quarta-feira, 27 de agosto de 2014

O sucesso não vem por acaso!

BV - 15 - 8 - 2014

O dito não é novo, mas é atual, cada vez mais atual e, sobremodo, verdadeiro. Por isso é que registro neste espaço não como um evento social, mas que pode servir de exemplo para quem tem humildade, a formatura de Janaina Vieira e Felipe Hanauer.


Sim, porque além de ambos pertencerem a famílias simples que sabem de onde vem o pão de cada dia, faço-o ainda por Felipe ser filho do meu primo Nelvo – um dos maiores ouvintes de rádio que esta cidade tem – e, pela ‘Jana’ -, pois posso testemunhar sobre sua luta, um exemplo que vi de perto.
Houve um tempo que optei por dar aulas de redação – especificamente de redação -, no antigo ou já extinto, Núcleo de Educação de Jovens e Adultos. As aulas não eram obrigatórias e tive alunos de 15 a 65 anos.
Mas – como tudo que não é obrigatório, aos poucos, muitos foram encontrando outros compromissos e abandonaram as aulas, de modo que houve um período onde tinha três, às vezes dois alunos.
Entre esses dois – a ‘Jana’ (Janaina Vieira) era uma das que persistiu.
Um dia fiquei feliz por saber que ela era filha da minha colega na reitoria da URI – Miriam Vieira. Incansável e competente funcionária.
Outro dia fiquei mais feliz ainda por saber que a ‘Jana’ tinha passado no vestibular de Contábeis da URI.
Depois soube que trabalhava no Escritório do Mores – hoje presidente da Accie.
E fico ainda mais feliz ao saber que ela se forma ao lado do namorado – Felipe -, e que ambos já estão estudando sobre finanças no Instituto Federal de Educação. Formaram-se dia 2 e três dias depois começaram novo curso.
Pois bem: alguém têm dúvidas que o sucesso na vida profissional os aguarda?
E olha, quando a realidade nos aponta que não temos uma entre as 200 maiores universidades do mundo, que cerca de 19% dos jovens entre 18 e 24 anos chegam ao ensino superior (PNAD 2009) e cerca de 11% sairiam formados -, é de saudar a conquista da ‘Jana’ e do Felipe.
Não sei quantas vezes a sombrinha da ‘Jana’ entortou ao vento sob chuva forte, ou frio intenso - para não perder uma ‘aula’ de redação com sua colega e amiga que não recordo o nome e nem onde anda. Sei das expectativas da sua mãe Miriam e da própria ‘Jana’ que não só sabia o que estava fazendo - como tinha certeza do que queria e como seria a caminhada.
Este é um exemplo de superação, assim como há outros por certo. Mas é um exemplo de como é possível superar o que parece impossível.
‘Jana’ é filha de Miriam e João Vieira e tem ainda a irmã Emily.
Felipe é filho de Neusa e Nelvo Hanauer e tem a irmã Fernanda.
Estudam há anos.
Formaram ontem.
Já estão em novo curso.
Miram o mestrado na área de finanças.
Finanças – onde sonhos e realidade do mundo se encontram, se estranham ou apaziguam. Mas sempre, invariavelmente, que repousa silenciosamente no horizonte das pessoas, das famílias, de grupos, de empresas e empresários, de trabalhadores, das cidades e estados, nações e continentes.
Finanças – sedução do mundo.

Um dia, na URI, um velho e querido amigo do CPOR e executivo de sucesso de uma grande empresa nacional, veio falar sobre dinheiro.
Lá pelas tantas, ao focar sobre as dificuldades que muitos adolescentes têm para decidir sobre que curso fazer no ensino superior ele ensinou: ‘se estiveram realmente em dúvidas, façam Ciências Contábeis. Por que, certamente, saberão lidar muito bem como o dinheiro que um dia vão ganhar. Seja ele pouco ou muito – mas saberão como aproveitá-lo’.

Mas, acima da conquista da ‘Jana’ e do Felipe, do caminho que ambos seguem e da bandeirada final, o que conta em verdade é a caminhada, a luta, o desafio, a decisão de enfrentar muitas coisas para obter um objetivo, alcançar uma conquista, contemplar um sonho, e poder afirmar-se sobre uma base sólida que pode levar a uma vida mais tranquila – tudo isto, graças ao incentivo da família e a uma dedicação que somente os detalhes do dia por dia, da caminhada inteira, podem finalizar com fidelidade o seu derradeiro e verdadeiro retrato.


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Celular na missa

1

Pelo menos uma denominação religiosa já decidiu que é proibido entrar com celular no templo. Pensando bem – acho que está certo.

2

Já faz algumas semanas, fui à missa no Seminário de Fátima.
Tudo corria normalmente, uns cuidando a roupa dos outros, um que outro cochichando ao ouvindo de outro mais, outro ainda tossindo em acesso preocupante e, sabe-se lá quantos, talvez quase todos – deixando o pensamento ao léu.
E no meio disso o padre fazendo a homilia.

3

Lá pelas tantas toca um celular.
E como a variedade de toques é ‘sem-fim’ o ‘bicho véio’ chamou a atenção mais que devia.

