Entrevista feita no final de 2014
José Adelar Ody – Como está sua vida.
Eloi João Zanella – Normal. O homem público tem que estar melhor preparado para sair do poder do que entrar. O Firmino Girardello sempre dizia que quando você entra no poder, você se enche de pessoas. Enche uma mão de areia. Durante o mandato vai mexendo essa mão e quanto termina você vai ver quantos grãos de areia sobraram. Por isto é preciso ter cuidado de preservar as amizades para definir exatamente quem é amigo da pessoa e quem é amigo do poder.
Ody – O que tem acontecido com o PP não se parece com uma mão cheia de areia? Foi perdendo um grão aqui, outro ali. Por que o PP não conseguiu implantar um projeto de futuro político?
Zanella – Esta não é só uma questão do PP. O PP do município não é diferente do PP do estado. A partir do momento que o partido sai do poder ele perde aquele charme. Embora meu partido seja de centro-direita, mais conservador, vemos ele hoje atrelado ao governo em Brasília que é um governo de extrema esquerda, que possui tudo aquilo que nós sempre combatemos. Isso aí vai esvaziando, tirando o entusiasmo. Hoje existe um espaço para que o PP volte a ser um partido ideológico e não apenas de oportunidades. Precisamos de uma grande reforma política para que se acabe com situações de oportunismo no processo político doutrinário e, infelizmente, meu partido está incluído nisso também.
Ody – O PP também aparece no escândalo da Petrobras...
Zanella – O PP, PT e o PMDB. Isso não deixa fragilizados. Quando tu vê que o teu partido também está envolvido no maior escândalo já revelado na história deste país... e olha que estamos falando de um ministério. Temos ainda as Minas e Energia, Educação, Saúde, Transportes que lidam com muito dinheiro, ou será que o que está acontecendo está restrito a este ministério. Então me assusta porque acho que a coisa não para por aí. Acho que isto é apenas o começo da revelação de um grande processo de apropriação indébita dos recursos púbicos em benefício de pessoas, partidos e interesses.
Ody – Que tipo de reforma política o país precisa.
Zanella – Em primeiro lugar acabar com todos os partidos de aluguel. Você cria um partido como se fosse quase uma pequena ou micro-empresa coma finalidade de negociar espaços. Temos que ter partidos definidos doutrinariamente. Três ou quatro grandes partidos e dois ou três médios. Acabar com o financiamento de campanha. Tem que ser público e a limitado com controle absoluto. Agora não com um controle aparelhado do estado como temos hoje em que não se pode mais confiar no poder público, no MP, na polícia, no STF. A grande imprensa é livre até certo ponto. Mas duvido que os parlamentares façam uma reforma política que os prejudique. Falar em constituição exclusiva, hoje é um grande perigo, porque o que se está querendo é através de uma consulta popular fazer uma alteração constitucional, mas com a finalidade de introduzir um sistema socialista no país. Nós vivemos um momento muito complicado.
Ody - O que o senhor está achando dos primeiros nomes do ministério?
Zanella – Me parece que a presidente esqueceu tudo que disse na campanha eleitoral. Me parece que ela está dando uma volta de 360 graus sobre a forma imperialista que ela vinha administrando, principalmente a economia do país, trazendo pessoas competentes como caso do presidente do BC, o ministro do Planejamento e, principalmente, o ministro da Fazenda. Hoje, para equilibrar as contas do país precisa fazer duas coisas muito simples: cortar as despesas públicas e não gastar mais do que se arrecada e muito menos desequilibrando de tal forma as finanças de instituições públicas como a CEF, o BB e o BNDES que estão investindo muito além da sua capacidade. Esses homens que foram colocados na área econômica tem competência, se é que deixarão a autoridade para que eles exerçam sua autoridade. Me parece que se a presidente os escolheu deve existir este consenso e a coisa poderá mudar. Se não mudar vamos cair nunca situação de descrédito, o Brasil vai perder a confiança internacional, o que já está acontecendo. Não havendo investimento dos investidores não há desenvolvimento, não há produção e sem produção não haverá emprego. Então não adianta ter um país socialista, ter um governo socialista, um governo paternalista se não tem dinheiro para manter os benefícios que ele cria.
Ody – Como a presidente vai lidar com seu partido?
