Meio século depois de ser inaugurado, o Colosso da Lagoa,
estádio do Ypiranga FC ainda permanece como um dos principais cartões postais
da cidade. Em 2 de setembro de 1970 quando recebeu a primeira partida e o “rei
do futebol”, o estádio ganhou fama por ter a capacidade para abrigar quase toda
a população da cidade. O estádio foi orçado em Cr$ 1.250.000,00 (Um bilhão,
duzentos e cinquenta milhões de cruzeiros), segundo documento enviado pelo
presidente da Comissão Central, dr. Gladstone Osório Mársico, em dezembro de
1966 ao delegado regional do Imposto de Renda em Passo Fundo. Ele possui mais
de
Planta do futuro Estádio
Tudo começou por volta de 1963. Um grupo de dirigentes recebeu
e debateu a ideia de construção de um estádio. Foi criada uma empresa de
comercialização de títulos e sorteio de carros. Cem sócios compraram à vista os
100 primeiros títulos. O dinheiro foi dado de entrada para a compra do terreno
de 40 mil metros quadrados, hoje a 2,5 quilômetros do centro às margens da BR
153. Um ano antes da conclusão do estádio o governo federal baixou um decreto
proibindo a comercialização dos planos de sorteios de carros. Temia-se que o
Colosso da Lagoa não fosse concluído exigindo muito esforço dos dirigentes para
terminar pelo menos o estádio, ficando para quando desse (até hoje não foi
possível) a conclusão de um parque esportivo e de lazer.
Em 23 de outubro 1964 começaram as obras. Três construtoras de
Erechim trabalharam em etapas distintas. O estádio recebeu seu nome popular ao
acaso. Por ocasião da 1ª Jornada de Medicina do Interior, um grupo de médicos
em visita ao estádio, foi recepcionado com um churrasco no local. O dr. Wilson
Watson Weber, orador oficial do clube, falando em nome do Ypiranga disse: “...
aqui ergue-se o Colosso da Lagoa...”, referindo-se à obra em andamento onde
antes havia uma lagoa. O nome popular foi bem recebido por dirigentes, imprensa
e torcedores e assim o Estádio Olímpico do Ypiranga FC passou a ter um nome
próprio – Colosso da Lagoa.
Comentava-se que até o general Alfredo Stroessner
(presidente do Paraguai na época) teria comprado um título do Ypiranga.
Não resta dúvida que Erechim ficou conhecida nacional e até
internacionalmente em razão do estádio. A razão era simples: além do belo
estádio que seria entregue, corria a informação que estava por ser inaugurado
no País um estádio de futebol onde cabia toda a população da cidade. Quando foi
projetado para 30 mil pessoas, moravam na cidade pouco mais de 29 mil pessoas
segundo o IBGE. Em 1970 quando foi inaugurado, Erechim já contava com mais de
34 mil habitantes na área urbana.
Entrega de prêmios aos sorteados (Jovino Alves Martins/radialista registra o fato).
Mas nem tudo foi paz e amor durante o
período de construção do Estádio Olímpico do Ypiranga, como foi amplamente
divulgado na época entre os anos 1964 e 1970. Em um determinado momento a
Direção do Clube e Comissão Central de Obras viram-se na obrigação de intervir
na área responsável pela comercialização de títulos que davam direito aos
adquirentes participar de sorteio de prêmios. Ao longo desse período,
documentos revelam que o clube chegou a contar ora com 30 mil sócios, ora com
50 mil sócios, deduzindo-se como sócios os adquirentes de títulos que podiam
ser encontrados principalmente nos três Estados do sul do País.
Também foram enfrentadas renegociações de
preços da própria obra por conta do aumento de preço de materiais e da mão de
obra, além da variação de preços nos prêmios distribuídos. Tudo compreensível.
Na reta final o Ypiranga foi atingido pela proibição da venda de planos de
sorteios de carros.
Exatos dez dias antes da inauguração do
Colosso da Lagoa, mais precisamente em 22 de agosto de 1970 (a inauguração
ocorreu dia 2 de setembro), a diretoria e as comissões tiveram que fazer
empréstimo de emergência de Cr$ 100 mil junto e dois bancos da cidade para
garantir a presença do Santos FC na inauguração. A soma seria entregue ao clube
paulista antes da equipe comandada por Pelé entrar em campo. Mas nada foi
suficiente para quebrar a unidade dos ypiranguistas nem esmorecer a ideia, a
concepção, a construção e a inauguração do estádio.
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Festival de inauguração
Santos 2 x 0 Grêmio (1º Jogo)
Era dia 2 de setembro. Ano: 1970. Havia cerca
de 60 dias que o Brasil conseguira seu maior feito no futebol mundial. A
conquista da Jules Rimet em definitivo. O título da Copa do Mundo do México.
Jogadores extraordinários corriam pelos
gramados do Brasil naqueles anos. Pesquisas apontam a seleção de 1970 como o 1°
ou o 2° melhor time de todos os tempos no mundo.
Em Erechim o Ypiranga F. C. concluía seu
majestoso estádio. Um festival de jogos foi organizado, reunindo a maioria dos
maiores jogadores em atividade no Brasil. Oito deles eram da seleção tricampeã
e viriam para jogar no magnífico estádio.
Quando o 2 de setembro chegou, Erechim
tinha 48.677 habitantes. Moravam na cidade 34.517 pessoas. Dizia-se que toda a
população cabia no estádio, o que jamais foi verdade e por duas razões: 1) A cidade
tinha mais de 30 mil habitantes. 2) Jamais o belo estádio conseguiu receber
mais de 25 mil pessoas, configurando como lotação máxima.
Naquela bonita noite já com ares de
primavera, Colosso da Lagoa ficou longe da sua lotação máxima. Talvez por conta
dos preços considerados altos para os padrões interioranos. Luiz Pungan,
patrono do clube e falecido em 2017, lembrou que os carnês para o festival
foram colocados à venda por Cr$ 66. Não era barato. Muita gente comprou em
prestações. Mas foi um evento inesquecível.
O Santos venceu o Grêmio por
O gol de Pelé foi o 1.040 na sua carreira.
Um repórter da equipe esportiva da Rádio Tupi (SP) conhecida como a equipe esportiva
1.040 invadiu o gramado e colocou uma camisa nº 1.040 no “rei” do futebol que
também está na história do Colosso da Lagoa como o autor do primeiro gol do
estádio.
Os times
Santos: Edevar; Carlos Alberto, Ramos Delgado (Paulo), Djalma Dias
e Rildo (Turcão); Léo e Lima (Nenê); Davi, Douglas (Picolé), Pelé e Abel.
Grêmio: Breno; Espinosa (Ivo), Ari Hercílio, Beto e Jamir (Di);
Jadir e Everaldo (Paíca); Flecha, Caio, Alcindo e Loivo.
Árbitro: Roque José Gallas.
Renda: Cr$ 200 mil
Botafogo
5 x 2 Internacional (2º
Jogo)
O segundo jogo do festival realizado no
Colosso da Lagoa marcou a inauguração oficial do estádio. Dia 6 de setembro de
1970. O domingo foi de chuva torrencial. O aguaceiro além de testar a drenagem
do estádio, impediu a realização das solenidades oficiais marcadas para o
centro do gramado. A entrega de placas pelo prefeito Irany Jaime Farina, pelos
dirigentes do Ypiranga, pelos clubes visitantes - tudo foi realizado no
interior do estádio. O público, é claro, não pode assistir a esta solenidade
que marcava a inauguração oficial do Estádio Olímpico do Ypiranga ou, como
passou a ser chamado com aprovação da imprensa e do público, Estádio Colosso da
Lagoa.
No campo, apesar da formação de poças de
água, a drenagem mostrou-se eficiente. Não fosse ela nem sairia jogo. Nunca
mais houve outra partida com tanta chuva no Colosso.
Os torcedores aglomeravam-se nas cadeiras
do pavilhão social sob a marquise. Quem esteve nas gerais naquele seis de
setembro de 1970 viu o jogo de pé e de guarda-chuva que no fim das contas pouco
adiantou. Impossível sentar. Até os refletores tiveram que ser acesos.
