Ypiranga! Ypiranga em louvor!
São duas coisas: uma, é que o
presidente João Aleixo Bruschi, esteve à frente do clube por 11
anos, quando a gestão do futebol passara à parceria do IABRB. Não
é fácil, imagino eu, ser presidente quase sem ter voz dentro de
casa. Afinal, parcerias nunca são unilaterais, logo... Então,
reconheça-se, isto. Foi, sem nenhuma dúvida, um desprendimento
elogiável de alguém na presidência de uma instituição que
entregara suas chaves a outra instituição. Mas – sejamos justos:
outros presidentes também se desprenderam em favor do canarinho ao
longo de sua história, trocando pedaços de casa, família e
profissão, pelo amor ao clube. Assim será por que assim foi. Assim
é.
A outra coisa (no sentido de viés, de
elemento, de fato), é que o Ypiranga, depois de um processo
eleitoral interno, reencontra, aparentemente, um novo horizonte. E
aqui não há nenhum desabono a quem sai, a quem deixa de participar
mais ativamente, e também, por enquanto, nenhum mérito de resultado
– até aqui -, de quem entra, de quem retorna, de quem chega. Ou
até mesmo de quem ainda estará!
O fato mais auspicioso para a história
do Ypiranga é que 2014 abre suas cortinas onde se nota, exagerando,
que quase se pode tocar,a existência de um novo clima no Colosso da
Lagoa. Está no semblante, sente-se o cheiro, não se encontra um que
sustente uma tese contrária, de que, o Ypiranga não só se oxigena,
mas se revigora, ganha musculatura, cria ele próprio e lança com
naturalidade a quem expia essas coisas, a cristalina sensação de
que a expectativa é de esperança esperançosa, alvissareira,
promissora. Agora – só falta fazer!
São nomes da ‘velha-guarda’, com
grandes serviços já prestados ao clube, são nomes debutantes,
enfim, há uma mescla de ypiranguistas envolvidos, flagrantemente, na
participação de construção de, se não uma nova era, um novo
período para o clube das cores nacionais.
E, este novo período, saber-se-á mais
adiante, quiçá uma nova era, conta com equipes de campo e de fora
das quatro linhas. Certamente para o torcedor que tem pressa e quer
ganhar o jogo de hoje, ontem; os resultados de campo são a história
toda. Mas para quem deseja uma sorte menos dependente do acaso – há
que se ter uma estrutura que acabe de uma vez por todas com a
improvisação, com o altruísmo de alguém que ‘caia do céu’,
ou, até mesmo, com as amadorísticas passagens de pires na mão
junto ao comércio, à indústria, a colaboradores apiedados do
clube.
E é isto que marca esta largada de
2014.
Enquanto uma equipe multiprofissional
trata das coisas dentro do gramado com vistas ao resultado de curto
prazo, há um outro time, de fardamento social, pensando o clube,
planejando o clube, observando como outros fazem para saber como
fazer, o que não fazer, o que pode ser sonho factível e sobre que
pilares o clube precisa se apoiar para seguir sua vida, a cada novo
porvir de ano, como uma sólida e confiável construção. Ademais –
o clube não começa aqui, mas fechará em agosto 90 anos, logo,
entre caminhadas, tropeços, glórias e dissabores mais amargos,
também deve ter um caldinho de receita própria da qual certamente
fará uso quando entender oportuno.
Se futebol é resultado, e é, não se
pode admitir uma participação de coadjuvância no campeonato da
série ‘B’, de 2014, até por que, nos voos que o canarinho
encetará ao longo do ano pelo interior do estado, não encontrará
nenhum Barcelona, nenhum Bayer – muito pelo contrário, dividirá
bolas com aparentados seus, alguns até, mais distanciados do
‘canarinho’ em termos de tradição, camisa e história. Então –
a turma que vai defender o clube dentro de campo, tem obrigação
profissional de lutar, sempre, até a última bola - pelo melhor
resultado, que aqui significa o retorno à elite do futebol gaúcho
este ano.
Já o time que joga fora de campo
também tem obrigação, por que assim o quis, de desdobrar-se em
busca dos resultados mais positivos, não os possíveis – mas os
rigorosamente necessários -, para vestir o Ypiranga FC até o seu
centenário, em 2024, com roupa de gala, porquanto, de gala o clube
ambiciona se tornar neste aparente, mas rápido período, de 10 anos.
Dados aos sonhos que recolhi e que
andam pelas cabeças de ypiranguistas de épocas distintas – a
missão que se avizinha é gigantesca. Agora, para quem construiu um
estádio com recursos próprios advindos de idéias e ideais de
grandes dirigentes, uma segunda façanha – a cargo agora de uma
nova geração em comparação àquela que edificou o Colosso da
Lagoa – um novo e marcante feito na história do clube, não dever
ser menosprezado. Como se dará isto tudo, eu não faço a mínima
ideia.
Fisgo no tempo dois episódios: um –
quando o ‘Onze Canarinho’ subia as escadas estreitas de tijolos
escorregadios surrados pelo limo, do vestiário de madeira rumo ao
gramado eivado de rosetas da velha e histórica Montanha. O outro,
aparentemente num de repente de alguns anos -, na noite de 2 de
setembro de 1970, estava eu sentado na geral do Colosso da Lagoa,
onde, a 30 metros dos meus olhos corria ele, Pelé, o rei do futebol,
sobre um tapete verde. Comparado às touceiras e buracos da saudosa
Montanha, uma mesa de bilhar, num estádio, até então, só possível
em sonho de destemidos, são contra-pontos episódicos temporais, assim como tantos outros na história do clube, que revelam ser possível alterar a própria trajetória.
Então, como disse, o Ypiranga que já
fez uma façanha (fora das quatro linhas) incorporando-a à sua
história, só a consignou porque alguém a sonhou, alguém ousou,
alguém desafiou o imponderável. Para repetir um novo feito,
sonhando bem alto (inaugurando uma nova era de apelo e
sustentabilidade ao seu futebol), o canarinho precisa voltar a ousar,
a desafiar o que se apresenta impossível. Mas – não são assim
que as façanhas se fazem!?
Neste momento o que o Ypiranga mais
precisa é de um projeto minimamente factível, de pessoas uma vez
decididas a se engajar que pensem mais no clube e menos em si, de
ideias e opiniões próativas e de paciência. Paciência da torcida,
da comunidade e da imprensa. Para o azar, ou seria para a sorte, do
time que joga com a camisa verde-amarela fora de campo, é que o juiz
já apitou e o ‘Campeonato 100 Anos do Ypiranga’ já começou. Se
o rumo ainda não está claro (de como viabilizar o que sonham) –
sigam o hino do clube e já haverá um começo com alguma chance de
dar certo. Atentem para parte da obra de Silvestre Péricles de Góis
Monteiro e Ricardo Kreische.
O Ypiranga surgiu para a vida
com a missão de trazer
pelo esporte,
a pujança corpórea reunida,
a beleza do espírito forte...
... Nas planuras e serras tão
lindas
Ypiranga! Ypiranga em louvor!
Quer na paz, quer na luta,
bem-vindas
as vitórias da força e do amor...