terça-feira, 12 de agosto de 2014

Mudar princípios ou colecionar derrotas

Painel 18/07/2014
* Sobre o Brasil na Copa do Mundo

PERDEU a concentração do futebol nas mãos de poucos. PERDEU a gestão de algo sem dono.

PERDEU  a falta de punição a quem não pode ir a um estádio. PERDEU o futebol de dirigentes reféns de marginais.

PERDEU  o tratamento do futebol como se fosse uma terra de ninguém. PERDEU o ‘país do futebol’.

PERDEU o jeitinho brasileiro. PERDEU o técnico gritalhão. PERDEU a malandragem.

PERDEU  a bobagem do treino fechado. PERDEU o técnico habituado a pressionar o bandeirinha. PERDEU a enrolação de técnicos que acham que podem enganar a imprensa.

PERDEU  o amadorismo de técnicos que acham que podem enganar o adversário. PERDEU o técnico que não assume seus erros.

PERDEU  o técnico que não consegue ficar sentado no banco e nem na sua área. PERDEU o técnico que faz o feijão com arroz.

PERDEU  a imprensa ufanista. PERDEU a imprensa submissa. PERDEU o repórter que tem medo de perguntar. PERDEU o comentarista caseiro.

PERDEU  o comentarista que vê pênalti num simples encontrão. PERDEU o comentarista que vê falta quando nada foi.

PERDEU  o pessoal da imprensa que não sabe diferenciar o que é um jogo de futebol de uma partida de tênis. PERDEU a imprensa que acha que quem cai – sofreu falta.

PERDEU  o profissional da bola que acha que pode jogar deitado. PERDEU o árbitro que se deixa levar pelos malandros das quedas e das simulações.

PERDERAM o bandeirinha que ergue a bandeira quando um zagueiro levanta o bracinho pedindo impedimento. PERDERAM o árbitro que já vem com o cartão na mão, quando um afamado se esparrama e levanta o bracinho pedindo cartão.

PERDERAM o profissional de imprensa que incita: ‘acho que foi! Quero ver de novo! Acho que errou!’ – para ser estupidamente desmentido no replay. PERDERAM a comissão técnica e os reservas que se expõem saindo de seu lugar para pedir uma faltinha, um toque, um tranco, um cartão. Não é para isso que estão ali.

PERDEU  o público que dá ouvidos a narradores, repórteres e, principalmente, comentaristas do ‘nosso time’. PERDERAM narradores, repórteres e comentaristas que podem e devem ter time. Aliás – tem time. Mas nunca, jamais na hora do jogo.

PERDERAM narradores, repórteres e comentaristas que não jogam, mas que exercem, ou deviam saber que existem para exercer outra atividade, e que não tocam na bola.

PERDEU  a arbitragem que se deixa impressionar contra ou favor de qualquer pressão. PERDEU a arbitragem que não exige profissão.

PERDEU a bola comprida – rifada. PERDEU o ôba-ôba! PERDEU o esquema nunca treinado. PERDEU o esquema nunca treinado à exaustão.

PERDEU  o ‘Deus é brasileiro’. PERDEU a manha. PERDEU a inconsistência de time, de equipe, de grupo, de coletivo.

PERDEU  o time-dependência. PERDEU o time do gênio. PERDEU o ‘vamos pra dentro deles!’.

PERDEU  a falta visível de preparo físico. PERDEU a pressa – afobada. PERDEU a falta de ocupação de todo o campo.

PERDEU  a falta de jogadas ensaiadas. PERDEU o time mais baixo. PERDEU o time mais fraco. PERDEU quem acredita em sorte e azar.

PERDEU  quem credita tudo ao azar. PERDEU quem culpa o gramado. PERDEU quem culpa a bola. PERDEU quem vive puxando a história do ‘dois pesos – duas medidas’.

PERDEU  quem nunca assume nada quando perde. PERDEU a alegria nas pernas. PERDEU a bola parada.

AH – PERDEU  e como perdeu a tese da bola parada. PERDEU a improvisação.  PERDEU o escondedor de time. PERDEU o craque de treino.

PERDEU  o cracaço de amistoso. PERDEU o analista de jogo/engana/bobo. PERDEU quem arrebenta quando não vale nada ou contra o fraquinho.

PERDEU  o fugitivo de jogo. PERDEU o técnico que bota a culpa no vento. PERDEU o técnico que na coletiva pós-jogo lembra todos que estão lesionados e lesionados.

PERDEU  o rei do cartão. PERDEU o impaciente. PERDEU o que levanta os bracinhos e pede o apoio da torcida como se ela pudesse entrar em campo, e não errar o gol que perna-de-pau erra.

PERDEU  o omisso. PERDEU o inconsequente que só reclama do árbitro. PERDEU o capitão que nunca intervém chamando a atenção de seus companheiros.

PERDEU  o técnico que não sabe o ‘banco’ que tem. PERDEU o técnico que manda ‘chegar junto’. PERDEU o técnico que não estuda futebol. PERDEU o técnico e o grupo que não leem. PERDEU o técnico que se acha perseguido por árbitros e arbitragens.

