Castelinho - símbolo eerechinense; Beto Hachamnn |
Com o avanço das tecnologias que nos levou ao acesso a novas
mídias sociais dando voz e vez a todas as pessoas, vimos assistindo a tudo que
é coisa. O que antes precisava de acesso a um veículo de comunicação
tradicional, ou que era consumido apenas por um pequeno grupo durante um
encontro formal ou informal, ou ainda por telefone ou de boca a boca com a
vizinhança, de uma hora para outra, deu um salto “inimaginável” permitindo a
exposição de “seu pensar ou da sua ideia” podendo ser externada ao mundo
inteiro. E aí temos de tudo, como seria natural esperar.
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Hoje, temos acesso rápido e amplo ao que cada um pensa, sobre
qualquer assunto, bastando para isso que o outro manifeste seu pensamento. E
conosco acontece o mesmo. É só externar e publicar no Facebook ou no Whatsapp,
para ficar apenas nesses dois meios como exemplos. Isso é bom e ao mesmo tempo
ruim. Sim – porque, assim como passamos a conhecer mais sobre o pensamento do
outro, nos deparamos com todos os “tipos”, afora, com todas as verdades e todas
as mentiras, estrangeiristicamente (?) incorporadas ao nosso vernáculo como
“fake”. A verdade é uma só: o conflito é inevitável.
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Peguemos um tema: o Brasil.
Por que entra governo, sai governo, ditadura, abertura,
presidentes e presidentes, deste ou daquele partido e, olhando para grande
parte do resto do mundo, ora estamos no mesmo lugar, ora avançamos um grão de
ervilha, ora recuamos e nos afundamos ainda mais. Não importa o setor – salvo,
salvo – o agronegócio que há bom tempo, meio que descolado da política como a
conhecemos, vem carregando o país nas costas.
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A propósito, esta semana saiu na imprensa: “o aumento das
exportações do agronegócio brasileiro e a queda das importações resultaram em
um saldo superavitário de US$ 87,76 bilhões para o setor em 2020. O desempenho
representa um aumento de 5,6% em comparação com o ano anterior, quando o
superávit foi de US$ 83,08 bilhões, informa a Secretaria de Comércio e Relações
Internacionais, do Ministério da Agricultura.
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A propósito, em 2003, portanto há 18 anos – quase duas
décadas -, o então presidente da Accie, Jaci José De Lazzari, alertava que a
região precisava definir qual era sua vocação, sua ideologia econômica e
social, seu norte para desenvolver-se. Pregou a união de lideranças políticas
mesmo contrárias e convocou instituições regionais (Amau e Amunor) com este
objetivo. Como se sabe, nada disso foi levado com a seriedade que o tema e a
intenção indicavam – e a realidade atual só afiancia, porém, mais agravada. Na
cabeça do empresário que durante muito tempo foi chamado de “visionário” por
lideranças locais, estava, basicamente – não apenas isso, mas com muita decisão
-, optar-se e conduzir a região a desenvolver um projeto ecumênico/regional
apoiado em investimentos e desenvolvimento do setor primário, investindo
maciçamente na cadeia de carnes e grãos. Como se sabe, nada disso evoluiu, e
cada um por si, fomos constituindo e enchendo uma arquibancada de aplausos a
Chapecó, e àquela microrregião, que tem sua base econômica e social em quê? A
capital do oeste catarinense recebeu sim um olhar distinto do governo daquele
estado, mas, destemida e sem medo de andar pela cidade calçando chinelos, vestindo
calça frisada com camiseta da Chape com uma “capanga” enrolada em uma das mãos
– seguiu o curso natural da vocação e formação da sua gente – como um rio que
corre para o mar. É óbvio que há outras riquezas por lá, mas o comando da
economia nasce e brota nos minifúndios seja pela carne das aves e suínos ou
pelos grãos de milho e da soja. Exatamente como o “visionário erechinense”
pregava em 2003 para Erechim e o Alto Uruguai.
