sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

E a gestão onde fica?



Testemunhei inúmeras iniciativas de emancipação no Alto Uruguai. Três Arroios, Entre Rios do Sul, Cruzaltense, Paulo Bento, Ponte Preta, Centenário... e todas elas tinham suas justificativas. No dia do plebiscito de cada comunidade houve festa de comemoração e a alegria chegava a ser contagiante. E assim deve ter sido em anos já mais afastados dos dias de hoje quanto todos os municípios da região emanciparam-se de Erechim e, alguns, mais tarde de outros.

E era uma festa. Agora sim a comunidade vai pra frente. Vai ter prefeitura, câmara de vereadores, secretarias, máquinas, pessoal pra atender em todas as pastas, banco... Fim de depender do município/mãe que quase sempre demora. Vamos ter saúde e educação próprias.

Pois, essas coisas me vêm à mente quando as autoridades de Erechim justificam que para o Hospital Municipal Santa Terezinha assumir 100% SUS e toda a saúde da região (ou quase toda) teve que ceder à pressões dos prefeitos da Amau. E os municípios que antes, ao que fiquei sabendo por autoridades da saúde Erechim, tinham que complementar AIHs ou procedimentos com R$ 500 por paciente, ficaram livre dessa despesa – passando tudo ao estado, ou seja, ao Santa Terezinha.

Quem faria um negócio desses?
Nem Papai Noel.
Talvez importasse e ainda importe questionar: afinal de contas com que objetivos assumir o que não era sua responsabilidade?
Mas isto até já foi questionado e até agora não veio uma resposta convincente.
Quem sabe em 2016, no alto da campanha, quem representar o governo terá que responder aos concorrentes.

Mas surge uma outra reflexão: que prefeitos são esses que não conseguem tratar os doentes de seus municípios? Quiseram se emancipar para quê? Para prefeiturar, verear, secretariar e posar de comunidade emancipada? Emancipada em que – se o Santa Terezinha cansou de receber Vans e mais Vans de pacientes com problemas que um município devidamente emancipado, com vida própria, devia resolver.

A verdade é que há uma distorção no conceito - emancipado.
Tem município emancipado com prefeitura, nove vereadores, não sei quantas secretarias que não se encontra um restaurante, que dirá um hotel.
Tem município emancipado, dentro dos padrões made in Brazil que não tem um ponto como estação rodoviária.
Mas o prefeito tem um carro para deslocar-se e esmolar estado ou país afora.

Seria cômico não fosse trágico esse quadro.
Por que diabos afinal de contas querem ter vida própria (como se não tivessem – mas tem que ser com prefeitura e seus gastos demandantes) não tem uma casa de saúde com dez leitos, se qualquer procedimento mais complexo tem que correr com a ambulância que vai e volta, vai e volta, vai...

Há municípios que conseguiram avançar – mas nem em todas as áreas.
São emancipados, mas não são independentes.
Cai a energia elétrica, dá uma seca ou um temporal e tudo para.
Afinal de contas onde estão os ‘pensadores’ dessas comunidades que, legitimamente, buscaram sua emancipação, mas que ainda carecem de quase tudo!?

Todos sabemos que com Erechim puxando a  frente todo o Alto Uruguai não tem uma liderança sequer com capacidade para mudar a cara da região interferindo em Brasília. Aqui não entram as emendas parlamentares, tão criticadas há pouco tempo pelo político Ivar Pavan, que, do alto da sua experiência na política, certamente sabe com mais detalhes quais são os verdadeiros fins deste mal de estado e de nação – e bem político para um detentor de mandato.

Somos reféns da nossa própria ignorância, na medida em que nos contentamos com migalhas, quando o que devíamos ter era um propósito de região, com suas idiossincrasias de etnias, de labor, de história e futuro. Não! Pegamos a fatia do dia para chegar à noite e dormir pensando na fatia do seguinte e como escravos viver para fazer a fortuna e o desenvolvimento de outros e perecer enquanto nossos braços, pernas, submissão, omissão e ignorância assim o ditarem.

Falta-nos indignação.
E quem não é capaz de indignar-se quando coberto de razões está é um pária – aquele que mesmo sabendo que lhe cabe outro papel, recusa-se a assumir responsabilidades pelo grupo onde vive.

Todos sabem que o bolo tributário é distribuído de tal azar que resta muito pouco aos estados e aos municípios implementar. Eis aí o cerne do que devia desencadear um descontentamento coletivo de tal magnitude que tudo parasse de vez – uma vez que parando está. E na esteira dessa bestialidade que a divisão do que se arrecada no país – assistimos casos como este de, muito provavelmente, por interesses políticos, alguém de bolsos vazios assumir 31 famílias o que talvez lhe falte em casa para aos seus filhos dar.

Senão for assim, é pior: é por incompetência.

Então seria melhor que largassem tudo e fossem para casa.