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Segundo o dicionário Michaelis – Hino quer dizer: 1 – Canto de louvor ou
adoração. 2 – Canto musicado em exaltação de uma nação, de um partido, de uma
instituição ou instituto particular, agremiação e semelhança. 3 – Canção,
canto, cor.
Pouco antes do Papai Noel chegar em
dezembro de 1928, aqui em Erechim, dois artistas do mais alto valor cultural
desta terra, dedicaram a uma agremiação local, tudo aquilo que Michaelis define
como hino. Releiam de novo as três definições...
Péricles de Góis Monteiro e Ricardo
Kreische ainda colocaram em cima, letra e música notáveis.
Quanto vale a obra magnífica de Péricles
de Góis Monteiro, que escreveu o hino? Que valor tem a música de Ricardo Kreische,
retirando o hino do Ypiranga F.C., do palco dos hinos marchados ou batucados
que marcam quase os hinos de quase todos os clubes de futebol do Brasil!
Pois,
pela cansada repetência sempre dos
mesmos,
pela complacência
e aplauso fácil
e enganoso de alguns setores da imprensa,
que na ânsia de ajudar, omiti-se da
crítica,
e então esconde a realidade e perde
a confiabilidade de todos,
pela ausência de oxigenação com a
promoção
e o prestígio de novas forças internas,
por um divórcio da comunidade que
prefere
a companhia de clubes forasteiros,
pelo próprio empobrecimento da cidade
como um todo,
por vaidades pessoais que agridem a
história do clube,
por intrigas e mesquinharias infinitamente
inferiores à história do clube e que cresceram como erva daninha,
pela incapacidade de algumas lideranças
da comunidade em descobrir ou reconhecer a verdadeira importância do clube para
esta cidade,
por falta de planejamento,
falta de gente,
de apoio,
pela ausência de um Conselho
presente, interessado, ativo e atuante,
por falta de conselheiros que sintam
orgulho
da honraria,
por falta de muitas coisas boas
contrapondo com excesso de coisas que mutilam o clube até que não possa mais
andar com as próprias pernas (e se há uma instituição que não pode abdicar
delas é um clube de futebol),
pois,
é por isso que o Ypiranga F.C., tão
notavelmente homenageado por Péricles de Góis Monteiro e Ricardo Kreische no
mês do Natal de 1928 – pois, é por isso
que o clube quase não vê mais sócios,
torcedores,
direção,
time,
bom juiz ou juiz ladrão,
vice de futebol,
gritos de gol,
de f.d.p.,
presidente,
massagista,
bilheteiro,
emoção do narrador,
copeiro,
estacionamento de domingo na Sete,
preliminar,
cheiro de éter,
papel picado,
“aquecedor” de goleiro,
vendedor de amendoim,
fiscal da federação pra encher o saco,
foguetório das 4,
bandeirinha,
empresário,
médico,
operário,
político,
desempregados,
mulherada de boleiro na social,
duplas de brigadiano,
repórter puxa saco,
repórter-repórter,
técnico acomodado,
competente,
incompetente,
fardamento,
entra-e-sai de maca,
fios e fios,
fotógrafos,
toalhas molhadas e espalhas no chão,
carrocinha de pipoca,
o Passarinho levantando placa,
torcedor com radinho colocado ao ouvido
se virando pra cabina: - Diz agora... diz agora que “tão robando”... diz!!!
choro de dirigente,
vela acesa pra santinha,
uuuuuuuuuuuu! pro adversário,
fedor de mijo nos banheiros,
e quase, quase
não se tem mais futebol,
e se é,
enquanto clube,
quase, morto!
Mas o que está escrito está escrito,
ninguém vai apagar.
Ficou,
deixado por Góis Monteiro:
‘O Ypiranga surgiu para a vida
Com a missão de trazer, pelo esporte
A pujança corpórea reunida
A beleza do espírito forte,
O valor alcancemos, confiantes
E sejamos, portanto, esforçados:
Vencedores, fiquemos constantes:
Não seremos jamais derrotados
Nas planuras e serras tão lindas
Ypiranga! Ypiranga! Em louvor!
Quer na paz, quer na luta, bem-vindas,
As vitórias da força e do amor!
Nossas cores, na pátria inspiradas,
Têm o verde da terra e do mar;
No amarelo refulgem as fadas
Do esplendor e riqueza sem par
E no campo se vêem promissoras,
As defesas... e o ataque avança...
Eis, vamos gentis torcedoras,
Para a glória da nossa esperança!
Nas planuras e serras são lindas
Ypiranga! Ypiranga! Em louvor!
Quer na paz, quer na luta, bem-vindas
As vitórias da força e do amor!
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Pois eu não sei especificar quais foram as razões que me levaram a escrever
o que está acima, no dia 9 de janeiro de 2001. Mas, por certo, o que se lê retrata
a realidade do clube naquele momento.
Virando
as páginas do livro do tempo, chegamos a 2021 e o que se vê é outra realidade
pelos lados do Colosso da Lagoa. E claro, para melhor, para muito melhor. E
sejamos justos: muito provavelmente quem esteve naquele ano no Colosso também
deve ter caminhado rumo a 2021 dando sua contribuição.
Então
por que voltar àquela triste realidade? Para entender a história. Para
conhecer, no caso, a história do clube. Para descobrir por que voltou a vencer.
E aqui vale o velho adágio popular: “Quem não sabe por que ganha, não sabe por
que perde ou, nunca vai entender por que perde”.
Passados
20 anos o Ypiranga vai neste fim de semana vai para um desafio impossível
sequer de ser sonhado em janeiro de 2001. Como conseguiu mudar tanto sua
própria fotografia? Talvez lideranças do clube das cores nacionais possam
explicar.
Descontados
ganhos e perdas ao longo desse tempo, por certo descobrirão que na raiz do
velho adágio popular, está “jamais desistir”, planejar, tentar e seguir em
frente na velocidade possível.
E
é isto que o Canarinho precisa neste fim de semana, levar a campo diante do
Londrina: “saber por que ganhou tanto na fase classificatória e, jamais
desistir.
E não é que hoje também é um 9 de janeiro!
No
amarelo refulgem as fadas!”.
3
Não poderia deixar de passar em branco e pego uma carona nessa observação
sobre o Canarinho, para replicá-la olhando para os incidentes sem precedentes
nos EUA esta semana. Se lá, na noite da histórica quarta-feira, 6, se ouviu
muitos falando em “republiqueta de bananas”; imagine em outras geografias. Quem
tem barbas que as coloque de molho. No mínimo por dois anos. E não é só
pressentimento. Observem os comportamentos! E atenção: “quem não sabe por que
ganha, não sabe por que perde!”.