Lewis Luiz Caron - Presidente do Atlântico em 1962 |
Quando o Atlântico apontou
no
túnel
as
cascas de amendoim desceram
pelas
calças.
Só
havia uma mudança:
Sebastião
na vaga
de
Noronha. Paulinho era
o
goleiro
e
Fossatti passara no teste
de
vestiário.
Nossa
frente era confiável
com
Moacyr, Tomasi, Cardoso
e
Índio;
mas
a frente
do
Lajeadense era temível:
Paulo
Muradás, Nestor, Roque e Gaiteiro.
Do pavilhão eu levantava a vista
de
quando em vez por sobre o velho
e
grandioso pé de erva-mate atrás
da
geral dos visitantes,
a
“árvore das raposas”;
aonde
hoje fica a entrada do ginásio
do
Caldeirão do Galo – batismo
dado
pelo repórter
Osvaldo
Afonso Chittolina -,
ao
ginásio do Atlântico.
Na foto time base do Atlântico em 1962: Noronha, Paulinho, Maneco, Garcia, Tiassa e Foassati; Moacyr, Índio, Tomasi, Zé Carlos e Cardoso
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O que queria eu ver afinal,
por
sobre as gerais e a majestosa
árvore
cujo ‘crime’ de sua derrubada
não
podia ter acontecido!?
Em
relances me vinha a
segunda-feira
com
as aulas na 4ª série no velho
‘Galinheiro’
como chamavam
o
prediozinho de madeira do JB...
onde
fiquei da 3ª à 5ª série e exame
de
Admissão.
Será
que me haveria um futuro?
Será
que eu iria me lembrar
um
dia daquele dia?!
Será
que não?
Será
que sim?
Por
que em repentes me saía
a
voar em pensamento para fora
da
Baixada e daquele
2
de dezembro de 1962!
Vaaaaaaai
saber – como
bregamente
se
diz hoje em dia - até para
se
desdizer.
A verdade é que aquela tarde
ficaria
na
história do clube e da cidade.
De
atletas e torcedores.
Na
minha pequena história
ela
calou.
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Dizem que um Inter e Cruzeiro
matou dois torcedores no Beira Rio
nos
anos 70.
Foi
um daqueles jogos onde
a derrota iminente parou,
e
deu o lugar à vitória
do
oponente
que
não tinha como deixar
de
perder
–
mas venceu.
Quem
viu Inter e Cruzeiro,
no
o
fim e virou,
não
viu nada se não esteve
na Baixa Rubra naquele dia.
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Foi...
depois
do Atlanga 126 na Montanha,
onde
o Índio em 1961 virou um
clássico
impossível – a maior partida
do Galo,
aquela contra o Lajeadense.
Na cidade aparecia outra
novidade:
‘Tatuzinho
– que mata sozinho’,
enquanto
a polícia fazia grande
trabalho
segundo a imprensa:
‘preso
perigoso gatuno com relógio
para
senhora...’. o perigoso meliante
já
tinha sido preso noutra cidade
por
roubo de fios...
grande
trabalho do inspetor
Vasconcelos.
A
Ouro preto lançava por estas
bandas
seu
novíssimo carro
– o
Karman-Ghia.
O delegado Rêmulo Monteiro e
dr.
Gladstone Osório Mársico
identificam
produto de roubo
da
residência do afamado
advogado e escritor
e a polícia sai ao encalço
dos
perigosos assaltantes.
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A Baixada Rubra está cheia.
Euclides
Antonio Tramontini
confirmaria
mais
tarde: passaram pelas
bilheterias
160
mil cruzeiros – um assombro.
O
árbitro Ney da Luz Barbosa,
indicado
especialmente pela
Federação
Gaúcha trila o apito
e
chama os dois capitães
ao
centro do gramado.
Os
amendoins são esquecidos
e
cigarros
vão
parar nas bocas dos atlantinos
que enfeitam de vermelho o pavilhão
e a
enorme arquibancada atrás da
goleira
sob
os pés de Uva-Japão.
Começa mais uma decisão do Estadual
de
Profissionais. Um empate
tiraria
o
Atlântico da final... e
o
Noronha
não
está em campo.
