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Lima Barreto era considerado um
escritor maldito. É de sua autoria
a máxima “a única crítica que me aborrece
é a do silêncio”.
A equipe que participou
do projeto “100 razões para viver,
sem medo de morrer – Uma breve história
de Erechim”, chama pra si a
máxima de Barreto: “talvez a equipe
também seja considerada maldita
pela intelectualidade bota amarela”.
E finaliza na apresentação: “... a equipe
teme apenas pelo silêncio, pois
no futuro já garantiu a confortável
condição de réu para julgamento
pelo tribunal da história”.
A obra tem
a produção de Osnei de Lima,
pesquisa de Enori Chiaparini,
prefácio de Alcides Mandelli
Stumpf
e, redação,
de João Francisco Campello Dill.
Já deixo claro: não posso me considerar
membro da nata intelectual bota amarela,
muito menos crítico literário;
mas me atreverei a não fazer silêncio.
Até porque, tivesse
Erechim uma cama,
o livro estaria
na cabeceira.
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O produto é de 2019, o projeto,
a pesquisa especialmente,
a redação
e a edição
– até a publicação e seu lançamento,
demandam um tempo
que só os envolvidos podem aferir.
Tenho para mim que,
muito provavelmente,
o trabalho mais penoso e que leva
aos autores a se projetarem na
“confortável condição de réus para
julgamento
pelo tribunal da história”, vai da
inescapável missão de terem que deixar
de fora dos 100 nomes
– outros tantos
ou talvez dez vezes mais.
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Mas diria aos autores – esta é uma
“acusação” natural a quem se
dispõe elaborar listas de melhores
e maiores.
Osnei, Chiaparini e Dill
sabiam disso de antemão.
Devem
ter passado noites remoendo não só
dúvidas, mas a ponto de talvez até
os mesmos terem se acusado.
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Eu não sei se porque entre os mais
diferentes gêneros literários,
o que contempla biografias,
me é de uma preferência
e por isso...
Li algumas
– mas 750 páginas
sobre 100 que aqui viveram
é muito interessante.
Este livro devia estar nas escolas,
nos Poderes, na imprensa.
Na casa de quem quer saber mais
sobre conterrâneos que já se foram.
Imperdível.
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Alguém poderá acusar os
autores de
que uma biografia não se faz em cinco
ou seis páginas – a média que cada um
mereceu -, mas isto já estava
na sua origem. Não sejamos oportunos
nem amadores, para nos apresentarmos
como sabedores de algo que os autores
sempre souberam.
Ademais – existe lastro e profundidade sim.
Tanto na pesquisa quanto na redação.
É sobretudo uma leitura que cativa e agradável.
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A obra em si é simplesmente fantástica.
A “descoberta” de associar cada um
dos biografados a um verbo que resume
seu perfil e feitos merece elogios.
Ela permite saber sobre cada biografado
com uma só palavra.
Outra atrativa associação foi ligar
cada biografado a um filme.
E olha,
lendo a história dos eleitos e observando
a associação com a sétima arte, é difícil
não concordar com a proximidade dos
“enredos”.
Peguemos Acelyno Rigo, um sujeito que
em 1938 colocava no ar sua Rádio
Experimental. Teve sua imagem associada
ao filme “A Era do Rádio”.
Para resumir sua vida como
“uma razão para viver... –
experimentar!”.
Ou ainda a Irmã
Consolata.
Nascida na Áustria em 1914,
em 35 designada vem para o Brasil,
aportando em 38 na Boa Vista do Erechim
para sua missão. Sua imagem foi associada
ao filme “Asas do desejo” que aborda
anjos que habitam entre humanos,
servindo-lhes em momentos de angústia
e desesperança. O escrito recorta
como “uma razão para viver –
Servir!”.
Alguém discorda?
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Pouco me dediquei a pesquisar quem
foi quem ou quem fez o quê?
– para levantar qualquer reparo mais
relevante sobre eventual esquecimento na lista.
O que sei é que os idealizadores devem
ter centenas de outros nomes, igualmente
já falecidos – a obra se debruça apenas
a quem tiver tal ‘predicado’ – e, talvez
venham a público em outras oportunidades.
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Pensei em roubar os nomes dos 100
e dar-lhes o verbo – que a equipe deu
para definir cada
um deles. Mas aí já seria demais.
Infringiria a boa ética.
Desrespeitaria quem é
merecedor dos créditos.
Mas – é impressionante a fartura
de homens e mulheres notáveis
que fizeram a história desta cidade
em tempos muito difíceis.
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Como Erechim se abasteceu de
Caixas do Sul, Bento Gonçalves, Flores
da Cunha, Veranópolis, da Serra,
das Colônias Velhas, e comunidades
da própria região, entre outras!
Gente que aqui chegou quase sem nada
– e graças à determinação, à fé e religião,
ao trabalho e à vontade de crescer
e ser alguém na vida -, não só se fizeram
como abriram empresas, criaram
empregos, superaram desafios abrindo
novos horizontes em centros maiores
com suas atividades econômicas
(empreendedorismo de verdade em
setores diversos),
nas artes, na música, literatura,
política
– entre tantas.
