quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

A NOITE EM QUE O MDB RENASCEU PARA O QUE É HOJE

 

Ana Lúcia Oliveira/Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação

@ A histórica vitória do MDB na eleição deste ano não foi por acaso. Há duas razões que entendo fundamentais. A primeira é o carisma de Paulo Polis que possui um capital político na cidade – incontestável e que já se alça entre os maiores dentre os políticos erechinenses. A segunda razão é uma semente. Ela foi plantada em uma noite de 2006 no CTG Galpão Campeiro sob a coordenação de Ana Lúcia Oliveira. Naquela noite o então PMDB – que sempre foi grande aqui - passou do processo de “lavar a roupa suja” para “organizar-se como uma força política com cabeça, pés e membros”. Os resultados vieram dois anos depois com a decisão do partido – e forte participação de Antonio Dexheimer – em levar o PMDB a apoiar Paulo Polis do PT. Polis elegeu-se em 2008 e 2012. Antonio saiu do PMDB, mas a semente de 2006, de renascimento, estava em solo fértil e por rasos 12 votos não deu frutos também em 2016. Saudável, revelou-se na plenitude com força de fortaleza em 2020. Quem não quiser entender o que o PMDB fez em 2006, continuará concorrendo com um cartão da mega na mão. Reproduzo aquela reunião, aquela semente – até para o próprio MDB jamais esquecer-se de como se programou para vitoriar-se. “Quem não sabe por que ganha, não saberá por que perde”. O ditado é velho como o mundo, e novo como nossa democracia. Leiam sobre como a semente foi plantada. A árvore vem dando frutos desde 2008. Os últimos se traduziram em 58,46% dos votos dados a quatro candidatos a prefeito e, cinco, cadeiras no Legislativo. Cinco. Eis a leitura que fiz daquela reunião de 2006: 

 


“A transmutação e os milagres do PMDB

 

1

 

Devidamente respeitada a tese divina de que Deus criou o Homem, a ciência joga todas as suas fichas de que na real, homem e mulher, vem se modernizando há 4,5 milhões até o estágio atual.

 

É um bom tempo, mas ele carrega uma imensa verdade: quando se leva 4,5 milhões de anos, muda-se.

 

Antes que um historiador ou arqueólogo se levante para dizer que não é bem assim, aqui vai uma ressalva: a teoria que se segue é tão somente, “a mais aceita”, porquanto não há uma tese definitiva sobre a história da evolução humana.

 

Antes de surgirem os gibões, os gorilas, os orangotangos, os chipanzés pigmeus, os chipanzés comuns e, os humanos, havia outro elemento ainda não identificado pela ciência.

 

Na Etiópia, por exemplo, há 4,5 milhões de anos, passeava pela floresta humana, sem celular e internet, possivelmente o primeiro bípede de que se tem notícia. Seus caninos diminuíram e alimentava-se preferencialmente de frutas, brotos, caules macios e folhas secas.

 

2

 

Tomando este indicativo – é até plausível conceber que até o PMDB, isto mesmo, até o PMDB pode um dia mudar.

 

O lançamento das pré-candidaturas de Odacir Klein e Gilberto Capoani, no CTG Galpão Campeiro, na última sexta-feira, constituiu-se num divisor de águas – ou talvez fosse mais recomendado usar – “pode constituir-se...!”, mas o que foi permitido ver ainda encoberto é que o PMDB vive.

 

Para quem conhece o PMDB, a convenção ou reunião ou sei lá o que foi aquilo – pois, para quem sabe do PMDB, o evento parecia sim uma reunião, uma convenção, um encontro – mas nunca do PMDB. Ainda mais local e regional.

 

3

 

O som do Santa Maria era claro e sem exageros. As bandeiras discretas, estavam bem dispostas no salão de gala tradicionalista. As mesas arrumadinhas e, nada de papel de mesa de churrasco, aquele usado para fazer pacotes, mas um papel-toalha em verde.

 

O estacionamento tinha pessoal específico, a portaria dava vazão sem atropelos, mas sem interrupções, meio salão foi organizado, desfazendo a má impressão de que de repente passasse uma imagem de “vazio”.

 

É claro, é claro que a turma do Galpão estava por trás daquela organização, mas havia desde cedo, no ar, uma impressão de que o PMDB, naquele ambiente parecia nascer de novo. Devia haver uma mão feminina por trás – com certeza.