Zanella – Eu acho que talvez o maior adversário da presidente é o próprio partido. Nós não podemos esquecer que o presidente Lula, que com tudo que ele combateu contra a política neoliberal do PSDB, ele acabou sendo um governo neoliberal, tanto que o Henrique Meirelles que era do PSDB foi escolhido para manter o projeto econômico que vinha do FHC com a finalidade de poder manter o equilibro necessário para ele poder fazer o governo que pretendia. Como o Lula tinha muita força política que a presidente Dilma não tem, ele conseguiu contornar os problemas que havia com seu partido. Aquilo que ele não conseguiu contornar ele mandou tirar e acabou. Me parece que essa indicação que hoje nós temos na área econômica, partiu por iniciativa dele.
Ody – o governo municipal adotou um modelo de gestão muito apoiado na vinda de recursos de Brasília...
Zanella – São diferentes maneiras doutrinárias de administrar. Eu me recordo que no meu primeiro governo, quanto aos recursos, nós pegamos tudo por fazer e era um período do regime militar. Podiam dizer: são da Arena então estão alinhados com o governo federal. Não havia aqueles torneiras abertas para repassar a estados e municípios. O município tinha que se ... e aí tiveram que equacionar as questões econômicas com atualização dos valores, dos tributos municipais que era a menor arrecadação que o município tinha. Os recursos próprios não chegavam a 6% da receita. Quando saímos da prefeitura já estavam em 32 ou 33%. Não era aumento de impostos – era adequar aquilo que era necessário fazer. Todos os municípios tinham que ter uma estrutura como empresa fosse, sabendo o que tinha que ser feito, o quanto precisava e segurar ao máximo as receitas correntes, especialmente a folha de pagamento, para investir ao menos 15%. Era uma forma de gestão. Agora com este sistema de alinhamento (atual) o governo federal está fazendo uma política de amarração fazendo com que todos os municípios dependam de muitos recursos do governo federal e é uma forma de manter as pessoas... Este governo realmente está fazendo uma distribuição de recursos como nunca se fez. Nós repassamos os recursos mas queremos uma resposta política. Os municípios que melhor se aparelharam, que aprenderam a fazer projetos e que sabem onde estão as fontes de recursos tem conseguido êxito.
Ody – O senhor acha que o prefeito Paulo Polis está conseguindo aproveitar este momento?
Zanella – Acho que sim. A partir do momento que essas fontes se esgotarem o município não tem capacidade de fazer por si só a manutenção e a sustentação de todos esses projetos sociais que estão aí. Eu entendo que o prefeito está conseguindo fazer os projetos, traz os recursos, está conseguindo desenvolver, mas não na velocidade que ele disse que faria – mas está fazendo, então não podemos negar. O que nos preocupa é com o futuro sabendo que 2015 vai ser um ano muito difícil, o governo tem que por em dia suas finanças e para isso tu não pode mais ficar passando recursos que não tem aí a coisa começou a mudar. O grande desafio deste governo vai ser a partir de 2015, espero que dê certo. Eu não tenho acompanhado a situação das receitas próprias, mas parece que a situação financeira do município é boa.
Ody – O governo se orgulha de uma série de obras com as paralelas, UFFS, IFET, três mil casas, tornar- a cidade um pólo educacional, de saúde...
Zanella - Existe uma questão doutrinária. De gestão pública e de gestão política. Tudo que eles fizeram nós também fizemos. Outros prefeitos também fizeram só que outros nomes. Casas populares hoje é Minha Casa, minha vida. Na época do Zambonato, do Antônio, do Schmidt, do Jayme Lago, a gente construiu muito mais que três mil casas. Mas eram projetos sociais que eram feitos dentro de uma estrutura administrativa e não política. O IFET é da minha época. As paralelas vinha desde o governo do Antonio, depois o Schmidt, depois no meu. As obras só na saíram porque não havia liberação da Fepam. As transpoição do rio Cravo é um projeto antigo que está sendo realizado. Mas foram realizados vários projetos de ampliação da barragem da Corsan à medida que a população ia crescendo. Nós criamos um distrito industrial que foi prejudicado pela alteração do plano diretor. Levamos seis anos para colocar toda infraestrutura necessária e acabou sendo prejudicado com os projetos habitacionais no entorno que era área de contenção. Está difícil de conseguir área, tanto que algumas industrias estão indo para outros municípios que ainda podem recebe industrias de nível 2 – aquelas mais poluentes. Então são questões administrativas que não são de hoje. Elas vem acontecendo. Questão da urbanização da cidade, do desenvolvimento industrial e comercial, tudo isso faz parte de um processo evolutivo. O município de Erechim não começou com o PT. Começou em 1918.
Ody – Por que o senhor voltou às campanhas políticas.
