segunda-feira, 25 de agosto de 2014

No tempo das diligências!


BV - 1º - 8 - 2014

* Não é de hoje que o Jornal Boa Vista vem alertando sobre problemas que nos afligem. O exemplo mais recente é o artigo escrito e publicado por Egídio Lazzarotto no início deste ano, quase ‘fotografando’ uma ‘crônica de uma tragédia anunciada’ como a que vivemos hoje – isolados do centro do país.
Se tivéssemos uma representação maior que algumas cabeças acreditam que temos, talvez já estivéssemos vivendo, de fato, no século 21, sem a vergonha e a submissão de nos vermos, de forma incrivelmente real ainda dependentes de balsas, correntes, trilhas e tratores tirando caminhões de atoleiros.  
A propósito o que fizeram com o diagnóstico do Alto Uruguai assinado por 32 entidades?
Era 24 de agosto de 2004.
Portando – dez anos.
E o Boa Vista já dizia:

‘Nas asas de mais uma campanha política eleitoral, tudo que é tema ganha sangue, oxigênio e vida.
Com o turismo então...!

Não que os audaciosos e oportunos proponentes pequem por seu oportunismo, mas torna-se oportuno também explorar que a coisa está danada, não, danada é muito comum, a coisa está dolorosa.

Não resta contestação mais gordurosa de que a região Alto Uruguai tem bom potencial a ser explorado pelo turismo – mas a maldição da coisa é que ela é quase epidêmica e indolor: falta ação.

É mister escancarar a chaga: a região Alto Uruguai está fora dos mapas turísticos de massa por várias razões, mas uma salta aos olhos. Nós não temos estradas.

Quem mais têm, quem poderia melhorar suas belezas naturais como Marcelino Ramos, por exemplo?

Quem tem um vale mais acolhedor do que o Dourado?

Quem pode ofertar à vista e ao estômago, 95% de cultura, arte e gastronomia polonesa do que Áurea, Centenário, Carlos Gomes?

Quem pode mesclar à pequena, média e até grandes propriedades senão mais que a região que demanda a Paulo Bento, Jacutinga e Campinas do Sul?

Onde a colônia italiana, a colônia alemã e a judia, afora seus núcleos bem definidos nas ‘colônias velhas’ – onde eles podem ser tocados com as mãos e respirados tão proximamente como em São Valentim , Aratiba, Três Arroios, Mariano Moro, Severiano de Almeida, Erval Grande, Barra do Rio Azul e a Grande Getúlio Vargas com sua Estação, Ipiranga, Erebango...!

Alguém já reparou dos altos da RS-331 entre Gaurama e Viadutos para o vale?

Que região mais, têm três barragens de médio e grande porte?

Que região cria aves, suínos, bovinos, cabritos e até avestruz?

Que região mescla bergamotas com uvas, leite com cachaça?

Onde se vê entre italianos, alemães, poloneses, judeus e gaúchos, onde mais se vê esta fotografia acrescida de indígenas como os que se espalham de Charrua a Ventarra; de Faxinalzinho a Nonoai!

Temos trilhos que o tempo come e digere – mas não temos trem!

Não se pode desconhecer que não faltam projetos para aproveitamento da coisa pronta – mas em termos práticos o que se vê são vagões de intenções e discussões sobre quem é pai e quem é tio do filho Projeto que até aqui ainda só projeto é!

Salvo exceção a boa RS-420 de Erechim a Aratiba, pois afora esta – tente ir a Gaurama, Viadutos e Marcelino Ramos. Tente!

Quem irá no verão às barrancas do Uruguai e por que haveria de ir, se a RS-331 é um escândalo!

Por que pegar o carro e conferir a colônia polonesa e suas atrações ou a barragem do Rio Passo Fundo e suas belezas se as vias são de risco e a visão de abandono pela falta de infra-estrutura.

Depois de Aratiba até a bela Usina Itá – 18 quilômetros de pedra e buraco? Por que ir!

Como sempre estiveram as linhas vicinais de acesso entre essas comunidades interioranas – as tão ricas na matéria prima turística!

Sobre a 480 talvez fosse melhor lançar uma campanha para que a própria virasse atração turística de si - observada por via aérea. Um perfeito exemplar da nossa inoperância e incompetência regional. (Depois acabaria concluída!).

Me recuso depois de 26 anos escrevendo sobre o tema, me recuso de pedir a 480. (Como disse, depois acabaria concluída, mas hoje, anda com rachaduras. Credo!).

O que dizer da nossa decisiva iniciativa, de falta de iniciativa para agregar a região nordeste, a região do Barracão ao Alto Uruguai!?

Não... senhores! Nem pensem em desmanchar aquela extraordinária manifestação geológica produzida pelo tempo e que nos coloca em verdadeiras crateras ‘made na terra alto-uruguaiense’ quando se entra pela RS-126, ali depois de Pinhalzinho até o Barracão!

Não há dúvidas que este pedaço da geografia gaúcha, quase nas barrancas do Uruguai, não há discussão que as matérias primas essenciais para abrir, oferecer e fomentar o turismo, tais matérias as temos em abundância – mas chegar até elas é que são elas.

Mas como bons ‘macacos-de-auditório’ e primos irmãos da ignorância e do atraso não percamos a esperança: afinal, a eleição está chegando e não será por falta de falação que nos transformaremos numa próspera região turística.

E do jeito que essa história de ‘indústria sem chaminé’ vai - aqui nos nossos calcanhares; até eu acho que vou mudar de ramo: se alguma agência bancária quiser bancar um capital a fundo perdido e não a juro-Brasil-2004, eu até me habilito e, vou investir maciçamente na aquisição de uma diligência. Não – uma só é pouco. Poderia implantar uma frota já. Buracos é que não faltariam para a dita-cuja atolar. Haveria até bloqueio de estrada feito por índio e índio-índio, genuíno, made em Brazil e, por que não, claro também, por brancos!.

Que emoção: está aí o meu futuro e eu aqui querendo que acabem com o mais original e fiel dos turismos da nossa geografia. Um ar, pradarias e ruelas – tudo feito e perfeito pra quem viaja em diligência.

Mas atenção – me vem uma ideia melhor: vamos construir um forte e cercar a nossa região. Façamos dela uma espécie de Beto Carrero e não nos esqueçamos, nunca... jamais – que a condição básica, a matéria prima essencialíssima para este tipo de turismo... nós a temos e a produzimos em série: somos desorganizados, somos ridiculamente individualistas e somos, historicamente, paupérrimos em representação política junto às arenas onde as decisões de quem permanecerá no atoleiro são tomadas. 
Por isto concito: exploremos já o roteiro turístico – ‘No tempo das diligências’ – antes que algum esperto oportuno descubra este ovo de Colombo. Se for descoberto, cai numa campanha e, aí se sairá – só Deus sabe!


PS – Pegue o que nos aconteceu na última semana de junho, junte de três a cinco ou dez décadas e bata até cansar. Leve ao forno e se esquecer, fica frio. A matéria nos é extraordinariamente farta. Até por que, sobretudo, somos surpreendentemente fracos.