4

Imediatamente o dono do telefone ambulante meteu a mão no bolso e, quando eu achei que o considerado ia desligar o aparelho, não é que ele saiu pedindo licença e atendeu!
E se foi pelo corredor interno falando com seu interlocutor, enquanto o padre continuava a homilia.

5

Do jeito que a coisa vai, não estamos longe de chegarmos ao seguinte quadro.
Na comunhão o padre:
– Corpo de Cristo -,
e o cristão
– Amém.

E assim por diante:
- Corpo de Cristo.
- Amém!

Corpo de Cristo.
- Amém!

- Corpo de Cristo.
- Alô!


segunda-feira, 25 de agosto de 2014

No tempo das diligências!


BV - 1º - 8 - 2014

* Não é de hoje que o Jornal Boa Vista vem alertando sobre problemas que nos afligem. O exemplo mais recente é o artigo escrito e publicado por Egídio Lazzarotto no início deste ano, quase ‘fotografando’ uma ‘crônica de uma tragédia anunciada’ como a que vivemos hoje – isolados do centro do país.
Se tivéssemos uma representação maior que algumas cabeças acreditam que temos, talvez já estivéssemos vivendo, de fato, no século 21, sem a vergonha e a submissão de nos vermos, de forma incrivelmente real ainda dependentes de balsas, correntes, trilhas e tratores tirando caminhões de atoleiros.  
A propósito o que fizeram com o diagnóstico do Alto Uruguai assinado por 32 entidades?
Era 24 de agosto de 2004.
Portando – dez anos.
E o Boa Vista já dizia:

‘Nas asas de mais uma campanha política eleitoral, tudo que é tema ganha sangue, oxigênio e vida.
Com o turismo então...!

Não que os audaciosos e oportunos proponentes pequem por seu oportunismo, mas torna-se oportuno também explorar que a coisa está danada, não, danada é muito comum, a coisa está dolorosa.

Não resta contestação mais gordurosa de que a região Alto Uruguai tem bom potencial a ser explorado pelo turismo – mas a maldição da coisa é que ela é quase epidêmica e indolor: falta ação.

É mister escancarar a chaga: a região Alto Uruguai está fora dos mapas turísticos de massa por várias razões, mas uma salta aos olhos. Nós não temos estradas.

Quem mais têm, quem poderia melhorar suas belezas naturais como Marcelino Ramos, por exemplo?

Quem tem um vale mais acolhedor do que o Dourado?

Quem pode ofertar à vista e ao estômago, 95% de cultura, arte e gastronomia polonesa do que Áurea, Centenário, Carlos Gomes?

Quem pode mesclar à pequena, média e até grandes propriedades senão mais que a região que demanda a Paulo Bento, Jacutinga e Campinas do Sul?

Onde a colônia italiana, a colônia alemã e a judia, afora seus núcleos bem definidos nas ‘colônias velhas’ – onde eles podem ser tocados com as mãos e respirados tão proximamente como em São Valentim , Aratiba, Três Arroios, Mariano Moro, Severiano de Almeida, Erval Grande, Barra do Rio Azul e a Grande Getúlio Vargas com sua Estação, Ipiranga, Erebango...!

Alguém já reparou dos altos da RS-331 entre Gaurama e Viadutos para o vale?

Que região mais, têm três barragens de médio e grande porte?

Que região cria aves, suínos, bovinos, cabritos e até avestruz?

Que região mescla bergamotas com uvas, leite com cachaça?

Onde se vê entre italianos, alemães, poloneses, judeus e gaúchos, onde mais se vê esta fotografia acrescida de indígenas como os que se espalham de Charrua a Ventarra; de Faxinalzinho a Nonoai!

Temos trilhos que o tempo come e digere – mas não temos trem!

Não se pode desconhecer que não faltam projetos para aproveitamento da coisa pronta – mas em termos práticos o que se vê são vagões de intenções e discussões sobre quem é pai e quem é tio do filho Projeto que até aqui ainda só projeto é!

Salvo exceção a boa RS-420 de Erechim a Aratiba, pois afora esta – tente ir a Gaurama, Viadutos e Marcelino Ramos. Tente!

Quem irá no verão às barrancas do Uruguai e por que haveria de ir, se a RS-331 é um escândalo!

Por que pegar o carro e conferir a colônia polonesa e suas atrações ou a barragem do Rio Passo Fundo e suas belezas se as vias são de risco e a visão de abandono pela falta de infra-estrutura.

Depois de Aratiba até a bela Usina Itá – 18 quilômetros de pedra e buraco? Por que ir!

Como sempre estiveram as linhas vicinais de acesso entre essas comunidades interioranas – as tão ricas na matéria prima turística!

Sobre a 480 talvez fosse melhor lançar uma campanha para que a própria virasse atração turística de si - observada por via aérea. Um perfeito exemplar da nossa inoperância e incompetência regional. (Depois acabaria concluída!).

Me recuso depois de 26 anos escrevendo sobre o tema, me recuso de pedir a 480. (Como disse, depois acabaria concluída, mas hoje, anda com rachaduras. Credo!).

O que dizer da nossa decisiva iniciativa, de falta de iniciativa para agregar a região nordeste, a região do Barracão ao Alto Uruguai!?

