sábado, 28 de fevereiro de 2015

Considerações do time de Leocir!






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Eu estava entre os que entendiam que o técnico Leocir Dall’Astra já tinha vencido seu tempo de Ypiranga. Volto atrás. Reconsidero. De um técnico que para meus conceitos mexeu demais no time que foi campeão da série ‘B’, trocando muitos jogadores, trocando muitos jogadores de função e sem jamais definir claramente um time titular, agora, na Divisão Principal, o técnico mostra um outro estilo, um outro trabalho.

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Um trabalho onde claramente estampa-se a quem observa um jogo, um sistema definido. E também um time definido. E mais que isso – um sistema que pode (e tem sido) alterado quando necessário ou lhe convém e com boas peças de reposição.

E isto para o técnico é bom, para o time é bom, para o grupo é bom, para as pretensões do time no campeonato é bom, para o torcedor que vai se acostumando com nomes, posições e esquemas é bom, e para nós da imprensa, que sempre comentamos o que vemos nos jogos – também é positivo.

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Em primeiro lugar é preciso reabilitar uma frase atribuída ao grande jogador que foi, e grande observador de futebol que é, Tostão. Certa feita lhe perguntaram o que era preciso para formar um bom time, um muito bom time, um grande time. E o mestre foi claro, conciso e mais objetivo e verdadeiro não podia ter sido: 'jogadores' , ensinou.

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E neste quesito o grupo de atletas do Ypiranga, neste gauchão, tem revelado mais qualidade que na serie ‘B’ e vou além: é mais forte que o time que subiu em 2008 – bem mais. Está entre os grandes times da década de 1990 que tinham Chico, Luis Cláudio, Ildo, Menezes, Carlos Roberto, Sérgio Oliveira, Paulo Gaúcho, Moreno, Badico, Ailton, entre outros.

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Claro que muita coisa passa por Paulo Baier, mas o Ypiranga é mais que Baier. O canarinho tem um goleiro confiável - Carlão. E isto é muito. Pouco estabanado, seguro, confiável, como disse. Releva um lateral direito (ainda carente de mais vigor físico – mas que tem futuro promissor) – Matheus. Possui uma zaga alta, veloz e que impõe respeito – Negretti e Betão. Seu lateral esquerdo é da função e também não deixa queixas por vazamentos - Ruan. A dupla de marcadores tem um voluntarioso (Robson) e outro que briga e sabe sair com a bola no pé (Guto). Os meias são os melhores – Paulo Baier e Preto. Cercam, armam, concluem e lideram – sabem jogar. E na frente tem um atacante veloz, muito perigoso (Saldanha) e um jogador que a meu juízo vem cumprindo um papel que merece um capítulo à parte.

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Todos sabem de quem falei até aqui, mas Jean Paulo, um meia armador clássico, que sempre jogou com a bola no pé e com o campo à sua frente, está no sacrifício, cumprindo uma função tática que o técnico Leocir lhe confiou e que exige muito do jogador, inclusive, ser criticado por não poder fazer o que sempre fazia com facilidade. Ser o centro do time.

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Acontece que Jean Paulo está jogando de costas, fazendo uma espécie de parede de qualidade para os meias e os laterais, e, quando pode, domina e ainda segura para enfiar uma bola, preciosa como fez no começo da partida a Baier, diante do Avenida.

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Essa dedicação de Jean Paulo merece ser elogiada, pois ele abre espaço para Preto e Baier, joga como falso centroavante, e submete-se a armar o último lance para a conclusão final de quem vem de trás ou até o rápido e eficiente Saldanha.

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Mas há ainda Kleiton, um jogador que pode ser usado fora do Colosso já na largada do 2º tempo junto com Saldanha e aí o Ypiranga, mais cuidadoso, sem deixar de jogar, apostaria na bola de segurança, aproveitando a alta velocidade da dupla Saldanha/Kleiton que jogam em direção ao gol e sabem concluir. Isto – sem falar na opção de Otacílio Netto, um centroavante de ofício, um definidor; e dos recursos que Leocir Dall’Astra deve ter para congestionar o meio campo (Jessé é um deles) e quem sabe até com Bruno Oliveira, exercendo forte marcação, abrindo os dois meias nas laterais do campo – zona morta do gramado -, para desafogar o time, segurar a bola e fazer o time jogar.

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Posso estar enganando, mas o Ypiranga tende a ser tão fatal fora de Erechim, quanto no Colosso. Não recomendaria a nenhum time atirar-se para cima do Ypiranga, que se conseguir levar até 30 minutos um jogo ou virar num zero a zero – cuidado, a derrota do mandatário pode estar mais próxima do que ele próprio imagina. É aquela coisa. A vitória aparentemente parece esconder-se dentro da toca. Mas ao meter o braço longe de mais (abrir demais) pode tocar em algo que não lhe sorria. Cuidado com o Ypiranga fora de casa!

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Beko’s 33 anos!



Meus cumprimentos ao presidente do Beko’s, pelos 33 anos comemorados em fevereiro de 2015. Uma associação de amigos, de jantares, de carnaval, de futebol de salão, de ações sociais e hoje em dia – uma família. Seu presidente, Mario
Rossi, tem grande responsabilidade este ano ao dirigir a associação que nasceu de uns quatro amigos na Severiano de Almeida, ao lado de onde reside hoje a mãe do nosso colega Rodrigo Finardi. Para quem não sabe o Beko’s foi o único campeão mundial de futsal que Erechim já teve em sua história quase centenária, ao ser apoiado pela Indústria de Balas Peccin. Na próxima quinta-feira, 5 de março, às 22hs na TV Erechim, representantes da Associação Atlética Unidos do Beko’s (Mario Rossi, Sérgio Luiz Binotto, Fernando Antonio Nadaletti e Edson Luís Grando) estão revivendo um pouco do muito que esta entidade que orgulha a cidade já patrocinou nos seus 33 anos de existência. 


sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

E a gestão onde fica?



