BV - 22 - 8 - 2014
DIA 18 o Ypiranga FC fechou 90 anos.
Quem tem 90 anos?
Qual dirigente do clube tem 90 anos?
FOI fundado no Hotel de Lourenço Antunes de Oliveira.
A história foi relembrada em vídeo no CC sexta-feira,
15, quando ex-presidentes ainda vivos foram homenageados.
O Ypiranga foi fundado no dia seguinte a uma partida
entre o Ítalo-Brasileiro (mais tarde Atlântico) e o Douradense, num campo na
Praça Julio de Castilhos.
UM grupo de recém chegados a Boa Vista do Erechim, e
hóspedes do hotel, foram ver a partida. Como a torcida era quase toda do Ítalo,
os ‘visitantes’ resolveram gritar Douradense.
O Ítalo venceu o jogo, mas até hoje não se sabe quem
ganhou a briga depois dos 90.
Futuros atlantistas e, ainda não sabidos futuros
ypiranguistas, engalfinharam-se num sururu.
DEPOIS que os últimos chapéus foram juntados do chão, e
o que restou de sobrinhas foi acomodado sob braços, enquanto cavaleiros
montavam e sumiam seguidos por carroças que quase arrancavam os trilhos, a
noite caiu e com ele veio o silêncio. Estava lançada a semente da rivalidade –
e do Ypiranga.
O ÍTALO ganhara mais uma.
Sua sociedade haveria de comemorar noite adentro.
O Douradense recolhera-se ao interior dos matagais que
levavam ao Dourado.
Segunda-feira o arado esperava.
EM MEIO aos curativos e falações da noite sobre a grande
briga, brotou o sentimento de fundar uma oposição ao Ítalo, hoje Atlântico,
enfim, ao Galo.
DE modos que, tendo como inimigo, como rival, como
adversário um ente externo(Ítalo-Brasileiro)
a comuna desde a noite de 18 de agosto de 1924 passaria a ter dois pólos
esportivos, que, arredondando para os dias de hoje atendem por Atlântico e
Ypiranga.
COMO foi sadia essa rivalidade. Como ela ajudou a
desenvolver o esporte e a sociedade local. Como ela fez e faz falta!
PARA saudar tudo ‘a família nonagenária’ reuniu-se em
garbo festivo no revigorado CC dia 15.
O YPIRANGA nasceu com um rival identificado e, é aqui
que o Canário de nove décadas sacode as penas da incompreensão: o rival, o
adversário, o ‘inimigo’ não pode, ou não devia; ser aludido ou conjecturado
dentro da sua ‘gaiola’ ou da sua trincheira, do seu Conselho, da sua direção...
da sua casa.
E quando alcança idade esplendorosa para um clube movido
à paixão, eis que de bocas e línguas Canárias vazam desconfortos, como se o
clube dependesse mais de um do que de todos. E, isto não pode deixar de ser
enfrentado – pior seria varrer para debaixo do tapete – mas, urge, encontrar um
meio de superação que priorize acima de qualquer inteligência ou visionário – o
clube.
SEI que abordar este tema em dias de festa pode parecer
‘intriga’, - mas, creiam, não é. Por isso toco de leve na ferida – antes que
ela contamine todo o corpo.
É uma excepcional oportunidade para colocar as coisas em
pratos limpos, sob os auspícios, inapagáveis, de como o clube foi fundado.
Recordo aos incautos ou de pouca memória: o Ypiranga FC foi fundado com um
único fim: fazer frente ao seu oponente e ‘rei da bola’ em Boa Vista do Erechim,
hoje - Atlântico. O resto é reles perfumaria da vida.
VEMOS com freqüência quedas de braço, em ritmo
crescente, pelo poder em grandes clubes do estado. E sob este aspecto é até
natural que também dentro do Ypiranga vozes divergentes se façam ouvir.
MAS ‘divergência’ não pode significar a implantação do
neologismo ‘eumismo’,
dando a entender que quando o clube estava sob ‘o meu comando...’, ou ‘o meu
Ypiranga...’. Não. O Ypiranga FC é maior, mas muito maior do que qualquer
presidente que tenha segurado uma onda, duas ondas, dez ondas, vinte ondas.
É muito maior também do que qualquer dirigente que tenha
conquistado este ou aquele título, pela singela razão de que o clube em não
tendo dono - de todos (os ypiranguistas) é. Logo, suas conquistas não têm pai –
mas família. ‘... é mas na hora de fazer, se não fosse...’.
Sem essa. Foi porque quis. Está porque quer. Pode vir a
estar porque assim é do seu desejo.
O Ypiranga não precisa de quem que seja, se não for por
amor, fim único e soberano dos que assinaram a ata de fundação depois da briga
contra o Ítalo.
OS ypiranguistas sabem do que aqui se trata e o que se
passa. E, creiam, aconteça o que acontecer o clube não desaparecerá – ao
contrário de ypiranguistas mais ou nem tanto vitoriosos, abnegados ou
‘ambiciosos’, de tino pessoal ou coletivo... Não existe o meu, o teu, o nosso,
o deles. Existe – Ypiranga!
O que não pode é o clube, um bem intangível, ser
confundido como um bem que estaria mais seguro com este ou aquele; como se sua
saúde e alegria não estivessem na razão direta da soma de todos – jamais da
discórdia insensata, pequena, perigosamente venenosa – submetendo um sentimento
plural a processos de gestão singular de quem quer que tenha sido em qualquer
tempo.
EM 2014 o Ypiranga FC conquistou pela quarta vez o
direito de voltar à elite do futebol gaúcho.
Para meu gosto, o que não diz muito, o momento seria de
discutir a estruturação do clube para fazer futebol com saúde e tranqüilidade –
sempre.
E neste momento mais que o goleiro ou o atacante, mais
que o técnico ou o preparador físico, mais que a torcida e até a imprensa, o
fundamental seria entregar-se a um debate sobre como pavimentar o futuro do
clube para que o Canário pudesse voar pelo verde das matas e o amarelo do sol,
respirando ar puro, longe do risco de estilingues traiçoeiros.
O YPIRANGA jamais foi fruto da própria costela. Coloque
o hino na vitrola/2014: ‘O Ypiranga surgiu para a vida/Com a missão de trazer
pelo esporte/A pujança corpórea reunida/A beleza do espírito forte/O valor
alcancemos confiantes/E sejamos, portanto, esforçados/Vencedores, fiquemos
constantes...’.
O YPIRANGA só nasceu por causa de um rival e ele era – externo. Então, botem a bola no
chão. Chega de bico e balão!
PS – Segundo o senhor Milton Doninelli, o Ypiranga teve
outro nome – mas por muito pouco tempo – antes de chamar-se como é conhecido.
Teria se chamado ‘Brasil’ – e fundado aonde chegou a estar a Madeireira
Madalozzo, hoje, Sonda na avenida Tiradentes. Mas, nas minhas pesquisas, sempre
encontrei apenas o nome do clube como Ypiranga FC.