Não... senhores! Nem pensem em desmanchar aquela extraordinária manifestação geológica produzida pelo tempo e que nos coloca em verdadeiras crateras ‘made na terra alto-uruguaiense’ quando se entra pela RS-126, ali depois de Pinhalzinho até o Barracão!

Não há dúvidas que este pedaço da geografia gaúcha, quase nas barrancas do Uruguai, não há discussão que as matérias primas essenciais para abrir, oferecer e fomentar o turismo, tais matérias as temos em abundância – mas chegar até elas é que são elas.

Mas como bons ‘macacos-de-auditório’ e primos irmãos da ignorância e do atraso não percamos a esperança: afinal, a eleição está chegando e não será por falta de falação que nos transformaremos numa próspera região turística.

E do jeito que essa história de ‘indústria sem chaminé’ vai - aqui nos nossos calcanhares; até eu acho que vou mudar de ramo: se alguma agência bancária quiser bancar um capital a fundo perdido e não a juro-Brasil-2004, eu até me habilito e, vou investir maciçamente na aquisição de uma diligência. Não – uma só é pouco. Poderia implantar uma frota já. Buracos é que não faltariam para a dita-cuja atolar. Haveria até bloqueio de estrada feito por índio e índio-índio, genuíno, made em Brazil e, por que não, claro também, por brancos!.

Que emoção: está aí o meu futuro e eu aqui querendo que acabem com o mais original e fiel dos turismos da nossa geografia. Um ar, pradarias e ruelas – tudo feito e perfeito pra quem viaja em diligência.

Mas atenção – me vem uma ideia melhor: vamos construir um forte e cercar a nossa região. Façamos dela uma espécie de Beto Carrero e não nos esqueçamos, nunca... jamais – que a condição básica, a matéria prima essencialíssima para este tipo de turismo... nós a temos e a produzimos em série: somos desorganizados, somos ridiculamente individualistas e somos, historicamente, paupérrimos em representação política junto às arenas onde as decisões de quem permanecerá no atoleiro são tomadas. 
Por isto concito: exploremos já o roteiro turístico – ‘No tempo das diligências’ – antes que algum esperto oportuno descubra este ovo de Colombo. Se for descoberto, cai numa campanha e, aí se sairá – só Deus sabe!


PS – Pegue o que nos aconteceu na última semana de junho, junte de três a cinco ou dez décadas e bata até cansar. Leve ao forno e se esquecer, fica frio. A matéria nos é extraordinariamente farta. Até por que, sobretudo, somos surpreendentemente fracos.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Os Atlangas do Manequinha!

BV – 25 – 8 - 2014




ESSES DIAS ouvi o Idylio Segundo Badalotti, gerente da rádio Difusão, comentar que havia falecido o Manequinha. Foi um ponteiro esquerdo do Ypiranga, forçando a linguagem, daqueles pontas genuínos, nascidos à beira do gramado. Talhado para jogar aberto, sobre a linha lateral, e em profundidade buscar o fundo e cruzar para o miolo da zaga – na chamada zona do agrião.

MANEQUINHA não foi um craque, mas honrou a camisa 11 do Ypiranga, entregando-se sempre ao máximo pelo seu time. Tinha uma característica pouco comum aos ponteiros: era um ponta esguio, alto, de passada larga. Jogaria hoje como um atacante pelo lado esquerdo, tanto podendo buscar a linha de fundo como atuar também mais pelo meio.

O MANEQUINHA teve seus Atlangas.
Um deles foi há 52 anos.
No dia 22 de julho de 1962.
Lá no estádio da Montanha.
Era um triangular pelo Dia do Futebol.
Ypiranga campeão. 14 de Julho em segundo e o Atlântico – lanterna.

SEGUNDO os registros de A Voz da Serra o Ypiranga, no clássico Atlanga 130, teve o domínio do meio campo e se impôs com naturalidade. Contra o 14 empatou – mas confirmou o título liquidando com o rival Atlântico no primeiro tempo.

COM ARBITRAGEM de José Pinheiro Borges, vizinho de Idylio Badalotti naqueles tempos, o Ypiranga sagrou-se campeão com Osvaldo; Gaieski, Danúbio Winithu e Bira; Breno e Celso; Assis, Bolívar, Dirceu e Manequinha. Naquele dia as árvores ao fundo das goleiras não sofreram com as bombas do Manequinha, que tinha fama de ‘desgalhador de árvores’ com seus chutes potentes quando não atingiam a meta.

FOI O ATLANGA do Manequinha porque naquela tarde de julho de 1962, na saudosa Montanha, o Manequinha obrigou o grande goleiro Miguel a buscar duas vezes a bola no fundo das redes atlantinas. E não era todo dia que um clássico Atlanga terminava com dois gols do mesmo jogador. Naquela tarde o Manequinha fez o 2 a 0 em cima do Galo Verde-Rubro e deu título do ‘Dia do Futebol’ ao canarinho – seu time do coração.

O OUTRO foi no dia 19 de agosto também de 1962. Em plena Baixada Rubra o Ypiranga fez 3 a 0 no Galo. Menos de um mês depois do 22 de julho – Manequinha voltaria a marcar mais dois gols no clássico.

