Maria Luíza ,Cleusa, Neivo, Helena e Lucia. Foto: Zeni Bearzi (AEL) |
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A vassoura
de palha ia a vinha, sempre empurrando para a frente as folhas.
Eram folhas
que caiam noite e dia, inverno e verão, sob chuva ou sol.
Caíam e ia
se acumulando, mas ali não era o lugar delas.
Uma vez
despencadas deviam ser juntadas e colocadas num depósito de lixo e depois levadas
sabe lá Deus pra onde.
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Eu que já
tinha os braços cansados de tantas e tantas provas que passara no mimeógrafo a
álcool para os professores das mais diferentes disciplinas, eu que já tinha dado
voltas e voltas juntando a primeira depois a segunda, depois a terceira folha,
depois... até completar o “polígrafo da prova” e grampeado todas aquelas pilhas
de provas – e ficar de bico calado carregando a confiança dos professores e, em
especial do diretor do Cese (Centro de Ensino Superior de Erechim), o bigodudo
e competente professor João Dautartas, podia então pegar a vassoura a ir varrer
os pátios do que viria a ser a URI exatos 20 anos mais tarde.
Varria os
corredores, varria as salas (que eram poucas), varria a parte dos fundos do
prédio onde professores e alunos deixavam seus carros e, claro, varria a
frente, o acesso principal, a entrada ao prédio da “Faculdade”. Uma das minhas preferidas era varrer a sala
onde estudava à noite junto à “nata política e econômico/empresarial” da cidade
no recém criado curso de Administração de Empresas.
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Hoje aquela
primeira sala abriga a Capela Santo Agostinho.
De quebra
ainda me sobrava tempo ou tarefa para começar a montar uma espécie de
biblioteca com arquivos de metal, tipo prateleiras de escritório. Ela estava localizada onde
há tempos funciona a Assessoria de Comunicação do câmpus. Os livros (poucos)
começavam a vir de onde sei, doações, etc., e minha maior preocupação era
que aqueles arquivos de metal cinza, que entortavam e ensaiavam cair; que pelo
amor de Deus não desandassem.
Árvores ao fundo na entrada da URI e Bandeira da AEL. Foto: ZenI Bearzi (AEL) |
E assim, sem nenhuma experiência no setor ia distribuindo aleatoriamente os livros de forma principal a manter o equilíbrio daquela peça metálica, que foi virando duas, três e acho que parou por aí.
Tudo isso me
foi “dado” pelo diretor João Dautartas como compensação por não conseguir mais
pagar meu curso de Administração.
Das 5 horas
da manhã às 13 horas eu trabalhava num posto de gasolina como frentista.
E, depois
das 14h30min mais ou menos, trabalhava na “Faculdade”, fazendo um pouco de tudo.
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À noite
entrava na sala de aula ao lado dos colegas e demais alunos, todos eles já
praticamente com a vida feita – como disse - a maioria proprietários,
diretores, gerentes de grandes empresas, ou funcionários do Banco do Brasil ou
instituições de Estado com suas regionais radicadas em Erechim. E eu - frentista.
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Suportei um
ano e meio e desisti do curso.
Não era o
que eu queria.
Não era para
mim.
Não sabia ao
certo o que queria – mas o que não, sabia.
E lidar com
contas, contabilidade, ativos e passivos,
e coisas do
gênero definitivamente não era para mim.
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Um dia,
Jayme Luiz Lago, (meu colega de aula – a primeira turma de Administração), ele que
11 anos mais tarde viria a ser prefeito de Erechim, chamou um dos proprietários do jornal “A Voz da
Serra” e nosso colega de curso, Gilson Carraro e lhe disse: “Leva esse guri pro
jornal. O lugar dele é lá”.
O pedido se
concretizou como uma ordem e ali na “A Voz da Serra” então iniciei minha trajetória
no jornalismo sob o olhar, de outro homem com bigodes vermelhos – e uma língua de
fogo. Meu estimado amigo Geder Carraro. Um professor.
Aguentei
seis meses ou mais e fui para a empresa Vva. José Sponchiado ser chefe do
Departamento de Cobranças.
Durei um ano
e alcei voo até Porto Alegre ingressando na PUC e na rádio Difusora para
aterrizar na companhia Jornalística Caldas Júnior. O resto todo mundo sabe.
Cleusa, Neivo, Helena e Lucia. Foto: Zeni Beazri (AEL) |
Sou agradecido a todos que me ajudaram.
Na reunião
de posse da Dra. Helena Confortin, na presidência da Academia Erechinense de
Letras (AEL), semana passada, ao lado de outras personalidades do mundo das
letras da cidade – ouvindo os discursos parecia que algo em atraía ou chamava
lá de fora da sala do prédio principal da URI.
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Eram elas,
as árvores que continuavam embalando seus galhos e largando folhas ao chão bem
na entrada principal da URI – quase dançando ao compasso de uma brisa leve.
Será que elas
se lembravam de me mim e me saudavam?
Será que só
queriam dizer boa noite, olá, tudo bem?
Será que me
pediam por onde tinha andado?
Só sei que
eram em número bem maior e seus corpos já
estava bem
desenvolvidos.
Quanto
valeria a sombra delas para quem sentasse por ali.
Até hoje
agradeço àquelas árvores que dispensavam ao solo suas folhas mais maduras ou
velhas ou enverrugadas.
Sim, porque
não fossem elas, talvez jamais ganhasse a oportunidade de continuar meus
estudos no Cese (hoje URI) e, muito menos, muito provavelmente não me depararia
com alguém que de fato sabia o que eu queria ser.
Árvores na entrada principal da URI aina resistem. Foto: Zeni Bearzi (AEL) |
As arvorezinhas
menores se assanhavam como a se
esfregar ou
segurar numa saia de mãe recostadas nas
mais antigas
e crescidas, garantias de segurança,
porquanto
com suas grossas e largas raízes, profunda
e firmemente
agarradas ao solo.
Há quem não acredite
em destino. Há quem acredite.
Se existe
mesmo, o certo é que ele vem de cima, do céu,
ou – quem
sabe – da copa de alguma árvore qualquer e
nos empurra
vida à frente assim como minha velha
vassoura de palha empurrava as folhas que
substituídas continuam caindo.