 

4

 

Hugo Generali, Jandir Santolin, Miguel Gotler, Antonio Dexheimer, Ângelo Giaretton, Luiz Pungan, Leonel Lanius, Waldemar Detoni Jr., Ana Lúcia e João Elmar Oliveira... Mesa constituída, hino rio-grandense com direito à ser cantado nos diferentes cantos do salão, mesas de peemedebistas de todos os  municípios da microrregional do partido, secretário de Estado, Mauro Gotler presidente da Corag, deputado federal, José da Cruz... Maridos com as esposas, esposas peemedebistas com os maridos; olha, se o Geder Carraro viu “lá de cima” o que eu vi, diria: “Ódyyyy – eu morro e não vejo tudo. O PMDB de Erechim e da região, organizado!? Nããããõoooo!”.

 

Sim, velho amigo, e reparaste na hora dos discursos? Foi aí que eu mais estranhei o PMDB.  Não – não podia ser o PMDB. Quando Antonio Dexheimer falou eu ouvi o estalar de uma brasa lá fora a passar fora-a-fora a carne em espeto. O tilintar das asas de mosquito não foi ouvido, porquanto moscas e mosquitos não havia.

 

5

 

Para quem conhece o PMDB; aquele silêncio, o olhar ao discursante, a atenção, sim a atenção que fez prontidão como nos anos de chumbo quando o MDB abriu-se em guarda-chuva para acolher os contrários ao golpe, pois aquele ambiente, definitivamente, não era o costumeiro da história recente do partido por estas bandas. Parecia o PP quando se reunia para ouvir seu chefe, Eloi João Zanella. Parecia uma reunião do “velho PT” quando ele era ainda um partido sólido como um nó de pinho e íntegro. Com o devido respeito aos exageros, fez de certo modo lembrar o Nazareno, no Sermão da Montanha. Ao menos em “Os Dez Mandamentos” de Cecil de Mille.

 

É lógico que o encontro serviu para apresentar de público, Klein e Capoani, os postulantes peemedebistas nas eleições vindouras; mas muito mais alto falou outra verdade que para mim, por enquanto só botou a cabeça para fora da água. 

 

6

 

Revelou que Antonio Dexheimer, aos 61 anos de idade, continua vivo e atento às questões políticas, e que se mantiver o prumo e passar a agir mais do que teorizar, têm amplas e plenas possibilidades de vestir a mesma vestimenta político-eleitoral que fez dele prefeito lá em 1992.

 

É natural, porém, que tentasse o PMDB com Dexheimer – não uma só coligação, mas uma aliança; e aí as garantias de volta ao poder seriam mais garantidas. E a quem interessar possa aliar-se ou não ao PMDB, fica a certeza de que este PMDB que rebrotou aos olhos públicos lá no Galpão Campeiro, sexta-feira, 26, não tem nada a ver com o PMDB fora de ponto que vinha rolando até bem pouco.

 

7

 

Mais que impressionar, chegou a ser contagiante o respeito, a admiração e a escancarada disposição que os peemedebistas dos municípios do Alto Uruguai começam a cultivar pela sucessora de Valcir Rodighiero, - a nova coordenadora da microrregional, Ana Lúcia Oliveira.

 

Ana Lúcia não deu só um novo ar, um tom feminino, uma fala mais mansa e pontual ao partido, mas parece que deu arranque, faz do PMDB um carro que anda a boa velocidade, contrapondo-se ao vício e vocação atoleira que demonstrava, e não por culpa de um ou outro, mas senão que de todos. Culpa do próprio imobilismo anacrônico que quase matou a sigla na cidade e na região, considerando seu porte de Golias.

 

8

 

Na observação de sexta, recupera o PMDB o porte de partido gigante, mas acresce sapiência de Davi. Organiza-se como um bom time alemão que prioriza a ação física e exercita uma tática quase mecânica, mas não prescinde de seus talentos que também começam a se dar conta que precisam correr e voltar para marcar, e não só ficar lá na frente, esperando na “pescaria”, uma bola perdida.

 

É evidente que mesmo organizado, nenhum partido tem a fiança da vitória; mas os novos ares que se percebem neste partido, sinalizam de que a vida nunca se vai em definitivo enquanto restar uma esperança.

 

E no caso específico do PMDB, parece que ocorreram dois milagres: o primeiro é um ato de contrição que coloca velhos ídolos (até então em franca decadência); e modestos, porém imprescindíveis soldados de todas as horas para os embates do partido, ambos num degrau, no mínimo, digno. Parece que gregos e troianos do PMDB descobriram que ainda vivem, que tem uma grande legenda na mão e que, se quiserem, o time pode mais – muito mais.

 

9

 

Se o PMDB vai eleger seus candidatos da região, ou não, isto é uma coisa. A outra, é que o partido se reergue sob um comando que lhe puxa à frente, e desperta no todo, um sentimento de que é útil e tal qual a história da evolução humana, não precisa conformar-se em viver eternamente se arrastando pelo chão ou pulando de galho em galho, ainda mais quando a natureza lhe fez evoluir sobre duas pernas e o presenteou com um cérebro”.