Ypiranga - melhor, mas será o suficiente?
O Ypiranga perdeu seu primeiro amistoso de 2014 no Colosso da Lagoa. E foi também o primeiro em nível internacional no seu estádio desde 1970. Um a zero para 3 De Febrero (Paraguai), gol que surgiu no final da partida quando mais suplentes que titulares, dos dois times, estavam no gramado.
Algumas coisas já podem ser levadas em conta: apesar de ser precipitado emitir qualquer juízo de valor, é possível deduzir que o grupo deste ano é tecnicamente superior ao do ano passado.
A primeira observação está nas duas laterais. Os jogadores que entraram favorecem ao técnico e ao time. A equipe como um todo parece-me mais veloz. O trio de meio-campo sabe marcar e tem qualidade para reter e organizar. Dois também chegam à frente. Aliás, ali, estão, preliminarmente, as duas referências técnicas do grupo: o capitão do time Jean Paulo e, principalmente, o motor do time – Guto. A jogada da frente, porém, ainda não apareceu. Faltam principalmente incursões pelos lados, e por causa da estatura o time deve privilegiar a jogada pelo chão, com bola curta, se possível com ingressos, paredes e finalizações. O miolo da zaga me pareceu mais confiável, mas é ainda um ponto a ser mais vezes testado, e tem que encontrar um modo de descongestionar a jogada do meio campo onde estão os melhores. o Problema é que a bola 'não sai dali'. Os goleiros foram pouco testados. O que saiu jogando poderia gesticular menos – especialmente em lances poucos relevantes, porque isso, mesmo que o objetivo seja orientar e corrigir, quando em excesso, pode desestabilizar ou contaminar o time levando-o a se preservar em excesso quando não precisa, ou não ousar quando deve. O goleiro deve ser um transmissor de segurança ao resto do time e não uma espécie de alto-falante pedindo atenção a todo instante. Para meu gosto – abandona de mais a meta. Em um lance foi encoberto, mas a bola caiu sobre a rede. No geral, tecnicamente, porém, nenhum dos goleiros comprometeu.
O mesmo vale para técnico Leocir Dall’Astra: poderia reclamar menos da arbitragem, especialmente em lances bisonhos, sem consequência maior, pois além de não resolver nada – chama a atenção da arbitragem, podendo ser punido mais severamente do que devia, num lance mais pegado, caso a reclamação venha e até com justiça. É o tal da coisa: reclamar de quase nada e em amistoso - mas, reconheço, esta ser uma coisa da cultura do futebol brasileiro. Na Europa quase não se vê isso. Os técnicos ficam mais atentos aos seus jogadores.
Pois, do embate deste domingo, 26, devem ser tiradas lições: 1 – Leocir precisa ‘achar’ um time, definir uma equipe que tenha solidez defensiva e dê alternativas para forçar o adversário também a se defender. Não dá só para ficar tocando de lado e, quando em excesso, a jogada longa quase sempre favorece o adversário que está de frente. A bola não é bilhete de rifa. 'Achar' um time para ganhar conjunto e confiança. 3 – O time precisa descobrir quem jogará dentro da área - mesmo que os gols demorem, mas alguém tem que fazer esse papel. 4 – Precisa encontrar uma referência que apresente carteirinha de finalizador. 5 - A definição do time, e é compreensível porquanto ainda muito cedo, é importante para não levar o técnico a ter que mexer tanto quanto foi necessário no ano passado. 5 – O torcedor foi até em maior número do que em jogos oficiais do ano passado. 6 - O time indica que terá pernas e pulmão. 7 – As cobranças e os elogios entre atletas revelam que o grupo está imbuído do mesmo espírito. 7 – O 3 de Fevereiro tem o que o Ypiranga precisaria ter, sendo que uma poderá até alcançar. Refiro-me ao conjunto. Daí vem a confiança, como disse. Se vê que a equipe paraguaia é bem treinada, ou seja - nem um pouco afobada, firme na defesa, sabe a hora de reter e sair, tem alternativas técnicas e de velocidade, tanto com a bola rente ao chão, quanto pelo alto. Isto o canarinho pode conseguir. Agora, o 3 de Febrero tem uma coisa que o Ypiranga não deverá ter: seis jogadores de muito boa estatura, certamente com mais de 1,80 metro – tanto atrás quanto na frente. Os dois zagueiros, o lateral esquerdo que fecha por dentro; o meia-ponta-de-lança, o centroavante e o jogador que faz o lado esquerdo, agudo quando precisa e sabendo compor no meio - todos altos. Este time com o qual o Ypiranga jogou de igual para igual até os 15 minutos do 2º tempo – brigaria por uma das quatro vagas no Gauchão em qualquer grupo, é o que conclui. Não se enganem!
Direção do Ypiranga entregou camisa do clube a Rivarola,
ex-Grêmio, hoje, diretor de negócios do 3 de Febrero
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Por fim – um alento: o Ypiranga pode não ter ainda um time de 11 jogadores – mas, tem um grupo e ninguém assegura que a equipe que saiu jogando formará o time titular. Tem gente boa no banco, que, com o decorrer dos treinamentos e dos amistosos, e as observações da comissão técnica, pode ascender à titularidade. Mesmo com a derrota – sem choro de erechinense, o resultado mais justo seria empate pelo que apresentaram os dois times, especialmente pelo jeito que aconteceu o gol num lance fortuito - pois, fiquei com a impressão que o Ypiranga está também dentro de campo mais organizado, qualificado e encorpado para 2014.
Enfim – está melhor. Mas será o suficiente?
Para esta 'primeira etapa' do projeto 100 anos do Ypiranga - foi.
2 a 0 na jogo da volta à Primeira Divisão quinta-feira à noite, 9 de abril, com cerca de 17 mil pessoas no Colosso.
Parabéns à direção, comissão técnica e atletas.