O Inter vinha credenciado com seu goleiro.
Gainete carregava o orgulhoso recorde de 1.202 minutos sem levar gols. Seu
sonho era somar mais 90 minutos. Mas... o furacão da Copa do México parecia que
ainda não tinha passado. Com apenas um minuto de jogo, Jairzinho fez o primeiro
dos cinco gols botafoguenses, colocando um ponto final no recorde do goleiro
colorado. O Inter empatou aos 21 com Sérgio Galocha.
No 2º tempo quando chuva apertou mais
ainda, Jairzinho fez o 2º aos 18 minutos. Dois minutos depois, Arlindo ampliou e
abriu o caminho para a goleada. Aos 31, Nilson fez o 4º gol. Valdomiro tentou
uma reação ao diminuir fazendo o segundo do Inter, mas Jairzinho, o furacão da
Copa misturou-se com a tempestade de vento de chuva que caía sobre o Colosso,
sentindo-se tão à vontade que fez mais o 5º do Botafogo aos 36. Estava escrita
a história da primeira goleada no estádio então oficialmente inaugurado.
Os times
Botafogo: Ubirajara (Wendel); Moreira (Edinho),
Moisés, Osmar e Valtencir; Nei e Arlindo (Paulinho); Zequinha, Ferreti
(Nilson), Jairzinho (Zé Carlos) e Careca.
Internacional: Gainete; Edson Madureira, Pontes, Walmir
e Jorge Andrade; Tovar (Carbone) e Paulo César Carpegiani; Valdomiro, Sérgio
Galocha, Claudiomiro e Dorinho.
.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.
Yiranga
estréia com vitória no Colosso
O Ypiranga fez da sua primeira partida no
Colosso da Lagoa uma bela vitória. Bateu o Esportivo – na época um dos times
mais fortes do Estado – por
Gol de Borjão - O primeiro do Ypiranga no Colosso. 6/9/1970
Borjão fez o primeiro gol do Canarinho no Colosso. Era o 6 de setembro.
Preliminar de Inter e Botafogo, um domingo à tarde de tempo chuvoso. O gol
surgiu aos 12 minutos da fase inicial. Aos 43 Marcos cabeceia uma bola vinda de
um escanteio. Alcino – um dos maiores goleiros que o Ypiranga já teve –
escorregou e a bola entrou.
No 2º tempo o Esportivo fez
Os times
Ypiranga: Alcino; Osmar, Mugica, Plínio e Cláudio;
Arli e Ariovaldo; Remi (Téio), Borjão, Cafuringa e Ademir Galo.
Esportivo: Edegar (Vilmar); Adair, José (Hélio),
Ademir e Rômulo (Marcos); João Carlos (Sérgio) e Paulo Araújo; Gonha (Ronaldo),
Neca, Lairton e Décio (Ivo Cabral).
Arbitragem: Hélio Nepomuceno, com Salvador
Fossati e Vilson Cagliari.
Cruzeiro
3 x 0 Independiente (3º Jogo)
Na tarde/noite de 9 de setembro, um
domingo, o primeiro jogo de caráter internacional do Colosso. O
Santos tinha Pelé o maior jogador do mundo em todos os tempos. O Botafogo tinha
Jairzinho o goleador da Copa do Mundo e jogador infernal para as defesas
adversárias. Mas o Cruzeiro contava com uma verdadeira academia de jogadores de
futebol. Wilson Piazza, Zé Carlos, Dirceu Lopes e Tostão, quatro craques do
mais alto nível e, cada um no auge das suas carreiras, mostraram, sem nenhuma
dúvida, o melhor futebol, o futebol mais vistoso que um time já apresentou em
50 anos de Colosso da Lagoa. Muito provavelmente jamais se repita uma equipe
com aquele nível de organização, futebol coletivo tocado em pressa e com
segurança como uma orquestra onde todos os músicos sabem das suas virtudes
individuais e do colega ao lado. Foi um futebol de uma técnica refinada que o
Colosso da Lagoa nunca mais testemunhará. Ali, com o Cruzeiro daqueles craques
inesquecíveis, estava justificado o preço do carnê de ingresso.
O time cruzeirense tinha pela frente o
campeão da Libertadores da América e uma equipe temida no continente
sul-americano. O Independiente da Argentina de Medina, Bertoloto, Caristo e
Butijo.
Em um lance do ponteiro Hilton Oliveira,
ele chegou na linha de fundo e cruzou. Tostão entrou correndo e com um toque de
classe fez
Os
times:
Cruzeiro: Nego; Pedro Paulo (Lauro), Brito, Fontana
(Rodrigues) e Vanderlei; Wilson Piazza, Zé Carlos e Dirceu Lopes; Evaldo,
Tostão e Hilton Oliveira.
Independiente: Medina (Santoro), Mojes, Figueroa,
Bertoloto e Pavonea; Caristo e Adorno; Critioni, Butijo, Ia Hiachelo e Demário.
Árbitro: José Cavalheiro de Moraes.
Na preliminar o Ypiranga bateu o Taguá por
5 a 1.
.x.x.x.x.x.x.x.x.x.
Da bilheteria
da Montanha à Comissão de Obras
Elesio Passuello, do alto dos seus 98 anos de idade, em 2020, é o único remanescente dos 10 homens das duas Comissões que comandaram todo o processo de construção do estádio. Ele pertencia à Comissão de Finanças. No Café da Galeria Imigrantes, ele fez uma parada em sua tradicional caminhada diária (medida em quadras e não em tempo), para recordar um pouco sobre ele e o Ypiranga.
Nascido em 21 de agosto
de 1922 (dois anos antes da fundação do Ypiranga F.C., que é de 18 de agosto de
1924), Elesio Passuello veio ao mundo quando Erechim se chamava Boa Vista
(entre 30 de abril de 1918 a 7 de setembro de 1922). Lembra que até 1936 viveu
com a família em outras cidades até retornarem, em definitivo, para Erechim,
então, Boa Vista do Erechim.Nesse tempo o clube já tinha 12 anos.
Trabalhando em uma
agência bancária da cidade, começou a frequentar o Ypiranga, especialmente na
área social. Logo virou ecônomo e dirigia a copa da sede na Rua Alemanha, que
foi consumida por um incêndio (segundo informações do senhor Ivo Barbieri, o
incêndio ocorreu em 1960). Depois largou tudo para trabalhar com o irmão em um
Posto de Combustíveis, a partir de 1948. “Mas sempre estive na diretoria ou na
copa do Ypiranga”, recorda, tentando reencontrar-se no próprio tempo, que não
volta mais, mas no qual, ele esteve. “Fazia qualquer coisa no clube. Se faltava
um na bilheteria, eu ia”, lembra.
Sobre os planos de
construção do Estádio Olímpico lembra que as reuniões eram semanais e sempre no
clube. “Todo mundo era amigo. Todo mundo ajudava. Não havia vaidades naquele
grupo. A parte social e esportiva era tudo Ypiranga”, reforça.
Também destaca que não
perdia partidas. Quando foi lançado o plano de títulos para a construção do
estádio com direito de concorrer a prêmios, “eu também vendia, mas só aqui na
cidade”.
À medida que a conversa
ia evoluindo, Elesio Passuello foi se soltando e se lembrando de mais coisas.
“Parece que a área (onde está o Colosso da Lagoa) foi comprada de um polonês de
Carlos Gomes. Eu era fanático pelo clube. Não sabia perder. Na época o estádio
virou um cartão postal de cidade”. Ele recorda que, na escolha da área, havia
três opções: a primeira era construir no mesmo local onde estava o Estádio da
Montanha; a segunda, era no final da rua Alemanha próximo a um frigorífico e, a
terceira, a que foi escolhida”.
