* ‘Homenagem ao
querido amigo Edson Dal Lago, homem honrado nos empreendimentos por
ele encetados. Profissional de dedicação e qualidades excelsas
ocupou cadeira na primeira fila dos erechinenses da sua categoria
junto ao Crea. Convocado a contribuir no governo Dexheimer -
contribuiu. Instigado a assumir o HC - assumiu. Amigo dos seus amigos
– não consta ter levantado punhos contra quem, eventualmente, não
o estima. Não bastasse isto – tirou do papel e colocou a mão na
massa, como um oleiro atencioso, porém sem tréguas, sobre
ensinamento de encruzilhada do Evangelho, mandando mais que rezar –
fazer. Cunhou ainda na cidade, uma sólida e transparente imagem de
altruísta. Edson Dal Lago foi surpreendido em 2013 por um drama de
saúde, que o aflige ainda hoje – mas, com o qual vai convivendo e
se adaptando, sem perder, jamais, o otimismo da recuperação. No seu
embate pessoal, desfruta de suportes que ele mesmo edificou ao longo
da vida: uma família amável e uma fé inabalável. Em meio à
turbulência - mantém seu inconfundível, natural e singelo sorriso
de bondade sem fim.
Foto: Edson Dal Lago
- Presidente do HC de Erechim
I
O clima mudou.
O ambiente é outro.
Não.
Realmente não é a mesma coisa que era
há poucos dias.
Poucos mesmo.
Um tempo que ficou ali,
ali atrás.
Viu?
Consegues ver?
Olha o rabinho dele ali ó, ali...!
II
Faz uma semana.
Não – uma semana também não...
mas duas semanas e olhe lá,
e francamente,
o ar era outro.
Diferente.
Não o mesmo de hoje – recém oito,
nem 15 dias depois.
III
Parece que faz tempo.
Sim – tempo e muito tempo que se
ouvia os sinos de Natal bater.
Homens, mulheres e crianças caminhavam
apressadamente pelas calçadas.
Entravam e saiam das lojas.
Carregavam sacolas de compras.
Presentes, certamente.
Crianças iam arrastadas por mãos de
mães com força e com pressa.
Alguém pisou no freio para evitar um
atropelamento.
Sim, pois havia pressa.
Não se andava.
Se corria nas calçadas.
Nas lojas.
Nas ruas.
Nos ônibus.
Nas visitas.
Nas cabeças.
IV
Coloquemo-nos de novo naqueles dias:
uns vendem.
Muitos compram.
Muitos outros expiam.
Pedem preço e se vão.
No entardecer do 24,
de véspera de Natal - a desaceleração.
A cidade vai se esvaindo.
Esvaziando.
Murchando.
Lixo, papéis, sobras se acumulando.
Em que tocas se entocaram as gentes!?
Quando o sol vai dormir,
os primeiros Papai-Noéis,
de moto,
colocam as barbas para voar contra o
vento.
Sacos com balas e doces vão na garupa.
Os trenós tropicais favorecem
e tal qual noéis fora de ambiente,
viram motos.
V
Nas casas,
nas TVs,
nas mesas,
nas luzinhas das folhagens,
dos ‘chapéus’ de telhado,
nos aramados,
nas cercas,
nas grades,
nas defensas eletrificadas,
cordões e estrelinhas piscam em
amarelo, vermelho, azul, verde, prata e ouro.
José e Maria – guardam Jesus na
manjedoura.
Sob os pinheirinhos
– tudo é Natal.
De banho tomado,
as crianças correm pelas calçadas.
Cheiram à sabonete.
Estão penteadas
- e esperam Papai Noel.
E presentes.
VI
Os pais conseguem se unir.
Surpreendentemente,
parecem família.
Definitivamente
– o ar de hoje já não é mais
aquele do dia 24 e nem do dia 25.
De ontem – pensando bem.
Missas.
Mensagens.
Cartões.
Envelopados e eletrônicos.
Feliz Natal!
Feliz Natal!
E quando esta festa do calendário
cristão de despede,
pinta no horizonte
novo ar, um ar alvissareiro: mais que o
fim de ano – é toda a esperança do porvir.
VII
Feliz Ano Novo!
Próspero Ano Novo!
É o que se desejam as famílias,
os parentes,
os vizinhos,
os amigos,
os conhecidos,
os desconhecidos,
os diferentes.
Os bons e os maus.
Os adversários e os inimigos.
Os que se suportam
- no trabalho,
nas casas que nessa época chamam de
lar.
Desejam votos de felicidade por mais um
ano,
até aqueles que se suportam
- no que um dia já foi amor e hoje,
pacífica e quase contratualmente
- aceitam que se denomine
relação.
VIII
Saúde e paz
– que do resto a gente corre atrás,
um diz para o outro,
o outro diz para o um,
e quase sempre
um e outro – não sabem o que estão
dizendo.
Repetem-no por educação,
por tradição,
por impulsão.
Por – obrigação!
IX
Sim, aqueles dias...
aquele ambiente,
aquele clima de Natal e de Ano Novo,
com absoluta certeza não era o mesmo
do de hoje.
O sentimento com todo seu sentido de
pleno sentido
- está assim,
meio sem sentido,
se desmanchando,
se apagando,
desaparecendo como o barco que se
afasta do cais da vida de onde o observamos
- imponente, quando ali – atracado.
Mas não percamos as esperanças: no
próximo Natal,
no ano Novo de 2015
a pressa voará de novo.
As luzinhas se reascenderão por nossas
mãos.
