Painel 18/07/2014
* Sobre o Brasil na Copa do Mundo
PERDEU a concentração do
futebol nas mãos de poucos. PERDEU a gestão de algo sem dono.
PERDEU a falta de punição a quem não pode ir a um
estádio. PERDEU o futebol de dirigentes reféns de marginais.
PERDEU o tratamento do futebol como se fosse uma
terra de ninguém. PERDEU o ‘país do futebol’.
PERDEU o jeitinho
brasileiro. PERDEU o técnico gritalhão. PERDEU a malandragem.
PERDEU a bobagem do treino fechado. PERDEU o técnico
habituado a pressionar o bandeirinha. PERDEU a enrolação de técnicos que acham
que podem enganar a imprensa.
PERDEU o amadorismo de técnicos que acham que podem
enganar o adversário. PERDEU o técnico que não assume seus erros.
PERDEU o técnico que não consegue ficar sentado no
banco e nem na sua área. PERDEU o técnico que faz o feijão com arroz.
PERDEU a imprensa ufanista. PERDEU a imprensa
submissa. PERDEU o repórter que tem medo de perguntar. PERDEU o comentarista
caseiro.
PERDEU o comentarista que vê pênalti num simples
encontrão. PERDEU o comentarista que vê falta quando nada foi.
PERDEU o pessoal da imprensa que não sabe diferenciar
o que é um jogo de futebol de uma partida de tênis. PERDEU a imprensa que acha
que quem cai – sofreu falta.
PERDEU o profissional da bola que acha que pode jogar
deitado. PERDEU o árbitro que se deixa levar pelos malandros das quedas e das
simulações.
PERDERAM o bandeirinha que
ergue a bandeira quando um zagueiro levanta o bracinho pedindo impedimento.
PERDERAM o árbitro que já vem com o cartão na mão, quando um afamado se
esparrama e levanta o bracinho pedindo cartão.
PERDERAM o profissional de
imprensa que incita: ‘acho que foi! Quero ver de novo! Acho que errou!’ – para
ser estupidamente desmentido no replay. PERDERAM a comissão técnica e os
reservas que se expõem saindo de seu lugar para pedir uma faltinha, um toque,
um tranco, um cartão. Não é para isso que estão ali.
PERDEU o público que dá ouvidos a narradores,
repórteres e, principalmente, comentaristas do ‘nosso time’. PERDERAM
narradores, repórteres e comentaristas que podem e devem ter time. Aliás – tem
time. Mas nunca, jamais na hora do jogo.
PERDERAM narradores,
repórteres e comentaristas que não jogam, mas que exercem, ou deviam saber que
existem para exercer outra atividade, e que não tocam na bola.
PERDEU a arbitragem que se deixa impressionar contra
ou favor de qualquer pressão. PERDEU a arbitragem que não exige profissão.
PERDEU a bola comprida –
rifada. PERDEU o ôba-ôba! PERDEU o esquema nunca treinado. PERDEU o esquema
nunca treinado à exaustão.
PERDEU o ‘Deus é brasileiro’. PERDEU a manha. PERDEU
a inconsistência de time, de equipe, de grupo, de coletivo.
PERDEU o time-dependência. PERDEU o time do gênio.
PERDEU o ‘vamos pra dentro deles!’.
PERDEU a falta visível de preparo físico. PERDEU a
pressa – afobada. PERDEU a falta de ocupação de todo o campo.
PERDEU a falta de jogadas ensaiadas. PERDEU o time
mais baixo. PERDEU o time mais fraco. PERDEU quem acredita em sorte e azar.
PERDEU quem credita tudo ao azar. PERDEU quem culpa o
gramado. PERDEU quem culpa a bola. PERDEU quem vive puxando a história do ‘dois
pesos – duas medidas’.
PERDEU quem nunca assume nada quando perde. PERDEU a
alegria nas pernas. PERDEU a bola parada.