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À medida que se vira cada página,
um novo personagem nos surpreende,
porquanto só o sabíamos lá na metrópole,
mas não que correu de calças curtas
por aqui, conquistou ou abriu seu
primeiro ganha-pão por aqui,
enfim, plantou, colheu e viveu aqui,
ou daqui
alçou voos que a maioria
(e me incluo entre esses)
desconhece ou desconhecia.
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Suponho que nomes como
Estevam Carraro, fundador do periódico
mais antigo da cidade e ainda respirando
às vezes com “aparelhos”, na área
da comunicação local,
que um
Milton Doninelli ou
Euclides Antonio Tramontini,
ligados à coberturas históricas na
imprensa do passado,
homens da radiofonia
e dos épicos bailes de carnaval;
um Hermínio Carpegiani
– O Velho Borges –
o maior jogador de futebol que Erechim
viu jogar por aqui, poderiam estar noutro
livro.
Mas essas sugestões não diminuem
a grandiosidade da obra,
ademais, é difícil opinar assim de cabeça.
Por isso a pesquisa.
Mas me é confortável
aceitar a eleição destes 100.
Sei que trabalharam amparados em bom
senso e peneirando a não faltar com
a mais justa das justiças – a despeito
das “injustiças’ que sempre haverão
de habitar e povoar outras cabeças,
outros olhares, vontades e até interesses.
Entre Pelé, Ronaldinho,
Messi, Ronaldo Fenômeno, Garrincha,
Zindane, Johan Cruijff, Zizinho, Beckenbauer,
Eusébio, Puskas, Di Stéfano,
Cristiano Ronaldo, Maradona...
dentre esses quinze, tendo que escolher três
ou quatro;,
quem você elegeria!?
Pois é - quantas pedradas receberia!?
Quantas acusações responderia no
banco dos réus da história?
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A meu juízo, como leitor e, reitero
- apreciador de biografias -, nenhum
dos autores deveria sentar-se no banco
dos réus para ser julgado por desconfianças
de infringir a história ou por publicar
inverossimilhanças descabidas.
Quem podia sentar-se no banco dos réus,
são intelectualidades e
çabios
“residentes” em diferentes áreas
– e também não me eximo destes -
que jamais abriram um livro
porque “não gostam de ler”,
ou “não tem tempo de ler”.
Ou ainda lêem pouco, quase nada.
O desalento é maior quando em
muitos casos se faz uso da microfonia
e das letras de massa,
ou quando futricam
e se remoem em alcovas de má fé,
ou ainda,
mantêm-se acorrentados
“às redes sociais
de recados”
– “ensinando” a outros, aquilo
que desconhecem, não raras vezes
amparados na própria ignorância que
- cega e surda, sonega pesquisas,
estudos e descobertas.
Quando um grande escritor é execrado
como “maldito” – o que sobra a nós,
desinteressados em saber ao menos o que
se perscruta com denodo,
se seleciona, se escreve,
e se entrega em 750 páginas sobre
nossa própria fonte de vida
- enquanto moradores de Erechim!?
Peço autorização aos autores
para infringir
em analogia, o título que nomeia esta
grande obra “made in Erechim”
por erechinenses.
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Diria: “Três razões para ler
sem medo de morrer: conhecer,
aplaudir
e perdoar”.
Perdoar pelo silêncio do presente.
Descendo um degrau - diria ainda:
o que preocupa não é “a crítica
do silêncio”
– mas “o crítico
estado do silêncio”.
Para nossos parâmetros uma
obra magnífica, emoldurada
com fio dourado por
Alcides Mandelli Stumpf,
da Academia Erechinense de Letras,
no prefácio.
E como no nosso país
tudo que é julgado hoje
pode ser mudado amanhã
- vide últimos lances na seara -,
não deveria ser descartado,
sim,
um assento
no tribunal da história
para a corajosa equipe deste obra
- o que não acredito.
A menos que...
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A menos que...
com um novo livro,
com novos personagens, e então..
por esta lista não seriam julgados.
Mas ao elaborar nova...
como diria Kafka:
cuidado, pois também aqui,
tudo é aparente.
Dos quinze, Pelé teria 100%?
Talvez. Quanto aos demais
sempre reinará uma dúvida,
porquanto em se tratando de escolhas
sempre haverá quem enxergue o que
só os seus olhos veem.
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Semana que vem
completam-se 2021 anos
Daquele que, supostamente,
devia ter agradado a todos.
A “lista do um” incontestável.
Leiloado à “escolha” dos comuns,
e jogado ao arbítrio da ignorância;
acabou crucificado.
Então – devagar com as críticas sobre
os 100 do livro.
Preserve-se. Não pague mico.
É o que faço.
Pelo menos da minha parte.
De resto cumprimentos aos
autores
desta grandiosa obra de pesquisa,
- pela coragem e sensatez.