As crianças voltarão a iluminar com a
expectativa ingênua por Papai Novel, nossos dias insossos que nos
ditam,
nos guiam,
nos comandam ano inteiro
– até acordarmos com a magia do
nascimento do Menino Jesus,
espelhado num sentimento de união
que no fundo de todos os fundos,
devia servir para nos envergonhar,
por tanto tempo em desapego com aquilo
que nos transforma
por oito ou 15 dias
- em gente;
em pessoas que conseguem desencaixotar
a simplicidade,
a solidariedade,
a harmonia,
a irmandade,
um sentimento de naturalidade incomum
- de modo quase socialista (no que o
termo tem de único/bom e verdadeiro) -
como se tudo isso numa caixinha de
fósforos o resto do ano
- escondido fosse.
O mais grave: e não é!?
X
Mas,
nestes ricos oito ou 15 dias,
que saúde nos acrescentamos?
Que paz incentivamos?
Que ações,
isto mesmo,
que ações, eu,
tu...
nós... desencadeamos para mais saúde,
para mais paz, para mais felicidade!?
O que, de fato, fizemos,
ou em nada fazendo já fazemos algo!
Talvez, nosso negócio vocacional e
tradicional,
não passe de modestos intérpretes de
papagaios de pirata todos os anos
nesta época do ano!
XI
Quantas vidas tomaram outro rumo nestes
poucos oito ou 15 dias,
entre tantos desejos de saúde, paz e
felicidade!?
Quantas vidas se perderam?
Quantas se espatifaram?
Quantas se reencontraram?
Quantas se descobriram?
Quantas se redescobriram?
Quantas vieram.
Quantas renasceram para novos caminhos?
Quantas vidas mudando – não mudaram!
Quantas vidas só trocaram de roupa!
XII
Pensando bem,
é mais fácil,
é menos penoso pensar no Natal e no
Ano Novo que estão por vir,
que voltar oito ou 15 dias
e reconstruir todos os sonhos do
período pré-natalino.
Como é triste,
talvez, por que ainda muito cedo,
muito precoce,
muito verde,
muito ontem
– cobrar já, todas as promessas que
nos prometemos.
Melhor mesmo é, é, é...
expectar.
Temos governos que nos ensinam bem
sobre isto: expectar!
XIII
Por isto,
Novo Natal Feliz;
Feliz Novo e Próspero Ano –
2014/2015.
E pensar que só se passaram oito ou 15
dias.
Fechemos a caixinha de sonhos e
recomecemos a viver a vida de adulto.
Mas as crianças têm razão.
Que saudades dos tempos comandados pela
ingenuidade,
pela humildade,
pela boa fé,
pela pureza,
pela naturalidade,
pela singeleza,
pelo verdadeiro,
pela ambição
- desambiciosa.
XIV
Alguém dirá: mas esse cara não sabe
que sonho é sonho e vida real é vida real?
Cai na real ô meu!
Não sabe que é preciso ralar o ano
inteiro -
justamente para poder atender aos
sonhos de Natal e de Ano Novo?
Eu sei brother. Eu sei!
Eu só queria sonhar uns dias mais,
refletir melhor sobre a simbologia
desse período
- mágico.
Mas também já à minha porta bate o
mundo real.
Por isso me despeço.
E minha pressa tem pressa.
Igualzinha à sua,
à do mundo real.
Ela não pode esperar nada.
Atrasar? – nem pensar!
- O jato tá no Comandante Kraemer?
Já!? Então vâmo, porque afinal tenho
um... implante, urgente, pra fazê. Se tudo dé certo – até o fim
do ano já tô com cabelo, e se deixá a barba,
até Papai Noel posso virá.
Oh-oh-oh-oh!
Afinal – sob certos aspectos, o povo
brasileiro
– genuinamente nacional,
é um nativo,
uma criança que jamais abandona sua
condição, e aparentemente eterna,
de pacífica,
laboriosa;
ciosa sonhadora,
mesmo ela própria tendo que acordar,
trabalhar quase 150 dias para os
governos,
e sustentar todos
e todo o mundo real,
até para que tudo possa evoluir em
dezembro e janeiro,
para o mundo da solidariedade,
da irmandade,
da sociabilidade fraterna de tudo
enquanto – sonho.
Evoluir para o mundo ideal.
Nem que seja por oito ou 15 dias.
XV
Mas, Bota, nativo observador da cena
cotidiana de Campo Pequeno, ainda permanece com uma pulga atrás da
orelha: ‘mááá´, seuuuu Odyyyyy. Sê semo tão sonhador, se temo
que pagá o nosso Papai Noel e o dos ôtro tamém – e a gente não
se almebra nas hora que devia se alembrá, dessas safadeza, má, máá,
mááááá´... por que que não sonhemo,
um dia,
de verdade,
que nóis, que nóis... têmo memória!?
Seuuu Odyyyy – tem muito sonho de
Natal que até vira realidade... mááááááá... será que nóis,
brasilero, genuíno (genu-íno... credo, quase!) mááá, então,
será que nóis
com mais memória,
ou,
com memória já ajudava bastante,
não podia sonhá pra ganhá memória
de presente?
- e então sim esperá com mais chance
de alcançá,
de consegui as coisa sem ficá com esse
nó nas tripa,
na buchada,
um nó de sensação de que a gente
ainda é engambelado mais que merecemo!?
Essa pulga é tão realidade que nem
nos tempo de Natal e dos Ano Novo,
há ano, ano e ano,
não me sai detráis da orêia –
seuuu Odyyyy!
E do jeito que as coisa tão indo,
os que entende mesmo das economia,
dizque não sabem se o pulguedo vai
aumentá