Na foto time base do Atlântico em 1962: Noronha, Paulinho, Maneco, Garcia, Tiassa e Fossati; Moacyr, Índio, Tomasi, Zé Carlos e Cardoso |
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Aos 38 minutos e ainda
Roque recebe,
segundo a imprensa,
em impedimento
e entra na cara de Paulinho.
Tiassa não hesita e faz o pênalti.
Paulo Muradás sela
e quase eram 40 do 2º tempo.
Agora sim – nem o padre Rigoni
da São Pedro,
nem Nossa Senhora de Fátima
mudariam aquele destino.
Volvi os olhos miúdos de dez natais
por detrás dos eucaliptos,
que os tempos modernos atoraram
e tentei me ver em casa,
já segunda-feira,
com a merenda enrolada
em papel de padaria.
Era Cristo na cruz:
“tudo está consumado!”.
Aos 42,
e
Tomasi ainda corre,
fustiga,
bufa,
e foge como se pudesse
ultrapassar
e driblar e mudar o destino.
Vai pela direita como um búfalo
descontrolado e cruza alto.
Índio sai do chão como nunca
tinha saído,
e golpeia para o chão
fora do alcance do goleiro
Rogério.
O Índio ganhando de cabeça..
só podia vir um milagre.
Quem tinha relógio,
menos via o campo do
que os ponteiros que não andavam
– mas voavam.
Malditos!
Inaugurado solenemente novo
prédio do BB.
Prossegue com certa intensidade
calçamento da Maurício Cardoso.
Estrada Erechim – Aratiba
verdadeira calamidade.
Municipalidade contrária ao
comércio
de ambulantes.
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Todos os relógios bateram nos
45 minutos do 2º tempo
quando Cardoso aproveita
novo entrevero na área
do Lajeadense
num bate e rebate,
faz o seu terceiro
e empata o cotejo.
Aí sim
– o pavilhão quase antecipa
a própria implosão que
experimentaria
anos mais tarde em 1991.
Eu pulei.
Meu pai pulou.
O pavilhão pulava,
Os pés de Uva-Japão
atrás da goleira do Lajeadense
tremiam.
Os barrancos pulsavam.
Os vendedores de cerveja
e pastel da copa largaram tudo
e pulavam em cima do que
seria um balcão de tábuas.
Ninguém ligava para o caixa
cheio de dinheiro.
Metade da torcida estava
escalada no alambrado.
O Gatão (Franceschetto)
teve de ser segurado porque
queria invadir o campo
o colocar o Atlântico com 12.
“Gatos à Paisana”
de Gladstone Osório Mársico
é sucesso.
Praça Julio de Castilhos ganha
lâmpadas de mercúrio.
Telefones automáticos
- ano que vem.
Fundados sindicatos rurais
com mais
de 700 produtores.
Aprovado 13º pelo senado.
Kennedy dá ultimato à URSS
na crise dos mísseis.
“Pagador de Promessas”
ganha Palmade Ouro em Cannes.
Acre vira estado brasileiro.
Lançada a primeira sandália
Havaiana no Brasil
Volkswagen começa fabricação
no Brasil.
“Fica comigo está noite”
com Nelson Gonçalves e
'Let s Twist Again' com Chubby Ckeker,
Destaques na musica no Brasil.
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O onze alvi-azul estava
boquiaberto e discutia culpas.
O preguiçoso Cardoso que
‘matava’ treinos
estava com o próprio diabo
no corpo.
Se até ele suava como
um guaipeca fugidío,
que dirá, o Tiassa, o Sebastião,
o Juca, o Zé Carlos
e... o Gringo Tomasi então!
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Era quase noite...
ou digamos, era noite já
e
Há quem garanta que
acenderam
os faróis de caminhão atrás da
goleira do Lajeadense.
Essa eu não vi, mas...
Não sei como um caminhão
chegaria lá.
Só lá por trás da árvore das raposas.
Mas – naquele dia
“nada era impossível”.
O Lajeadense ainda tinha a
vaga,
e o Galo ainda estava desclassificado
à despeito da epopéia.
Depois do que todos sofreram,
não podia terminar assim,
daquele jeito,
empate.
Alguma coisa mais
tinha ainda que acontecer
– nem que
perdesse então!
Melhor perder do que
empatar naquelas circunstâncias,
para às quais a história abre
uma exceção a cada 100 anos.
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Dada a nova saída,
o banco do Lajeadense
quase dentro do campo,
exigia o fim da partida.
A bola vinha para a
zaga alvi-azul e
buuuummmmmmmmmmmmm
– lá pros lados do presídio.