Testemunhei inúmeras iniciativas de emancipação no Alto Uruguai. Três Arroios, Entre Rios do Sul, Cruzaltense, Paulo Bento, Ponte Preta, Centenário... e todas elas tinham suas justificativas. No dia do plebiscito de cada comunidade houve festa de comemoração e a alegria chegava a ser contagiante. E assim deve ter sido em anos já mais afastados dos dias de hoje quanto todos os municípios da região emanciparam-se de Erechim e, alguns, mais tarde de outros.

E era uma festa. Agora sim a comunidade vai pra frente. Vai ter prefeitura, câmara de vereadores, secretarias, máquinas, pessoal pra atender em todas as pastas, banco... Fim de depender do município/mãe que quase sempre demora. Vamos ter saúde e educação próprias.

Pois, essas coisas me vêm à mente quando as autoridades de Erechim justificam que para o Hospital Municipal Santa Terezinha assumir 100% SUS e toda a saúde da região (ou quase toda) teve que ceder à pressões dos prefeitos da Amau. E os municípios que antes, ao que fiquei sabendo por autoridades da saúde Erechim, tinham que complementar AIHs ou procedimentos com R$ 500 por paciente, ficaram livre dessa despesa – passando tudo ao estado, ou seja, ao Santa Terezinha.

Quem faria um negócio desses?
Nem Papai Noel.
Talvez importasse e ainda importe questionar: afinal de contas com que objetivos assumir o que não era sua responsabilidade?
Mas isto até já foi questionado e até agora não veio uma resposta convincente.
Quem sabe em 2016, no alto da campanha, quem representar o governo terá que responder aos concorrentes.

Mas surge uma outra reflexão: que prefeitos são esses que não conseguem tratar os doentes de seus municípios? Quiseram se emancipar para quê? Para prefeiturar, verear, secretariar e posar de comunidade emancipada? Emancipada em que – se o Santa Terezinha cansou de receber Vans e mais Vans de pacientes com problemas que um município devidamente emancipado, com vida própria, devia resolver.

A verdade é que há uma distorção no conceito - emancipado.
Tem município emancipado com prefeitura, nove vereadores, não sei quantas secretarias que não se encontra um restaurante, que dirá um hotel.
Tem município emancipado, dentro dos padrões made in Brazil que não tem um ponto como estação rodoviária.
Mas o prefeito tem um carro para deslocar-se e esmolar estado ou país afora.

Seria cômico não fosse trágico esse quadro.
Por que diabos afinal de contas querem ter vida própria (como se não tivessem – mas tem que ser com prefeitura e seus gastos demandantes) não tem uma casa de saúde com dez leitos, se qualquer procedimento mais complexo tem que correr com a ambulância que vai e volta, vai e volta, vai...

Há municípios que conseguiram avançar – mas nem em todas as áreas.
São emancipados, mas não são independentes.
Cai a energia elétrica, dá uma seca ou um temporal e tudo para.
Afinal de contas onde estão os ‘pensadores’ dessas comunidades que, legitimamente, buscaram sua emancipação, mas que ainda carecem de quase tudo!?

Todos sabemos que com Erechim puxando a  frente todo o Alto Uruguai não tem uma liderança sequer com capacidade para mudar a cara da região interferindo em Brasília. Aqui não entram as emendas parlamentares, tão criticadas há pouco tempo pelo político Ivar Pavan, que, do alto da sua experiência na política, certamente sabe com mais detalhes quais são os verdadeiros fins deste mal de estado e de nação – e bem político para um detentor de mandato.

Somos reféns da nossa própria ignorância, na medida em que nos contentamos com migalhas, quando o que devíamos ter era um propósito de região, com suas idiossincrasias de etnias, de labor, de história e futuro. Não! Pegamos a fatia do dia para chegar à noite e dormir pensando na fatia do seguinte e como escravos viver para fazer a fortuna e o desenvolvimento de outros e perecer enquanto nossos braços, pernas, submissão, omissão e ignorância assim o ditarem.

Falta-nos indignação.
E quem não é capaz de indignar-se quando coberto de razões está é um pária – aquele que mesmo sabendo que lhe cabe outro papel, recusa-se a assumir responsabilidades pelo grupo onde vive.

Todos sabem que o bolo tributário é distribuído de tal azar que resta muito pouco aos estados e aos municípios implementar. Eis aí o cerne do que devia desencadear um descontentamento coletivo de tal magnitude que tudo parasse de vez – uma vez que parando está. E na esteira dessa bestialidade que a divisão do que se arrecada no país – assistimos casos como este de, muito provavelmente, por interesses políticos, alguém de bolsos vazios assumir 31 famílias o que talvez lhe falte em casa para aos seus filhos dar.

Senão for assim, é pior: é por incompetência.

