segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

O grande presente

 Dr. Alcides, esposa Débora e a filha Mirella - com o ex-presidente do Uruguai, Tabaré Vásquez
Hoje é difícil imaginar qualquer conceito de realização pessoal sem associá-lo a bens e consumo. Grifes, celulares e até eletrodomésticos passaram a ser indispensáveis para que muitos se considerem verdadeiramente felizes. Tudo se concentra na produção e consumo de bens que rapidamente se tornam obsoletos, induzindo a busca às últimas novidades.
A ânsia pela riqueza acalenta a ostentação brega e nutre a sociedade insaciável, além de patrocinar um modelo de desenvolvimento inviável e, em breve, aterrador.
É certo que a vida melhorou muito no último século. A Classe C de hoje vive melhor que a nobreza do século XIX. Portanto, é natural que as pessoas almejem boas condições de higiene e conforto. É também normal que as exigências pessoais elevem seu patamar: saneamento básico, luz elétrica, moradia digna e telefonia, há muito deixou de ser luxo. Políticas públicas que propiciem essa realidade a todos, no atual contexto, são mais que obrigatórias e não representam favor a ninguém.
Mas o modelo age contra a natureza, aquece o planeta, polui o ar e as águas, amplia desertos, promove desigualdades, incentiva violências. As instituições se desmoralizam, vai-se a democracia. Piora a qualidade de vida.
O erro, por certo, consiste em atrelar a felicidade a gastos e acúmulo de riquezas. Aí se inicia o insano ciclo sem retorno.
Se ouvirmos os nossos velhos, sábios pela própria experiência, vamos descobrir que a fórmula do verdadeiro sucesso é simples: viver de forma equilibrada, valorizar o trabalho sem esquecer os amigos, cultivar a boa educação e o respeito; conviver carinhosamente com a família; cuidar as plantas, admirar florestas, amar e respeitar os animais e a natureza; preferir energias renováveis; frequentar cinemas, teatros e museus, ler e escrever muito. Quando precisar, dispor de bons hospitais e médicos dedicados. Cultivar o espírito, praticar o bom humor, sorrir muito, além de caprichar nas atividades físicas. Dedicar-se a comunidade. É bom viver numa sociedade solidária e segura.
Eis o grande legado, o grande presente que nossos antepassados nos dão de graça todos os dias do ano. E que nós, absortos partícipes de um mundo materialista e embrutecido, não conseguimos entender. Junto a nossos filhos, neste Natal, devemos repensar sobre o que realmente conta para sermos felizes hoje e sempre. Ainda há tempo.

Alcides Mandelli Stumpf
Médico