Hoje Elesio Passuello não
vai mais ao futebol e, com isso, o Colosso da Lagoa, que ele ajudou a
construir, não faz mais parte do seu cotidiano. Único vivo de nove irmãos,
Elesio deita-se, no máximo às 22h, e acorda às 8h. Às 9h, depois do café, está
pronto para sua caminhada matinal. Às 11h volta para casa onde vive com sua
companheira Maria. Depois do almoço tira uma soneca rápida e sai de novo para jogar
canastra com amigos em um clube da cidade e, depois, nova caminhada. “Faço de
30 a 40 quadras por dia”, finaliza reportando que, para a construção do Colosso
da Lagoa, todos trabalharam bastante, mas destaca o presidente da época, Oscar
Abal. “Trabalhou muito o Abal”.
.x.x.x.x.x.x.-
O 1º Atlanga no Colosso teve goleada
Era 20 de setembro de 1970. Data
Farroupilha. O técnico Ivo Barbieri acertou o time do Ypiranga e venceu fácil o
tradicional adversário:
Os times
Ypiranga: Valdir; Osmar, Mugica, Plinio e Cláudio;
Arli e Ariovaldo; Téio, Borjão, Cafuringa (Tonho) e Ademir Galo (Rui).
Atlântico: Nelson; Nilson, Giaretta, Dias e Fenker
(Beto); Tomasi e Cláudio (Charuto); Fermino, Ciro, Pedruca e Parizzon
(Machado).
Árbitro: Élio Nepomuceno.
.x.x.x.x.x.x.x.x.
Jornadas inesquecíveis
O Colosso da Lagoa foi palco de jornadas
inesquecíveis. O primeiro gol teve a assinatura do rei do futebol – Pelé. O
desfile de astros no festival de inauguração com Grêmio e Internacional. A
goleada no primeiro clássico Atlanga. O fechamento do futebol em 1977 e o
retorno em 1981. As históricas conquistas da Divisão de Acesso em 1989, 2008,
2014 e 2019. (Em 1967 o Ypiranga foi campeão do Acesso – mas ainda residia na
Montanha). Quatro clássicos Grenal foram jogados no Colosso da Lagoa. O jogo da
pancadaria com o Gaúcho (PF) no dia 13 de novembro de 1973 – marcam o estádio.
Algumas placas em bronze no hall de entrada – foram roubados certa feita,
exigindo refazer as obras -, relíquias da história do estádio.
Colosso lotou no Cinquentenário
O maior público do Colosso: 25 mil pessoas pagaram ingresso. 18/8/1974 nos 50 anos do Ypiranga
O dia mais bonito do Colosso da Lagoa –
maior do que a data da sua inauguração – pode ter sido a tarde do domingo de 18
de agosto de 1974. O Ypiranga F.C. completava 50 anos. Em jogo pelo campeonato
gaúcho o Inter bateu o Ypiranga por
Uma hora antes do início da partida o
estádio estava lotado. Porteiros e o policiamento tiveram dificuldades para
controlar o acesso do público. Foram vendidos quase 25 mil ingressos. O público
total pode ter sido bem superior. Ninguém nunca soube ao certo. Foi a primeira
e única vez que o Colosso da Lagoa ficou completamente lotado.-
O Ypiranga viveu jornadas memoráveis em seu novo estádio ao longo do tempo. Uma delas, emocionante, foi em 1989. Foi a primeira conquista do Acesso no seu novo estádio. Um timaço comandado por Paulo Sérgio Poletto.
A outra quando conquistou o título da Divisão de Acesso em uma partida dramática diante do muito bom Brasil de Farroupilha. Grande público. Partida histórica. Vamos revivê-la!?
Crônica de uma tarde anunciada!
* Esta foi uma jornada inesquecível. Era 10 de agosto de 2008. Ypiranga e
Brasil – um jogo dramático e memorável.
- I -
Quando o Brida foi
calçado dentro da área no momento em que, inacreditavelmente, a bola lhe
sobrava como um maço de dinheiro que se acha perdido no bolso de uma roupa
esquecida, e o Vinícius Costa da Costa, de frente, apitou, e se inclinou com
uma perna encolhida e a outra esticada e com o braço estendido para a marca do
pênalti, mais duro que nas melhores continências reverenciadas a um certo líder
sanguinário do passado, eu levei os olhos ao céu e pensei comigo mesmo: sim, o
Valério (Schillo) está vendo o jogo. (O dirigente responsável pelo clube havia
cinco anos prognosticara: não esperem nada antes de cinco anos. E exatamente
cinco anos depois o Canarinho tinha a oportunidade de voltar à elite do futebol
gaúcho, mas Schillo já não estava mais entre nós. Falecera uns meses antes, em
março.
Retornando ao jogo:
claro, porque do jeito que as coisas andavam entre Ypiranga e Brasil
(Farroupilha), domingo e já no 2º tempo, com o time sentindo as ausências,
errando passes, nervoso pelo peso da cobrança de 18 mil bocas que gritavam da
arquibancada, e com o Brida sem ritmo, tudo indicava que – se não perdesse -,
já não seria tão fora de consideração.
Enquanto o Brasil cercava
pela frente e pelas costas o Costa da Costa, árbitro da partida... pedindo que voltasse a história, procurei o
Vagner. Sim, porque com ele era gol. E o encontrei caminhando pra cá, pra lá,
com a bola embaixo do braço. Quando o vi, me convenci: gol.
Mesmo assim, não quis
ver. Baixei os olhos na cabine e esperei pelo xuááá. A bola quando entra no gol
e na rede na rede faz xuááááááá. Mas esperei, esperei, esperei e ouvi o apito
do Vinícius e foi - tuuuuuuummmmmmmmmm. Tuummmm? – me perguntei! Como
tuuummmmmm!? Mas devia ser xuáá! Não resisti e ergui o olhar e a bola vinha
caindo do céu e alguém a tirara para fora do Brasil. O goleiro espalmou, bateu
na trave? O certo é que não saiu o gol.
Eu que conheço o Colosso
há 37 anos, (hoje há 50 anos), nunca soube – mas domingo descobri que ele tem
mãos. Logo depois do tuuuuuummmmmmmmm, o Colosso botou as mãos na cabeça não
acreditando no que tinha visto. O time desfalcado, jogando mal, nervoso, contra
uma touca e tudo se encaminhava para um desfecho infeliz, postergando uma festa
impostergável.
O estádio se sentou com a
cabeça enterrada em 36 mil palmas de mãos.
- II -
De manhã, dia dos pais,
saí às 10 horas para comprar ingresso para o meu filho Eduardo. Na Sete,
chapéus “cataovo”, almofadas, gorros, radinhos, bandeiras de ‘O grito do
Ypiranga!’, misturavam-se a coloradas e tricolores. Carros iam, vinham e paravam.
Mulheres desciam e com os filhos escolhiam a bandeira e saíam de novo em
desfile com o pavilhão verde-amarelo tremulando na janelinha. Plat, plat, plat,
plat, plat, plat, plat – repetia o pano das cores nacionais, Sete acima, Sete
abaixo - tocada pelo vento.
Na portaria do estádio
encontrei uma fila. Eram 10 da manhã e havia fila. Era hoje. Tinha de ser hoje.
Não podia e nem seria em outro dia. Era demais a mobilização pelo feito
canarinho, quando ainda nem as churrasqueiras ardiam cidade afora.
Às duas da tarde o
movimento era de jogo grande.
Na cabine da Difusão, o
Sr.Idylio Badalotti me chamou e conversamos sobre a decisão, ao lado do Dr.
Edson Machado da Silva. Lembro que entre outras coisas disse: ‘o Diego, a
melhor coisa que apareceu no Colosso em 2008...’, quando o Amilton, mostrando
toda a sua versatilidade, cortou lá debaixo e fez o raio cair: ‘seu Idylio, seu
Idylio... vê se vocês reconhecem esta voz!’.
E foi então que entrou:
‘meeeu caro Idylio... meeeu caro Amilton, meeeus caros ouvintes da Difusão...’
e logo o Idylio também cortou: ‘Tramoonnnntini!’. Não é que até o eterno
Tramontini da velha rádio Erechim esteve no campo? Ainda brinquei: ‘hoje
podemos reunir o Tramontini, o Ceni, o Ydilio e o Milton Doninelli!’.