Então seria melhor que largassem tudo e fossem para casa.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Zanella prevê teste para governo municipal este ano

Entrevista feita no final de 2014

José Adelar Ody – Como está sua vida.
Eloi João Zanella – Normal. O homem público tem que estar melhor preparado para sair do poder do que entrar. O Firmino Girardello sempre dizia que quando você entra no poder, você se enche de pessoas. Enche uma mão de areia. Durante o mandato vai mexendo essa mão e quanto termina você vai ver quantos grãos de areia sobraram. Por isto é preciso ter cuidado de preservar as amizades para definir exatamente quem é amigo da pessoa e quem é amigo do poder.
Ody – O que tem acontecido com o PP não se parece com uma mão cheia de areia? Foi perdendo um grão aqui, outro ali. Por que o PP não conseguiu implantar um projeto de futuro político?
Zanella – Esta não é só uma questão do PP. O PP do município não é diferente do PP do estado. A partir do momento que o partido sai do poder ele perde aquele charme. Embora meu partido seja de centro-direita, mais conservador, vemos ele hoje atrelado ao governo em Brasília que é um governo de extrema esquerda, que possui tudo aquilo que nós sempre combatemos. Isso aí vai esvaziando, tirando o entusiasmo. Hoje existe um espaço para que o PP volte a ser um partido ideológico e não apenas de oportunidades. Precisamos de uma grande reforma política para que se acabe com situações de oportunismo no processo político doutrinário e, infelizmente, meu partido está incluído nisso também.
Ody – O PP também aparece no escândalo da Petrobras...
Zanella – O PP, PT e o PMDB. Isso não deixa fragilizados. Quando tu vê que o teu partido também está envolvido no maior escândalo já revelado na história deste país... e olha que estamos falando de um ministério. Temos ainda as Minas e Energia, Educação, Saúde, Transportes que lidam com muito dinheiro, ou será que o que está acontecendo está restrito a este ministério. Então me assusta porque acho que a coisa não para por aí. Acho que isto é apenas o começo da revelação de um grande processo de apropriação indébita dos recursos púbicos em benefício de pessoas, partidos e interesses.
Ody – Que tipo de reforma política o país precisa.
Zanella – Em primeiro lugar acabar com todos os partidos de aluguel. Você cria um partido como se fosse quase uma pequena ou micro-empresa coma finalidade de negociar espaços. Temos que ter partidos definidos doutrinariamente. Três ou quatro grandes partidos e dois ou três médios. Acabar com o financiamento de campanha. Tem que ser público e a limitado com controle absoluto. Agora não com um controle aparelhado do estado como temos hoje em que não se pode mais confiar no poder público, no MP, na polícia, no STF. A grande imprensa é livre até certo ponto. Mas duvido que os parlamentares façam uma reforma política que os prejudique. Falar em constituição exclusiva, hoje é um grande perigo, porque o que se está querendo é através de uma consulta popular fazer uma alteração constitucional, mas com a finalidade de introduzir um sistema socialista no país. Nós vivemos um momento muito complicado.
Ody - O que o senhor está achando dos primeiros nomes do ministério?
Zanella – Me parece que a presidente esqueceu tudo que disse na campanha eleitoral. Me parece que ela está dando uma volta de 360 graus sobre a forma imperialista que ela vinha administrando, principalmente a economia do país, trazendo pessoas competentes como caso do presidente do BC, o ministro do Planejamento e, principalmente, o ministro da Fazenda. Hoje, para equilibrar as contas do país precisa fazer duas coisas muito simples: cortar as despesas públicas e não gastar mais do que se arrecada e muito menos desequilibrando de tal forma as finanças de instituições públicas como a CEF, o BB e o BNDES que estão investindo muito além da sua capacidade. Esses homens que foram colocados na área econômica tem competência, se é que deixarão a autoridade para que eles exerçam sua autoridade. Me parece que se a presidente os escolheu deve existir este consenso e a coisa poderá mudar. Se não mudar vamos cair nunca situação de descrédito, o Brasil vai perder a confiança internacional, o que já está acontecendo. Não havendo investimento dos investidores não há desenvolvimento, não há produção e sem produção não haverá emprego. Então não adianta ter um país socialista, ter um governo socialista, um governo paternalista se não tem dinheiro para manter os benefícios que ele cria.
Ody – Como a presidente vai lidar com seu partido?
Zanella – Eu acho que talvez o maior adversário da presidente é o próprio partido. Nós não podemos esquecer que o presidente Lula, que com tudo que ele combateu contra a política neoliberal do PSDB, ele acabou sendo um governo neoliberal, tanto que o Henrique Meirelles que era do PSDB foi escolhido para manter o projeto econômico que vinha do FHC com a finalidade de poder manter o equilibro necessário para ele poder fazer o governo que pretendia. Como o Lula tinha muita força política que a presidente Dilma não tem, ele conseguiu contornar os problemas que havia com seu partido. Aquilo que ele não conseguiu contornar ele mandou tirar e acabou. Me parece que essa indicação que hoje nós temos na área econômica, partiu por iniciativa dele.  
Ody – o governo municipal adotou um modelo de gestão muito apoiado na vinda de recursos de Brasília...
Zanella – São diferentes maneiras doutrinárias de administrar. Eu me recordo que no meu primeiro governo, quanto aos recursos, nós pegamos tudo por fazer e era um período do regime militar. Podiam dizer: são da Arena então estão alinhados com o governo federal. Não havia aqueles torneiras abertas para repassar a estados e municípios. O município tinha que se ... e aí tiveram que equacionar as questões econômicas com atualização dos valores, dos tributos municipais que era a menor arrecadação que o município tinha. Os recursos próprios não chegavam a 6% da receita. Quando saímos da prefeitura já estavam em 32 ou 33%. Não era aumento de impostos – era adequar aquilo que era necessário fazer. Todos os municípios tinham que ter uma estrutura como empresa fosse, sabendo o que tinha que ser feito, o quanto precisava e segurar ao máximo as receitas correntes, especialmente a folha de pagamento, para investir ao menos 15%. Era uma forma de gestão. Agora com este sistema de alinhamento (atual)  o governo federal está fazendo uma política de amarração fazendo com que todos os municípios dependam de muitos recursos do governo federal e é uma forma de manter as pessoas... Este governo realmente está fazendo uma distribuição de recursos como nunca se fez. Nós repassamos os recursos mas queremos uma resposta política. Os municípios que melhor se aparelharam, que aprenderam a fazer projetos e que sabem onde estão as fontes de recursos tem conseguido êxito.