Zanella – É compromisso daquilo que a gente já foi. Por que foi prefeito, foi líder, tem que estar na frente. Então a gente acaba se envolvendo. Quando voltei nas últimas eleições eu fui convidado pelo Luiz Francisco Schmidt e eu tinha algum compromisso com ele por alguma injustiça que a gente também cometeu com ele, de resgatar alguma coisa. Aí eu fui com ele naquela caminhada. Na outra eu tinha um compromisso com uma pessoa que foi meu secretário por dois mandatos, muito competente, José Rodolfo Mantovani. Eu via nele uma pessoa séria, capaz, competente, honesta, leal de seguir esta caminhada. Estivemos com ele também na caminhada a deputado. Ele passa agora a ser a nova referência do PP. Acho que é um político nato e tem tudo para dar certo. Infelizmente em política tem uma coisa que é difícil de entender: ‘não, mas o Mantovani é antipático. Tudo bem – mas é desonesto? Não. É preguiçoso? Não. Puxa vida então a pessoa só tem que ser simpática. Então se o camarada é simpático, mas é ladrão, sem vergonha, etc. etc. então ele merece o voto. Nós costumamos rotular as pessoas e ficamos aceitando tudo que vem de fora como se fossem anjinhos. Colocam aí 80% dos votos para pessoas que a gente nem conhece e o município com 70 mil eleitores já faz tempo que não tem um candidato próprio. Os últimos próprios acho que fomos eu e o Antonio. Se é de casa só conhecemos os defeitos, porque este não é simpático, porque não sorri pra gente, aquele não beija...
Ody – Mas o processo eleitoral não passa também por estas questões, considerando o perfil do eleitoral.
Zanella – Agora que falaste uma coisa muito importante. O perfil do eleitor. O eleitor é o mesmo – só que o perfil do eleitor vai mudando de eleição para eleição. O eleitor que votou no Zanella em 1976 era o eleitor do olho no olho. A partir da terceira eleição veio a mídia, então já era um eleitor diferenciado. Hoje o eleitor vota na pessoa pela expectativa que o candidato consegue criar para ele numa situação muito pessoal e nada coletiva. Este é o novo perfil que tende mudar. Por enquanto ainda existe o eleitor que vota, bom este este cara pode resolver o meu problema ou pode ser bom para mim. O eleitor é o mesmo e vai mudando de conceitos. Com todas as coisas que estão acontecendo, com todas as verdades que estão vindo à tona, com essa roubalheira generalizada, e diga-se de passagem, foi feita uma pesquisa e 36% acham que é normal, mas eu acho que a tendência é mudar. O perfil do eleitor é mutável e acho que vai se refletir nas próximas eleições.
Ody – O seu partido não tem andado muito nas mesmas ruas? Não está faltando encontrar novas ruas, bairros...
Zanella – Olha meu partido nunca foi um partido populista. A gente ia para os bairros fazer campanha mas não no sentido de troca, mas para ouvir e incluir no projeto de governo. Então existe uma diferença muito grande da pessoa que vai ao bairro levando promessas, criando estruturas para isso. Eu nunca vi na história o município de Erechim repassar tanto dinheiro para tantas entidades se manterem. Eu sou do princípio de que se uma entidade quer coexistir ela tem que ter receita própria para coexistr. O dinheiro público é para necessidades públicas. Então é muito difícil meu partido se enquadrar dentro desse novo perfil de eleitor que vive na situação de esperar sempre alguma coisa a mais do poder público em benefício próprio. Se meu partido mudar para ser mais populista, sinceramente eu estou fora.
Ody – Se o PP fosse procurado para receber cargos e o seu partido o convidasse para o IPE?
Zanella – Isso não acontecer. O partido tem um compromisso muito maior com aquelas pessoas que botaram a cara pra quebrar. Eu acho que o compromisso do partido não é com pessoas de gabinetes, mas com aqueles que tiveram coragem... que em verdade são a força do partido e que são os votos. Nós temos candidatos que não se elegeram, mas fizeram boa votação e podem ser aproveitados, são competentes. Na verdade não existe nenhuma perspectiva, nenhuma possibilidade de eu retornar.
Ody – O senhor encerou a sua vida política/eleitoral?
Zanella – Não. A vida política não. A vida eleitoral sim. Já estou com 71 anos. Fui quatro vezes prefeito – 18 anos. Fui deputado constituinte, presidente do IPE, diretor da Eletrosul e do BRDE, fui pró-reitor da URI. Eu tenho um trabalho realizado dentro da comunidade bastante grande e isto me dá o direito de parar, descansar e de dar consultoria se for necessário. Agora não serei mais candidato a nada com certeza. Mas não me afasto da política e ainda posso dar alguma contribuição.