Subiam às cadeiras homens
e mulheres que nunca vira antes. O eterno ypiranguista Chico Pungan trazia, com
familiares, o Celeste Dal Prá. Apoiado numa bengala alta, subia os degraus em
busca de uma cadeira. Sociais cheias. Lá embaixo as arquibancadas iam sendo
tomadas como o sol que vem sobre ipês e pessegueiros quase ao final dos
invernos, e vai se esparramando e enchendo de luz tudo o que vê pela frente,
sem a menor possibilidade de ser contido.
- III -
Quando Pelé fez a bola
passar pelo meio das pernas do Jadir naquela quarta-feira, 2 de setembro de
1970, e fuzilou o goleiro Breno, fazendo levantar o estádio do canarinho, nem
naquela noite havia tanta gente como já se via no Colosso faltando 15 minutos
para o adeus do Ypiranga à Segundona.
Eu não sei de onde esse
Brasil de Farroupilha tira tanta gana quando vê o Ypiranga pela frente. Fazia
uma semana que o time serrano tinha sido surrado nas Castanheiras pelo Pelotas,
que apanharia do canarinho três dias depois. Será que o Brasil, por verde e
vermelho, será que é por isso que ele se agiganta contra o Ypiranga? Haveria aí
um grau de parentesco com o falecido Atlântico do futebol de campo?
O fato é que a partida ia
pau a pau. Se o Brasil não era um Milan para o Ypiranga, o canarinho não se
encontrava e, maltratando a bola pelo passe errado, enervava o anseio coletivo
que tinha todas as certezas do mundo de que seria naquela tarde, não se sabe
como, que o tabu seria quebrado e a Primeirona festejada até a noite alta cair.
Houve gol anulado do
Brasil (e bem anulado), mas o ar primaveril que banhava as 18 mil cabeças no
Colosso, encontrava uma estranha resistência, como que decretada pelo destino.
Algo como Brasil e Uruguai, Inter e Olímpia, Fluminese e LDU. Não podia, de
jeito nenhum, deixar de acontecer a festa tão ao alcance da vaga, mas os deuses
pareciam conspirar. Estariam apenas brincando, se divertindo, fazendo o estádio
suar gelo, ou, a praia ficava ali mesmo, no entorno da lagoa que deu origem ao
nome de guerra do Colosso em vaticínio do Dr. Wilson Wattson Webber, em
discurso durante churrasco de recepção a visitantes no fim dos anos 1960 no
pavilhão em construção.
- IV -
Aos 31, aos 35, aos 38,
aos 42, eu tinha jogado a toalha. Eu sei do velho ditado que o jogo só acaba
quando termina – mas, as coisas estavam com ar, jeito e cara de impossíveis.
Por isso tratava de confortar o desconforto tentando ressuscitar que apesar da
frustração, ainda havia dois tiros: o TAC e o Guarani de Venâncio, para
derrubar a Segundona.
Eu não sei como o Pito
foi parar dentro de campo naquele jogo. Só sei que quando um quarto do estádio
já estava nas vicinais da Sete para escapar ao engarrafamento, o Pito foi se
intrometendo como um anão de circo, e meio despercebido, mas comandando o
espetáculo; e de repente ele descobriu "a melhor coisa que apareceu no
Colosso em 2008", e o Diego arrumou na perna boa e disparou um canhão
assim como as tropas russas fizeram naquele mesmo dia na Ossétia do Sul.
O
tiro seco e inapelável fez o estádio explodir. Nem o estrondo do intervalo que
estourou vidros nas cabines de rádio conseguiu lembrar o que veio com o disparo
de Diego. Ali não foi nem xuááá – mas um xuuáááááááá antecedido por um
tuuuuuummmmmm. Quando vi, a bola estava quieta, desmaiada, desfalecida, morta
no fundo das redes, não, no fundo das redes não, no fundo da 2ª Divisão.
- V -
O estádio pulava sobre si
mesmo.
Os choros de alegria não
tinham vergonhas, sim, porque vergonhoso seria tentar segurar àquela hora um
mar de água que desce com o estouro de uma barragem.
Quando o Diego e meio
time saíram correndo ao alambrado, querendo escalá-lo e pulá-lo para os braços
da nação verde-amarela, outra revelação do futebol erechinense de 2008, o bom
repórter Tiago Ávila, conseguiu fazer eco ao que gritava Diego colocando na sua
boca o microfone da Erechim. "É pro meu pai, é pro meu pai!", gritava
tresloucado o autor do disparo que matou a Segundona na vida do Ypiranga e
colocou o clube na Primeirona.
- VI -
Eu não sei porque o Costa
da Costa insistiu em dar mais 5 minutos, mas, quem entende os árbitros quando
se quer o fim ou não se quer o último apito!? Escaramuças ainda se ensaiaram
entre os atletas tudo porque quem havia ganhado o céu de presente, assim como o
bom ladrão que se arrependeu na hora ‘H’; este não haveria de querer sentir o
calor do inferno. E isto deve ser compreendido, pois quem, em sã consciência,
em não sendo nem Adão, nem Eva – haveria de entregar o paraíso como se nada
fosse?!
Quando o árbitro
encontrou o fim da partida, nove anos ficaram para trás naquele
prrrrrrrrrrrrrrrrrrrr. O Banana pulava como só o Banana pode pular e rolar,
porquanto o seu time, a despeito de crises e derrotas, reabilitações e vitórias
jamais perdera a sua identidade, a vergonha e a alma. Milhares de Bananas, num
repente, rolavam pelo gramado do Colosso onde um dia já foi lagoa.
- VII -
Os fios das emissoras de
rádio eram recolhidos e enrolados e já se precipitava o crepúsculo do fim de
tarde. Da tarde do dia dos pais. Da tarde de 10 de agosto de 2008. O Ypiranga,
segunda-feira, 18, estará de aniversário e fará 84 anos. Oito décadas e quatro
anos de honra à sua origem, à sua tradição, à sua história. 84 anos de honra ao
seu fim, maior, principal e único.
E quando deixei o Colosso
da Lagoa e a brisa leve ainda levantava um papelzinho de bala aqui, um ingresso
amassado ali, senti que o banner com a figura de Valério Schillo, no hall do
Colosso, também recebeu uma golfada e se estufou quieta e rapidamente
chamando-me a atenção, como num ‘psiu, ô Ody!, psiu... eu não estava só lá em
cima. Hoje, eu andei pelas cadeiras, pelos banheiros, pela copa, estive lá
fora, dei a volta nas arquibancadas. Eu estava nos gritos do Amilton, do Chico
e do Juliano Panazzollo. Estava no descortino do Pito e na perna esquerda do
Diego. Na ola e nas lágrimas de cada um dos 17.818 torcedores. Eu estava no
peito e no pulmão de cada jogador. Eu estava na alma e no coração do Ypiranga.
Agora – posso voltar em paz. A missão está cumprida’.
‘Nas planuras e serras tão lindas/
Ypiranga/Ypiranga em louvor!/
Quer na paz, quer na luta, bem-vindas/
As vitórias da força e do amor!’.
.x.x.x.x.x.x.x.x.x.
50
anos – 50 curiosidades
1 – As duas comissões que lideram o processo de construção do
estádio foram as seguintes. Comissão Central: Gladstone Osório Mársico,
Danton Hartman, Pedro Brochmann, Moacir de Souza e Ricieri Miola.
Comissão de Finanças: Hermes Campagnolo, Hermes Schenato, Harry
Kleinubing, Silvino De Marchi e Elesio Passuello.
2 – Foram disputados 18 clássicos Atlanga no Colosso da Lagoa. O
primeiro foi em 20 de setembro de 1970. O Ypiranga venceu
3 – No Colosso da Lagoa o Ypiranga venceu nove clássicos, empatou
sete e perdeu apenas dois.
6 – Embora o primeiro jogo no Colosso da Lagoa tenha sido realizado
no dia 2 de setembro de
7 – O Ypiranga se caracterizou por anos como uma “expressão
cultural” da cidade. Na sede do clube, Sérgio da Costa Franco lançou o livro
“Júlio de Castilhos e sua época”. Carlos Nejar, que também foi promotor público
em Erechim, lançou naquele período o livro “Das Nações” que recebeu o Prêmio
Jorge de Lima da Academia Brasileira de Letras.