PERDEU  o jogador de bola que desiste fácil do lance. PERDEU o jogador cai/cai. PERDEU quem se estatela escandalosamente, e desperdiça chance viva de gol.

PERDEU  a prepotência. PERDEU a falta de educação. PERDEU o apelo grotesco e o ‘pardalismo’ de última hora. PERDEU o goleiro que sai jogando no balão.

PERDEU  o micuim que sofre um choque e sai rolando como quem sofre um ataque de morte. PERDEU o dirigente que paga o que paga porque o clube não é seu.

PERDEU o cartolismo.  PERDEU a politicagem no futebol. PERDEU a distinção de camisa.

PERDEU a mão na cabeça do sem-compromisso. PERDEU o ingresso o futebol show. PERDEU o futebol de circo.

PERDEU a coroa quem já foi rei. PERDEU a imprensa que transforma medíocres em bons, bons em muito bons, muito bons e craques.

PERDEU  quem cobra futebol de primeira, ficou em quarto, e faz futebol de quinta. PERDEU a ginga brasileira. PERDEU o boné.

PERDEU  o corte de cabelo mais descabelado. PERDEU o bracinho mais tatuado. PERDEU o corpinho mais enfeitado. PERDEU o fonezinho.

PERDEU  o escravo celular. PERDEU o boçal. PERDEU o segurança de perna-de-pau. PERDEU o assessor de imprensa de comuns. PERDEU a orelha emoldurada de brincos.

PERDEU  o correntão. PERDEU o boleiro rei-da-maca. PERDEU o craque do chinelinho.

PERDEU  o que não tem personalidade própria. PERDEU o que não tem coragem de assumir a derrota. PERDEU o que não vê na derrota a chance de melhorar, recuperar e vencer.

PERDEU o sabe tudo. PERDEU o que acha que celebridade não treina. PERDEU o que acha que celebridade não ensaia. PERDEU o que acha que celebridade não tem humildade.

PERDEU  o que acha que seu ‘dom’ basta. PERDEU o técnico paizão. PERDEU o técnico turrão. PERDEU o lento. PERDEU o que espera a bola no pé.

PERDEU  o levantador de bracinho pedindo impedimento achando que é o dono do jogo. PERDEU o que quer levar a bola pra casa. PERDEU o dirigente que não cobra da sua comissão técnica.

PERDEU  o dirigente que endossa a reclamação de seus comandados. PERDEU o dirigente que não sabe que o futebol é paixão – mas que as decisões jamais podem prescindir da razão.

PERDEU  quem acha que do outro lado não tem outro time, outros profissionais e com a mesma ambição. PERDEU o ‘parece’ que houve o pênalti, ‘parece’ que o atacante tinha condições, ‘parece’ que o jogador foi tocado dentro da área, ‘parece’ que a bola ainda não tinha saído, ‘parece’ que era lance para cartão vermelho’...

PERDEU  o ‘parece’. PERDEU o craque de botão. PERDEU o craque de impostores do futebol. PERDEU o Marketing de interesse pessoal/comercial.

PERDEU  a indústria do entretenimento/comercial. PERDEU o futebol de horário de boate. PERDEU o futebol de vinho de garrafão ao sol, de preço de garrafa de vinho francês.

PERDEU  a escolinha de base que não ensina fundamento. PERDEU a escolinha de base que não fiscalização, de sério, a escola do garoto. PERDEU a escolinha de base que prioriza o filho do compadre, da filha do tio, da vó, da madrinha, do vizinho.

PERDEU  o esquema - ‘bota quem tem mercado’. PERDEU a escolinha de base que busca título. PERDEU a escolinha que não busca a formação. PERDEU o descontrole emocional.

PERDEU  a falta de equilíbrio. PERDEU a falta de respeito ao planejamento. PERDEU o respeito à necessidade de organização. PERDEU o despreparo à adversidade.

PERDEU a incapacidade de mudar. PERDEU a capacidade poder alterar um panorama. PERDEU a força do coletivo. PERDEU a ilusão do ‘vai que dá – é nosso’.

PERDEU a firula. PERDEU o rei da caneta inútil. PERDEU a cobrança burra da imprensa para resultados imediatos de campo. PERDEU a fala emotiva e irreal de torcedores em cima de um resultado.

PERDEU  a falta de serenidade. PERDEU a falta de paciência com técnicos. PERDEU a seriedade. PERDEU a concentração. PERDEU o foco.

PERDEU  a falta de humildade e o excesso de egocentrismo. PERDEU o futebol como esporte. PERDEU o passado. PERDEU o atraso. PERDEU o imediatismo. PERDEU o falso patriotismo.

PERDEU  o amadorismo. VENCEU - o profissionalismo!




Pag 07
AINDA CHEIAS 1 – Pois, muito se discutiu sobre se a enchente do final de junho passado ou a maior dos últimos anos, dos últimos tempos, da última década ou se foi a maior de todas. Falaram em 1983, 1965, 1963...     

AINDA CHEIAS 2 – Recorro a uma informação que considero poder ajudar a esclarecer o assunto e busco na memória.