Ody – O senhor acha que o prefeito Paulo Polis está conseguindo aproveitar este momento?
Zanella – Acho que sim. A partir do momento que essas fontes se esgotarem o município não tem capacidade de fazer por si só a manutenção e a sustentação de todos esses projetos sociais que estão aí. Eu entendo que o prefeito está conseguindo fazer  os projetos, traz os recursos, está conseguindo desenvolver, mas não na velocidade que ele disse que faria – mas está fazendo, então não podemos negar. O que nos preocupa é com o futuro sabendo que 2015 vai ser um ano muito difícil, o governo tem que por em dia suas finanças e para isso tu não pode mais ficar passando recursos que não tem aí a coisa começou a mudar. O grande desafio deste governo vai ser a partir de 2015, espero que dê certo. Eu não tenho acompanhado a situação das receitas próprias, mas parece que a situação financeira do município é boa.
Ody – O governo se orgulha de uma série de obras com as paralelas, UFFS, IFET, três mil casas, tornar- a cidade um pólo educacional, de saúde...
Zanella - Existe uma questão doutrinária. De gestão pública e de gestão política. Tudo que eles fizeram nós também fizemos. Outros prefeitos também fizeram só que outros nomes. Casas populares hoje é Minha Casa, minha vida. Na época do Zambonato, do Antônio, do Schmidt, do Jayme Lago, a gente construiu muito mais que três mil casas. Mas eram projetos sociais que eram feitos dentro de uma estrutura administrativa e não política. O IFET é da minha época. As paralelas vinha desde o governo do Antonio, depois o Schmidt, depois no meu. As obras só na saíram porque não havia liberação da Fepam. As transpoição do rio Cravo é um projeto antigo que está sendo realizado. Mas foram realizados vários projetos de ampliação da barragem da Corsan à medida que a população ia crescendo. Nós criamos um distrito industrial que foi prejudicado pela alteração do plano diretor. Levamos seis anos para colocar toda infraestrutura necessária e acabou sendo prejudicado com os projetos habitacionais no entorno que era área de contenção. Está difícil de conseguir área, tanto que algumas industrias estão indo para outros municípios que ainda podem recebe industrias de nível 2 – aquelas mais poluentes. Então são questões administrativas que não são de hoje. Elas vem acontecendo. Questão da urbanização da cidade, do desenvolvimento industrial e comercial, tudo isso faz parte de um processo evolutivo. O município de Erechim não começou com o PT. Começou em 1918.
Ody – Por que o senhor voltou às campanhas políticas.
Zanella – É compromisso daquilo que a gente já foi. Por que foi prefeito, foi líder, tem que estar na frente. Então a gente acaba se envolvendo. Quando voltei nas últimas eleições eu fui convidado pelo Luiz Francisco Schmidt e eu tinha algum compromisso com ele por alguma injustiça que a gente também cometeu com ele, de resgatar alguma coisa. Aí eu fui com ele naquela caminhada. Na outra eu tinha um compromisso com uma pessoa que foi meu secretário por dois mandatos, muito competente, José Rodolfo Mantovani. Eu via nele uma pessoa séria, capaz, competente, honesta, leal de seguir esta caminhada. Estivemos com ele também na caminhada a deputado. Ele passa agora a ser a nova referência do PP. Acho que é um político nato e tem tudo para dar certo. Infelizmente em política tem uma coisa que é difícil de entender: ‘não, mas o Mantovani é antipático. Tudo bem – mas é desonesto? Não. É preguiçoso? Não. Puxa vida então a pessoa só tem que ser simpática. Então se o camarada é simpático, mas é ladrão, sem vergonha, etc. etc. então ele merece o voto. Nós costumamos rotular as pessoas e ficamos aceitando tudo que vem de fora como se fossem anjinhos. Colocam aí 80% dos votos para pessoas que a gente nem conhece e o município com 70 mil eleitores já faz tempo que não tem um candidato próprio. Os últimos próprios acho que fomos eu e o Antonio. Se é de casa só conhecemos os defeitos, porque este não é simpático, porque não sorri pra gente, aquele não beija...
Ody – Mas o processo eleitoral não passa também por estas questões, considerando o perfil do eleitoral.
Zanella – Agora que falaste uma coisa muito importante. O perfil do eleitor. O eleitor é o mesmo – só que o perfil do eleitor vai mudando de eleição para eleição. O eleitor que votou no Zanella em 1976 era o eleitor do olho no olho. A partir da terceira eleição veio a mídia, então já era um eleitor diferenciado. Hoje o eleitor vota na pessoa pela expectativa que o candidato consegue criar para ele numa situação muito pessoal e nada coletiva. Este é o novo perfil que tende mudar. Por enquanto ainda existe o eleitor que vota, bom este este cara pode resolver o meu problema ou pode ser bom para mim. O eleitor é o mesmo e vai mudando de conceitos. Com todas as coisas que estão acontecendo, com todas as verdades que estão vindo à tona, com essa roubalheira generalizada, e diga-se de passagem, foi feita uma pesquisa e 36% acham que é normal, mas eu acho que a tendência é mudar. O perfil do eleitor é mutável e acho que vai se refletir nas próximas eleições.
Ody – O seu partido não tem andado muito nas mesmas ruas? Não está faltando encontrar novas ruas, bairros...
Zanella – Olha meu partido nunca foi um partido populista. A gente ia para os bairros fazer campanha mas não no sentido de troca, mas para ouvir e incluir no projeto de governo. Então existe uma diferença muito grande da pessoa que vai ao bairro levando promessas, criando estruturas para isso. Eu nunca vi na história o município de Erechim repassar tanto dinheiro para tantas entidades se manterem. Eu sou do princípio de que se uma entidade quer coexistir ela tem que ter receita própria para coexistr. O dinheiro público é para necessidades públicas. Então é muito difícil meu partido se enquadrar dentro desse novo perfil de eleitor que vive na situação de esperar sempre alguma coisa a mais do poder público em benefício próprio. Se meu partido mudar para ser mais populista, sinceramente eu estou fora.

