Ana Lúcia Oliveira/Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação |
@ A histórica vitória do MDB na eleição deste ano não foi por acaso. Há duas razões que entendo fundamentais. A primeira é o carisma de Paulo Polis que possui um capital político na cidade – incontestável e que já se alça entre os maiores dentre os políticos erechinenses. A segunda razão é uma semente. Ela foi plantada em uma noite de 2006 no CTG Galpão Campeiro sob a coordenação de Ana Lúcia Oliveira. Naquela noite o então PMDB – que sempre foi grande aqui - passou do processo de “lavar a roupa suja” para “organizar-se como uma força política com cabeça, pés e membros”. Os resultados vieram dois anos depois com a decisão do partido – e forte participação de Antonio Dexheimer – em levar o PMDB a apoiar Paulo Polis do PT. Polis elegeu-se em 2008 e 2012. Antonio saiu do PMDB, mas a semente de 2006, de renascimento, estava em solo fértil e por rasos 12 votos não deu frutos também em 2016. Saudável, revelou-se na plenitude com força de fortaleza em 2020. Quem não quiser entender o que o PMDB fez em 2006, continuará concorrendo com um cartão da mega na mão. Reproduzo aquela reunião, aquela semente – até para o próprio MDB jamais esquecer-se de como se programou para vitoriar-se. “Quem não sabe por que ganha, não saberá por que perde”. O ditado é velho como o mundo, e novo como nossa democracia. Leiam sobre como a semente foi plantada. A árvore vem dando frutos desde 2008. Os últimos se traduziram em 58,46% dos votos dados a quatro candidatos a prefeito e, cinco, cadeiras no Legislativo. Cinco. Eis a leitura que fiz daquela reunião de 2006:
“A
transmutação e os milagres do PMDB
1
Devidamente
respeitada a tese divina de que Deus criou o Homem, a ciência joga todas as
suas fichas de que na real, homem e mulher, vem se modernizando há 4,5 milhões
até o estágio atual.
É
um bom tempo, mas ele carrega uma imensa verdade: quando se leva 4,5 milhões de
anos, muda-se.
Antes
que um historiador ou arqueólogo se levante para dizer que não é bem assim,
aqui vai uma ressalva: a teoria que se segue é tão somente, “a mais aceita”,
porquanto não há uma tese definitiva sobre a história da evolução humana.
Antes
de surgirem os gibões, os gorilas, os orangotangos, os chipanzés pigmeus, os
chipanzés comuns e, os humanos, havia outro elemento ainda não identificado
pela ciência.
Na
Etiópia, por exemplo, há 4,5 milhões de anos, passeava pela floresta humana,
sem celular e internet, possivelmente o primeiro bípede de que se tem notícia.
Seus caninos diminuíram e alimentava-se preferencialmente de frutas, brotos,
caules macios e folhas secas.
2
Tomando
este indicativo – é até plausível conceber que até o PMDB, isto mesmo, até o
PMDB pode um dia mudar.
O
lançamento das pré-candidaturas de Odacir Klein e Gilberto Capoani, no CTG
Galpão Campeiro, na última sexta-feira, constituiu-se num divisor de águas – ou
talvez fosse mais recomendado usar – “pode constituir-se...!”, mas o que foi
permitido ver ainda encoberto é que o PMDB vive.
Para
quem conhece o PMDB, a convenção ou reunião ou sei lá o que foi aquilo – pois,
para quem sabe do PMDB, o evento parecia sim uma reunião, uma convenção, um
encontro – mas nunca do PMDB. Ainda mais local e regional.
3
O
som do Santa Maria era claro e sem exageros. As bandeiras discretas, estavam
bem dispostas no salão de gala tradicionalista. As mesas arrumadinhas e, nada
de papel de mesa de churrasco, aquele usado para fazer pacotes, mas um
papel-toalha em verde.
O
estacionamento tinha pessoal específico, a portaria dava vazão sem atropelos,
mas sem interrupções, meio salão foi organizado, desfazendo a má impressão de
que de repente passasse uma imagem de “vazio”.
É
claro, é claro que a turma do Galpão estava por trás daquela organização, mas
havia desde cedo, no ar, uma impressão de que o PMDB, naquele ambiente parecia
nascer de novo. Devia haver uma mão feminina por trás – com certeza.
4
Hugo
Generali, Jandir Santolin, Miguel Gotler, Antonio Dexheimer, Ângelo Giaretton,
Luiz Pungan, Leonel Lanius, Waldemar Detoni Jr., Ana Lúcia e João Elmar
Oliveira... Mesa constituída, hino rio-grandense com direito à ser cantado nos
diferentes cantos do salão, mesas de peemedebistas de todos os municípios da microrregional do partido,
secretário de Estado, Mauro Gotler presidente da Corag, deputado federal, José
da Cruz... Maridos com as esposas, esposas peemedebistas com os maridos; olha,
se o Geder Carraro viu “lá de cima” o que eu vi, diria: “Ódyyyy – eu morro e
não vejo tudo. O PMDB de Erechim e da região, organizado!? Nããããõoooo!”.