PERDENDO Breno logo no início da partida, expulso, o canarinho se impôs no meio-campo. O 3 a 0 foi construído ainda no primeiro tempo. Ênio e Manequinha, outra vez com doIs gols, deram a vitória ao clube das cores nacionais. Maneco (A) e Hermes (Y) também foram expulsos. O Ypiranga jogou e venceu com: Osvaldo; Celso, Gaieski, Winithu e Bira; Breno Simão e Hermes; Assis, Bolívar, Ênio e ele - Manequinha. A renda somou Cr$ 200 mil.

IRAN MARTINS, o Manequinha, faleceu em 25 de junho, em Tubarão (SC), aos 75 anos. Deixa a esposa Neider Martins e as filhas Denise e Fabíola, gênros, além de três netos. Denise é casada com o diretor geral da URI Erechim, Paulo José Sponchiado.

NÃO SERIA descabido, seria até oportuno, o clube prestar uma homenagem ao seu ponta-esquerda do cabelo arrepiado, pernas compridas, passadas largas e chute potente. 

MANEQUINHA disputou 25 Atlangas com a camisa do Ypiranga, vencendo oito deles e empatando seis. No clássico fez oito gols.



terça-feira, 12 de agosto de 2014

Mudar princípios ou colecionar derrotas

Painel 18/07/2014
* Sobre o Brasil na Copa do Mundo

PERDEU a concentração do futebol nas mãos de poucos. PERDEU a gestão de algo sem dono.

PERDEU  a falta de punição a quem não pode ir a um estádio. PERDEU o futebol de dirigentes reféns de marginais.

PERDEU  o tratamento do futebol como se fosse uma terra de ninguém. PERDEU o ‘país do futebol’.

PERDEU o jeitinho brasileiro. PERDEU o técnico gritalhão. PERDEU a malandragem.

PERDEU  a bobagem do treino fechado. PERDEU o técnico habituado a pressionar o bandeirinha. PERDEU a enrolação de técnicos que acham que podem enganar a imprensa.

PERDEU  o amadorismo de técnicos que acham que podem enganar o adversário. PERDEU o técnico que não assume seus erros.

PERDEU  o técnico que não consegue ficar sentado no banco e nem na sua área. PERDEU o técnico que faz o feijão com arroz.

PERDEU  a imprensa ufanista. PERDEU a imprensa submissa. PERDEU o repórter que tem medo de perguntar. PERDEU o comentarista caseiro.

PERDEU  o comentarista que vê pênalti num simples encontrão. PERDEU o comentarista que vê falta quando nada foi.

PERDEU  o pessoal da imprensa que não sabe diferenciar o que é um jogo de futebol de uma partida de tênis. PERDEU a imprensa que acha que quem cai – sofreu falta.

PERDEU  o profissional da bola que acha que pode jogar deitado. PERDEU o árbitro que se deixa levar pelos malandros das quedas e das simulações.

PERDERAM o bandeirinha que ergue a bandeira quando um zagueiro levanta o bracinho pedindo impedimento. PERDERAM o árbitro que já vem com o cartão na mão, quando um afamado se esparrama e levanta o bracinho pedindo cartão.

PERDERAM o profissional de imprensa que incita: ‘acho que foi! Quero ver de novo! Acho que errou!’ – para ser estupidamente desmentido no replay. PERDERAM a comissão técnica e os reservas que se expõem saindo de seu lugar para pedir uma faltinha, um toque, um tranco, um cartão. Não é para isso que estão ali.

PERDEU  o público que dá ouvidos a narradores, repórteres e, principalmente, comentaristas do ‘nosso time’. PERDERAM narradores, repórteres e comentaristas que podem e devem ter time. Aliás – tem time. Mas nunca, jamais na hora do jogo.

PERDERAM narradores, repórteres e comentaristas que não jogam, mas que exercem, ou deviam saber que existem para exercer outra atividade, e que não tocam na bola.

PERDEU  a arbitragem que se deixa impressionar contra ou favor de qualquer pressão. PERDEU a arbitragem que não exige profissão.

PERDEU a bola comprida – rifada. PERDEU o ôba-ôba! PERDEU o esquema nunca treinado. PERDEU o esquema nunca treinado à exaustão.

PERDEU  o ‘Deus é brasileiro’. PERDEU a manha. PERDEU a inconsistência de time, de equipe, de grupo, de coletivo.

PERDEU  o time-dependência. PERDEU o time do gênio. PERDEU o ‘vamos pra dentro deles!’.

PERDEU  a falta visível de preparo físico. PERDEU a pressa – afobada. PERDEU a falta de ocupação de todo o campo.

PERDEU  a falta de jogadas ensaiadas. PERDEU o time mais baixo. PERDEU o time mais fraco. PERDEU quem acredita em sorte e azar.

PERDEU  quem credita tudo ao azar. PERDEU quem culpa o gramado. PERDEU quem culpa a bola. PERDEU quem vive puxando a história do ‘dois pesos – duas medidas’.

PERDEU  quem nunca assume nada quando perde. PERDEU a alegria nas pernas. PERDEU a bola parada.

AH – PERDEU  e como perdeu a tese da bola parada. PERDEU a improvisação.  PERDEU o escondedor de time. PERDEU o craque de treino.

PERDEU  o cracaço de amistoso. PERDEU o analista de jogo/engana/bobo. PERDEU quem arrebenta quando não vale nada ou contra o fraquinho.

