Há 20 anos a noite ‘Santa’ de Natal!
Eu não me lembro dos detalhes. Mas do principal sim. Era quase véspera de Natal e eu nunca tinha visto tanta gente concentrada na Praça da Bandeira e imediações. Era um noite de céu limpo e salpicado de estrelas. Nas ruas, avenidas e praças ‘Um milhão de estrelas’ brilhavam em Campo Pequeno. As pessoas de todas as idades aparentavam socialistas de verdade no evento, no que o termo de fato pretenda representar. Tudo que cerca uma abertura de Natal estava no seu devido lugar naquela noite e nem vou descrever aqui os ‘o quê!’ (?). Mas que estava – estava.
Mas aquela noite de 2004 reservava, na opinião da administração pública municipal sob o comando do prefeito Antônio Dexheimer, um presente inédito, de preço de compra – mas de sem preço social, quando aos seus futuros benefícios aos erechinenses, e sabe-se lá mais quem, como hoje os atuais administradores do município bem o sabem.
Num ato solene a certa altura do evento tudo voltou-se para os altos da prefeitura, onde na sacada central o prefeito, secretários e alguns convivas especiais, tomaram o lugar de Papai Noel por alguns instantes e anunciaram o presente coletivo: o município de Erechim comprara o Hospital Santa Terezinha. Os mais pobres teriam a partir daquela noite, mais facilidades para suas necessidades de saúde, que já dera um passo anterior que fora a implantação das Unidades Básicas de Saúde (UBS). O dr. Dércio Nonemacher não deve se recordar, mas eu lembro, quando antes de tomar posse – disse-me na redação da antiga A Voz da Serra que tinha uma novidade para Erechim e eram as UBSs – hoje tão consagradas.
Para não incorrer em erro procurei Antônio Dexheimer para saber de alguns números que ele me alcançou seguindo sua memória. O município solicitou e obteve a desapropriação judicial do hospital para fins de compra e o valor ficou em R$ 3,2 milhões. Cinqüenta por cento teriam sido quitados à vista e o restante em 52 prestações. Ainda conforme o prefeito da época um aparelho de RX custaria a bagatela de R$ 500 mil. E emendou: ‘a compra foi feita com recursos próprios!’.
Eu não lembro por que me desloquei rapidamente da praça para a redação, quando ao passar em frente do Hotel Parenti, o amigo Bino, gritou para mim: ‘fala agora! Fala agora!’, certamente indignado com alguma crítica que eu possa ter feito sobre o negócio naquela época – coisas típicas que envolvem o poder e a imprensa. Mas foi coisa de momento, a cidade cheia de pessoas de todos os municípios, de todas as idades, fogos iluminando os céus, a própria alegria feita vida no rosto das pessoas, e ainda por cima, o prefeito do PMDB anunciando a compra de um hospital cujo proprietário seria o município de Erechim.
Depois daquele evento a vida continuou.
Junto com a solução para a saúde pública, em termos de hospital, vieram problemas de toda sorte – mas também – soluções que até então não encontravam solução, ao menos para quem sabe que o quanto carrega no bolso ou tem no banco, coloca-o, em termos de recursos médicos para si e sua família, à beira da indigência ou da exclusão. Estes – que só eles e Deus sabem do quão quase nada eram -, sabem o que foi ter cama para deitar sua sua doença ou dor, ter uma enfermeira a acudi-lo, ter um remédio a tratá-lo, ter um banho, uma refeição, um cuidado, um médico a visitá-lo, embora, muitas coisas podem e devem melhorar porque para isto é que os médicos, fundamentalmente, escolherem o que escolheram ser.
Neste 20º aniversário do Hospital Santa Terezinha, sob seu novo dono, o município de Erechim – a despeito de todas pendengas a respeito da denominação, entre outras -, de janeiro a agosto registrou 10.912 internações, 241.283 exames laboratoriais, 58.537 exames de imagem, 6.569 cirurgias, 40.625 atendimentos de urgência e emergência e 86.093 atendimentos de traumatologia e ortopedia.
O hospital que atende 100% pelo SUS (um equívoco que coloca em risco a própria sobrevivência, mas saudado como um feito social que outros foram não tiveram a competência para tal como se o estado fosse mãe de leite eterno), pois o ‘Santa’conta no total com 180 leitos, duas UTIs, sendo uma geral com 11 leitos e uma pediátrica e neonatal com 12 leitos, e 15 leitos para pacientes em observação. Disponibiliza serviços no centro de diagnóstico por imagem, laboratório de análises clínicas, unidade de alta complexidade em oncologia (radioterapia e quimioterapia), hemodiálise, pronto socorro, litotripsia, ambulatório de ortopedia, ambulatório de oftalmologia, ambulatório do centro de referência da mulher, centro cirúrgico, centro obstétrico, farmácia, serviço de nutrição e dietética, unidade de cuidados intermediários, e unidade de tratamento intensivo (adulto, neonatal e pediátrica). E por fim recebe pacientes para tratamentos de alta complexidade de três coordenadorias regionais de saúde vindos de 79 municípios. No mais a coluna do Rodrigo Finardi da semana passada passa mais atualizado um ‘pente fino’ no ‘Santa’.
Nestes 20 anos de ‘Santa do município’ penso que podemos colocar na balança perdas e ganhos, equívocos e acertos, problemas e soluções, onde todos os prefeitos de Erechim desde aquela noite natalina de 2004, fizeram o que puderam para que a Casa de Saúde do Município desse a melhor resposta possível. Antonio Dexheimer, Luiz Francisco Schmidt, Eloi João Zanella e Paulo Alfredo Polis não podem incentivar ou insinuar qualquer um que seja com a pretensão de que este fez mais que aquele.
Cada um foi responsável em sua gestão ou gestões pelos feitos e não feitos. Se malfeitos houve – não sei, mas que se desfaçam, pois novos ares já sopram. Deixemos que os fatos, a realidade, o tempo falem por si, e isto, quase sempre leva tempo, mas como cadáveres, mesmo sepultos, deixam cheiro e rastros que possibilita descobrir quem realmente fez o quê.
Por mim, acho que a data cheia, de 20 anos, merecia uma reflexão séria, pois se ainda dá muita dor de cabeça – muita dor de cabeça alivia, especialmente se o fito maior da medicina, e do hospital, se fixarem na sua essência: o paciente, e sobreviver para atender sem sobressaltos operacionais, gerencias, políticos ou narcisistas. Em Erechim não presenciei outro Papai Noel tão socialista.