AH – PERDEU e como perdeu a tese da
bola parada. PERDEU a improvisação.
PERDEU o escondedor de time. PERDEU o craque de treino.
PERDEU o cracaço de amistoso. PERDEU o analista de
jogo/engana/bobo. PERDEU quem arrebenta quando não vale nada ou contra o
fraquinho.
PERDEU o fugitivo de jogo. PERDEU o técnico que bota
a culpa no vento. PERDEU o técnico que na coletiva pós-jogo lembra todos que
estão lesionados e lesionados.
PERDEU o rei do cartão. PERDEU o impaciente. PERDEU o
que levanta os bracinhos e pede o apoio da torcida como se ela pudesse entrar
em campo, e não errar o gol que perna-de-pau erra.
PERDEU o omisso. PERDEU o inconsequente que só
reclama do árbitro. PERDEU o capitão que nunca intervém chamando a atenção de
seus companheiros.
PERDEU o técnico que não sabe o ‘banco’ que tem.
PERDEU o técnico que manda ‘chegar junto’. PERDEU o técnico que não estuda
futebol. PERDEU o técnico e o grupo que não leem. PERDEU o técnico que se acha
perseguido por árbitros e arbitragens.
PERDEU o jogador de bola que desiste fácil do lance.
PERDEU o jogador cai/cai. PERDEU quem se estatela escandalosamente, e desperdiça
chance viva de gol.
PERDEU a prepotência. PERDEU a falta de educação.
PERDEU o apelo grotesco e o ‘pardalismo’ de última hora. PERDEU o goleiro que
sai jogando no balão.
PERDEU o micuim que sofre um choque e sai rolando
como quem sofre um ataque de morte. PERDEU o dirigente que paga o que paga
porque o clube não é seu.
PERDEU o cartolismo. PERDEU a politicagem no futebol. PERDEU a
distinção de camisa.
PERDEU a mão na cabeça do
sem-compromisso. PERDEU o ingresso o futebol show. PERDEU o futebol de circo.
PERDEU a coroa quem já foi
rei. PERDEU a imprensa que transforma medíocres em bons, bons em muito bons,
muito bons e craques.
PERDEU quem cobra futebol de primeira, ficou em
quarto, e faz futebol de quinta. PERDEU a ginga brasileira. PERDEU o boné.
PERDEU o corte de cabelo mais descabelado. PERDEU o
bracinho mais tatuado. PERDEU o corpinho mais enfeitado. PERDEU o fonezinho.
PERDEU o escravo celular. PERDEU o boçal. PERDEU o
segurança de perna-de-pau. PERDEU o assessor de imprensa de comuns. PERDEU a
orelha emoldurada de brincos.
PERDEU o correntão. PERDEU o boleiro rei-da-maca.
PERDEU o craque do chinelinho.
PERDEU o que não tem personalidade própria. PERDEU o
que não tem coragem de assumir a derrota. PERDEU o que não vê na derrota a
chance de melhorar, recuperar e vencer.
PERDEU o sabe tudo. PERDEU
o que acha que celebridade não treina. PERDEU o que acha que celebridade não
ensaia. PERDEU o que acha que celebridade não tem humildade.
PERDEU o que acha que seu ‘dom’ basta. PERDEU o
técnico paizão. PERDEU o técnico turrão. PERDEU o lento. PERDEU o que espera a
bola no pé.
PERDEU o levantador de bracinho pedindo impedimento
achando que é o dono do jogo. PERDEU o que quer levar a bola pra casa. PERDEU o
dirigente que não cobra da sua comissão técnica.
PERDEU o dirigente que endossa a reclamação de seus
comandados. PERDEU o dirigente que não sabe que o futebol é paixão – mas que as
decisões jamais podem prescindir da razão.
