segunda-feira, 8 de março de 2021

O jogo mais incrível que Erechim viu - 2ª Parte

 

Na foto time base do Atlântico em 1962: Noronha, Paulinho, Maneco, Garcia, Tiassa e Fossati; Moacyr, Índio, Tomasi, Zé Carlos e Cardoso - (Lewis Luiz Caron - Presidente).


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Dinamismo, idealismo e honestidade.

Para deputado estadual, Antônio Pereira 

de Souza.

Prudência

Sinceridade

Dignidade.

 

 

 

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O sol radiava alto.

As linhas do campo eram pintadas

pelo guarda-roupas Pedrinho.

O palco estava sendo preparado.

 

Pelo menos uns 20 carros, ou até mais...

entre Jeeps, Rurais, Simcas, Douphines

e baratas Ford, Fucas e DKWs  

já tinham passado pelo Atlântico,

talvez uns 30.

Era uma infinidade.

Nossa!

 

Minha Nossa Senhora de Fátima...

hoooooooje o movimento vai sê grande.

Vai enchê!’.

 

O Atlântico não podia perder.

O Atlântico não podia empatar.

Era a última volta do estadual

de profissionais de futebol.

O Lajeadense era um baita time.

Menos de um mês antes tinha dado

4 a 4 em Lajeado,

com direito a pedradas e garrafadas,

mas Agomar Martins levara o jogo

até o fim.

É o que dizia A Voz da Serra.

 

O dia estava intenso de sol,

de expectativa,

de movimentação...

Mas ninguém,

rigorosamente ninguém

podia imaginar o que estava

por vir naquele domingo,

2 de dezembro de 1962

depois das 4 da tarde.

 

Avante/

tu és poderoso...’.

 

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E era naquele domingo,

2 de dezembro de 1962 que o Atlântico

tinha imenso desafio.

Derradeiro.

Se empatasse em casa com

o Lajeadense, estaria fora das finais

do certamente

estadual de profissionais.

 

Na França o estilista

Yves Saint Laurent apresentava

sua primeira coleção

aos 26 anos.

Em Erechim a

Metro-Goldwyn-Mayer

anunciava - Ben-Hur.

Na Livraria Modelo a novidade:

canetas-tinteiro da Johann Faber.

 

Sim, eu tinha apenas dez anos,

mas já sofria pelo Atlântico,

aquele... da bola nº 5 e jogado por 11.

 

Às 11h30min fecharam

os portões da Baixada.

Não precisava me preocupar

em pular a cerca

– como o faria dali

um ou dois anos -,

porque entrava pela mão

do meu pai Alberto,

associado do verde-rubro cujo

título anos mais tarde

teria um ‘infarto’ fulminante

e morreria de súbito.

– Falo do título.

Ali´,as quem pagou – perdeu?

O gato comeu?

E como todas as mortes

do gênero,

nunca se sabe o que realmente

aconteceu,

mas aconteceu.

 

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‘Na vitória/

ou na derrota/

honremos nossa tradição...’.

 

O Atlântico tinha o Índio,

mas o Lajeadense tinha

o temível Paulo Muradás

– que se não me falha a memória,

maos tarde acabaria jogando

 em Erechim...

No Ypiranga é claro.

Além do mais...

Fossati e Paulinho

eram dúvidas,

e o maior quarto-zagueiro da história

de Erechim,

Noronha,

sofrera uma distensão no coletivo

de quinta-feira

e para ele,

simplesmente não havia substituto.

 

Diante destes desfalques,

o técnico Severino Mugica

cogitava Poppy no gol

– que era quase do mesmo nível

de Paulinho.

Promoveria o ingresso de Sebastião

na lateral esquerda e,

puxaria o Maneco para a quarta-zaga,

ele que também era craque.

 

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Naquele mês de dezembro de 1962

fizeram duas campanhas na cidade: uma

para a construção do Asilo Jacinto Godoy,

e a outra conclamava a comunidade

para dar um Natal digno aos filhos

dos guardas noturnos.

 

Por falar nessa categoria,

o que foi dela?

Naqueles anos sepultos de 1960,

era comum deparar-se com

um guarda da noite em qualquer

esquina e quadra.

Os apitos da garantia.

Nos tempos modernos é a marginália

que apita

em esquinas, quadras e adjacências.

 

Meu pai, sempre ia cedo

ao campo.

Gostava e futebol e por isto

as preliminares estavam no 

seu cardápio.

Duas horas e já estávamos

sentados no pavilhão descascando

os amendoins do ‘Véio Graví’.

 

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O Lajeadense,

Ah, o Lajeadense era uma pedra

na chuteira do Atlântico.

Era como o Corinthians para o Inter.

Dois anos antes,

no dia 31 de janeiro de 1960,

o Índio entrou com raiva.

Seis minutos e o Pinhão já colocava

o Galo com 2 a 0.

O time do vale do Taquari não

se incomodou. 

Lajeadense, na época, um timaço.

Não só empatou,

como foi buscar a vitória 

em plena Baixada.

 

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Dezembro de 1962.

Nossa Senhora

de Fátima,

e não é que a cidade terá telefones

automáticos, isso mesmo.

A Companhia Telefônica Municipal

de Erechim foi entregue à Siemens

do Brasil que fez o prédio.

 

O prefeito José Mandelli anuncia

a suspensão das vendas dos 

modernos aparelhos,

porquanto havia um descompasso

na coisa de sempre: os primeiros

telefones saíram por 30 mil cruzeiros

cada.

Como houve grande procura

e estava garantia a rede com o uso

dos postes de luz...

se falava numa leve majoração 

de preços

para os automáticos modernos:

de 30 para 80 mil cruzeiros.

 

“Teu símbolo/

é belo e grandioso...’.

 

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Quando o Atlântico apontou 

no túnel

as cascas de amendoim desceram

pelas calças.

Só havia uma mudança: Sebastião 

na vaga

de Noronha. Paulinho era o goleiro

e Fossatti passara no teste de vestiário.

Nossa frente era confiável

com Moacyr, Tomasi, Cardoso e Índio;

mas a frente

do Lajeadense era temível: 

Paulo Muradás, Nestor, 

Roque e Gaiteiro.

 

Do pavilhão eu levantava a vista

de quando em vez por sobre o velho

e grandioso pé de erva-mate atrás

da geral dos visitantes,

a “árvore das raposas”;

aonde hoje fica a entrada do ginásio

do Caldeirão do Galo – batismo

dado pelo repórter

Osvaldo Afonso Chittolina -,

ao ginásio do Atlântico.

 (Amanhã – 3ª Parte)