpem a tosse - Vosso povo é Santo, mas também é pecador. Precisamos aumentar o sacramento da confissão. Até nós padres nos confessamos... Vamos todos juntos e peçamos confiantes a uma só voz: “Mãe – Lúcia, Francisco e Jacinta, rogai por nós!
Francisco e Jacinta tornaram-se Santos pelo Papa Francisco. Ambos faleceram ainda crianças: Francisco aos 10 anos e Jacinta aos 9. Lúcia faleceu em 2005 aos 97 anos e é beata. Está a um milagre de ser canonizada. Rezemos por esse milagre e que ela se junte a Jacinta e Francisco na Santidade, explicou e pediu o padre.
- Deus que me perdoe, só vendo; má já
tão falando que o Polis pode ficá só meio mandato e ir pra estadual com o
Paparico a federal. Aí já acho que é coisa de quem tomou um tufo nas eleição. O
que tu acha...? Hein, hein!
Bah cara – eu não, só sei que Polis e
Paparico foram adversários, mas em política, o que não tem é santo.
“Céus e terra proclamam: Santo, Santo,
Santo é o Senhor!/ Glórias, hosana e louvor.”
- Oi, senhor romeiro... uma esmolinha
pra quem não pode caminhá.
- Escuta aqui, tu já rezou ao menos uma
Ave-Maria? É só prefeito, secretariado, vereador, saúde, Atlântico, Tsunoda... Para de
encher o saco e reza alguma coisa - quem sabe, primeiro pra ti mesmo para não
falar mais essas asneiras que tu vem me assoprar no ouvido. E apaga esse
cigarro. Tu devia ir de joelho daqui até a imagem da Santa que o vereador Luiz
Onhate deu e ninguém sabe, muito menos, reconhecem. Deixa o Polis governar,
deixa o Atlântico em paz com as suas taças, os vereadores com os seus votos e
reza para o secretariado que vier que faça um bom trabalho. Tu até parece
aquele jornalista, um tal de Ody, que quando pegava pesado e fazia crítica nos
anos 1990 e 2000 -, era por que não gostava de Erechim, queria o mal de Erechim,
queria que tudo desse errado, como alguns achavam e diziam. Agora tá aí ó - se
afundou, se deu mal, se enterrou. E a cidade tá que é um brinco. Vai que é um
pix. Passa na 153 ou na 135 - é obra, obra e obra. Tá certo que derrubaram mato
e mais mato - mas é o preço da prosperidade ou não. Bah - Deus que me perdoe, lembrei
agora das enchentes. Esse negócio de prosperidade tem seu custo. Mas olha
bem – olha a votação. É a vontade popular, não adianta, e tudo tudo – limpinho
como o manto branco da Nossa Senhora.
“Maezinha do céu/Eu
não sei rezar/Eu só sei dizer/Quero te amar/Azul é seu manto/Branco é seu
véu/Eu quero te ver lá no céu/Maezinha do céu/Mãe do puro amor? Jesus é teu
filho/Eu também o sou...” continuemos queridos romeiros. Nossa Mãe de Fátima quer
ouvi-los”.
Saí dali e voltei para o interior da
igreja. Dezenas de ‘ministros’ da igreja foram buscar a Eucaristia. Eram 35 mil
hóstias. Me espremi o que deu – mas não consegui comungar. E se faltar hóstia!
“Quem não comungou, pode dirigir-se depois para o interior do
santuário...” anunciava um padre.
E mais: "ainda temos fichas para churrasco que os
churrasqueiros de Severiano preparam mais uma vez, e tem frangos, cucas,
bolachas, pastéis, bolos. Tudo Aqui à minha esquerda. Também contamos com a
valorosa Brigada Militar, uma tenda do HC, da Unimed... Quem precisar de
banheiros, pode se dirigir pelo corredor ao lado da igreja, lá nos fundos e,
por favor, mantenham o lugar limpo para que todos possam usá-lo
dignamente.
Era quase meio dia. Eu não aguentava
mais aquele cheirinho de churrasco de igreja. Ele é diferente. Ele é
insuportavelmente atraente. Assado com lenha - e espetado em espeto de madeira.
Sozinho, fui almoçar em casa, segurando a saliva para não lambuzar os beiços
enquanto passava pelas famílias que vieram dos cafundós da região para a
romaria e agora repartiam o pão caseiro, a cuca caseira, a bacia de tomate com
cebola e aquela carne que era quase um pecado cortar, ou talvez fosse, um
prêmio a preencher o regaço de quem não medira esforços para àquela
hora.
O padre Sala (José Carlos), grande
arquiteto da romaria deste ano estava por todos os lados.