PERDEU  o fugitivo de jogo. PERDEU o técnico que bota a culpa no vento. PERDEU o técnico que na coletiva pós-jogo lembra todos que estão lesionados e lesionados.

PERDEU  o rei do cartão. PERDEU o impaciente. PERDEU o que levanta os bracinhos e pede o apoio da torcida como se ela pudesse entrar em campo, e não errar o gol que perna-de-pau erra.

PERDEU  o omisso. PERDEU o inconsequente que só reclama do árbitro. PERDEU o capitão que nunca intervém chamando a atenção de seus companheiros.

PERDEU  o técnico que não sabe o ‘banco’ que tem. PERDEU o técnico que manda ‘chegar junto’. PERDEU o técnico que não estuda futebol. PERDEU o técnico e o grupo que não leem. PERDEU o técnico que se acha perseguido por árbitros e arbitragens.

PERDEU  o jogador de bola que desiste fácil do lance. PERDEU o jogador cai/cai. PERDEU quem se estatela escandalosamente, e desperdiça chance viva de gol.

PERDEU  a prepotência. PERDEU a falta de educação. PERDEU o apelo grotesco e o ‘pardalismo’ de última hora. PERDEU o goleiro que sai jogando no balão.

PERDEU  o micuim que sofre um choque e sai rolando como quem sofre um ataque de morte. PERDEU o dirigente que paga o que paga porque o clube não é seu.

PERDEU o cartolismo.  PERDEU a politicagem no futebol. PERDEU a distinção de camisa.

PERDEU a mão na cabeça do sem-compromisso. PERDEU o ingresso o futebol show. PERDEU o futebol de circo.

PERDEU a coroa quem já foi rei. PERDEU a imprensa que transforma medíocres em bons, bons em muito bons, muito bons e craques.

PERDEU  quem cobra futebol de primeira, ficou em quarto, e faz futebol de quinta. PERDEU a ginga brasileira. PERDEU o boné.

PERDEU  o corte de cabelo mais descabelado. PERDEU o bracinho mais tatuado. PERDEU o corpinho mais enfeitado. PERDEU o fonezinho.

PERDEU  o escravo celular. PERDEU o boçal. PERDEU o segurança de perna-de-pau. PERDEU o assessor de imprensa de comuns. PERDEU a orelha emoldurada de brincos.

PERDEU  o correntão. PERDEU o boleiro rei-da-maca. PERDEU o craque do chinelinho.

PERDEU  o que não tem personalidade própria. PERDEU o que não tem coragem de assumir a derrota. PERDEU o que não vê na derrota a chance de melhorar, recuperar e vencer.

PERDEU o sabe tudo. PERDEU o que acha que celebridade não treina. PERDEU o que acha que celebridade não ensaia. PERDEU o que acha que celebridade não tem humildade.

PERDEU  o que acha que seu ‘dom’ basta. PERDEU o técnico paizão. PERDEU o técnico turrão. PERDEU o lento. PERDEU o que espera a bola no pé.

PERDEU  o levantador de bracinho pedindo impedimento achando que é o dono do jogo. PERDEU o que quer levar a bola pra casa. PERDEU o dirigente que não cobra da sua comissão técnica.

PERDEU  o dirigente que endossa a reclamação de seus comandados. PERDEU o dirigente que não sabe que o futebol é paixão – mas que as decisões jamais podem prescindir da razão.

PERDEU  quem acha que do outro lado não tem outro time, outros profissionais e com a mesma ambição. PERDEU o ‘parece’ que houve o pênalti, ‘parece’ que o atacante tinha condições, ‘parece’ que o jogador foi tocado dentro da área, ‘parece’ que a bola ainda não tinha saído, ‘parece’ que era lance para cartão vermelho’...

PERDEU  o ‘parece’. PERDEU o craque de botão. PERDEU o craque de impostores do futebol. PERDEU o Marketing de interesse pessoal/comercial.

PERDEU  a indústria do entretenimento/comercial. PERDEU o futebol de horário de boate. PERDEU o futebol de vinho de garrafão ao sol, de preço de garrafa de vinho francês.

PERDEU  a escolinha de base que não ensina fundamento. PERDEU a escolinha de base que não fiscalização, de sério, a escola do garoto. PERDEU a escolinha de base que prioriza o filho do compadre, da filha do tio, da vó, da madrinha, do vizinho.

PERDEU  o esquema - ‘bota quem tem mercado’. PERDEU a escolinha de base que busca título. PERDEU a escolinha que não busca a formação. PERDEU o descontrole emocional.

PERDEU  a falta de equilíbrio. PERDEU a falta de respeito ao planejamento. PERDEU o respeito à necessidade de organização. PERDEU o despreparo à adversidade.

PERDEU a incapacidade de mudar. PERDEU a capacidade poder alterar um panorama. PERDEU a força do coletivo. PERDEU a ilusão do ‘vai que dá – é nosso’.

PERDEU a firula. PERDEU o rei da caneta inútil. PERDEU a cobrança burra da imprensa para resultados imediatos de campo. PERDEU a fala emotiva e irreal de torcedores em cima de um resultado.

PERDEU  a falta de serenidade. PERDEU a falta de paciência com técnicos. PERDEU a seriedade. PERDEU a concentração. PERDEU o foco.