8 – Ao longo do tempo o estádio passou por restaurações e modificações. Drenagem do gramado, túneis, vestiários, cadeiras, cabines de rádio, instalação de tribunas de honra, lavagem e pintura geral do estádio e, a mais recente, a instalação de modernas casas-mata, os famosos bancos de reserva.
9 – O Colosso da Lagoa tinha capacidade inicial para receber até 30 mil pessoas, mas jamais ele recebeu este número.
10 – O maior público no Colosso da Lagoa foi de 25 mil pessoas (pagando ingressos) no dia 18 de agosto de 1974. Era o aniversário de 50 anos do Ypiranga FC.
11 – Naquele domingo de sol os portões foram fechados antes da
partida. O Canarinho não segurou o grande Inter que começava a aparecer para o
Brasil na época, e que conquistaria nos dois anos seguintes o bi-nacional. O
Inter venceu por
12 – Em 1992 foi realizado um clássico Grenal no Colosso da Lagoa. A
partida acabou empatada em
13 – Por causa da sua capacidade atual estimada hoje em 22 mil pessoas sentadas e por causa da estrutura geral, localização geográfica, vestiários, comunicação, gramado, segurança, entre outros, o estádio recebeu mais três clássicos Grenal.
14 - Em 2009 o Inter venceu por
15 – Olírio Zardo recorda que na época foi feito um chamamento a 100 ypiranguistas para que doassem Cr$ 100 totalizando em torno de Cr$ 3 milhões que foram dados de entrada para a aquisição da área.
16 – Desde 2015 o estádio possui a maior bola no seu largo frontal
àquela que é a maior bola estática do mundo. Ela tem
17 – No Colosso da Lagoa o Ypiranga subiu quatro vezes à Divisão Principal do Futebol Gaúcho: 1989, 2008, 2014 e 2019. Antes, subira em 1967 no estádio da Montanha.
18 – Em 2009 conquistou no Colosso da Lagoa o título de campeão do interior do Estado.
19 – Ainda no Colosso da Lagoa o Clube das Cores Nacionais conta duas participações na Série “D” do brasileiro, seis participações na Série “C” e cinco na Copa do Brasil. Nos 50 anos do Colosso, o clube está na Série “C”.
Ypiranga de 1974: Cláudio, Zico, Baiano, Cuca, Mugica e Valdir; Juarez, Ismael, Pedruca, Paulo Ferro e Maurinho. Para Pedruca, segundo um dos seus filhos, foi um dos melhores times que ele jogou na era Colosso.
20 – O preço do carnê para o Festival de Inauguração do estádio
também foi vendido de forma parcelada. Custava Cr$ 66. Informação do ex-patrono
Luiz Pungan.
21 – Em 6 de fevereiro de 1967, em um documento sobre o custo da
drenagem do gramado consta a alteração das medidas do campo de 70 x
22 – Em 12 de novembro de 1964 o prefeito Eduardo Pinto autorizou ao Ypiranga de acordo com orientação técnica da diretoria de obras da municipalidade a proceder o nivelamento da avenida Sete de Setembro entre o Seminário Nossa de Fátima e o seu futuro Estádio Olímpico, “correndo por conta exclusiva do clube as despesas com os cortes, aterros e movimentação de terra”.
23 – Um memorial justificativo revela exigência do projeto: arquibancadas de 21 filas (degraus). Cada um para 958 espectadores. Total: 20.118 espectadores. Nas sociais mais 3.000 espectadores. Se foi seguido à risca o projeto seriam 23.188 espectadores nas arquibancadas com o pavilhão social inferior. Mais 1.300 cadeiras superiores. Então teríamos pelo documento como capacidade do Colosso da Lagoa 24.488 espectadores sentados.
24 – A terraplenagem movimentou
25 – Acredite se quiser: a idéia de construir um moderno estádio em Erechim foi oferecida ao CER Atlântico. Tudo se encaminhava para isto se realizar. No entanto, depois de ouvir dirigentes do Atlântico, o presidente do clube em 1963, Estevam Carraro, teria levado a noticia ao empresário mentor do plano : o Atlântico desistia da ideia.
Então tudo mudou de lugar. O projeto foi
apresentado ao Ypiranga F.C. que a encampou. Duas comissões foram organizadas e
cerca de um ano depois já se iniciavam as obras – dando origem ao Colosso da
Lagoa, que foi inaugurado oficialmente em 6 de setembro de 1970, seis anos
depois de iniciadas as obras. (Esta informação é do empresário que assumiu a
comercialização dos títulos e a obtive há cerca de dois meses).
26 – Duas construtoras de Erechim apresentaram proposta para construção do Estádio Olímpico.
27 – Total da área adquirida para o Projeto do Estádio Olímpico e outras benfeitorias: 55.440 metros quadrados.
28 – Há alguns
anos o clube teve de se desfazer de 5 mil metros quadrados. Teria sido para
quitar uma dívida trabalhista.
29 – A
primeira opção para inauguração do estádio era uma apresentação da Seleção
Brasileira, mas a CBD justificou que não podia atender ao convite.
30 – Pelé
posou com famílias inteiras para fotografias, entre as quais, as dos Campangolo
e Jovino Alves Martins.
31 - Nilton
Campagnolo, filho do presidente da Comissão de Finanças, sugeriu a
transferência simbólica do Estádio da Montanha para o Colosso da Lagoa pela
condução de uma chama acesa que assim permaneceu durante o festival de
inauguração no novo estádio.
32 – Everaldo,
gaúcho tri-campeão no México, teria sido brindado com uma cadeira cativa no
Colosso da Lagoa.
33 – Todos os
clubes que participaram do festival de inauguração deixaram uma placa no hall
de entrada.
34 – Na década
de 1990, algumas dessas placas em bronze foram roubadas. Tiveram de ser
substituídas por réplicas.
35 – A Rádio
Tupi (SP) Equipe 1040 no futebol, também afixou uma placa assinalando que foi
no Colosso da Lagoa que o rei do futebol fez o seu gol 1040.
36 – A sede
social do Ypiranga F.C. quando ainda no Estádio da Montanha, foi destruída por
um incêndio que, segundo Ivo Barbieri, ocorreu em 1960.
37 – De acordo
com Ivo Barbieri, no período em que o Colosso da Lagoa era apenas um projeto,
houve divisões quanto ao futuro do estádio: uma corrente defendeu a construção
de arquibancadas de concreto no Estádio da Montanha, alegando que o clube não
precisava de estádio do tamanho que se pretendia; no final, prevaleceu a tese
do Estádio Olímpico.
38 – Segundo o
engenheiro e dirigente ypiranguista, João Aleixo Bruschi, as arquibancadas do
Colosso da Lagoa possuem, na média, 416 a 418 metros lineares. São 12 degraus
de assentos.
39 – E, por
fim, João Bruschi avalia que, para uma nova construção do estádio e aquisição
da mesma área, aos tempos de hoje (2018), seria necessário um investimento de
cerca de R$ 50 milhões. Este é o patrimônio, atualizado, do que conhecemos por
Colosso da Lagoa.
40 – A
construção do Colosso da Lagoa no fim da Sete de Setembro arrastou consigo a
expansão da cidade e uma grande valorização imobiliária naquela região.
41 – Ivo
Barbieri foi o técnico do Ypiranga no festival de inauguração.
42 – O
Ypiranga fez sua primeira partida no seu novo estádio jogando de camisa verde,
calções pretos e meias amarelas.
43 - A seleção
brasileira de futebol de 1970 é considerada, ainda hoje, um dos maiores times
de futebol já colocados em campo. Daquela equipe titular ingressaram no gramado
do Colosso da Lagoa, durante sua inauguração, oito jogadores: os laterais
Carlos Alberto e Everaldo; os zagueiros Brito e Fontana; o quarto-zagueiro da
seleção e volante do Cruzeiro - Wilson Piazza; os atacantes Jairzinho
(Botafogo), Pelé (Santos) e Tostão (Cruzeiro). Como se vê, a zaga e o ataque da
seleção de 1970 no Colosso da Lagoa.
