Noronha, Paulinho, Maneco, Garcia, Tiassa e Fossatti; Moacyr, Índio, Tomasi, Zé Carlos e Cardoso (Atlântico/1962) |
1
Quando o Atlântico era mais um clube de futebol e menos
uma marca de marketing, lá pelos anos 1960, no ataque infernal havia um
que se chamava Cardoso. Para perfumar a memória – Tomasi, Índio, Cardoso e
Carioca.
Pois, o Cardoso fazia lá seus golzinhos, mas era um
jogador meio acomodado em campo. Corria pouco, combatia quase nada. Nos treinos
então – era a preguiça em carne e osso. Ele e o Índio. Sei, porque acompanhei 10 anos da vida diária do Atlântico no gramado. Não perdia coletivo, nem “dia
de física”.
Se não me engano naquele inesquecível Atlântico 6,
Lajeadense 5 – o Cardoso cansou de bater pênaltis. Tinha a seu favor, a sua
cara e o seu jeito de gozador. O grupo amava o Cardoso – grande carteador nas
concentrações, era o que se dizia. Sempre tinha uma saída hilária para uma
situação. Enfim – gente boa.
2
Quando o time andava mal e não fazia gols – a torcida
pedia a saída de um e, geralmente, sobrava para ele, o Cardoso, pois afinal,
ponta esquerda só tinha um, o Carioca; o Tomasi corria por ele, pelo Cardoso e
por meio time, e o Índio, bem, o Índio era lento, também não marcava ninguém;
mas era o Índio – o Romário do Atlântico. Se pudessem trocar dez – que
trocassem, menos o Índio.
Pois, então sobrava para o Cardoso. Ele meio que se
arrastava para sair e se deixar cair como um saco de batatas sobre o banco de
reservas. Dali só sairia com alguém ajudando.
Curiosamente, porém, sem ele o time parecia (e não só
parecia como era verdade) render ainda menos.
3
Os gols só não saiam – como as chances diminuíam e, não
durava muito, lá brotava na social verde-rubra: “Bota o Cardoso – ô treinador
burro. Ele não corre, mas sempre tá no lugar certo. Segura a zaga. Não adianta
o Tomasi cruzá e só tem o Índio lá dentro. Ô trenero burro, animal, boi de
bota... bota o Cardoso aí..p.q.p.”!
O Cardoso só dava uma olhadinha para trás e com o seu cabelo a “la Burt
Lancaster” – parecia com uma risadinha - mais malandro do que nunca. “Haaaaa...
me botaram no banco? - me vaiaram... e agora gritam por mim... Que maravilha.
Querem ´o véio!’.”
4
O Cardoso era um daqueles casos onde ele mais notado, se tornava ainda mais importante quando não estava no time, do que quando era escalado. Podia ser melhor com eles, sim; mas era – péssimo sem ele. Sentiam sua importância quando botavam outro no seu lugar. Quando ele estava na reserva.
O Cardoso era um daqueles casos onde ele mais notado, se tornava ainda mais importante quando não estava no time, do que quando era escalado. Podia ser melhor com eles, sim; mas era – péssimo sem ele. Sentiam sua importância quando botavam outro no seu lugar. Quando ele estava na reserva.
Sem o Cardoso, lento e quase parando, o
Atlântico não era o mesmo. Até o Índio, assim parecia, jogava menos. E jogava
menos mesmo.
Mas ele tinha virtudes: sabia se colocar. Sabia bater na
bola parada e, principalmente, em movimento. Tinha senso de colocação e tempo de bola. E isso
fez dele um atacante que coube, sim, na linha de frente do grande time do
Atlântico do início dos anos 1960.
Pois, nesse tempo que fiquei sem escrever – me senti meio
Cardoso!