5º episódio
Aquela
experiência da Administração foi de valia impagável.
Sim,
porque ela me colocou no centro de um grupo que se não mandava na cidade – de
certa forma, boa parte dele, passaria a mandar - cinco anos depois.
Tenho
para mim por dedução óbvia, até por que eu era frentista – mas cego não.
Sim,
foi lá naquele contexto que nasceu o político Eloi João Zanella.
Sim,
foi lá naquele contexto que nasceu a Zebra (símbolo dos governos de Eloi
Zanella que mudaram os rumos de Erechim, levando a cidade a desenvolver seu
setor industrial...).
Sim,
foi lá naquele contexto que a Zebra se arquitetou, organizou e deu seus
primeiros e decisivos passos.
Sim,
foi naquele contexto que a fermentação do poder de Campo Pequeno trocou de
mãos, de roupa, de cabeça, de gente, de pensamento, de linha, de ideias e de
ações.
Eloi
Zanella foi prefeito de 1977
a 1983.
De
1989 a
1992.
De
2001 a
2008.
Jayme
Lago – de 1983 a
1988.
Só
em dois mandatos, Zanella e Lago ficaram 12 anos no poder.
No
total são 24 anos.
Eram
dois dos alunos daquela turma.
Foi
lá naquele contexto que vi de perto a esquerda, como ela pensava, como se
portava, o que almejava, o que queria para o Brasil.
Francamente,
pelo que defendiam e pregavam, assim como em todas as esquerdas do mundo – me
seduziu.
Tinha
entre meus professores os mestres, Nédio Piran e Ernesto Cassol – de esquerda é
claro.
De
quebra – na Matemática, João Dautartas, sempre um peemedebista que jamais
largou a bandeira rubro-negra. Recebeu de presente no dia do seu sepultamento a
presença de três ou quatro partidários. Os demais continuaram uma reunião de
partido. Que falta de consideração. Que destino para um aguerrido homem de partido.
Pois,
não vou me dar ao trabalho de tentar saber, onde cada um dos queridos colegas
da época, anda hoje em dia, não por que não o mereçam; mas por que esta já é uma
tarefa muito grande e que me exigiria o tempo que neste momento não disponho.
Por
isto – fixo em um ou outro, e no Linor Pedro Klien que está com a vida como o
diabo gosta: sombra e água fresca. Eu sei que ele vai chiar – e já que vai –
digo tudo: família encaminhada e sem problemas financeiros. Não chia Linor –
relaxa e goza! Pobre Linor – volta e meia se vê no sacrifício de peregrinar
Velho Mundo afora. Que sina! – está tendo o primeiro presidente do
Diretório Acadêmico do Cese!
Em
tempo, observe-se, o Linor acabaria sendo mais tarde pró-reitor de
Administração, cargo antes exercido por Eloi Zanella – na URI -, fruto
definitivo daquele nem tão incipiente assim, alvorecer de ensino superior em
Erechim. (Hoje o querido Linor mora no céu).
Há
outros que tenho visto volta e meia por aí, e tudo mundo tranquilo como o João
Aldo Zanin, o Juca – Jorge Augusto Muller, o Osvaldo Gorski, o
Zulmiro Zucchi, o Adão Oliveira, se não me engano virou pastor – ou enfim,
comanda uma igreja, o Adalberto Valentini – outro que está com o burro na
sombra. E o Paris (Bordignon (que faz compras no mercado cantando, anda pelas ruas cantando... defendendo a tese que cantar dá mais longevidade).
Enfim,
há os que faleceram e tantos outros que nunca mais fiquei sabendo onde se meteram.
Mas,
foi naquele contexto, então, que, a meu juízo nasceria a Zebra, de direita é
claro; candidatos em potencial, a esquerda bem delineada e até uma espécie de
centro – com o João -, ou seja, havia representantes para todos os gostos. O querido João
Dautartas que também se transferiu para o alto.
O
professor Girônimo, então um sacerdote, acabaria tornando-se bispo coadjutor e
mais tarde, bispo da diocese de Erechim e, bispo emérito, aposentado aos 75
anos. Nesse
meio tempo ainda foi reitor do Seminário de Fátima, vigário da catedral e em
Aratiba, pároco da catedral, deu aulas em escolas públicas, no seminário e em
1994 assumiu a vaga de Dom João Aloísio Hoffmann. Ou seja, o professor foi
bispo por 18 anos. De quebra – integrou o Conselho Universitário da URI –
extensão daquele início com o Cese em 1972 e, em 3 de novembro dde 2019, aos 83 anos, atendeu convocação de Deus e com Ele foi morar.
Então,
naquele ambiente, daquela turma, saíram futuros prefeitos, presidentes de partidos políticos,
secretários, pensadores e influentes nomes da esquerda de Campo Pequeno, um pastor, um bispo, e,
claro, um frentista de posto de gasolina/jornalista.