 Ody – Se o PP fosse procurado para receber cargos e o seu partido o convidasse para o IPE?
Zanella – Isso não acontecer. O partido tem um compromisso muito maior com aquelas pessoas que botaram a cara pra quebrar. Eu acho que o compromisso do partido não é com pessoas de gabinetes, mas com aqueles que tiveram coragem... que em verdade são a força do partido e que são os votos. Nós temos candidatos que não se elegeram, mas fizeram boa votação e podem ser aproveitados, são competentes. Na verdade não existe nenhuma perspectiva, nenhuma possibilidade de eu retornar.
Ody – O senhor encerou a sua vida política/eleitoral?
Zanella – Não. A vida política não. A vida eleitoral sim. Já estou com 71 anos. Fui quatro vezes prefeito – 18 anos. Fui deputado constituinte, presidente do IPE, diretor da Eletrosul e do BRDE, fui pró-reitor da URI. Eu tenho um trabalho realizado dentro da comunidade bastante grande e isto me dá o direito de parar, descansar e de dar consultoria se for necessário. Agora não serei mais candidato a nada com certeza. Mas não me afasto da política e ainda posso dar alguma contribuição.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

O que Erechim precisa para seu centenário!?



Há poucos dias na coluna Pente Fino assinada pelo colega Rodrigo Finardi, foram divulgados inúmeros dados importantes sobre a realidade de Erechim especialmente quanto a nossa composição econômica, educacional e social, entrando aí fatias de consumo, etc.
Essas informações vêm do empresário, professor universitário e presidente do CER Atlântico, Julio Cezar Brondani, que as obteve de fonte acreditada e oficial. Logo – o que está no Pente Fino é o que somos hoje.
Fala-se já sobre o processo eleitoral de 2016 e não é nenhuma novidade. Sempre foi assim. No entanto a eleição de 2016 terá um caráter simbólico pontual, relevante e marcante. É necessário observar que o eleito de 2016 estará no cargo na data em que o município completará seus 100 anos.
Virada a página da simbologia, sempre um evento; há a realidade. Cem anos, cem mil habitantes e chegaremos a 2018 sem um metro de esgoto tratado? Sei que há um projeto que prevê correr atrás desse prejuízo, mas com essa contenção de gastos (imperiosa) para não ver o estado quebrar de vez – parece-me que há um desafio maior a quem vir a ocupar a cadeira de prefeito no centenário.
Afinal de contas, qual é mesmo a vocação de Erechim nesta quadra da sua vida! Já fomos extrativistas com destaque à madeira, já passamos pelo setor primário com destaque para o trigo, já tivemos um comércio mais expressivo em termos de Alto Uruguai, já desenvolvemos uma boa planta industrial e avançamos sobre os serviços.
Mas qual é nossa referência mesmo!?
Chega um tempo onde não é possível se destacar, ou especializar, ou mais que tornar-se conhecida – mas respeitada, recorrida e admirada por um setor mais que os demais. E qual seria este setor – no vislumbre de futuro.
O extrativismo e o trigo passaram.
A indústria, para quem é do ramo, tem tudo para ficar mais algum tempo onde se encontra – porquanto, falta-nos infraestrutura como espaço à curto prazo, energia, comunicação e condições de escoamento menos caras. De mão de obra, também sofremos, pois em 2014 ouviu-se muito que ‘emprego tem – mas falta mão de obra especializada’.
O comércio – o que dizer dele.
Passamos mais de um ano inteiro sem a estrutura mínima necessária para achar um lugar para estacionar onde o comércio se concentra. Entrando para dentro das lojas, está na boca dos próprios dirigentes, a necessidade urgente de desenvolver práticas que atraiam clientes e não os afugentem. Ou seja, reconhecem que devem melhorar.
Sobre serviços a coisa no meu entender está para Erechim como para o restante. Há setores onde carecemos de avanços significativos no atendimento, embora ainda podemos posar de ponto de referência, talvez menos por nossas qualidades e mais por ausência de concorrências na região.
Gostamos de dizer que somos um pólo de educação e de saúde. Pergunta: por qualidade ou por números de pessoas que acorrem aos nossos estabelecimentos de ensino e instituições de saúde. Será em termos qualitativos estamos à altura, nestas áreas, das nossas tradicionais balizas – Passo Fundo e Chapecó? Cada um que tire as suas conclusões.
O fato é que Erechim é uma cidade bonita, bem localizada, limpa, e que atrai quem por aqui passa porque é um bom lugar para se viver. Mas – paralelamente às coisas que fizeram de Erechim uma boa cidade para se viver -, começam a despertar problemas que estão na boca da maioria: qual é nosso plano B para uma estiagem? A violência (ainda maior em outras cidades) é compatível à Erechim? A qualidade dos serviços mais necessários está à altura do que se encontra mais adiante? Por que tornou-se voz corrente que os         preços dos imóveis de Erechim são desproporcionais ao que a cidade oferece? Por que uma cidade com cem mil habitantes, uma indústria que precisa ser respeitada, serviços em expansão, um comércio ainda de boa atividade... e não temos um vôo de carreira – semanal -, com Porto Alegre ou São Paulo? Não temos sequer uma ligação asfáltica civilizada com cidades próximas de onde saem aviões diários para grandes centros. Nem isto! Quando chove como em junho de 2014 – a natureza pode nos colocar em situação de isolamento!
Ingressando na página política, de onde às vezes emanam soluções para algumas necessidades, ou não; que nomes aspiram a prefeitura, e sei que a pergunta não importa quando não temos capacidade de entender sobre isto – mas que se pergunte: com qual projeto!? Alguém tem um projeto, consistente, novo, arrojado, e sobre tudo viável, que arranque esta cidade da mesmice que já vem há anos e anos!?
Seria interessante conhecer esse alguém, ou esse partido, ou esse grupo de pessoas, ou essa união de inteligências. Mais que interessante seria imperioso saber quem são – até para trabalhar com um novo horizonte, pois do contrário (e tudo indica que pela natural ambição de partidos, de políticos como os conhecemos), é provável que ao menos quanto ao elenco disponível – o filme poderá repetir-se.
Agora, também é verdade que elencos adaptam-se a roteiros, a produtores, a diretores e nem sempre reproduzem o que mostraram num filme, nem sempre fazem papel de bandido ou de mocinho, e que é possível sim, desempenhar um papel com direito a Oscar, dependendo do enredo ao qual devem se inserir com sua atuação e desempenho destacados. Em outras palavras: mesmo nomes já tradicionais da nossa política podem atuar de forma nova, diferente e muito superior a desempenhos anteriores.
Dito isto penso que fica claro que a nossa cidade depende menos de elencos executores e mais de elencos pensadores, lembrando que atores renomados tornaram-se diretores de igual destaque. Mas a melhor fórmula ainda é aquela que pega o melhor diretor para o melhor ator ou atriz, com produção firmemente apoiada (e recursos) para desenvolver um enredo que se transforme numa grande história.
E a história real de Erechim que alcança a reta final para a fita dos cem anos não pode mais contentar-se com o que já foi feito. O que foi – está e muito obrigado a todos, agradeceria a cidade se tivesse boca – até por que nada do que já foi pode ser alterado porquanto já aconteceu. Mas e daqui em diante?

