BV - 1º - 8 - 2014
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Não é de hoje que o Jornal Boa Vista vem alertando sobre problemas que nos
afligem. O exemplo mais recente é o artigo escrito e publicado por Egídio
Lazzarotto no início deste ano, quase ‘fotografando’ uma ‘crônica de uma
tragédia anunciada’ como a que vivemos hoje – isolados do centro do país.
Se
tivéssemos uma representação maior que algumas cabeças acreditam que temos,
talvez já estivéssemos vivendo, de fato, no século 21, sem a vergonha e a
submissão de nos vermos, de forma incrivelmente real ainda dependentes de
balsas, correntes, trilhas e tratores tirando caminhões de atoleiros.
A propósito o que fizeram com o
diagnóstico do Alto Uruguai assinado por 32 entidades?
Era 24 de
agosto de 2004.
Portando – dez
anos.
E o Boa Vista já dizia:
‘Nas
asas de mais uma campanha política eleitoral, tudo que é tema ganha sangue,
oxigênio e vida.
Com o turismo
então...!
Não
que os audaciosos e oportunos proponentes pequem por seu oportunismo, mas
torna-se oportuno também explorar que a coisa está danada, não, danada é muito
comum, a coisa está dolorosa.
Não
resta contestação mais gordurosa de que a região Alto Uruguai tem bom potencial
a ser explorado pelo turismo – mas a maldição da coisa é que ela é quase
epidêmica e indolor: falta ação.
É
mister escancarar a chaga: a região Alto Uruguai está fora dos mapas turísticos
de massa por várias razões, mas uma salta aos olhos. Nós não temos estradas.
Quem mais têm,
quem poderia melhorar suas belezas naturais como Marcelino Ramos, por exemplo?
Quem tem um vale
mais acolhedor do que o Dourado?
Quem
pode ofertar à vista e ao estômago, 95% de cultura, arte e gastronomia polonesa
do que Áurea, Centenário, Carlos Gomes?
Quem
pode mesclar à pequena, média e até grandes propriedades senão mais que a
região que demanda a Paulo Bento, Jacutinga e Campinas do Sul?
Onde
a colônia italiana, a colônia alemã e a judia, afora seus núcleos bem definidos
nas ‘colônias velhas’ – onde eles podem ser tocados com as mãos e respirados
tão proximamente como em
São Valentim , Aratiba, Três Arroios, Mariano Moro, Severiano
de Almeida, Erval Grande, Barra do Rio Azul e a Grande Getúlio Vargas com sua
Estação, Ipiranga, Erebango...!
Alguém já reparou
dos altos da RS-331 entre Gaurama e Viadutos para o vale?
Que região mais,
têm três barragens de médio e grande porte?
Que região cria
aves, suínos, bovinos, cabritos e até avestruz?
Que região mescla
bergamotas com uvas, leite com cachaça?
Onde
se vê entre italianos, alemães, poloneses, judeus e gaúchos, onde mais se vê
esta fotografia acrescida de indígenas como os que se espalham de Charrua a
Ventarra; de Faxinalzinho a Nonoai!
Temos trilhos que
o tempo come e digere – mas não temos trem!
Não
se pode desconhecer que não faltam projetos para aproveitamento da coisa pronta
– mas em termos práticos o que se vê são vagões de intenções e discussões sobre
quem é pai e quem é tio do filho Projeto que até aqui ainda só projeto é!
Salvo
exceção a boa RS-420 de Erechim a Aratiba, pois afora esta – tente ir a
Gaurama, Viadutos e Marcelino Ramos. Tente!
Quem irá no verão
às barrancas do Uruguai e por que haveria de ir, se a RS-331 é um escândalo!
Por
que pegar o carro e conferir a colônia polonesa e suas atrações ou a barragem
do Rio Passo Fundo e suas belezas se as vias são de risco e a visão de abandono
pela falta de infra-estrutura.
Depois
de Aratiba até a bela Usina Itá – 18 quilômetros de
pedra e buraco? Por que ir!
Como
sempre estiveram as linhas vicinais de acesso entre essas comunidades
interioranas – as tão ricas na matéria prima turística!
Sobre
a 480 talvez fosse melhor lançar uma campanha para que a própria virasse
atração turística de si - observada por via aérea. Um perfeito exemplar da
nossa inoperância e incompetência regional. (Depois acabaria concluída!).
Me
recuso depois de 26 anos escrevendo sobre o tema, me recuso de pedir a 480.
(Como disse, depois acabaria concluída, mas hoje, anda com rachaduras. Credo!).
O que dizer da
nossa decisiva iniciativa, de falta de iniciativa para agregar a região
nordeste, a região do Barracão ao Alto Uruguai!?
Não...
senhores! Nem pensem em desmanchar aquela extraordinária manifestação geológica
produzida pelo tempo e que nos coloca em verdadeiras crateras ‘made na terra
alto-uruguaiense’ quando se entra pela RS-126, ali depois de Pinhalzinho até o
Barracão!
Não
há dúvidas que este pedaço da geografia gaúcha, quase nas barrancas do Uruguai,
não há discussão que as matérias primas essenciais para abrir, oferecer e
fomentar o turismo, tais matérias as temos em abundância – mas chegar até elas
é que são elas.
Mas
como bons ‘macacos-de-auditório’ e primos irmãos da ignorância e do atraso não
percamos a esperança: afinal, a eleição está chegando e não será por falta de
falação que nos transformaremos numa próspera região turística.
E
do jeito que essa história de ‘indústria sem chaminé’ vai - aqui nos nossos
calcanhares; até eu acho que vou mudar de ramo: se alguma agência bancária
quiser bancar um capital a fundo perdido e não a juro-Brasil-2004, eu até me
habilito e, vou investir maciçamente na aquisição de uma diligência. Não – uma
só é pouco. Poderia implantar uma frota já. Buracos é que não faltariam para a
dita-cuja atolar. Haveria até bloqueio de estrada feito por índio e
índio-índio, genuíno, made em Brazil e, por que não, claro também, por brancos!.
Que
emoção: está aí o meu futuro e eu aqui querendo que acabem com o mais original
e fiel dos turismos da nossa geografia. Um ar, pradarias e ruelas – tudo feito
e perfeito pra quem viaja em diligência.
Mas
atenção – me vem uma ideia melhor: vamos construir um forte e cercar a nossa
região. Façamos dela uma espécie de Beto Carrero e não nos esqueçamos,
nunca... jamais – que a condição básica, a matéria prima essencialíssima para
este tipo de turismo... nós a temos e a produzimos em série: somos desorganizados,
somos ridiculamente individualistas e somos, historicamente, paupérrimos em
representação política junto às arenas onde as decisões de quem permanecerá no
atoleiro são tomadas.
Por
isto concito: exploremos já o roteiro turístico – ‘No tempo das diligências’ –
antes que algum esperto oportuno descubra este ovo de Colombo. Se for
descoberto, cai numa campanha e, aí se sairá – só Deus sabe!
PS
– Pegue o que nos aconteceu na última semana de junho, junte de três a cinco ou
dez décadas e bata até cansar. Leve ao forno e se esquecer, fica frio. A
matéria nos é extraordinariamente farta. Até por que, sobretudo, somos
surpreendentemente fracos.