1
Esta semana Jesus Cristo,
de deixará assassinar.
Aceitará morrer,
chamando para si,
todos os pecados.
É nisto que os cristãos acreditam.
O Filho de Deus,
transformado em carne, osso, mente,
dor e sentimento.
Não precisava morrer, mas
Ele assim o quis,
e assim o permitiu,
quem sabe,
para provar,
sobre nossa certeza de morte do corpo,
sobre nossas fraquezas seculares e imensuráveis,
sobre nossa profunda vocação a sustentar
sob qualquer preço a ignorância sobre a terra,
amassando o bom senso e a qualidade da racionabilidade,
que nos difere dos demais animais,
quem sabe,
para nos fazer refletir (outra vez) sobre tais vantagens,
e que nós, simplesmente, relutamos aceitar.
2
Não obstante,
Jesus Cristo, depois de se deixar morrer,
ressuscitará.
Por que este Jesus não se deixou morrer de doente?
Sim, pois esta é uma chaga que matou,
mata e matará grande parcela das
pessoas no mundo.
Estamos,
assim que nascidos,
fadados à morte.
Isto é tão certo que nem Jesus Cristo
dela escapou (ou dela quis escapar).
É provável que ele se tenha deixado morrer,
para que tivéssemos certeza dela e pensássemos, portanto,
mais como nos conduzimos em vida,
que uma ‘outra vida’ nos é prometida
– enquanto cristãos.
3
Podemos morrer de centenas ou milhares de causas.
Assim como também podemos viver nossa vida de incontáveis
modos.
Podemos querer viver sempre,
mas nem assim deixaremos de morrer.
Podemos sofrer de doenças que nos levam irremediavelmente
a morrer.
Mas, será que podemos mudar nossa vida naquilo que é
mutável?
Já que não temos forças nem poder para impedir a morte,
poderíamos nós, permitir a vida?
Plena!
Menos ignorante.
Menos medieval.
Menos sanguinária.
Menos estúpida.
Menos degradante.
Menos medíocre.
Menos insana?
4
Quem somos nós, afinal,
que aplaudimos a morte pela morte,
que banalizamos a morte,
que incentivamos a doença,
que nos submetemos e subjugamos aos
reaylties shows da vida e suas vazias mensagens.
reaylties shows da vida e suas vazias mensagens.
Quem somos nós, afinal,
que comemos pipoca com Cola-Cola
enquanto assistimos chacinas
e a guerra acomodados em fofos sofás!?
Em que tipo de animais nos transformamos?
Como é que se deu esta mutação?
Que nos permite gritar, acenar,
grunhir para que alguém (doente) dê fim à própria vida!
Onde estão nossos valores de preservação
da vida (se é que não se evaporaram
e viraram retórica pura).
Quem somos nós para acusar os inquisidores?
Os chacinadores?
Os filhos que golpeiam a cabeça dos pais até sangrarem à
morte – ou filhos que agridem pais até a morte, não raras vezes por questões
bem banais.
Onde está nossa força para chorar
um filho nosso que pode nos ser arrancado
a tiros ou facadas, por um boné ou por um tênis,
se nós nos postamos dois dias a gritar
que um doente mental se jogue da altura
de oito andares
– como já aconteceu aqui mesmo em Erechim!?
5
Somos muito mais doentes do que imaginamos.
Estamos muito mais encalacrados
numa epidemia de ignorância do que
qualquer lampejo de saber
possa nos iluminar onde nos encontramos.
Ao avalizarmos com nossa torcida à morte sem razão,
nossa doença se expõe com tamanha nitidez e grandeza,
que nossos olhos não conseguem vê-la,
porquanto encobre com
sua imensidão qualquer olhar adiante dela mesma.
Não é por acaso que o mundo está infestado de guerras.
Não é por acaso que familiares se matam entre si.
Que amigos se executem,
que os maiores níveis de ibope da TV,
batem quando nosso instinto de morte é cutucado.
Quando nosso instinto animalesco é despertado.
Do jeito que as coisas vão,
e vão porque avalizamos que elas vão assim,
bestialmente;
bestialmente;
consagrando a rotina da morte pela morte.
A exceção à regra
– será a vida: o
posicionamento pela vida.
6
O período Pascal é apropriado para reflexões.
Não sejamos indiferentes.
Não sejamos ignorantes em não perceber
comportamentos equivocados e
contagiosos,
que pegamos de não sei quem,
comportamentos viciados.
Não sejamos medíocres a ponto de
não aceitar revisão de conceitos.
Se podemos ser pregadores da paz,
que não nos portemos como vampiros
e mercadores da morte vã.
Talvez, se conseguirmos dar este passo
de promoção da vida,
de resistência e não aceitação à banalização
da morte,
seremos mais merecedores do sacrifício que,
Ele - Jesus,
se submeterá uma vez mais, ainda esta semana;
por conta da nossa resistente ignorância.
Não basta nascer e viver uma vida.
É necessário merecê-la,
para sermos dignos da “Outra Vida”!