Fechará 95 em 18 de agosto.
Qual
dirigente do clube tem mais 90 anos?
FOI
fundado no Hotel de Lourenço Antunes de Oliveira.
O Ypiranga
foi fundado no dia seguinte a uma partida entre o Ítalo-Brasileiro (mais tarde
Atlântico) e o Douradense, num campo na Praça Julio de Castilhos.
UM
grupo de recém chegados a Boa Vista do Erechim, e hóspedes do hotel, foram ver
a partida. Como a torcida era quase toda do Ítalo, os ‘visitantes’ juntaram-se a outro pequeno grupo de "boavistenses" e resolveram gritar
Douradense.
O
Ítalo venceu o jogo, mas até hoje não se sabe quem ganhou a briga depois dos
90.
Futuros
atlantistas e, ainda não sabidos futuros ypiranguistas, engalfinharam-se num
sururu.
DEPOIS
que os últimos chapéus foram juntados do chão, e o que restou de sobrinhas foi
acomodado sob braços, enquanto cavaleiros montavam e sumiam seguidos por carroças
que quase arrancavam os trilhos, a noite caiu e com ela veio o silêncio. Estava
lançada a semente da rivalidade – e do Ypiranga.
O
ÍTALO ganhara mais uma.
Sua
sociedade haveria de comemorar noite adentro.
O
Douradense recolhera-se ao interior dos matagais que levavam ao Dourado.
Segunda-feira
o arado esperava.
EM
MEIO aos curativos e falações sobre a grande briga, brotou o sentimento
de fundar uma oposição ao Ítalo, hoje Atlântico, enfim, ao Galo.
DE
modo que, tendo como inimigo - como rival, como adversário um ente externo (Ítalo-Brasileiro) a comuna
desde a noite de 18 de agosto de 1924 passaria a ter dois polos esportivos,
que, arredondando para os dias de hoje atendem por Atlântico e Ypiranga.
COMO
foi sadia essa rivalidade. Como ela ajudou a desenvolver o esporte e a
sociedade local. Como ela fez e faz falta!
O
YPIRANGA nasceu com um rival identificado e, é aqui que o Canário de quase nove
décadas e meia, sacode as penas da incompreensão: o rival, o adversário, o ‘inimigo’
não pode, ou não devia; ser aludido ou conjecturado dentro da sua ‘gaiola’ ou
da sua trincheira, do seu Conselho, da sua direção, da sua casa. Dentro do Colosso.
E
QUANDO alcança idade esplendorosa para um clube movido à paixão, eis que de
bocas e línguas Canárias vazam desconfortos, como se o clube dependesse mais de
um, do que de todos. E, isto não pode deixar de ser enfrentado – pior seria
varrer para debaixo do tapete – mas, urge, encontrar um meio de superação que
priorize acima de qualquer inteligência ou visionário – o clube.
SEI
que abordar este tema em dias de festa pode parecer ‘intriga’, - mas, creiam, não
é. Por isso toco, de novo, de leve na ferida – antes que ela contamine todo o corpo. A hora é de festa para lá de justa, merecida e oportuna. Mas - é uma hora, onde o alívio da pressão para sair do "inferno" como dizem os amigos Amilton Drews e Edilon Flores da rádio Difusão sobre a Divisão de Acesso, pois é a hora exata para repensar o clube, enquanto busca um bom desempenho na série "C" do brasileiro.
É UMA
excepcional oportunidade para colocar as coisas em pratos limpos, sob os
auspícios, inapagáveis, de como o clube foi fundado.
RECORDO
aos incautos ou de pouca memória: o Ypiranga FC foi fundado com um único fim: fazer
frente ao seu oponente e ‘rei da bola’ em Boa Vista do Erechim, hoje – Atlântico -, que
também ao futebol “foi falecido”. O resto é reles perfumaria da vida.
VEMOS
com frequência quedas de braço, em ritmo crescente, pelo poder em grandes
clubes do estado. E sob este aspecto é até natural que também dentro do
Ypiranga vozes divergentes se façam ouvir.
MAS
‘divergência’ não pode significar a implantação do neologismo ‘eumismo’, dando a entender que quando o
clube estava sob ‘o meu comando...’, ou ‘o meu Ypiranga...’. Não. O Ypiranga FC
é maior, mas muito maior do que qualquer presidente que tenha segurado uma onda,
duas, dez, vinte ondas.
É
MUITO MAIOR também do que qualquer dirigente que tenha conquistado este ou aquele
título, pela singela razão de que o clube em não tendo dono - de todos (os
ypiranguistas) é. Logo, suas conquistas não têm pai – mas família. ‘... é mas
na hora de fazer, se não fosse...’.
SEM
ESSA. Foi porque quis. Está porque quer. Pode vir a estar porque assim é do seu
desejo.
O
Ypiranga não precisa de quem que seja, se não for por amor, fim único e
soberano dos que assinaram a ata de fundação depois da briga contra o Ítalo.
OS
YPIRANGUISTAS sabem do que aqui se trata e o que se passa. E, creiam, aconteça
o que acontecer o clube não desaparecerá – ao contrário de ypiranguistas mais
ou nem tanto vitoriosos, abnegados ou ‘ambiciosos’, de tino pessoal ou
coletivo... Não existe o meu, o teu, o nosso, o deles. Existe – Ypiranga!
O
QUE NÃO pode é o clube, um bem intangível, ser confundido como um bem que
estaria mais seguro com este ou aquele; como se sua saúde e alegria não
estivessem na razão direta da soma de todos – jamais da discórdia insensata,
pequena, perigosamente venenosa – submetendo um sentimento plural a processos
de gestão singular de quem quer, e o que, tenha sido em qualquer tempo.
EM
2014 o Ypiranga F.C. conquistou pela quarta vez o direito de voltar à elite do
futebol gaúcho. Para
meu gosto, o que não diz muito, o momento seria de discutir a estruturação do
clube para fazer futebol com saúde e tranqüilidade – sempre. Não uma ou três ou
quatro temporadas. Mas... sempre. Ou quase sempre. E agora a oportunidade se oferece novamente, por que, tentar isso - organizar o clube fora das quatro linhas em pleno Acesso quase obrigatório -, é muita coisa.
E
NESTE MOMENTO mais que o goleiro ou o atacante, mais que o técnico ou o
preparador físico, mais que a torcida e até a imprensa, o fundamental seria
entregar-se a um debate sobre como pavimentar o futuro do clube para que o Canário
possa voar pelo verde das matas e o amarelo do sol, respirando ar puro, longe
do risco de estilingues traiçoeiros.
O
YPIRANGA jamais foi fruto da própria costela. Coloque o hino na vitrola/2014: ‘O
Ypiranga surgiu para a vida/
Com a missão de trazer pelo esporte/
A pujança
corpórea reunida/
A beleza do espírito forte/
O valor alcancemos confiantes/
E
sejamos, portanto, esforçados/
Vencedores, fiquemos constantes...’.
O
YPIRANGA só nasceu por causa de um rival e ele era – externo. Externo.
ENTÃO,
homenageando a "família ypiranguista" pelo presidente, Adilson Stankiewicz e vice-presidente José Scussel, aproveito o momento de mais uma histórica conquista do Canarinho - o retorno à Divisão
Principal do Campeonato Gaúcho 2019/2020 - para sugerir: botem a bola no chão (fora de campo também). E chega de bico e
balão.