“Olha que lindo Povo de Deus” (quase que se sai com
"Filhos da Mãe", mas logo percebeu, ou é coisa da minha cabeça. Se se enganasse poderia seguir com um ‘Filhos da Mãe Maria..’ E prosseguiu: “Tivemos
uma semana de muita chuva - muita chuva, mas a devoção à Nossa Mãe Querida é
maior. Eis aqui teu povo, teus filhos, Ó Mãe. E para saudá-la rezemos:
Salve Rainha, Mãe de Misericórdia, Vida, doçura e
esperança nossa, salve. A Vós bradamos, os degredados filhos de Eva. A Vós suspiramos,
gemendo e chorando neste vale de lágrimas. Eia, pois Advogada, nossa, esses
Vossos olhos misericordiosos a nós volvei: e depois deste desterro nos mostrai
Jesus bendito Fruto do Vosso ventre. Ó clemente, ó piedosa, ó doce sempre
Virgem Maria.
Rogai por nós Santa Mãe de Deus.
Para que sejamos dignos das promessas de Deus.
Amém.”
À tarde voltei para benção da saúde. De
novo a multidão em pé, atenta, cheia de fé. A benção da saúde é um dos pontos
altos da romaria. Se a fé cura – muita gente vai ficar bem pelo que vi. Logo em
seguida, o último passeio da imagem de Fátima por entre a multidão que arrancou
as flores, enquanto pequenos ramos de cipreste eram disputados mais
do que algumas secretarias do governo Polis serão. Fitas eram recortadas em
pedacinhos para quem quisesse levar consigo de lembrança. Sob as árvores,
homens bebiam e jogavam. Um deles tinha dois garrafões de vinho aos pés e
tentava um terceiro. Bebês dormiam indiferentes e nunca saberão que um dia
estiveram ali. Fiz o sinal da cruz, beijei minha medalhinha que comprei de
manhã e decidi ir embora. Faltam 5 para as 4.
“Logo mais às 18 horas teremos uma nova missa aqui
no interior do Santuário. Que todos possam retornar para suas casas, levando no
coração, as graças de Nossa Senhora de Fátima e vamos cantar para nos despedir
dela nesta 73ª Romaria:
“Com minha mãe estarei/Na Santa Glória um dia/Ao
lado de Maria/No céu triunfarei/ No céu, no céu/Com minha mãe estarei/No céu,
no céu, com minha mãe estarei/... /Com minha mãe estarei/E sempre neste
exílio/De seu piedoso auxílio/Com fé me valerei...”. Viva Nossa Senhora de
Fátima. Viva os romeiros. Viva o nosso bispo. Viva a Santa Igreja Católica.
Viva o Papa Francisco. Viva todos os padres da Diocese de Erechim. Viva todos
os ministros. Viva os colaboradores que enfrentaram as noites de chuva durante
a novena. Viva os festeiros. Viva os churrasqueiros. Viva todos, todos os
colaboradores anônimos de mais esta Romaria de Nossa Senhora de Fátima. E
obrigado às emissoras de rádio e demais plataformas que divulgaram este evento
emocionante. Se Deus é por nós – quem será contra nós!’.
- Nossa Senhora de Fátima, é ela! Fazia horas que andava de olho numa "deusa" e que não via há tempos. No meio desse mar de gente, Nossa Senhora, sim é ela. Me apressei, mas quando vi bem, estava de mãos dadas com um desses que parecem morar em academia com os braços de anca de touro, cheio de tatuagens, de tudo quanto é bicho. Chega – vou embora. Mais de um milagre num só dia é demais. Abriu o tempo - chega.
Perto de casa uma Belina metido quase no
meio de uma capoeira negou fogo. Não pegava. Quando o motorista, o Artêmio, se acomodou e acendeu seu
cigarro, já meio torto, o arranque só fez tec. Tentou outra vez e tec. E foi
tec, tec e tec. ‘Não vai me dizê que tamo sem gasolina’, gritou mulher. ‘Não é
gasolina Olinnnnda”, gritou mais alto o homem que deu um pontapé no forro da
porta que foi ao encontro de uma baita pedra, afundando a porta. Se o carro
ia pegar ninguém sabia – mas o estrago estava feito. No meio do
lamaçal, com as calças arregaçadas quase ao joelho, abriu o capô, mexeu n’alguns
fios e vermelho de raiva retornou. Ao sentar no assento foi - crec.
Quebrou um dos lados do encosto. Lhe caíram os documentos do bolso da camisa, o
chaveiro com o corta-unhas do Grêmio e até o pente azul. E tentou novamente.