PERDEU quem acha que do outro lado não tem outro
time, outros profissionais e com a mesma ambição. PERDEU o ‘parece’ que houve o
pênalti, ‘parece’ que o atacante tinha condições, ‘parece’ que o jogador foi
tocado dentro da área, ‘parece’ que a bola ainda não tinha saído, ‘parece’ que
era lance para cartão vermelho’...
PERDEU o ‘parece’. PERDEU o craque de botão. PERDEU o
craque de impostores do futebol. PERDEU o Marketing de interesse
pessoal/comercial.
PERDEU a indústria do entretenimento/comercial.
PERDEU o futebol de horário de boate. PERDEU o futebol de vinho de garrafão ao
sol, de preço de garrafa de vinho francês.
PERDEU a escolinha de base que não ensina fundamento.
PERDEU a escolinha de base que não fiscalização, de sério, a escola do garoto.
PERDEU a escolinha de base que prioriza o filho do compadre, da filha do tio,
da vó, da madrinha, do vizinho.
PERDEU o esquema - ‘bota quem tem mercado’. PERDEU a
escolinha de base que busca título. PERDEU a escolinha que não busca a
formação. PERDEU o descontrole emocional.
PERDEU a falta de equilíbrio. PERDEU a falta de
respeito ao planejamento. PERDEU o respeito à necessidade de organização.
PERDEU o despreparo à adversidade.
PERDEU a incapacidade de
mudar. PERDEU a capacidade poder alterar um panorama. PERDEU a força do
coletivo. PERDEU a ilusão do ‘vai que dá – é nosso’.
PERDEU a firula. PERDEU o
rei da caneta inútil. PERDEU a cobrança burra da imprensa para resultados
imediatos de campo. PERDEU a fala emotiva e irreal de torcedores em cima de um
resultado.
PERDEU a falta de serenidade. PERDEU a falta de
paciência com técnicos. PERDEU a seriedade. PERDEU a concentração. PERDEU o
foco.
PERDEU a falta de humildade e o excesso de
egocentrismo. PERDEU o futebol como esporte. PERDEU o passado. PERDEU o atraso.
PERDEU o imediatismo. PERDEU o falso patriotismo.
PERDEU o amadorismo. VENCEU - o profissionalismo!
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AINDA
CHEIAS 1 – Pois, muito se discutiu sobre se a
enchente do final de junho passado ou a maior dos últimos anos, dos últimos tempos,
da última década ou se foi a maior de todas. Falaram em 1983, 1965,
1963...
AINDA
CHEIAS 2 – Recorro a uma informação que considero
poder ajudar a esclarecer o assunto e busco na memória.
AINDA
CHEIAS 3 – Dos 7 aos 15 anos passava as férias de
julho e depois de verão em Sede Dourado , na casa de tios e primos, virando
literalmente um colono. Naquele tempo – colono era um termo que dava orgulho,
hoje, é ofensivo. Sinal dos tempos. Aparentemente é tudo diferente – mas igual.
AINDA
AS CHEIAS 4 – Aos domingos todos íamos à
missa na vila. Eram quatro quilômetros a pé e a passagem, ida e volta, sobre a
temível pinguela, hoje ‘ponte pênsil’. Sinal dos tempos – aparentemente é tudo
diferente, mas igual.
AINDA
AS CHEIAS 5 – A pinguela ‘afundava’ a cada
passo e jogava para os dois lados. Lá embaixo o estarrecedor barulho das águas
do Dourado contra as pedras.
AINDA
AS CHEIAS 6 – Havia dois pontos com
pinguelas sobre o Dourado. De anos em anos notava que a ponta estava nova.
Tinha sido recuperada. Uma ou outra tábua fora trocada. Não suportava as
velhacarias do tempo. Muitas vezes, em tempos de cheias, se falava que a água
chegara até mais da metade do leito, quase tocando o chão da pinguela. Nossa!