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Mas até aqui trato apenas de uma fatia do porquê as coisas
podem dar certo ou não. No nosso caso, sem interferências externas/Brasília,
extraterrenas ou divinas; a opção pela geléia geral (geléia de 2ª. ou 5ª.
categoria) pertence exclusivamente a nós. Sim porque ainda hoje, quando uma
Ford troca um Brasil por uma Argentina e, enquanto o mundo já anda de híbrido
ou de elétrico total, pelas bandas do “Chapéu do Rio Grande” ainda temos dez ou
11 municípios sem acesso pavimentado.
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Com números para eleger dois ou até três deputados federais,
há 18 anos não elegemos nenhum sequer. Isto somos nós. De outro azar, passados
pelo Palácio Piratini a partir de década de 1950, governadores do PTB, PSD,
Arena, PDS, PMDB, PDT, PT, PSDB (alguns partidos com mais de um)... pois,
depois de tudo isso; até hoje ninguém conseguiu asfaltar a RS 126 (Pinhazinho –
Viadutos à região nordeste), “ponte decisiva” para alavancar as duas regiões,
isso, sem contar, ligando-se ao Médio Alto Uruguai. Para dizer o mínimo,
formamos um monumento (já histórico com credenciais, fosse tangível, ser
tombado junto ao Patrimônio Histórico e (In) Cultural do Estado) graças à nossa
incompetência e cegueira política, incluindo-se aqui, por evidente, todas as
cores alcançadas no leque de vaidades.
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Deixando nossa região de lado com suas mazelas, que em outras
palavras são as mazelas produzidas pelos “çabios” que por estas bandas fizeram
suas vidas nas últimas décadas, alço voo que permita um olhar em nível nacional.
E aí recupero o título desta abordagem, aberta a discordâncias de quem assim
considerar. Lá em cima está o título “Para entender melhor o Brasil”.
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Pois é. Esses dias ouvi uma entrevista de cinco jornalistas
com o empresário Salim Mattar, ex-secretário da Desestatização do governo
Bolsonaro. Está no YouTube e saiu no programa “Direto ao Ponto” da Jovem Pan dia
4 de janeiro último. Imperdível.
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Sim, é uma entrevista de 1:31:50. Didático, praticamente
desvestido de qualquer vestimenta ideológico/partidária, o empresário explica
de uma forma claríssima e corajosa, por que as coisas quase não andam em
Brasília e de quem é a culpa. Lembrando que Mattar foi chamado por Guedes para
fechar estatais. Depois de 19 meses
concluiu que a lógica de governo não é a lógica da iniciativa privada. Em
síntese: a culpa não é deste ou daquele presidente – porquanto quase todos eles
de mãos amarradas, descobrem-se submissos (“...O Brasil está quebrado. Eu não
consigo fazer nada” – presidente Bolsonaro dia 6 de janeiro). Isenta o ministro
Paulo Guedes e o próprio presidente. Deduzi que o país deveria ter uma nova Carta
Magna.
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É uma entrevista que todo administrador público, todo
político, todo cidadão brasileiro que frequenta as mídias sociais para suas
opiniões e, muito especialmente, todo jornalista e todo radialista que dá
opinião, teria a obrigação de ouvir. As coisas não vão mudar com este ou aquele
presidente, com este ou aquele presidente da Câmara dos Deputados, com este ou
aquele presidente do Senado, com este ou aquele governador, com este ou aquele
prefeito, com este ou aquele time de magistrado no STF – digamos. O Brasil é
governado, ou melhor, seria; guiado, por algo como que intangível - abstrato e
que em uma palavra pode ser, com o perdão da redundância, definido como “establishment”.
É a esta figura aparentemente impossível de ser sintetizada em um governante ou
poder, independentemente de sua ideologia, intenção ou ação, que a nação se
submete. Simples assim. Moral da história: todas as opiniões ou opiniões
pontuais sobre questões do país, incorrem em gravíssimo equívoco – que é o
desprezo por um olhar macro-político, econômico e social sobre o país, onde
releva-se o compromisso com o Brasil. É velha, porém sempre atual, a máxima da
árvore e da floresta.