Tec. tec e tec. Para pai – tu vai afogá a Belina, opinou o filho mais velho no
assento de trás, espremido entre três irmãs. Foi então que o Artêmio, da Linha Poço Grande se lembrou: ‘barbaridade
– o rádio ficô ligado na Aratiba e comeu a bateria. Quem sabe também as luz
ficaram acesa’.
Mas então não era nada grave. Um vizinho
viu a situação e encostou seu Gol, apanhou uns cabos no porta malas e prendeu
na bateria dos dois carros. Toca agora, gritou. Na primeira tentativa – a Belina deitou as macegas com as pisadas do Artêmio no acelerador, e encheu o ar de
fumaça. ‘Pisa pai, pisa – não deixa apagá’. O Artêmio ainda teve tempo de gritar: ‘Fica queto. E vê se os garrafão de vinho que ganhei na roleta tão aí’. Olinda acomodou o nene no colo e a Belina saiu do meio das capoeiras e do lamaçal como
um dos primeiros adversários do Mike Tyson, quando se levantava depois do primeiro soco.
Mas – ao contrário – Artêmio ajeitou o chapéu escondendo a cabeleira
esvoaçante e fez da Belina uma SUV 4 x 4. O crucifixo balançava pendurado no retrovisor interno. Pena que os pneuzinhos magros não
colaboravam muito e iam suando uma barbaridade por causa do excesso de peso –
mas a Belina foi vista na cidade pela última vez quando desceu pelos Balvedi abaixo, pela RS
420. Para garantia de todos, o vizinho com seu Gol bem mais novo, vinha logo atrás. A Belina veia ia joquiando de um lado para o outro - e seus ocupantes, todos sem cinto de segurança iam só no balanço. Lá pelo KM - 10 o Artêmio ameaçou levar a mão ao rádio para saber sobre o Grêmio e o Glória de Vacaria - mas dona Olinda lhe desferiu um tapão na mão. 'Já não chega que quase não saímo por causa da bateria seca e tu ainda qué liga o rádio! Pensa na estrada, vê se não pega no sono e em casa vamo vê se ganhemo ou perdemo!', disse decidida a mulher mostrando quem mandava nos filhos, na Belina, no marido, na família e em casa. Não rezô uma Ave-Maria. Passou só nas rifas, no cinquilho e nas barraca de bebida. Ano que vem tu já tá avisado. Eu vô sozinha de Van - e tu cuida das criança e dos animal e escuta pela rádio a romaria. Eu te avisei Artêmio - essa foi tua última viagem pra Erechim. Que pegá a Belina - pega. Mas que tu não me saia mais longe que Aratiba'.
Na altura da Nossa Senhora da Santa Cruz ouviu-se um estouro seco, mas abafado. 'Sacramenha será que furô um pneu' pestanejou o Artêmio. Ao abrir a porta a Olinda e a filharda já gritaram: 'é o vinho pai. O cheiro forte e acre do vinho invadira toda Belina'. Ao levantar o Porta-malas o Artêmio deparou-se com um garrafão estourado. Tudo molhado de tinto. 'Esse garrafão fia duma p. não aguentou o calor', blasfemou outra vez. Bateu o porta-malas de novo e entrou na Belina: 'Agora temo que i assim. Não tem o que fazê', determinou. Uma das meninas atreveu-se: 'E se estourar o outro!'. Artêmio fez que não ouviu. Virou a chave e a Belina pegou na hora. E logo começaram a descer em direção a Aratiba. O velho ditado de que nada é tão ruim que não pode ficar pior logo apareceu. O vidro da porta da dona Olinda não abria, ia só até um pedaço e não descia mais. E ainda por cima a maçaneta estava quebrada ao meio. Ar condicionado - nem falar. A Belina toda invadida pelo cheiro de vinho se ia lançante abaixo. Dona Olinda queria dizer ou fazer um monte de coisa contra seu marido - mas logo pensou em Nossa Senhora. Puxou um terço e disse aos filhos: 'Vamos atender o pedido de Nossa Senhora e rezar um terço. Quem sabe a gente se distrai e até lá tamo em casa. Ave-Maria-cheia de graça, o Senhor é convosco e bem-dita sois Vós entre as mulheres; e os filhos: Santa Maria Mãe de Deus, Rogai por nós Santa Mãe de Deus, Agora e na hora da nossa morte amém. Antes da segunda-Ave Maria, o Artêmio se atreveu, vermelho de tanto vinho: Olinda - o terço começa pelo Pai Nosso e tu esqueceu. 'Cala essa boca!', explodiu a Olinda e recomeçou: 'Pai Nosso que estais no céu, Santificado seja vosso nome, vem a nós o vosso reino...'
