sábado, 9 de janeiro de 2021

No amarelo refulgem as fadas!

 





1

 

Segundo o dicionário Michaelis – Hino quer dizer: 1 – Canto de louvor ou adoração. 2 – Canto musicado em exaltação de uma nação, de um partido, de uma instituição ou instituto particular, agremiação e semelhança. 3 – Canção, canto, cor.

 

Pouco antes do Papai Noel chegar em dezembro de 1928, aqui em Erechim, dois artistas do mais alto valor cultural desta terra, dedicaram a uma agremiação local, tudo aquilo que Michaelis define como hino. Releiam de novo as três definições...

Péricles de Góis Monteiro e Ricardo Kreische ainda colocaram em cima, letra e música notáveis.

Quanto vale a obra magnífica de Péricles de Góis Monteiro, que escreveu o hino? Que valor tem a música de Ricardo Kreische, retirando o hino do Ypiranga F.C., do palco dos hinos marchados ou batucados que marcam quase os hinos de quase todos os clubes de futebol do Brasil!

 

Pois,

pela cansada repetência sempre dos mesmos,

pela complacência

e aplauso fácil

e enganoso de alguns setores da imprensa,

que na ânsia de ajudar, omiti-se da crítica,

e então esconde a realidade e perde

a confiabilidade de todos,

pela ausência de oxigenação com a promoção

e o prestígio de novas forças internas,

por um divórcio da comunidade que prefere

a companhia de clubes forasteiros,

pelo próprio empobrecimento da cidade como um todo,

por vaidades pessoais que agridem a história do clube,

por intrigas e mesquinharias infinitamente inferiores à história do clube e que cresceram como erva daninha,

pela incapacidade de algumas lideranças da comunidade em descobrir ou reconhecer a verdadeira importância do clube para esta cidade,

por falta de planejamento,

falta de gente,

de apoio,

pela ausência de um Conselho

presente, interessado, ativo e atuante,

por falta de conselheiros que sintam orgulho

da honraria,

por falta de muitas coisas boas contrapondo com excesso de coisas que mutilam o clube até que não possa mais andar com as próprias pernas (e se há uma instituição que não pode abdicar delas é um clube de futebol),

pois,

é por isso que o Ypiranga F.C., tão notavelmente homenageado por Péricles de Góis Monteiro e Ricardo Kreische no mês do Natal de  1928 – pois, é por isso que o clube quase não vê mais sócios,

torcedores,

direção,

time,

bom juiz ou juiz ladrão,

vice de futebol,

gritos de gol,

de f.d.p.,

presidente,

massagista,

bilheteiro,

emoção do narrador,

copeiro,

estacionamento de domingo na Sete,

preliminar,

cheiro de éter,

papel picado,

“aquecedor” de goleiro,

vendedor de amendoim,

fiscal da federação pra encher o saco,

foguetório das 4,

bandeirinha,

empresário,

médico,

operário,

político,

desempregados,

mulherada de boleiro na social,

duplas de brigadiano,

repórter puxa saco,

repórter-repórter,

técnico acomodado,

competente,

incompetente,

fardamento,

entra-e-sai de maca,

fios e fios,

fotógrafos,

toalhas molhadas e espalhas no chão,

carrocinha de pipoca,

o Passarinho levantando placa,

torcedor com radinho colocado ao ouvido se virando pra cabina: - Diz agora... diz agora que “tão robando”... diz!!!

choro de dirigente,

vela acesa pra santinha,

uuuuuuuuuuuu! pro adversário,

fedor de mijo nos banheiros,

e quase, quase

não se tem mais futebol,

e se é,

enquanto clube,

quase, morto!

 

Mas o que está escrito está escrito,

ninguém vai apagar.

Ficou,

deixado por Góis Monteiro:

 

‘O Ypiranga surgiu para a vida

Com a missão de trazer, pelo esporte

A pujança corpórea reunida

A beleza do espírito forte,

 

O valor alcancemos, confiantes

E sejamos, portanto, esforçados:

Vencedores, fiquemos constantes:

Não seremos jamais derrotados

 

Nas planuras e serras tão lindas

Ypiranga! Ypiranga! Em louvor!

Quer na paz, quer na luta, bem-vindas,

As vitórias da força e do amor!

 

Nossas cores, na pátria inspiradas,

Têm o verde da terra e do mar;

No amarelo refulgem as fadas

Do esplendor e riqueza sem par

E no campo se vêem promissoras,

 

As defesas... e o ataque avança...

Eis, vamos gentis torcedoras,

Para a glória da nossa esperança!

 

Nas planuras e serras são lindas

Ypiranga! Ypiranga! Em louvor!

Quer na paz, quer na luta, bem-vindas

As vitórias da força e do amor!

 

2

 

Pois eu não sei especificar quais foram as razões que me levaram a escrever o que está acima, no dia 9 de janeiro de 2001. Mas, por certo, o que se lê retrata a realidade do clube naquele momento.

Virando as páginas do livro do tempo, chegamos a 2021 e o que se vê é outra realidade pelos lados do Colosso da Lagoa. E claro, para melhor, para muito melhor. E sejamos justos: muito provavelmente quem esteve naquele ano no Colosso também deve ter caminhado rumo a 2021 dando sua contribuição.

Então por que voltar àquela triste realidade? Para entender a história. Para conhecer, no caso, a história do clube. Para descobrir por que voltou a vencer. E aqui vale o velho adágio popular: “Quem não sabe por que ganha, não sabe por que perde ou, nunca vai entender por que perde”.

Passados 20 anos o Ypiranga vai neste fim de semana vai para um desafio impossível sequer de ser sonhado em janeiro de 2001. Como conseguiu mudar tanto sua própria fotografia? Talvez lideranças do clube das cores nacionais possam explicar.

Descontados ganhos e perdas ao longo desse tempo, por certo descobrirão que na raiz do velho adágio popular, está “jamais desistir”, planejar, tentar e seguir em frente na velocidade possível.

E é isto que o Canarinho precisa neste fim de semana, levar a campo diante do Londrina: “saber por que ganhou tanto na fase classificatória e, jamais desistir. 

E não é que hoje também é um 9 de janeiro!

No amarelo refulgem as fadas!”.

 

3

 

Não poderia deixar de passar em branco e pego uma carona nessa observação sobre o Canarinho, para replicá-la olhando para os incidentes sem precedentes nos EUA esta semana. Se lá, na noite da histórica quarta-feira, 6, se ouviu muitos falando em “republiqueta de bananas”; imagine em outras geografias. Quem tem barbas que as coloque de molho. No mínimo por dois anos. E não é só pressentimento. Observem os comportamentos! E atenção: “quem não sabe por que ganha, não sabe por que perde!”.