44 – Em 1981 o médico Wilmar Rübenich foi “intimado” a comandar um processo de reativação do clube no futebol. E o fez de forma magnífica.
45 – O Ypiranga se licenciara dos gramados junto à FGF em 1977.
Dr. Wilmar Wilfrid Rübenich, o homem que devolveu o Ypiranga ao futebol em 1981. Estava desativado desde 1977. A ele o Canarinho deve muito. Foi convencido por Luiz Pungan, Hermes Schenato e Marinho Khern. "Mas nem sou sócio", disse, ao que os três emendaram: "Se aceitares pegar o Ypiranga - e além do mais não temos sócios". O dr. Rübenich aceitei, estabeleceu um plano trienal e no final de 1981 o clube tinha 299 sócios. Contratou Pedruca para técnico e abasteceu o clube de atletas da cidade e região. Oito anos depois o Ypiranga retornava à Divisão Principal com uma das maiores equipes que já vestiu a camisa verde-amarela. Dr. Wilmar Wilfrid Rübenich o "homem" que "ressuscitou" o Ypiranga depois de cinco anos com o futebol fechado e o Colosso da Lagoa adormecido. Rübenich é o último à direita.
44 – Em 1981 o
médico Wilmar Rübenich foi “intimado” a comandar um processo de reativação do
clube no futebol. E o fez de forma magnífica.
45 – O
Ypiranga se licenciara dos gramados junto à FGF em 1977.
46– No
festival de inauguração o Tabajara Guaíba (Taguá) de Getúlio Vargas também
esteve presente: perdeu na preliminar de Cruzeiro e Independiente, por 5 a 1
para o Ypiranga.
47 – O
erechinense Paulo César Carpegiani, estava “subindo para os profissionais”
naquele Inter que esteve no Colosso em 1970.
48 – Entre os
muitos técnicos que o Ypiranga teve ao longo dos 50 anos do Colosso, em 1996,
foi comandado por Tite – atual técnico da seleção brasileira.
49 – Dionisio
Sganzerla, um dos responsáveis diretos pelo surgimento do Colosso da Lagoa e
idealizador do plano de comercialização de títulos com direito a sorteio de
prêmios – vive hoje em Goiania. Temos nos falado seguidamente por telefone.
Vida longa ao homem que foi decisivo para o empreendimento Colosso da Lagoa.
50 – Cinquenta
anos depois de ser inaugurado como um acontecimento no futebol brasileiro, o
Colosso da Lagoa, permanece como um cartão postal de Erechim.
.x.x.x.x.x.x.-
Onde
eles estavam em setembro de 1970!
Em
2000 eu fundei um jornal. O J.Albet em homenagem ao meu pai –
Alberto, mas que em alemão, e me acostumei assim, pronuncia-se Albet. O jornal
teve vida curta por falta de apoio na cidade. As poucas edições que saíram –
tratavam cada uma de um tema específico. E um deles foi dedicado aos 30 anos do
Colosso da Lagoa. Naquele período ouvi algumas pessoas que deram seu depoimento
sobre onde estavam há 30 anos. Reproduzo aqui, com a licença, adaptando para
2020. E colhi novos depoimentos sobre pessoas que não foram ouvidas em 2000 nos
30 anos Colosso.
Prefeito
vendia loteria em 1970
Em setembro daquele ano “eu trabalhava na
fábrica de móveis da minha família. Estudava no 1º ano do Científico. Também
vendia loteria esportiva, recolhendo as apostas e os volantes para perfurar em
São Paulo. Trabalhava também com artesanato de couro e, o melhor da vida
naquela época eram os ensaios e apresentações da Banda Marcial do Colégio
Mantovani”, destaca a
Quando do festival de inauguração do mais belo estádio do interior gaúcho, o atual presidente do clube, Adilson Stankiewcz, andava de fraldas. Contava com apenas 2 anos e 3 meses. Obviamente, o mundo era o colo da minha mãe, as brincadeiras com meu pai, e a espera pelo meu irmão André, que nasceria em 23 de outubro (mesmo dia e mês de Pelé) de 1970. Meu pai tinha a Casa do Rádio, na rua Aratiba, bem pertinho da estação rodoviária, que ficava no mesmo prédio do Hotel Rex. Fazia consertos de TVs e rádios a válvula, e eletrolas, aparelhos caros e um tanto raros, e também vendia estes produtos, principalmente para os agricultores que vinham para a cidade desembarcando do ônibus na rodoviária. A TV ainda era preto e branco, a TV a cores só chegaria em 1972.
Na verdade o futebol sempre esteve no “sangue” da família. As décadas de 1960 e 1970 foram riquíssimas em clubes de futebol na cidade e no interior, que eram a melhor, senão a única diversão das famílias no final de semana. A equipe da família era o Minuano F. C., e o campo ficava nas terras do meu avô. Nós morávamos logo na entrada do campo, e os atletas eram os tios e vizinhos. Todo domingo jogos, triangulares, quadrangulares. Pessoas circulando, comprando bebidas na copa: cerveja coberta por barras de gelo e serragem para manter o gelo por mais tempo. Campeonato de pênaltis na goleira suplementar. Prêmio uma ovelha e uma caixa de cerveja.
Erechim contava com muitas equipes assim, mas as maiores eram o Ypiranga, o Atlântico e o 14 de Julho. Estes faziam história disputando os campeonatos estaduais e fazendo embates históricos nos campos de Erechim. A cidade respirava futebol, todos esperavam os confrontos do final de semana.
Houve um período no início da década de 1980, em que o Ypiranga estava parado, mas o Colosso era usado para os campeonatos municipais. Jogar lá, assistir os pais jogar era incrível. Ver o tio Lau fazer defesas na mesma goleira que o Pelé marcou o gol 1040, era mágico. Depois, ver o desfile de grandes jogadores como Paulo Gaúcho, Luis Freire, Aílton, Moreno, Mabília, Menezes... sem contar o pessoal da região Jussie, Quadros, Scolari, Ildo, Perin, Marasca, Gerson, Hermes, Clóvis, e tantos outros que eram nossos amigos e vizinhos. Fica nosso reconhecimento a todos os abnegados que fizeram esta linda história, dos fundadores, aos construtores, ex-presidentes, diretores e torcedores, cada um deu o que tinha de melhor por este grande clube.
Enfim, se apaixonar por este templo do futebol brasileiro é muito fácil. Muita gente diz que o endereço Av 7 de Setembro, 1932, é sua segunda casa. Alguns gostariam de ser enterrados atrás das goleiras para assistir os jogos eternamente, como se isso fosse possível. Ser ypiranguista é ter orgulho de ter um estádio em que cabia toda a cidade na sua inauguração. É ter orgulho da sua casa ter sido inaugurada por um gol de Pelé. É saber que você tem uma história quase centenária, recheada de sacrifícios, algumas derrotas e grandes vitórias. E que esta história ainda tem muitas páginas para ser escrita.
Atlantista
só viu a goleada do Botafogo
- Eu estava com 16 anos. Imagina. Era estudante, trabalhava e era torcedor do CER Atlântico. Gostava do que todo mundo gostava naqueles anos: cinema e futebol.
No festival de inauguração só pude ver
Internacional e Botafogo. Em setembro de 1970, Erechim viveu um grande momento
de sua história. Mostrou para o Estado e para o Brasil, o dinamismo e
capacidade empreendedora de sua gente aqui representada pela família
verde-amarela. Nesta época, como todo mundo, eu vibrava muito com o grande
momento de nossa história.
O Colosso da Lagoa foi uma grande obra
idealizada e construída por um grupo de pessoas empreendedoras com idéias
arrojadas e que deixaram uma marca indiscutível neste trabalho. Sem dúvidas – o
Colosso da Lagoa é uma das maravilhas de Erechim. (Júlio Cezar Brondani hoje é o
presidente do CER Atlântico).