Foi
lá naquele ambiente que eu tive a certeza que a matemática, a contabilidade, as
contas, enfim, não eram para mim. Passava
porque ajudavam – ou me empurravam, mas como seria depois, sozinho?
E
foi pensando nesta certeza que decidi abandonar o curso depois de um ano e meio. Não dava. Não daria. Não
adiantaria insistir na coisa errada. No meu interior eu sabia – mas ficava
quieto.
Mas,
um dia, Jayme Lago, me disse o que eu não me dizia: que eu não servia para
aquela coisa, que eu não tinha jeito de economista ou administrador, que o meu
negócio era outro. Depois
de me alertar que daquela área eu não sabia nada e, devia manter distância,
para meu bem, foi ele, Jayme Luiz Lago que observou pela vez primeira: “o
negócio desse guri é escrever”. E
foi assim, que por um pedido com jeito de ordem, que o Jayme Lago interpelou o
amigo Gilson Carraro: “Ô Gilson, arruma um lugar pra esse guri lá no jornal.
Diz pro Geder pegar ele. O negócio dele não é aqui, é no jornal!”. ER foi assim, sem mais nem menos, fui parar na redação do jornal.
Os
Carraro, para quem não sabe, tinham o jornal mais antigo da cidade - A Voz
da Serra, de 1929, (na verdade, de 1929 a 1937 chamava-se O Boavistense – quando em 37 trocou para A Voz da Serra) hoje, tentando se reanimar ainda em família como Voz.
Agora, posso dizer em alto e bom tom que tive a honra de ter como patrão - Estevam Carraro. Guardava um olhar de "pai" para comigo. Só para registro: Quase todas as noites, por volta da 1 hora da madrugada, ele entrava na redação vestindo um roupão que lje cobria até os pés, com duas grossas fatias de pão, decoradas com recheios e uma enorme xícara ou caneca de café. "Toma guri. Tu tá muito magrinho e a madrugada é longa", dizia.
Trabalhava
das 23h até clarear o dia, ao lado do Geder.
E
deste ganhei outro presente: “ô guri! Se tu quer ganhar dinheiro, pega uma
pastinha e vai vender (comercial). Se quer passar fome, como eu, vai bater
notícia!”, dizia com sua impagável irreverência, seguida de uma apavorante
gargalhada sob o bigode de fogo. É era pura verdade. Não peguei a pastinha.
Sentiu à máquina - e deu no que deu.
Evidente
que fome ele não passava – mas o recado era claro e, rigorosamente, verdadeiro
ao menos para jornalista que nunca confundiu os princípios de base, nem as
alturas dos objetivos sagrados do jornalismo tal qual foi concebido, ao menos
em tese.
Mais
tarde haveria de deixar o jornalismo e tentar outras sortes em outras empresas
da cidade – mas o vaticínio de Jayme Luiz Lago parecia ferver nas minhas veias até
que um dia larguei tudo e fui embora.
Fui
para uma escola de jornalismo de verdade da qual até hoje me orgulho do que
dizem de quem pela Famecos passou: “então tu também és um filho da PUC!?. Sim –
sou”. Entre os professores, Ana Amélia Lemos, Aníbal Bendatti e o
extraordinário Antoninho Gonzales e, tantos outros nomes consagrados do
jornalismo de escola e de redação - à época vivendo seus últimos anos do que se
convencionou por jornalismo romântico.
Eram
tempos onde ser jornalista era uma honra, porquanto uma censura, mesmo que
tímida, ainda teimava em mostrar suas unhas. Mas aquela censura a
gente respeitava, porque ela não tinha medo de se mostrar ou de se assumir.
Hoje
em dia não sofremos mais deste mal: hoje a “censura” tem vida própria e nem
fica vermelha quando dita a pauta do que pode ou não pode dentro da imprensa. Tudo em nome de
qualquer coisa - menos do bom e sagrado jornalismo. Coisas de mercado -
dir-se-á mundo afora. Ouço um barulho: deve ser o Geder mexendo os ossos no
caixão e sussurrando: “jornalismo de pastinha, Ódddyyyyyy - ahahahahahahah!”.
E
foi esta a história daquela história.
Para
muitos – nada.
Para
outros – uma coisa de poucas consequências, com o que não concordo.
Hoje, aquela sala de aula é nada mais, nada menos que a Capela Santo Agostinho da URI, inaugurada em 25 de setembro de 1992. Vinte anos depois, uma universidade nascida do empenho, da obstinação e do talento de muitas, muitas pessoas; mas que se pudesse resumir elencaria o trio, Cleo Joaquim Ortigara (Frederico Westphalen), Mara Regina Röesler (Santo Ângelo) e Glenio Renan Cabral (Erechim), o “Grupo Tarefa”, que deu origem e conduziu todo o processo de criação da URI.
Que
os Santos da capelinha da URI - velem pelas almas daqueles primeiros, de bispo
a prefeitos, de presidentes de partido a candidatos, de funcionários públicos a empresários, de professores e diretores, de mestres a
frentista. De frentista a jornalista. Por que não!?