Às 7 da noite – quando todas as
Brasílias, Fuscas, Gols, Unos, Chevetes, ônibus, Kombis, Vans e Corsas estavam
em suas garagens – e a chuva recomeçou. Mansa. Mansa, bem como o semblante de
Nossa Senhora de Fátima. Lá na esplanada do seminário, sob cheiro intenso de
flores amassadas e velas queimadas e algumas ainda ardendo; cansada a Mãe adormeceu
sozinha onde sempre esteve e está – enquanto a água da chuva lhe escorria pelo rosto
e pelo véu. Ou seriam lágrimas que Nossa Senhora de Fátima não conseguia
segurar, porquanto retomava sua dor, penalizada com o caráter de seus devotos e,
sabedora do amanhã deste mundo imundo, falso, hipócrita e mentiroso, lhe davam
a certeza que serão necessárias ainda muitas romarias, e o desfiar de rosários
e rosários, terços e terços - até a aceitação tranquila e a compreensão plena do porquê da sua
aparição em Portugal e do seu pedido aos três pastorinhos, pedindo, indicando, implorando por
paz e orações. Oremos, pois. Crédulos e incrédulos. Pelo visto é bem plausível
como opção mais viável – o que nos resta. Do jeito que as coisas tem ido, aqui,
ali, lá e pelo mundo afora – quem sabe outros pastorinhos de celular à mão
terão de testemunhar uma nova visão da Mãe de Jesus Cristo e atender seus pedidos. E se isto não
conseguir mudar o rumo da bola global – o Criador terá de enviar um novo filho.
Mas Ele mesmo já sabe – que não poderá vir ao mundo numa estrebaria, muito
menos onde caem bombas dia sim, outro também. Por que não no HC, na Unimed ou no
Santa, isso; no Santa, onde tudo está na mais santa paz, onde tudo corre às mil maravilhas, onde
tudo é do bom e do melhor. Seria a perfeição e, ainda, cem por cento SUS, graças ao agora também, nosso tetra-prefeito, Polis: o Santo Superior vindo ao mundo
no nosso Santa.
Bota, observador da cena de Campo
Pequeno, e que leu tudo e não via o final da crônica, não disse uma palavra,
mas ao ouvir a última hipótese, não se conteve: “Ody – pelo amor de Deus. Hoje
é o dia da Nossa Senhora de Fátima. Respeita Ela. Cristo nascer no Santa, no
nosso Santa que o dr. Dexheimer municipalizou em 1992, tenha juízo, seeuuuu Odyyyy. Santa Mãe de
Deus. Para com isso, ô infeliz!’.
Obs: Esta crônica é uma adaptação aos tempos de hoje, de uma que fiz sobre a romaria de Fátima, ainda quando era bispo - bispo Dom Girônimo. Eram tempos em que a administração do Santuário tolerava jogos e bebidas de álcool na romaria. então as citei. Era – normal. Por fim, mesclando fatos e ficção – não visa, esta crônica, em momento algum; atingir, diminuir ou denegrir quem quer que seja. É apenas uma forma de tentar retratar o que se passa aos olhos de quase todos, e aos olhos dos que veem outros comportamentos em pleno ato litúrgico. Por fim – é um exercício da escrita que tanto me satisfaz e uma tentativa de levar à reflexão de todos que os pedidos de Nossa Senhora de Fátima estão caindo no esquecimento à grande maioria dos católicos que só lembram de rezar no período da Novena e da Romaria.
Com sinceridade, dedico-a
a todos conhecidos e anônimos que fazem acontecer há 73 anos anos, cada uma das
romarias de Fátima, em especial, aos meus amigos padres Antoninho e José Carlos Sala. Também ao meu amigo João Kleber que desde o plantio das novas arvorezinhas na esplanada do Santuário, tem por hábito, regá-las com o auxílio de uma garrafa plástica, uma ou até três vezes por semana, acompanhado da esposa - Odete. Isso, sem contar o trabalho anônimo do amigo Neivo Zago, que amarrou as plantinhas mais de duas ou três vezes junto às estacas, para que crescessem o mais retinhas possível. Coisa que ninguém vê, mas admira quanto estão crescidas como devem, e não, tortas. Sem dúvida - um belo, oportuno e despretensioso gesto que só Nossa Senhora de Fátima e talvez o padre Sala; podem testemunhar todo santo dia. A Santa - com absoluta certeza observa tudo desde seu pedestal ou lá do alto dos céus - sua verdadeira residência fixa.. Portanto - Vivvva Nossa Senhora de Fátima! Vivvvvvaaaaaaa!