PERDEU  a falta de humildade e o excesso de egocentrismo. PERDEU o futebol como esporte. PERDEU o passado. PERDEU o atraso. PERDEU o imediatismo. PERDEU o falso patriotismo.

PERDEU  o amadorismo. VENCEU - o profissionalismo!




Pag 07
AINDA CHEIAS 1 – Pois, muito se discutiu sobre se a enchente do final de junho passado ou a maior dos últimos anos, dos últimos tempos, da última década ou se foi a maior de todas. Falaram em 1983, 1965, 1963...     

AINDA CHEIAS 2 – Recorro a uma informação que considero poder ajudar a esclarecer o assunto e busco na memória.

AINDA CHEIAS 3 – Dos 7 aos 15 anos passava as férias de julho e depois de verão em Sede Dourado , na casa de tios e primos, virando literalmente um colono. Naquele tempo – colono era um termo que dava orgulho, hoje, é ofensivo. Sinal dos tempos. Aparentemente é tudo diferente – mas igual.

AINDA AS CHEIAS 4 – Aos domingos todos íamos à missa na vila. Eram quatro quilômetros a pé e a passagem, ida e volta, sobre a temível pinguela, hoje ‘ponte pênsil’. Sinal dos tempos – aparentemente é tudo diferente, mas igual.

AINDA AS CHEIAS 5 – A pinguela ‘afundava’ a cada passo e jogava para os dois lados. Lá embaixo o estarrecedor barulho das águas do Dourado contra as pedras.

AINDA AS CHEIAS 6 – Havia dois pontos com pinguelas sobre o Dourado. De anos em anos notava que a ponta estava nova. Tinha sido recuperada. Uma ou outra tábua fora trocada. Não suportava as velhacarias do tempo. Muitas vezes, em tempos de cheias, se falava que a água chegara até mais da metade do leito, quase tocando o chão da pinguela. Nossa!

AINDA AS CHEIAS 7 – Esta semana fiquei sabendo duas coisas sobre as pinguelas do Dourado. Uma: teriam entre quase 70 anos as pinguelas. Isso mesmo. Uma vida cheia. Outra: quando as águas do Dourado baixaram na semana passada – as pinguelas não estavam mais lá.

AINDA AS CHEIAS 8 - Para mim isso resume tudo sobre as cheias de junho de 2014. Não discuto com ninguém qual foi a maior. Cito isso – e viro a página. Setenta anos aguentando enchentes. Na de 2014 – sumiram.  


Tempos de Balsa
MEMORÁVEIS foram sem dúvida nenhuma os tempos em que toras e madeiras de grande valor pegaram carona nas balsas da costa do Alto Uruguai, descendo rio abaixo rumo a Buenos Aires é o que se diz.

DE LÁ, a economia produzida sem custo pela natureza, viajava para a Europa. Que finos móveis, cômodos e casas as madeiras do Alto Uruguai devem ter proporcionado aos europeus!?

HÁ UM vídeo na internet que fala sobre a história de balseiros a partir de Chapecó rumo ao Porto Goio En. Os pinheiros despencavam sob gritos de saudação.

DE LÁ eram levadas às serrarias e transformadas em finas tábuas. E depois, classificadas e rumo à beira do Uruguai onde, gloriosamente, eram amarradas formando balsas.

HÁ QUEM garanta que sobre as balsas via-se, além de homens destemidos é claro, fogão a lenha, vaca de leite, cachorros, camas e banheiros, roupas estendidas. Era uma viagem e tanto.

VIRADA A PÁGINA dos balseiros veio o caminhão e o carro de passeio. E como atravessar o rio Uruguai? Como chegar a Santa Catarina? Pela estrada de ferro de Marcelino Ramos! Construída em 1910, foi levada antes de finalizada, por uma enchente. Mas em 1913 a ponte de ferro de 500 metros de extensão estava pronta.

FINALMENTE tínhamos na nossa região uma travessia confiável, segura, útil e próxima de Erechim. Estávamos no Brasil.

DURANTE os anos seguintes, no entanto, uma balsa jamais deixou de cumprir seu papel. Como o rio ali de certa forma se represa por conta do Lago Itá, o rio elevou-se um pouco, ficou mais manso e, depois com a BR 153 tanto a ponte rodoferroviária quanto a balsa assistiram uma queda no requisito das suas utilidades.

COM A BR 153 e o crescimento natural de Erechim, a evolução do transporte sobre quatro rodas e a desativação (escancarando toda a burrice de um país que vislumbra desenvolver-se) também a BR começou a ficar sobrecarregada.

UM DIA a BR ficou tão encharcada que cedeu e caiu perto do Estreito. Ficou meses sem poder ser usada na sua plenitude e passar por lá era perigoso. Remendaram daqui e dali e deram condições.

OUTRO DIA, agora em junho de 2014 a enxurrada veio com jeito de maior de todas, pelo menos até onde as aferições alcançam. E aí a estrada não agüentou e rachou em dois pontos. Vai exigir dois desvios chegando a 600 metros de desvio.

E DE SORTE que de 30 a 45 dias ninguém sai e ninguém entra no estado pela BR 153 naqueles pontos.
 