E aonde estava a bola reserva.
Eram bolas e bolas
“pras casas de má fama”.
Aos 49...
o Galo faz seu último ataque.
Era como os aviões
contra o WTC...
tudo ou nada!
E vinha de todos os lados.
Igual a um Roberto Jefferson:
seja o que Deus quiser!
Um Tarzan contra o mundo.
Era como o dia “D”.
Tudo ou nada!
E Ele quis
– nos dois casos ao que parece.
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Com metade do time do
Lajeadense
em cima do juiz,
o endiabrado Cardoso
recebe livre dentro da área.
Era o seu maior dia
como futebolista.
Ele dribla o destino.
Fez
sem jeito,
de trejeito,
o um
- que faltava.
Atlântico
Enquanto a torcida delirava,
com o impossível
com as mãos segurando as cabeças,
e nos beiços do cigarros apagados,
a briga generalizada explodia
no gramado.
O árbitro foi agredido.
A Brigada Militar entrou em
ação.
A noite engolia o dia
– mas o Galo tinha virado,
tinha feito o seu jogo
mais espantoso, inacreditável
e absolutamente histórico.
A Baixada Rubra pulava.
Do meu pai a eu,
dos jogadores ao ‘Véio Graví’
dos bilheteiros ao presidente Lewis.
das damas da noite agarradas à tela
às sociolytes sentadas
no pavilhão sob almofadas.
As primeiras sacudiam as bolsinhas,
as diademas, a pulseirinhas de latão,
os radinhos à pilha.
Alguns peitos mais avantajados
não respeitavam mais os decotes,
saltavam para fora das blusinhas,
e também vibravam com o Atlântico.
As segundas
– diante daquelas cenas,
diletantes,
levantaram seus traseiros
das almofadas e
- balançavam,
cuidadosamente;
suas jóias de pescoço,
braceletes e relógios de ouro fino.
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Depois de controlado
o ‘sururu’ e três expulsões
do Lajeadense,
o alvi-azul retirou-se do gramado.
Tomasi ainda bufava
com a camisa pra fora do calção,
e as meias arriadas.
Como um touro,
ainda fustigava e
parecia que
expulsara da arena todo
os toureiros, domadores e assanhados.
Queriam mais? – que viessem!
Ele parecia entorpecido
- acreditando que ainda era preciso
fazer mais um ou dois
ou três gols.
E ele estava pronto.
O Atlântico estava
impossível.
Nem o destino o pararia naquele dia
ou... naquela noite.
Até hoje,
desconfio que não se via mais
a bola quando foi decretado
(decretado?)
o 6º gol do Atlântico.
Mas fazer o quê!
– é a história.
O Atlântico se antecipava
a um Flamengo?
No
foi dada por encerrada.
E não se via mais nada.
Ficara só o resultado e,
por óbvio,
o mais incrível jogo que
a Baixada Rubra testemunhou.
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Naquele jogo onde a história
cunhou as credenciais
de identidade do Atlântico,
de raça, garra e de nunca desistência,
e... sabe-se lá de quê!
- o Galo atuou com: Paulinho; Tiassa,
Garcia, Sebastião (Maneco)
e Fossati (Sebastião);
Zé Carlos e Maneco (Juca);
Moacyr, Tomasi, Índio e Cardoso.
Noronha – titular absoluto –
não jogou porque estava lesionado.
Lesionado não.
Se tivesse só lesionado
– jogaria.
Estava incapacitado.
Não podia nem caminhar.
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No dia seguinte,
Euclides Antônio Tramontini
Atlântico
ganhou porque tem raça,
tem amor à sua camiseta...”.
O comentário de Tramontini
chegou a ser transcrito em
A Voz da Serra.
Aquele feito,
se me contassem
eu não acreditaria.
Só acredito, pois estava lá.
Naquela noite dormi
o sono dos anjos.
Fora testemunha de um episódio
que só sai como ficção,
ou na imaginação de quem
ousa sonhar...
o impossível.
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Nas imediações da Baixada
e do aeroporto,
naquela noite de domingo,
2 de dezembro de 1962,
‘casas de tolerância’
foram fechadas
com a festa verde-rubra
- trancada dentro delas.
Quando reabriram
era alto sol
de segunda.
A rotina da vida esperava,
mas a história do
Clube Esportivo e Recreativo
Atlântico estava,
irremediável
e definitivamente alterada.
Lewis Luis Caron/Preisdente do Atlântico em 1962 |
Atlânico,
tu és poderoso,
conquistando vitórias com ardor’.