Parecia
um prenúncio...
Que
azar do Atlântico!
‘Avante/
vamos
para a luta!’.
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Quem vem lendo
sabe que ‘estamos’ em
2 de dezembro de 1962,
domingo à tarde – Estádio da
Baixada Rubra -, onde hoje é
o complexo do Galo no centro.
Era a última rodada do
campeonato
estadual de profissionais e
o Atlântico não podia empatar.
O Lajeadense era um timaço.
Índio e Cardoso perderam dois
gols no começo da partida,
e o meu medo parecia que descera
do pavilhão e tinha ido embora.
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Mas logo viu-se que
o Lajeadense,
era o Lajeadense.
Os ataques se davam com
Paulo Muradás, aproveitando-se
de Fossati que fora dúvida e
dava mostras de não estar
recuperado.
Só mais tarde quando tudo
parecia perdido,
é que Juca entrou na meia cancha,
Maneco foi para a quarta-zaga
e Sebastião na vaga de Fossati,
lesionado.
E foi aí que se viu o tamanho
da falta que Noronha fazia
– também
lesionado.
Quase me arrependi: ‘mas
porque
não fui ver ‘O último por do sol’
com o Rock Hudson e
o Kirk Douglas
no Cine Ideal?
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A partida logo emparelhou e
os ataques eram lá e cá.
Aos 22 minutos, Paulo Muradás
passou de viagem por Fossati
e cruzou.
Nestor vinha de frente e deslocou
para o fundo das redes de
Paulinho.
O Atlântico que não podia
empatar,
perdia.
Na Abal, Giacomuzzi & Cia.
Ltda.,
se anunciava a chegada da famosa
máquina de datilografia
‘Hermes –
Cinco minutos depois,
aos 27,
novo centro sobre a área
do Galo,
a zaga se atrapalha e
Paulo Muradás
entra em velocidade e dá
uma bomba ampliando
- Lajeadense.
O Atlântico, se não quisesse
dar adeus precisaria de 3 gols.
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Na Câmara de Vereadores,
naquela semana, o edil
Antônio Pereirade Souza,
apresentava voto de pesar
pela morte dos erechinenses
Gilberto Alberto Salomoni
(comandante)
e Leonardo Nunhofer (mecânico).
Eles estavam no Boeing 707
que caiu na selva do Peru.
O Galo insistia com Moacyr,
Tomasi,
Cardoso e Índio
– mas uma
a uma as oportunidades
paravam
na zaga anilada ou alvi-azul!
E quando o árbitro
Ney da Luz Barbosa
encerrou
os primeiros 45 minutos
o Lajeadense
parecia com a vaga assegurada,
pois era quase impossível
imaginar
que levasse 3 gols na segunda
etapa.
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A Voz da Serra mancheteava:
‘aleijado vendeu a cadeira
de rodas’,
e pedia providências contra
um homem deficiente físico
que
ganhara uma cadeira de rodas
noNatal de 1958 das
‘excelentíssimas
damas Rotaryanas’.
‘E podemos
até informar aos leitores que......
vendeu
a cadeira de rodas porque
estava prejudicando o seu
negócio
de esmolas’ dizia a matéria
de capa,
pedindo que o sujeito fosse
retirado das calçadas da cidade.
‘Sinal dos tempos’,
firmava a matéria...!
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O intervalo era feito para
tirar a
‘água do joelho’ e as ‘patentes’
da Baixada quase
não davam conta.
Não se sabe por que razões os
torcedores não ensaiavam vaias,
e nem por que não iam embora,
afinal precisava ganhar e tomava
de
Parecia que lhes tinham
prometido um milagre,
sim um verdadeiro milagre,
que baixaria direto do céu no
gramado úmido da Baixada.
O sol já se punha por detrás
da copa
e bolão do Atlântico
onde na curva do barranco,
atlantistas sentados em pleno
chão
de grama e terra,
derrubavam uma Serramalte
atrás
da outra.
Os cascos escuros rolavam
no barranco.
(Amanhã a 4ª Parte)