Que cidade apoiada em que valores e com quais credenciais que nos diferenciem positivamente de outras congêneres – haveremos de deixar a quem nos substituirá como um todo: dos partidos à saúde; do comércio à segurança; da indústria à educação; do transporte coletivo ao lazer; dos serviços às artes; do trânsito à cultura, dos políticos à imprensa. Do imaginário ao factível. O mundo não vai esperar para Erechim embarcar!

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Paulo Baier e eu!






Sim, – Paulo Baier já velho para os padrões normais do futebol de hoje - reza a lenda.
Quarenta anos tem o velhote da bola e anda ‘salameando’ como se dizia em tempos idos entre uma gurizada de 25, 29. Gurizada de 25, 29? Que clube europeu ou do leste ex-comunista anda investindo em gurizada de 25 ou de 29?

Ao que se tem notícia quase diária é a saída de filhotes de 19, 18 ou menos idade, com pai, mãe e tudo. Com 25 anos, do outro lado do mundo, o cara já foi analisado há anos pelos ‘olheiros’ de lá e sabem muito bem que se um grão de milho-pipoca não estourou no tempo certo – irá para a bacia como grão, mas jamais para o estômago do futebol mais caro do mundo.

É evidente que aqui estou a discorrer sobre idade e não sobre qualidade.
Se mudar para qualidade, Paulo Baier, poderia dar aulas nos seus treinamentos e nos seus jogos para muito filhote da bola que anda caminhando com a bundinha empinada sobre coxas sobressalentes que atraem diferentes olhos. Bola? – bem, já são outros quinhentos.

Eu não sei se o Ypiranga vai classificar entre os oito, ou permanecer na série ‘A’. Mas a simples ousadia de poder contar com um jogador de qualidade superior e de um atleta na mais pura e ampla acepção do tempo, para fins de futebol de campo – observe-se; alça o clube às manchetes nacionais. E mais que isto: qualifica sobremodo o time, engrossa o caldo da respeitabilidade dos adversários, coloca as arbitragens mais atentas porque também estas estão mais suscetíveis a terem interpretações mais detalhadas sobre eventuais equívocos de jogo onde um consagrado está no meio.

Ademais ainda é necessário que se frise o ganho enquanto instituição: Novo Hamburgo e Ypiranga, Caxias e Ypiranga, Cruzeiro e Ypiranga, Inter e Ypiranga  - é uma coisa. Qualquer um deles e Ypiranga de Paulo Baier é diferente. Não adianta. Não há garantias de vitórias com Paulo Baier, assim como não há certeza de derrotas sem Paulo Baier. Mas uma certeza há: com Paulo Baier é diferente. Para o Ypiranga e para seus adversários – disso não há a menor dúvida. Falo de tese, de teoria e até de prática – embora reitere que resultado de vitória ou derrota passam por outras retas e curvas.

