quinta-feira, 9 de maio de 2019

YPIRANGA DOS YPIRANGUISTAS!








O Ypiranga F.C. tem 94 anos.
Fechará 95 em 18 de agosto.
Qual dirigente do clube tem mais 90 anos?
FOI fundado no Hotel de Lourenço Antunes de Oliveira.


O Ypiranga foi fundado no dia seguinte a uma partida entre o Ítalo-Brasileiro (mais tarde Atlântico) e o Douradense, num campo na Praça Julio de Castilhos.

UM grupo de recém chegados a Boa Vista do Erechim, e hóspedes do hotel, foram ver a partida. Como a torcida era quase toda do Ítalo, os ‘visitantes’ juntaram-se a outro pequeno grupo de "boavistenses" e resolveram gritar Douradense.
O Ítalo venceu o jogo, mas até hoje não se sabe quem ganhou a briga depois dos 90.
Futuros atlantistas e, ainda não sabidos futuros ypiranguistas, engalfinharam-se num sururu.

DEPOIS que os últimos chapéus foram juntados do chão, e o que restou de sobrinhas foi acomodado sob braços, enquanto cavaleiros montavam e sumiam seguidos por carroças que quase arrancavam os trilhos, a noite caiu e com ela veio o silêncio. Estava lançada a semente da rivalidade – e do Ypiranga.

O ÍTALO ganhara mais uma.
Sua sociedade haveria de comemorar noite adentro.
O Douradense recolhera-se ao interior dos matagais que levavam ao Dourado.
Segunda-feira o arado esperava.

EM MEIO aos curativos e falações sobre a grande briga, brotou o sentimento de fundar uma oposição ao Ítalo, hoje Atlântico, enfim, ao Galo.

DE modo que, tendo como inimigo - como rival, como adversário um ente externo (Ítalo-Brasileiro) a comuna desde a noite de 18 de agosto de 1924 passaria a ter dois polos esportivos, que, arredondando para os dias de hoje atendem por Atlântico e Ypiranga.

COMO foi sadia essa rivalidade. Como ela ajudou a desenvolver o esporte e a sociedade local. Como ela fez e faz falta!

O YPIRANGA nasceu com um rival identificado e, é aqui que o Canário de quase nove décadas e meia, sacode as penas da incompreensão: o rival, o adversário, o ‘inimigo’ não pode, ou não devia; ser aludido ou conjecturado dentro da sua ‘gaiola’ ou da sua trincheira, do seu Conselho, da sua direção, da sua casa. Dentro do Colosso.

E QUANDO alcança idade esplendorosa para um clube movido à paixão, eis que de bocas e línguas Canárias vazam desconfortos, como se o clube dependesse mais de um, do que de todos. E, isto não pode deixar de ser enfrentado – pior seria varrer para debaixo do tapete – mas, urge, encontrar um meio de superação que priorize acima de qualquer inteligência ou visionário – o clube.

SEI que abordar este tema em dias de festa pode parecer ‘intriga’, - mas, creiam, não é. Por isso toco, de novo, de leve na ferida – antes que ela contamine todo o corpo. A hora é de festa para lá de justa, merecida e oportuna. Mas - é uma hora, onde o alívio da pressão para sair do "inferno" como dizem os amigos Amilton Drews e Edilon Flores da rádio Difusão sobre a Divisão de Acesso, pois é a hora exata para repensar o clube, enquanto busca um bom desempenho na série "C" do brasileiro. 

É UMA excepcional oportunidade para colocar as coisas em pratos limpos, sob os auspícios, inapagáveis, de como o clube foi fundado.

RECORDO aos incautos ou de pouca memória: o Ypiranga FC foi fundado com um único fim: fazer frente ao seu oponente e ‘rei da bola’ em Boa Vista do Erechim, hoje – Atlântico -, que também ao futebol “foi falecido”. O resto é reles perfumaria da vida.

VEMOS com frequência quedas de braço, em ritmo crescente, pelo poder em grandes clubes do estado. E sob este aspecto é até natural que também dentro do Ypiranga vozes divergentes se façam ouvir.

MAS ‘divergência’ não pode significar a implantação do neologismo ‘eumismo’, dando a entender que quando o clube estava sob ‘o meu comando...’, ou ‘o meu Ypiranga...’. Não. O Ypiranga FC é maior, mas muito maior do que qualquer presidente que tenha segurado uma onda, duas, dez, vinte ondas.

É MUITO MAIOR também do que qualquer dirigente que tenha conquistado este ou aquele título, pela singela razão de que o clube em não tendo dono - de todos (os ypiranguistas) é. Logo, suas conquistas não têm pai – mas família. ‘... é mas na hora de fazer, se não fosse...’.

SEM ESSA. Foi porque quis. Está porque quer. Pode vir a estar porque assim é do seu desejo.
O Ypiranga não precisa de quem que seja, se não for por amor, fim único e soberano dos que assinaram a ata de fundação depois da briga contra o Ítalo.

OS YPIRANGUISTAS sabem do que aqui se trata e o que se passa. E, creiam, aconteça o que acontecer o clube não desaparecerá – ao contrário de ypiranguistas mais ou nem tanto vitoriosos, abnegados ou ‘ambiciosos’, de tino pessoal ou coletivo... Não existe o meu, o teu, o nosso, o deles. Existe – Ypiranga!

O QUE NÃO pode é o clube, um bem intangível, ser confundido como um bem que estaria mais seguro com este ou aquele; como se sua saúde e alegria não estivessem na razão direta da soma de todos – jamais da discórdia insensata, pequena, perigosamente venenosa – submetendo um sentimento plural a processos de gestão singular de quem quer, e o que, tenha sido em qualquer tempo.

EM 2014 o Ypiranga F.C. conquistou pela quarta vez o direito de voltar à elite do futebol gaúcho. Para meu gosto, o que não diz muito, o momento seria de discutir a estruturação do clube para fazer futebol com saúde e tranqüilidade – sempre. Não uma ou três ou quatro temporadas. Mas... sempre. Ou quase sempre. E agora a oportunidade se oferece novamente, por que, tentar isso - organizar o clube fora das quatro linhas em pleno Acesso quase obrigatório -, é muita coisa. 

E NESTE MOMENTO mais que o goleiro ou o atacante, mais que o técnico ou o preparador físico, mais que a torcida e até a imprensa, o fundamental seria entregar-se a um debate sobre como pavimentar o futuro do clube para que o Canário possa voar pelo verde das matas e o amarelo do sol, respirando ar puro, longe do risco de estilingues traiçoeiros.

O YPIRANGA jamais foi fruto da própria costela. Coloque o hino na vitrola/2014: ‘O Ypiranga surgiu para a vida/
Com a missão de trazer pelo esporte/
A pujança corpórea reunida/
A beleza do espírito forte/
O valor alcancemos confiantes/
E sejamos, portanto, esforçados/
Vencedores, fiquemos constantes...’.

O YPIRANGA só nasceu por causa de um rival e ele era – externo. Externo.  

ENTÃO, homenageando a "família ypiranguista" pelo presidente, Adilson Stankiewicz e vice-presidente José Scussel, aproveito o momento de mais uma histórica conquista do Canarinho - o retorno à Divisão Principal do Campeonato Gaúcho 2019/2020 - para sugerir: botem a bola no chão (fora de campo também). E chega de bico e balão.