Visionário
e líder empresarial trabalhava na roça
Para Jaci De Lazzari, que acompanhou o
festival de inauguração do Colosso da Lagoa só pelo rádio, lá no interior de
Campinas do Sul, o estádio não foi um exagero. “As obras de sucesso não são
para a sua época. O Colosso da Lagoa estava à sua frente do seu tempo no mínimo
50 anos”, afirma aquele que viria a ser chamado de “visionário” em Erehcim no
meio empresarial. E não é que também aqui tinha razão! Ele seria nãos mais
tarde o mentor e o executivo do Pólo de Cultura.
Filha de fundadora viu desenvolvimento
Maria Amorim Smaniotto sabia tudo sobre o Ypiranga. Filha da fundadora do clube, Ercília Di Francesco Amorim, “dona Maria” tinha 44 anos em 1970.
Trabalhava no cartório do pai, José
Maria Amorim, um dos fundadores do clube. Dona Maria já nasceu ypiranguista.
Assistiu a todos os jogos de inauguração, mas não esquece de Grêmio e Santos e
o gol 1.040 de Pelé.
Para ela, o estádio não foi um
exagero. “Foi uma obra arrojada e que projetou Erechim nacionalmente”.
Mas dona Maria via outra vantagem que
o Colosso da Lagoa trouxe à cidade: “O desenvolvimento do trecho compreendido
entre a Praça da Bandeira e o Colosso começou com o estádio. Os terrenos se
valorizaram e hoje vemos ali, grande parte do comércio. Concentra também o
maior movimento de jovens. O Colosso da Lagoa foi a alavanca desta parte da
cidade. Também trouxe outros eventos esportivos e culturais para Erechim”.
O
patrono do clube
Hermes Campagnolo, que foi patrono do Ypiranga F. C. era um homem de “ferro”. Tinha 58 anos em setembro de 1970. Era casado com Pepita – com quem gerou dois filhos: Nilton Edison e José Antônio. Entre as atribuições da época neste episódio da história ypiranguista e citadina, Hermes Campagnolo comandava a Comissão de Finanças que permitiu, graças a uma gestão de sucesso, a construção do estádio.
Diariamente, após o trabalho na
direção do Frigorífico Boavistense, Hermes Campagnolo teve durante quase sete
anos o mesmo programa: seguir diariamente até o fim da avenida Sete de Setembro
acompanhar as obras.
Quando entrevistei em 2000 o dr.
Hermes entendia que o clube
adquiriu um grande patrimônio e com muita competência e seriedade, “construímos
um estádio com base na grandeza do Ypiranga”. Erechim ficou conhecida
nacionalmente e fora do país com a inauguração do estádio olímpico – lembrando
que oito campeões mundiais do México estiveram nos jogos inaugurais.
- Entendendo que o estádio
significa um ponto turístico e um orgulho para Erechim – Hermes Campagnolo teve
a honra e a responsabilidade de representar o clube na condição de seu patrono.
Um
repórter entre os astros
Osvaldo Afonso Chittolina estava há seis anos na rádio Erechim. Fora levado pelo narrador Edivar Francisco Ápio. Em setembro de 1970 – aos 26 anos – Chittolina abriu o mês com uma missão inesquecível para quem estava acostumado a cobrir o nosso futebol doméstico.
Na pista do aeroporto, o intrépido
repórter rompeu a discreta segurança e colocou o microfone na boca de Pelé. O
maior jogador de futebol que o mundo já viu, recém estava contando as diabruras
que fizera havia menos de dois meses pelos gramados do México.
J. B. Scalco, (já falecido)
um dos maiores fotógrafos jornalísticos que o país já teve, imortalizou a cena
do jovem repórter interiorano com o “rei’ do futebol”. No dia seguinte, Osvaldo
Afonso estava nas páginas da Folha Esportiva da capital e, claro, pelo Brasil
porque aonde Pelé seguia, as objetivas iam atrás.
Chittolina contou-me em 2000, que de
abertura do mês de setembro, as rádios só falavam no evento. “Passei uma semana
entrevistando jogadores famosos (Pelé, Tostão, Jairzinho...), dirigentes,
autoridades”. Quando Pelé fez o primeiro gol no Colosso, Osvaldo Afonso saiu
correndo atrás do repórter da Rádio Tupi, invadindo o gramado. Era a marca do
verdadeiro repórter.
Na opinião do repórter, o Colosso da
Lagoa poderia ter sido feito um pouco menor, permitindo que o restante da
infra-estrutura de lazer também fosse implantada. “O estádio projetou Erechim.
É raro receber um visitante que não pergunte para ir ver de perto o estádio”,
acrescenta.
Futuro
reitor da URI acompanhava pela Difusão
Cleo Joaquim Ortigara, já era casado em
1970. Residia em Frederico Westphalen, onde lecionava e estudava. Antes disso,
em 1961 e 1962, foi aluno no Seminário Nossa Senhora de Fátima. “Lembro bem que
a Sete de Setembro, em frente ao Seminário, ainda não tinha pavimentação, muito
menos asfalto. Onde foi construído o Colosso da Lagoa era um descampado, um
banhadal. Lembro da rivalidade entre Ypiranga e Atlântico. Soube sobre o
estádio pelo Correio do Povo. Sempre que possível ia ao estádio, gostava de
esportes. De 1990 até deixar Erechim acompanhava de perto os diferentes
momentos do Ypiranga. Meu rádio estava sintonizado na Difusão. Pessoalmente,
não interagi mais com o clube por pura falta de tempo”. (Cleo Joaquim Ortigara
– membro do Grupo Tarefa que implantaria a URI em 1992; de 1990 a 1992 foi
coordenador dos Centros Integrados do Alto Uruguai e das Missões, e primeiro
reitor da URI de 1992 a 2002).
Ypiranga
no sangue
Eu tinha 16 anos no dia 2 de setembro de 1970, recém o Brasil havia se sagrado Tri campeão mundial no México. E Erechim estava recebendo quase todos os titulares daquela que foi a melhor seleção brasileira de futebol de todos os tempos. E tinha o Rei! Pelé já era reverenciado em todo o planeta, era marca de produtos brasileiros, referencia mundial no futebol. E estava ali, na nossa cidade, no nosso estádio que estava sendo inaugurado para orgulho dos erechinenses.Eu estudava o primeiro ano do curso científico no Colégio Estadual Professor Mantovani no período da manhã e simultaneamente cursava Contabilidade à noite no Colégio Medianeira.
Assisti ao jogo Grêmio e Santos na quarta
feira dia 2. No dia 06.09.1970, eu completava 17 anos, e fui ver Internacional
e Botafogo. Na outra quarta-feira, dia 9, o professor (não vou citar) que não
gostava de futebol, prometeu dar zero na nota para quem faltasse à sua aula
para ir ao futebol! Depois ficamos sabendo que ele ficou sozinho na sala de
aula naquela noite. Era o Cruzeiro de Tostão, Piazza e Zé Carlos, timaço contra
os argentinos do Independiente.
Passaram 50 anos....Nesse meio tempo ( foi
ontem!!!!) dediquei alguns anos de minha melhor idade para dirigir o Ypiranga Futebol
Clube. Três anos como presidente e, muitos outros em outros cargos diretivos.
Muito prazer me deu, nosso grupo de trabalho era grande e entusiasta!
E o Canarinho aí está, hoje competindo à
nível nacional sob a presidência do nosso querido amigo Adilson Stankievicz,
melhor presidente da história recente, pela sua inteligência, sensibilidade,
dedicação e paixão com que se dedica ao nosso Canarinho! Feliz em estar
acompanhando essa história de sucesso, parabéns jovem Colosso da Lagoa pelos
seus 50 anos, parabéns Ypiranga FC! (Antonio Luiz Dal Prá – da Família Dal Prá
– ypiranguistas históricos. Na foto com Rodrigo Caetano e Luciano Hocsman).