TORCEDORES argentinos que vieram ao Brasil passando por Erechim e Marcelino Ramos não levaram o título – mas podem contar uma história que talvez seus filhos se encantem. Para atravessar o rio Uruguai no progressista Alto Uruguai, arriscaram-se sobre uma ponte rodoferroviária – cheia de tábuas e pregos soltos no assoalho, ou, bebendo da experiência dos balseiros que há 101 anos levavam tábuas para Buenos Aires.

ENQUANTO isso a 420 trancada e em Erval Grande, a comunidade cortando um potreiro para fazer um desvio. E viva o Alto Uruguai!


quarta-feira, 6 de agosto de 2014

De dr.sergiomaccagnini@ceu para analoliveira.viceprefeita@terra



BV - 10 - 7 - 2014


‘Minhas cordiais saudações.
Como podes notar estou usando outro endereço eletrônico, o meu profissional médico e, de sorte que também o faço à senhora vice-prefeita. Despolitizo a missiva por razões óbvias, porquanto o assunto assim o exige. Ele está acima das nossas identidades, interesses ou ambições políticas.
É um tema que me comove enquanto médico e, mais ainda, enquanto crítico dos que usam e abusam dos boa-fé, dos sem-boca, dos simples - crentes incuráveis dos seus ‘superiores’. E, confortados no desconforto do abandono e da amargura humanas sempre dóceis e doces seres humanos.

Refiro-me, minha cara vice-prefeita e sei que vossa excelência compartilha desta mesma minha visão e sentimento, pois, reporto-me à vida humana, à preservação da vida humana – algo que, serei franco, mas não sei se acerto; ninguém em autoridade no nosso município pode ser acusado de dar às costas.
Mas há um porém.

Vossa Excelência que tem uma vida conjugal de anos com um médico, como eu também o fui e, uma vez médico – sempre tratando de exercer a missão com integridade, dedicação-sem-hora, respeito, amor e magnanimidade. Quero crer que vossa excelência, com absoluta certeza não sabe do tema e, por isso tomo a liberdade de informá-la.

Como é público, às vezes, Aqui De Cima, quase sempre vemos o que nem sempre aos olhos humanos é perceptível. O dr. Antônio, do nosso partido – e que apartou-se do mesmo (por que será excelência?), mas, em 1994 enquanto prefeito fez o que ninguém ousara fazer por aí: comprou o Hospital Santa Terezinha com o claro fito de dar aos mais carentes a atenção que à época entendia-se uma necessidade imperiosa na cidade de todos nós.

Sucederam-se prefeitos e, cada um a seu estilo, foi administrando e quebrando os galhos diários que a Casa de Saúde do Povo, acusava diariamente. O que interessa é que o hospital se expande e, a despeito de todos os desafios que a área de saúde impõe, de manhã, à tarde e à noite, todos os dias, de todas as semanas, de todos os meses, anos e décadas – ‘o Santa’ vai desempenhando sua atividade-fim sob elogios e críticas. Não vou me ater ao balanço, à peça da radioterapia (terceirizada!?) que quebrou duas vezes mandando dezenas de pessoas a Passo Fundo por quase um ano e nem a limitações contra um ou outro profissional, ou até aos CCs que o hospital acomoda. E nem também aos prêmios que o ‘Santa’ acumula nestes seus 20 anos. Nossa Senhora de Fátima ! - já se deu conta que este ano o hospital faz 20 anos?!

Minha observação é mais uma vez prolixa, como o dr. Lânius certa feita observou sobre alguns escritos do velho amigo Ody que um dia lhe disse na cara, lá no HC, que era do PFL, mas depois me arrependi porquanto sempre me tratou com respeito e só mais tarde vim a entender na plenitude o que ele queria dizer, até nos ‘alertando em entrelinhas’... -, pois minha prezada vice-prefeita, desta feita esta missiva é prolixa, para quem sabe; a ação ser imediata.


Sabemos todos que o hospital recebe mais gente do que pode, que faz tudo que pode, que tem uma administração através do senhor Ayub, pró-ativa, e que mesmo assim sempre pode sobrar um senão.

Na condição de peemedebista histórico, correligionário, e advogado parceiro de vossa excelência quanto à bem-querença de todo e qualquer ser humano, peço-lhe que o Hospital Santa Terezinha, nos casos de pacientes terminais, que lhes seja encontrado um espaço condizente com tal condição. Esses pacientes e seus familiares não podem acrescer à dor do sofrimento da fragilidade humana e, da morte iminente, tudo isso em um mesmo espaço, um mesmo quarto onde estão outros três pacientes, igualmente recolhidos às suas próprias dores e sofrimentos também confortados por seus parentes e amigos – desconfortadamente.

Na condição de médico não consigo compreender como pode se dar a recuperação de alguém que é obrigado à conviver a dois metros de um outro ser humano que agoniza arfando em busca de mais uma lufada de ar que lhe dê mais um segundo de vida. Francamente isso me é humanamente incompreensível, embora entenda as fragilidades do sistema que submissa nossas Casas de Saúde. Mas isto, perdoe-me excelência, isto ultrapassa o mais paupérrimo sistema de saúde que um país pode ter. Similaridade encontre-se talvez nos ‘hospitais de campanha em tempos e picos de guerra’; mas nestes casos a compreensão contextual cai como luva atenuante em mãos de pilica, dir-se-ia nos meus áureos tempos de quase medicina familiar.