Sim,
velho amigo, e reparaste na hora dos discursos? Foi aí que eu mais estranhei o PMDB. Não – não podia ser o PMDB. Quando Antonio
Dexheimer falou eu ouvi o estalar de uma brasa lá fora a passar fora-a-fora a
carne em espeto. O tilintar das asas de mosquito não foi ouvido, porquanto
moscas e mosquitos não havia.
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Para
quem conhece o PMDB; aquele silêncio, o olhar ao discursante, a atenção, sim a
atenção que fez prontidão como nos anos de chumbo quando o MDB abriu-se em
guarda-chuva para acolher os contrários ao golpe, pois aquele ambiente,
definitivamente, não era o costumeiro da história recente do partido por estas
bandas. Parecia o PP quando se reunia para ouvir seu chefe, Eloi João Zanella.
Parecia uma reunião do “velho PT” quando ele era ainda um partido sólido como
um nó de pinho e íntegro. Com o devido respeito aos exageros, fez de certo modo
lembrar o Nazareno, no Sermão da Montanha. Ao menos em “Os Dez Mandamentos” de
Cecil de Mille.
É
lógico que o encontro serviu para apresentar de público, Klein e Capoani, os
postulantes peemedebistas nas eleições vindouras; mas muito mais alto falou
outra verdade que para mim, por enquanto só botou a cabeça para fora da
água.
6
Revelou
que Antonio Dexheimer, aos 61 anos de idade, continua vivo e atento às questões
políticas, e que se mantiver o prumo e passar a agir mais do que teorizar, têm
amplas e plenas possibilidades de vestir a mesma vestimenta político-eleitoral
que fez dele prefeito lá em 1992.
É
natural, porém, que tentasse o PMDB com Dexheimer – não uma só coligação, mas
uma aliança; e aí as garantias de volta ao poder seriam mais garantidas. E a
quem interessar possa aliar-se ou não ao PMDB, fica a certeza de que este PMDB
que rebrotou aos olhos públicos lá no Galpão Campeiro, sexta-feira, 26, não tem
nada a ver com o PMDB fora de ponto que vinha rolando até bem pouco.
7
Mais
que impressionar, chegou a ser contagiante o respeito, a admiração e a
escancarada disposição que os peemedebistas dos municípios do Alto Uruguai
começam a cultivar pela sucessora de Valcir Rodighiero, - a nova coordenadora
da microrregional, Ana Lúcia Oliveira.
Ana
Lúcia não deu só um novo ar, um tom feminino, uma fala mais mansa e pontual ao
partido, mas parece que deu arranque, faz do PMDB um carro que anda a boa
velocidade, contrapondo-se ao vício e vocação atoleira que demonstrava, e não
por culpa de um ou outro, mas senão que de todos. Culpa do próprio imobilismo
anacrônico que quase matou a sigla na cidade e na região, considerando seu
porte de Golias.
8
Na
observação de sexta, recupera o PMDB o porte de partido gigante, mas acresce
sapiência de Davi. Organiza-se como um bom time alemão que prioriza a ação
física e exercita uma tática quase mecânica, mas não prescinde de seus talentos
que também começam a se dar conta que precisam correr e voltar para marcar, e
não só ficar lá na frente, esperando na “pescaria”, uma bola perdida.
É
evidente que mesmo organizado, nenhum partido tem a fiança da vitória; mas os
novos ares que se percebem neste partido, sinalizam de que a vida nunca se vai
em definitivo enquanto restar uma esperança.
E
no caso específico do PMDB, parece que ocorreram dois milagres: o primeiro é um
ato de contrição que coloca velhos ídolos (até então em franca decadência); e modestos,
porém imprescindíveis soldados de todas as horas para os embates do partido, ambos
num degrau, no mínimo, digno. Parece que gregos e troianos do PMDB descobriram
que ainda vivem, que tem uma grande legenda na mão e que, se quiserem, o time
pode mais – muito mais.
9
Se o PMDB vai eleger seus candidatos da região,
ou não, isto é uma coisa. A outra, é que o partido se reergue sob um comando
que lhe puxa à frente, e desperta no todo, um sentimento de que é útil e tal
qual a história da evolução humana, não precisa conformar-se em viver
eternamente se arrastando pelo chão ou pulando de galho em galho, ainda mais
quando a natureza lhe fez evoluir sobre duas pernas e o presenteou com um
cérebro”.