Presidente
do Conselho – Célio Fahl
Quando da inauguração do Nosso Colosso da
Lagoa, que chegou a ser chamado de “Estádio Olímpico”, minha Família tinha um
estabelecimento comercial (bodegão), chamado Bar Amarelinho, na Avenida Pedro
Pinto de Souza - próximo à Praça Dalto Filho. E como não poderia deixar de ser,
o comentário futebolístico na época era, além do Tricampeonato do Brasil no
México e da supremacia do Atlético Mineiro no Robertão, era a inauguração do
Colosso da Lagoa, ou melhor....a vinda do Rei Pelé para Erechim.
Pois bem, chegou a data, numa quarta feira
de clima maravilhoso, a cidade em polvorosa, fomos - Eu e meu Pai - ao grande
espetáculo....ver ao vivo, o famoso time do Santos FC, e principalmente o REI
PELÉ. E lá estava Ele, com seu uniforme impecavelmente branco (pois craque
termina o jogo sem sujar o uniforme ) brilhando no gramado, também impecável ,
do todo majestoso COLOSSO DA LAGOA. E o maior atleta de todos os tempos, Pelé,
deixou sua marca anotando um belo gol na goleira à esquerda das cadeiras
sociais, e tido como o de número 1040.
Esse é o fato histórico, que minha Família
me proporcionou, pois lembro que meus Pais fizeram uma mágica tamanha para que
isso acontecesse, em razão das dificuldades econômicas do momento. Mas o fato
inusitado do chamado Festival de Inauguração do Colosso da Lagoa, como assim
foi chamada a sequência de jogos que aconteceram, se reporta ao domingo pós
inauguração, quando minha segunda paixão futebolista - o SC Internacional -
enfrentou o também poderoso Botafogo do Rio de Janeiro. Expectativa
enorme...dois grandes times, o goleiro do Inter - Gainete - há mais de 1000
minutos sem tomar gols. E daí....como fazer para assistir esse jogo, se o dinheiro
faltava. Lá foi o Chico (Célio Fahl) para o Estádio, com a cara e a coragem.
Após muita negociação com o porteiro, o mesmo possibilitou minha entrada no
intervalo do jogo, e com muita tristeza, e abaixo de um temporal, assisti o meu
Inter perder de 5x2 para o Botafogo. Esses momentos são inesquecíveis, pois
lembram nossas Famílias, nossas dificuldades, nossas histórias, nossas
vivências, nossa cidade, nosso futebol, mas principalmente o maior espetáculo
de todos os tempos - A VIDA. Vida longa ao Nosso Ypiranga, vida longa ao Nosso
Colosso da Lagoa, e principalmente....Vida longa para nós.
Gerente
da Difusão caçava autógrafos no aeroporto
Luis Antônio Badalotti, gerente da rádio
Difusão, Guido pela mão do pai Idylio Segundo Badalotti, viveu intensamente o
setembro de 1970. Ainda mais que sua família era uma vertente de saudação ao
futebol. Seu pai fora inclusive árbitro de um
Atlanga que acabou “em paz”, algo raro
nos anos 1960. Além disso, outros familiares do ramo/Badalotti sempre
participaram ativamente do futebol erechinense e, muito familiarizados com o 14
de Julho.
Lembra daquele setembro de 50 anos
atrás: “Das idas ao nosso aeroporto na busca de autógrafos dos ídolos, até e,
especialmente, por ter estado em todos os jogos da inauguração do Colosso da
Lagoa. Fui um dos milhares de torcedores, de todas as idades (eu com 8 anos),
que acompanhou extasiado os jogos. Em 2 de setembro de 1970 estava nas
arquibancadas do Colosso onde testemunhei Pelé fazer o primeiro no novo estádio”.
x.x.x.x.
EU E AQUELES DIAS
No dia 2 de setembro de 1970, quando foi realizada a primeira
partida de futebol no Colosso da Lagoa, eu estava a 16 dias de completar 18
anos. Trabalhava no Posto Atlantic do “Seu Abílio (Machry)”. Era frentista.
Comprei um carnê de Cr$ 66 para todos os jogos do festival na Banca da Salete,
no canteiro central da Av. Maurício Cardoso, em frente ao Cine Ideal e ao Café
Grazziottin. Comprei a prazo, é claro.
Do posto de combustíveis testemunhei toda a movimentação no
entorno das delegações que se hospedaram no Hotel Erechim. A multidão, quando
da estada do Santos, tomou todas as ruas próximas. Um dia, o famoso Nocaute
Jack, massagista da seleção brasileira e do Cruzeiro, apareceu de abrigo
branco no Posto. Tinha uma lista de marcas de cigarro para comprar, porque os
atletas não saíam do hotel. Grande figura humana. Deu atenção a nós,
funcionários/frentistas do Posto.
Em nenhum dos jogos do festival de inauguração, o estádio
recebeu sequer a metade da sua capacidade. Falavam que o preço era muito alto.
Mas em Grêmio e Santos deu umas 8 a 10 mil pessoas. Sentei quase na linha
divisória do campo nas arquibancadas. Era uma noite de lua clara.
Pelé fez o primeiro gol no final do primeiro tempo, na
goleira que dá para o centro da cidade. Um repórter da Rádio Tupi invadiu o
campo, entrevistou Pelé, que jogou o restante da partida com uma camiseta de
número 1040 – o prefixo da emissora. Osvaldo Affonso Chittolina, o intrépido
repórter da Erechim correu atrás também.
No domingo, 6, a chuva começou no início da tarde e foi
aumentando até virar aguaceiro intermitente quando Inter e Botafogo se
enfrentaram. Assisti, sob guarda-chuva, em pé atrás da goleira que dá para o
centro, o Botafogo golear o Inter por 5 a 2. O público era muito pequeno. Quase
todos abrigados nas sociais - cadeiras ou sob a marquise no pavilhão social.
No domingo seguinte,
13 de setembro, o tempo bom estava de volta. E com ele apareceu o melhor
futebol que o Colosso da Lagoa viu em seus 50 anos. O Cruzeiro de Piazza, Zé
Carlos, Dirceu Lopes e Tostão, passeou diante do Independiente (ARG) com um
clássico 3 a 0 e jogou com uma técnica fora dos padrões normais.
Depois vi muitos Atlangas, quedas do Ypiranga para o Acesso,
voltas à Divisão Principal, brigas campais, o Canarinho na Copa do Brasil, nas
Série D e C do brasileiro, vi jogadores bons e ruins, atletas que vestiram a
camisa e honraram o clube e, invariavelmente, uma presença de público que
deixava – e ainda deixa – na sua maior
parte de eventos, quase sempre muito vazio o estádio considerando sua
capacidade. Isto desde quando a cidade tinha 34,5 mil habitantes (setembro de
1970) ou no século 21 quando a população é de pouco mais de 105 mil pessoas.
Sem dúvidas, este é o grande ponto negativo que se atrela ao majestoso estádio,
em quase 50 anos. Não por culpa do
próprio e nem de quem o projetou e construiu, mas porque esta parece ser uma
sina que persegue os clubes de futebol do interior do Estado e de resto do
Brasil. As grandes marcas do futebol concentram, cada vez mais, as atenções
quase totais das entidades diretivas do futebol, da imprensa e dos torcedores.
E olhando-se o panorama do futebol sob este aspecto desafiador, o Colosso da
Lagoa cresce ainda mais em curiosidade e importância no cenário nacional.
O festival de inauguração do Colosso da Lagoa foi sem nenhuma
dúvida, o maior acontecimento esportivo nos 100 anos de Erechim. Imagine você a
cidade receber hoje seis dos principais clubes do país e entre eles oito
titulares da seleção brasileira! Isto é impossível pois os titulares da
seleção hoje jogam fora do país. E o custo?
Erechim devia tratar melhor o Colosso.
Ir aos jogos.
Bater fotos da família no Colossão.
E o que dizer daqueles que tiveram a ideia?
Levaram-na adiante.
A tornaram realidade.
Há certas coisas que não voltam mais.
Como aquela ambição.
Aquele projeto em execução.
Aqueles meus dias.
Dias de cabelos.
Encaracolados.
O tempo.
O tempo é implacável.