Abri dizendo que Paulo Baier é um velhote do futebol aos 40 anos, dizem. Mas há outros, e que se ainda são disputados no mercado da bola, é por que o que vendem – vale.

Pois, quando esse velhote da bola tinha três aninhos, provavelmente largando as fraldas – eu já ligava da Caldas Júnior, em Porto Alegre, para dirigentes, técnicos, jogadores e correspondentes do interior.

Trabalhando ao lado de Antonio Carlos Macedo na Caldas Júnior da segunda metade da década de 1970, ligava duas vezes por semana para Bento Gonçalves. O Esportivo tinha um timaço. Lá, a secretária repousava o telefone sobre a mesa e ia chamar o técnico do Esportivo que passava o apito para seu auxiliar. Nunca recusou.

foi assim que, se não engano, em 1978 e 79 entrevistava todas as semanas o Valdir Espinosa que comandava um dos times mais respeitados, porquanto dotado de bons jogadores e grande conjunto. Jânio, Carlão, José, Raquete, Adilson, João Carlos, Gonha, Décio, Lambari, Celso Freitas, Lairton, Neca... cruzes!

Foi pelo telefone com o pessoal de Bento que descobri que o Esportivo tinha treinando entre os reservas um guri e que segundo o correspondente do Correio do Povo, seria um craque para time grande. Não durou muito, Renato já corria pelo Olímpico.

Mas quero voltar à questão das idades e de quem realmente é velhote nessa rápida história. Se Paulo Baier é chamado de velho para o futebol de hoje – o que seria eu então em termos de futebol, se aos três anos de idade do hoje velhote eu já andava no jornalismo esportivo!?

Certa feita liguei para São Borja. A cidade tinha um muito bom equipe com o mesmo nome, e todos sabem disso. Fora destacado para entrevistar o zagueiro do time do qual falavam ser de muito boa qualidade. Procurei pelo zagueiro no clube e me deram um outro telefone.

Quando liguei – deu numa cooperativa (tudo isso seguindo apenas minha memória e se tiver que desmentir – sem problemas). Mas é verdade. Deu numa cooperativa. E quando pedi que queria falar com o zagueiro do São Borja, disseram que passariam a ligação para a contabilidade. Foi ali, na contabilidade da cooperativa, que localizei Cassiá, que mais tarde seria o Cassiá do São Borja, do Grêmio, do Santos...

O grui/promessa de craque do Esportivo jogou nos maiores times do Brasil. Na seleção. Foi campeão de quase tudo. Deu o título de campeão do mundo ao Grêmio. Já largou faz tempo, e um outro tanto tempo, atua como técnico. O Cassiá também já largou há anos e anos e anos. Foi técnico de futebol, (treinou o Ypiranga em 1990) vereador de Porto Alegre, secretário de Obras e Viação de Porto Alegre, deputado estadual e concorreu a vice-governador do estado agora em 2014.

Se o Paulo Baier, como dizem, é um velhote para o futebol, o que sou eu?
Vou procurar minha certidão.
Alguma coisa entre o Baier e eu não deve estar batendo.
Nunca me chamaram de velhote – mas de tio e vô, sim!
Não, Paulo Baier não é o Pelé do Ypiranga.
Nem é o melhor jogador da história do clube. Talvez na seleção desde 1924 - sim.
Mas para o Ypiranga FC de 2015 - Paulo Baier é a grande novidade.
E positiva.
E em todos os sentidos.
Dentro do campo e aos olhos da mídia que cada vez mais expecta o futebol como marketing e publicidade.
Como um show.
Paulo César Baier é o show do Ypiranga.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Que o Coelhinho seja por Campo Pequeno!





I
Bota prestou serviços por meses e anos e ia tudo bem. Trabalho prestado – salário pago. E aí estava também o material que o bairrista observador erechinense usava. E eis que um dia o dinheiro do pagamento não pingou na conta de Bota. Ele estranhou, mas não estrilou. Baixou a cabeça e continuou trabalhando, embora no seu bolso faltasse alguma coisa e em casa a mulher e os filhos queriam saber o que acontecera.

II
Bota pedia à esposa que tivesse calma, afinal a oportunidade da vaga era uma dádiva em terreno tão duro. Humilde, nem sequer lembrou à cônjuge que se esforçara por anos e anos para merecer o serviço. E assim, de cabeça baixa focou no trabalho, até por que, agora, Bota era um homem que lidava com a saúde das pessoas. Cuidava da vida de quebrados, alquebrados, doentes, desenganados, sofridos, maltratados pela má sorte – pelo infortúnio. E, ora bolas, um novo fim de mês estava por vir e então... bingo!

III
E como na Bolívia ou no Reino Unido, em Ushuaia ou Kandahar, em Washington ou em Cuba – um outro fim de mês chegou. Bota correu para ver seu saldo, pois já contava com o segundo mês e os atrasados pagos. Mas, surpreendentemente, assim como quando dava más notícias a alguns pacientes – seu dinheiro uma vez mais não chegara.
Che de Deus! – gritou engolindo antes que explodisse. Ficou vermelho como só as bandeirolas em estrela, de outrora, em certa geografia do planeta – tremulavam.
O que haveria de dizer desta vez em casa?
E a viagem a Miami, o giro à Europa, o passeio das crianças à Disney?
Claro que tudo seria honrado, afinal, Bota não era nenhum profissional da saúde exportado por Cuba – mas para tanto teria que mexer nos seus capitais que achava intocáveis, ao menos, em curto prazo.