Conforta senhora vice-prefeita, observar o denodo e o amor dispensados pelos queridos e, nem sempre devidamente reconhecidos, corpos da enfermagem e, no caso em tela ao qual me reservo o direito de preservar nomes até em respeito ao paciente tendo que falecer em condições tão adversas e seus parentes.

Também entendo que não seja falha administrativa – mas, fazendo vistas grossas à qualquer responsabilidade pontual, embora sublinhe que ninguém possa admitir uma situação dessas como regra, mesmo em um regime que privilegie uma Copa do Mundo em detrimento a uma situação semelhante e que deve multiplicar-se país afora, o que interessa, prolixa ou objetivamente; é que Casa de Saúde que um prefeito afiliado nosso ousou comprar para melhor atender a nossa população (e isto é um fato incontestável comprovado nestas duas décadas do feito desafiador), é que o Hospital Santa Terezinha, contra todas as adversidades públicas e notórias, encontre uma solução para uma situação como a que acabo de narrar. Não sei se o caso foi fato isolado, mas ele - mesmo se único, estarrece, e precisa de uma ação imediata para dar direito a uma despedida de quem sofre no leito ou à beira dele – mais justa, mais digna, mais humana. Observe - minha estimada vice-prefeita: irônica e tristemente a tríade que todos, de todos os partidos que se apresentam como candidatos a uma vez eleitos, exibem. Exibem-na prometendo uma vida mais justa, mais digna, mais humana. E o que constato? – quando a vida começa a dar suas últimas voltas para dar lugar à morte, a tríade sonega sua presença, provavelmente amputada pelo Sistema Único, o que não exime a Casa de uma ação pontual, porque não foi para isso que nos expusemos à crítica principalmente de quem tudo tem – até na hora da morte.  

Em nome de todas as cores partidárias Daqui De Cima, do bairro Erechim; e, tenho certeza, daí de baixo – porque como disse este assunto não faz distinções -, rogo-lhe, excelência: promova a ação mais justa, mais digna, a mais humana e a mais urgente possível, mesmo que esta seja na hora da despedida daí para Juntar-se a Nós Aqui – especialmente, porquanto, dentro do ‘Santa’ que administramos com todas suas mazelas, mas que há duas décadas demos de presente à nossa gente e cujos serviços prestados, inclusive na gestão de vossa excelência, são magnânimos à imensa maioria dos desafortunados de herança, conquista pessoal ou nome.

Com o devido perdão, porquanto acho que já me fiz entender, permita-me ser um pouco mais fiel à realidade senhora vice-prefeita, até porque, como já disse, tenho a mais absoluta convicção que a senhora pode estar sendo apanhada de surpresa e em absoluto compartilha de uma situação como essa. Mas como pode um ser humano receber a extrema-unção, com o irmão tendo que segurar o óleo e o resto da família rezando com o padre – tudo isso diante de outros três pacientes com parentes e amigos, cada um acreditando na cura!? Perdoe-me minha cara Ana Lúcia, mas como profissional da área não compreendo uma situação dessas, talvez, porque no ‘meu tempo’ alguns tipos de respeito vinham incrustados no diploma. Hoje, observando um caso assim, e em um hospital coberto de premiações, assaltam-me curiosidades que nem sei por onde começar. 

Na certeza de ações imediatas e providenciais - não de caça às bruxas, mas, talvez de reconhecimento aos que fazem o possível e o impossível no silêncio, no anonimato quase, como é o caso dos profissionais do Santa, dando-lhes condições reais de poderem desempenhar mais plenamente suas atividades profissionais, também preservando-os da convivência dolorosa em quadros dessa ordem -; de antemão, agradeço-lhe em nome de todos nós Daqui do Bairro Erechim – Céu e de quem está prestes a se unir a nós. E, creia, excelência, também estes lhe agradecem.

Saudações eternas,
Dr. Sergio’.     


PS – O dr. Comandante Kramer não tem dormido bem. Anda preocupado com o estado da avenida à qual empresta o nome. Desconfia que está no Plano de Revitalização do Mato da Comissão, passando de avenida pública à trilha da Unidade de Conservação. A Carlinda e eu tentamos tranqüilizá-lo com uma cópia do projeto – mas parece que aí piorou. Puxei meu receituário e ministrei-lhe uma boa combinação hiptónica de razoável poder. Parece que ajudou, mas em parte. Tem dormido melhor; mas deu agora a falar durante o sono. Não passa uma noite onde não é flagrado balbuciando: ‘socorro. Ajudem-me. O avião não caiu – mas estou num buraco. Socorro. É Comandante K. Tirem-me daqui!’. E aí, inexplicavelmente, desata a, a, a... como se diz agora... a, a... kkkkkkkkkkkkkkkkkkk-rsssssssssssssss, vira-se para o outro lado e dorme. No dia seguinte, quando tomamos café e jogamos xadrez, pede-me baixinho se é normal sonhar todas as noites o mesmo sonho. Vou desligar o computador e até o celular. Acabo de receber a visita do doutor Hipócrates – aquele do juramento. Diz que o assunto é sério! Saudações.