quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Nas planuras e serras tão lindas

Ypiranga! Ypiranga em louvor!



São duas coisas: uma, é que o presidente João Aleixo Bruschi, esteve à frente do clube por 11 anos, quando a gestão do futebol passara à parceria do IABRB. Não é fácil, imagino eu, ser presidente quase sem ter voz dentro de casa. Afinal, parcerias nunca são unilaterais, logo... Então, reconheça-se, isto. Foi, sem nenhuma dúvida, um desprendimento elogiável de alguém na presidência de uma instituição que entregara suas chaves a outra instituição. Mas – sejamos justos: outros presidentes também se desprenderam em favor do canarinho ao longo de sua história, trocando pedaços de casa, família e profissão, pelo amor ao clube. Assim será por que assim foi. Assim é.

A outra coisa (no sentido de viés, de elemento, de fato), é que o Ypiranga, depois de um processo eleitoral interno, reencontra, aparentemente, um novo horizonte. E aqui não há nenhum desabono a quem sai, a quem deixa de participar mais ativamente, e também, por enquanto, nenhum mérito de resultado – até aqui -, de quem entra, de quem retorna, de quem chega. Ou até mesmo de quem ainda estará!

O fato mais auspicioso para a história do Ypiranga é que 2014 abre suas cortinas onde se nota, exagerando, que quase se pode tocar,a existência de um novo clima no Colosso da Lagoa. Está no semblante, sente-se o cheiro, não se encontra um que sustente uma tese contrária, de que, o Ypiranga não só se oxigena, mas se revigora, ganha musculatura, cria ele próprio e lança com naturalidade a quem expia essas coisas, a cristalina sensação de que a expectativa é de esperança esperançosa, alvissareira, promissora. Agora – só falta fazer!

São nomes da ‘velha-guarda’, com grandes serviços já prestados ao clube, são nomes debutantes, enfim, há uma mescla de ypiranguistas envolvidos, flagrantemente, na participação de construção de, se não uma nova era, um novo período para o clube das cores nacionais.

E, este novo período, saber-se-á mais adiante, quiçá uma nova era, conta com equipes de campo e de fora das quatro linhas. Certamente para o torcedor que tem pressa e quer ganhar o jogo de hoje, ontem; os resultados de campo são a história toda. Mas para quem deseja uma sorte menos dependente do acaso – há que se ter uma estrutura que acabe de uma vez por todas com a improvisação, com o altruísmo de alguém que ‘caia do céu’, ou, até mesmo, com as amadorísticas passagens de pires na mão junto ao comércio, à indústria, a colaboradores apiedados do clube.

E é isto que marca esta largada de 2014.

Enquanto uma equipe multiprofissional trata das coisas dentro do gramado com vistas ao resultado de curto prazo, há um outro time, de fardamento social, pensando o clube, planejando o clube, observando como outros fazem para saber como fazer, o que não fazer, o que pode ser sonho factível e sobre que pilares o clube precisa se apoiar para seguir sua vida, a cada novo porvir de ano, como uma sólida e confiável construção. Ademais – o clube não começa aqui, mas fechará em agosto 90 anos, logo, entre caminhadas, tropeços, glórias e dissabores mais amargos, também deve ter um caldinho de receita própria da qual certamente fará uso quando entender oportuno.

Se futebol é resultado, e é, não se pode admitir uma participação de coadjuvância no campeonato da série ‘B’, de 2014, até por que, nos voos que o canarinho encetará ao longo do ano pelo interior do estado, não encontrará nenhum Barcelona, nenhum Bayer – muito pelo contrário, dividirá bolas com aparentados seus, alguns até, mais distanciados do ‘canarinho’ em termos de tradição, camisa e história. Então – a turma que vai defender o clube dentro de campo, tem obrigação profissional de lutar, sempre, até a última bola - pelo melhor resultado, que aqui significa o retorno à elite do futebol gaúcho este ano.

Já o time que joga fora de campo também tem obrigação, por que assim o quis, de desdobrar-se em busca dos resultados mais positivos, não os possíveis – mas os rigorosamente necessários -, para vestir o Ypiranga FC até o seu centenário, em 2024, com roupa de gala, porquanto, de gala o clube ambiciona se tornar neste aparente, mas rápido período, de 10 anos.

Dados aos sonhos que recolhi e que andam pelas cabeças de ypiranguistas de épocas distintas – a missão que se avizinha é gigantesca. Agora, para quem construiu um estádio com recursos próprios advindos de idéias e ideais de grandes dirigentes, uma segunda façanha – a cargo agora de uma nova geração em comparação àquela que edificou o Colosso da Lagoa – um novo e marcante feito na história do clube, não dever ser menosprezado. Como se dará isto tudo, eu não faço a mínima ideia.

Fisgo no tempo dois episódios: um – quando o ‘Onze Canarinho’ subia as escadas estreitas de tijolos escorregadios surrados pelo limo, do vestiário de madeira rumo ao gramado eivado de rosetas da velha e histórica Montanha. O outro, aparentemente num de repente de alguns anos -, na noite de 2 de setembro de 1970, estava eu sentado na geral do Colosso da Lagoa, onde, a 30 metros dos meus olhos corria ele, Pelé, o rei do futebol, sobre um tapete verde. Comparado às touceiras e buracos da saudosa Montanha, uma mesa de bilhar, num estádio, até então, só possível em sonho de destemidos, são contra-pontos episódicos temporais, assim como tantos outros na história do clube, que revelam ser possível alterar a própria trajetória.

Então, como disse, o Ypiranga que já fez uma façanha (fora das quatro linhas) incorporando-a à sua história, só a consignou porque alguém a sonhou, alguém ousou, alguém desafiou o imponderável. Para repetir um novo feito, sonhando bem alto (inaugurando uma nova era de apelo e sustentabilidade ao seu futebol), o canarinho precisa voltar a ousar, a desafiar o que se apresenta impossível. Mas – não são assim que as façanhas se fazem!?

Neste momento o que o Ypiranga mais precisa é de um projeto minimamente factível, de pessoas uma vez decididas a se engajar que pensem mais no clube e menos em si, de ideias e opiniões próativas e de paciência. Paciência da torcida, da comunidade e da imprensa. Para o azar, ou seria para a sorte, do time que joga com a camisa verde-amarela fora de campo, é que o juiz já apitou e o ‘Campeonato 100 Anos do Ypiranga’ já começou. Se o rumo ainda não está claro (de como viabilizar o que sonham) – sigam o hino do clube e já haverá um começo com alguma chance de dar certo. Atentem para parte da obra de Silvestre Péricles de Góis Monteiro e Ricardo Kreische.

O Ypiranga surgiu para a vida
com a missão de trazer
pelo esporte,
a pujança corpórea reunida,
a beleza do espírito forte...

... Nas planuras e serras tão lindas
Ypiranga! Ypiranga em louvor!
Quer na paz, quer na luta,
bem-vindas
as vitórias da força e do amor...