AINDA CHEIAS 3 – Dos 7 aos 15 anos passava as férias de julho e depois de verão em Sede Dourado , na casa de tios e primos, virando literalmente um colono. Naquele tempo – colono era um termo que dava orgulho, hoje, é ofensivo. Sinal dos tempos. Aparentemente é tudo diferente – mas igual.

AINDA AS CHEIAS 4 – Aos domingos todos íamos à missa na vila. Eram quatro quilômetros a pé e a passagem, ida e volta, sobre a temível pinguela, hoje ‘ponte pênsil’. Sinal dos tempos – aparentemente é tudo diferente, mas igual.

AINDA AS CHEIAS 5 – A pinguela ‘afundava’ a cada passo e jogava para os dois lados. Lá embaixo o estarrecedor barulho das águas do Dourado contra as pedras.

AINDA AS CHEIAS 6 – Havia dois pontos com pinguelas sobre o Dourado. De anos em anos notava que a ponta estava nova. Tinha sido recuperada. Uma ou outra tábua fora trocada. Não suportava as velhacarias do tempo. Muitas vezes, em tempos de cheias, se falava que a água chegara até mais da metade do leito, quase tocando o chão da pinguela. Nossa!

AINDA AS CHEIAS 7 – Esta semana fiquei sabendo duas coisas sobre as pinguelas do Dourado. Uma: teriam entre quase 70 anos as pinguelas. Isso mesmo. Uma vida cheia. Outra: quando as águas do Dourado baixaram na semana passada – as pinguelas não estavam mais lá.

AINDA AS CHEIAS 8 - Para mim isso resume tudo sobre as cheias de junho de 2014. Não discuto com ninguém qual foi a maior. Cito isso – e viro a página. Setenta anos aguentando enchentes. Na de 2014 – sumiram.  


Tempos de Balsa
MEMORÁVEIS foram sem dúvida nenhuma os tempos em que toras e madeiras de grande valor pegaram carona nas balsas da costa do Alto Uruguai, descendo rio abaixo rumo a Buenos Aires é o que se diz.

DE LÁ, a economia produzida sem custo pela natureza, viajava para a Europa. Que finos móveis, cômodos e casas as madeiras do Alto Uruguai devem ter proporcionado aos europeus!?

HÁ UM vídeo na internet que fala sobre a história de balseiros a partir de Chapecó rumo ao Porto Goio En. Os pinheiros despencavam sob gritos de saudação.

DE LÁ eram levadas às serrarias e transformadas em finas tábuas. E depois, classificadas e rumo à beira do Uruguai onde, gloriosamente, eram amarradas formando balsas.

HÁ QUEM garanta que sobre as balsas via-se, além de homens destemidos é claro, fogão a lenha, vaca de leite, cachorros, camas e banheiros, roupas estendidas. Era uma viagem e tanto.

VIRADA A PÁGINA dos balseiros veio o caminhão e o carro de passeio. E como atravessar o rio Uruguai? Como chegar a Santa Catarina? Pela estrada de ferro de Marcelino Ramos! Construída em 1910, foi levada antes de finalizada, por uma enchente. Mas em 1913 a ponte de ferro de 500 metros de extensão estava pronta.

FINALMENTE tínhamos na nossa região uma travessia confiável, segura, útil e próxima de Erechim. Estávamos no Brasil.

DURANTE os anos seguintes, no entanto, uma balsa jamais deixou de cumprir seu papel. Como o rio ali de certa forma se represa por conta do Lago Itá, o rio elevou-se um pouco, ficou mais manso e, depois com a BR 153 tanto a ponte rodoferroviária quanto a balsa assistiram uma queda no requisito das suas utilidades.

COM A BR 153 e o crescimento natural de Erechim, a evolução do transporte sobre quatro rodas e a desativação (escancarando toda a burrice de um país que vislumbra desenvolver-se) também a BR começou a ficar sobrecarregada.

UM DIA a BR ficou tão encharcada que cedeu e caiu perto do Estreito. Ficou meses sem poder ser usada na sua plenitude e passar por lá era perigoso. Remendaram daqui e dali e deram condições.

OUTRO DIA, agora em junho de 2014 a enxurrada veio com jeito de maior de todas, pelo menos até onde as aferições alcançam. E aí a estrada não agüentou e rachou em dois pontos. Vai exigir dois desvios chegando a 600 metros de desvio.

E DE SORTE que de 30 a 45 dias ninguém sai e ninguém entra no estado pela BR 153 naqueles pontos.
 
TORCEDORES argentinos que vieram ao Brasil passando por Erechim e Marcelino Ramos não levaram o título – mas podem contar uma história que talvez seus filhos se encantem. Para atravessar o rio Uruguai no progressista Alto Uruguai, arriscaram-se sobre uma ponte rodoferroviária – cheia de tábuas e pregos soltos no assoalho, ou, bebendo da experiência dos balseiros que há 101 anos levavam tábuas para Buenos Aires.

ENQUANTO isso a 420 trancada e em Erval Grande, a comunidade cortando um potreiro para fazer um desvio. E viva o Alto Uruguai!