AINDA
AS CHEIAS 7 – Esta semana fiquei sabendo
duas coisas sobre as pinguelas do Dourado. Uma: teriam entre quase 70 anos as
pinguelas. Isso mesmo. Uma vida cheia. Outra: quando as águas do Dourado
baixaram na semana passada – as pinguelas não estavam mais lá.
AINDA AS CHEIAS 8 - Para mim isso resume tudo sobre as cheias de junho de 2014.
Não discuto com ninguém qual foi a maior. Cito isso – e viro a página. Setenta
anos aguentando enchentes. Na de 2014 – sumiram.
Tempos de Balsa
MEMORÁVEIS foram sem dúvida nenhuma os tempos em que toras e madeiras de
grande valor pegaram carona nas balsas da costa do Alto Uruguai, descendo rio
abaixo rumo a Buenos Aires é o que se diz.
DE
LÁ, a economia produzida sem custo pela
natureza, viajava para a Europa. Que finos móveis, cômodos e casas as madeiras
do Alto Uruguai devem ter proporcionado aos europeus!?
HÁ
UM vídeo na internet que fala sobre a história
de balseiros a partir de Chapecó rumo ao Porto Goio En. Os pinheiros
despencavam sob gritos de saudação.
DE
LÁ eram levadas às serrarias e transformadas
em finas tábuas. E depois, classificadas e rumo à beira do Uruguai onde,
gloriosamente, eram amarradas formando balsas.
HÁ
QUEM garanta que sobre as balsas via-se, além de
homens destemidos é claro, fogão a lenha, vaca de leite, cachorros, camas e
banheiros, roupas estendidas. Era uma viagem e tanto.
VIRADA
A PÁGINA dos balseiros veio o caminhão e o carro de
passeio. E como atravessar o rio Uruguai? Como chegar a Santa Catarina? Pela
estrada de ferro de Marcelino Ramos! Construída em 1910, foi levada antes de
finalizada, por uma enchente. Mas em 1913 a ponte de ferro de 500 metros de
extensão estava pronta.
FINALMENTE tínhamos na nossa região uma travessia confiável, segura, útil e
próxima de Erechim. Estávamos no Brasil.
DURANTE
os anos seguintes, no entanto, uma balsa
jamais deixou de cumprir seu papel. Como o rio ali de certa forma se represa
por conta do Lago Itá, o rio elevou-se um pouco, ficou mais manso e, depois com
a BR 153 tanto a ponte rodoferroviária quanto a balsa assistiram uma queda no
requisito das suas utilidades.
COM
A BR 153 e o crescimento natural de
Erechim, a evolução do transporte sobre quatro rodas e a desativação
(escancarando toda a burrice de um país que vislumbra desenvolver-se) também a
BR começou a ficar sobrecarregada.
UM
DIA a BR ficou tão encharcada que cedeu e caiu
perto do Estreito. Ficou meses sem poder ser usada na sua plenitude e passar
por lá era perigoso. Remendaram daqui e dali e deram condições.
OUTRO
DIA, agora em junho de 2014 a enxurrada veio com
jeito de maior de todas, pelo menos até onde as aferições alcançam. E aí a
estrada não agüentou e rachou em dois pontos. Vai exigir dois desvios chegando
a 600 metros de desvio.
E
DE SORTE que de 30 a 45 dias ninguém sai e ninguém
entra no estado pela BR 153 naqueles pontos.
TORCEDORES
argentinos que vieram ao Brasil passando por
Erechim e Marcelino Ramos não levaram o título – mas podem contar uma história
que talvez seus filhos se encantem. Para atravessar o rio Uruguai no
progressista Alto Uruguai, arriscaram-se sobre uma ponte rodoferroviária –
cheia de tábuas e pregos soltos no assoalho, ou, bebendo da experiência dos
balseiros que há 101 anos levavam tábuas para Buenos Aires.
ENQUANTO
isso a 420 trancada e em Erval Grande, a
comunidade cortando um potreiro para fazer um desvio. E viva o Alto Uruguai!