IV
Dizem as más línguas que o primeiro pagamento não transferido correspondia a outubro. O segundo, óbvio, a novembro e, í... no Natal, sim no Natal, Papai Noel, que jamais esquece de alguém, traria tantos presentes, mas tantos que entre os quais estaria a reposição dos atrasados.

V
Nos corredores dos médicos não cubanos as caras já eram de nervosismo. Bota, único no plantão, sempre que tinha um segundo de folga pensava: ‘me comprometi juramentado com Hipócrates, mas se não vir com o Papai Noel serei o próprio (hipócrate-s)’. E isto corria nas veias junto com o sangue, e, cá para nós, nada mais justo. Era de se admirar que continuassem auscultados por Bota no seu ofício sem ver a cor de um vintém.

VI
Mas, e o que poder-se-á dizer, (se é que a situação ainda persiste), dos que não eram médicos não cubanos, mas profissionais degraus mais abaixo deste, mas sempre imprescindíveis à saúde da população daquela determinada geografia planetária? Eles que ganham ‘uma Campo Pequeno’ a menos que os médicos não cubanos estariam dizendo o quê? - às suas esposas, aos seus maridos, aos seus filhos, aos seus pais... à bem da verdade consta que até este mês, eles, escaparam à surpresa. Mas haveria um novo fim de mês, afinal, os dias ruins também passam. E havia – claro, o plus do Natal.

VII
Quando os sinos badalaram anunciando que Cristo nascera outra vez para redimir os homens e este mundo, sob certo olhar, imundo, quando Papai Noel chegou trazendo pacotes, e abrindo um sorriso que convencia crianças e idosos, Bota colocou-se de pé e ergueu a cabeça: os dois meses em atraso e o último do ano lhe dariam mais felicidade que receber da forma tradicional, porquanto, de outra sorte, além de quitar a dívida e fazer justiça ao trabalho prestado e material utilizado em prol da vida de outros – ainda sararia a ferida que já se revelava purulenta a partir de chefes maiores ‘made in Piratini’.

VIII
Mas e se Papai Noel esquecesse... sim, o fim do ano, o ano novo – aí sim a redenção e a paz se fariam e tudo voltaria como acordado fora e sempre se cumprira, até a infeliz, não infeliz é pouco, até a desastrosa, não, desastrosa também é pouco, até a trágica decisão de acabar com um modelo que consorciava as despesas e dividia de forma equânime e justa os procedimentos... procedidos; com o aval do rei daquele tempo de Campo Pequeno. Bota diverge do termo rei, afinal não estamos numa Monarquia, mas logo se conforma quando busca num passado nem tão distante, que Campo Pequeno já entronara outro eleito, e que logo foi alçado a rei. Logo, por que não – quem veio depois que também assim seja, o que é uma honra. E melhor curvar-se a rei que a um comum.

IX
Mas enfim, o ano se precipitaria de encontro ao seu próprio fim e um novo ano se fez. Antes que os foguetes espocassem em Campo Pequeno, médicos não cubanos e fornecedores correram para conferir o pagamento do último mês de 2014, a quitação atrasada de outros dois meses. Que nada! Papai Noel já fora visto na Noruega e babaus rico dinheirinho.
Stalin! Que m.? - se alguém ouviu que não duvide. Nesse meio tempo um novo sol se abriu sob anúncio de decreto de corte de gastos.
My god – e agora?

X
Assim que o sol foi subindo, correram para Poa explicar que não dava mais para segurar e que a injustiça fosse reparada quitando-se os débitos com a Casa de Saúde que não atendia mais só os necessitados de Campo Pequeno, mas de outros municípios, como Polis II consentira num agosto de ano 13 - em atenção a pedidos dos executivos públicos de 31 comunas, ao que, Piratini, abraçara com os dois braços. (Quanto 1 e 3, 3 e 1. Seria um sinal!?). Qual a significância desse gesto altruísta, ninguém, rigorosa, absoluta e verdadeiramente ninguém consegue descobrir, muito menos supor ou sequer desconfiar. Benemerência ‘federal’ – protagonizada por um estado, numa região, num município que suportaria tudo, com as costas e as mãos de outros; pelo que narra a história até o dia de hoje – 30/1.

XI
Mas o empreendedorismo de afiliados a quem agora em Palácio na ‘capita’ obteve algum êxito. Voltaram por duas vezes com alguns milhares que aplacaram a justa reivindicação de médicos não cubanos da Casa de Saúde e fornecedores, por serviços prestados e materiais entregues. Resta uma dívida de R$ 4,7 milhões. Bota – fiel a Hipócrates não largou porque acredita que com o novo sol, o clima deve melhorar e com ele, surgir um novo ânimo. Nesse tempo que precede a Porta de Dante, ao menos os funcionários da Casa de Saúde que prestam serviços à saúde de 32 comunas, não ficaram sem seus dinheiros num esforço sabe-se lá a que custo. Agora, por que Campo Pequeno sucumbiu tão passivamente à pressão dos demais 31 municípios é que são elas. Não existem dinheiros públicos. Existem dinheiros das pessoas através de seus impostos, taxas, etc.!

XII
Rafael Ayub – diretor Executivo da Casa de Saúde (que vem dando a cara à tapa) disse que ‘à época parecia uma boa opção’, mas ela se revela agora desastrosa e poderá assumir contornos trágicos. Poderá!

XIII
Já que Papai Noel deitou a barba e sumiu sem o presentão (justo); que o Coelhinho da Páscoa, logo depois do 1º de abril, seja por Campo Pequeno. ‘Coelhinho da Páscoa o que trazes pra mim? Um ovo, dois, três ovos assim! Um ovo...’. Não, um não adianta. Tem que ser os três!